sexta-feira, 7 de março de 2008

GRANDES ERROS: ÁGUA BENTA CIENTÍFICA


Já há muito tempo que não prosseguia a coluna de "Grandes Erros". Não tem sido por falta de temas, mas falta de tempo... Ao encontrar na caixa do correio um panfleto intitulado "Água da Vida" acho que é a altura de voltar.

Começo por transcrever o panfleto (o bold, o itálico e as MAIÚSCULAS vão tal e qual):

"O Pesquisador Japonês, Dr. Masaru Emoto, descobriu que, através da exposição a Sons, a água toma formas diferentes, tais como
Molécula de Água exposta ao som de uma PRECE (Limpa/Brilhante). [Imagem de um belo cristal de neve]
Molécula de Água exposta ao som de uma PRAGA (Escura / Sem Forma). [Imagem com uma mancha aparentada a uma caveira]
O seu corpo é composto de 70% de água, qual o formato que está em evidência dentro de si?

"Então me mostrou o rio da Água da Vida, brilhante como cristal, que sai do Trono de Deus e do Cordeiro. Nunca mais haverá qualquer maldição." (Apocalipse 22:1-3).

Venha, nesta SEXTA-FEIRA, [data], receber a aspersão com a "Água da Vida" e seja purificado
de toda a INVEJA, PRAGA e MALDIÇÕES!
[
Morada que omito] Coimbra - CENTRO DE AJUDA ESPIRITUAL. Horários: 8h, 10h, 15h e 19h30 e Contactos [que também omito]".

A Palmira já escreveu aqui sobre este extraordinário Dr. Emoto. É pseudociência "new age" (que no caso prsente aparece bem misturada com religião). Cito esta publicidade, distribuída em grande escala entre nós, para que não se pense que estas coisas são "americanices" dos anos 80. Não, não são: passam-se aqui e agora. Há uma intenção deliberada de enganar, em nome da ciência (e da religião), cidadãos incautos. Muita gente poderá julgar que é científica uma coisa que não tem ponta por onde se lhe pegue. A avaliar pelos horários haverá bastante procura. Haverá gente de manhã à noite interessada na aspersão com a água milagrosa. Não fui lá, mas suspeito que a água venha da torneira mais próxima!

11 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Parece que cientistas descobriram que um placebo (Esta água da vida, por exemplo) tem mais efeito sobre um doente, que um comprimido de Fluoxetina (Vulgo Prozac).

O PROZAC é Pseudo-Ciencia?

Carlos Medina Ribeiro disse...

No livro «O Ilustre Dr. Mateus», da dupla Erckmann-Chatrian, há uma divertida história em que, a certa altura e devido a um mal-entendido, todos tomam o doutor por milagreiro. Levam, então, uma paralítica à sua presença e intimam-no a curá-la.
Sem saber onde se meter, o cavalheiro olha para a doente, dá-lhe ordem para andar... e a cura faz-se.
Até aí, nada de novo.
O pior foi quando apareceu a autoridade, alertada pelo burburinho.
O 'maire' quis saber quem era o homem, e correu com ele da terra porque... «não tinha licença para fazer milagres», arriscando-se a 20 anos nas galés.

Rolando Almeida disse...

Viva,
Uma vez desafiei uma mulher que me falava de curandices e cartomancias, a cometer contra mim todos os males que pudessem infligir-me através dessas práticas mágicas. Resposta: "ah, não dá. A si, não dá! É um espiríto demasiado forte!"
Pelo menos fiquei a saber que possuo uma firewall anti bruxas (menos aquelas de Eastwick. Essas podem invadir-me quando quiserem!!!)
Abraço
Rolando Almeida

Rui Baptista disse...

“O parece que”…não faz parte da linguagem científica. Em Ciência, até que apareçam novos conhecimentos científicos que comprovadamente refutem os anteriores (princípio da refutabilida de Karl Popper), esses conhecimentos têm uma base a suportar a sua validade. Isso significa que o dogma em Ciência deixou de ser admitido em nossos dias.

Neste contexto, um longo caminho foi percorrido pela Medicina. Há menos de um século, existiam as papas de linhaça (que apenas produziam um rubor da pele ou mesmo uma queimadura) sem ter qualquer efeito na dilatação dos brônquios, as ventosas que se assemelhavam a pequenos frascos de yogurte, as sanguessugas (não aquelas que nos taxam por tudo e por nada!), etc. Hoje em dia, o arsenal médico-medicamentoso evoluiu para terapias mais avançadas coadjuvadas pelo avanço gigantesco dos meios auxiliares de diagnóstico (até então circunscrito ao Raio X, um precioso auxiliar na época), como, por exemplo, a Ressonância Magnética, a Tomografia Axial Computorizada e a Tomografia por Emissão de Positrões, esta utilizada com sucesso no estudo das funções cerebrais e de algumas das suas patologias. Funções cerebrais que ainda assumem o papel de uma verdadeira “caixa negra”, muito ciosa dos seus segredos, espreitada mas não aberta. Daí a discussão científica sobre os efeitos de certas substâncias químicas que entram no arsenal medicamentoso no combate aos distúrbios da mente, como o Prozac, por exemplo. Todavia, esta circunstância não permite tê-lo como “pseudo-ciência”, mas como um estudo científico porque, segundo J.Bronowski, “os processos da ciência são característicos da acção humana, porque se movem pela indissolúvel ligação do facto empírico e do pensamento racional”.

Charlatanices como a água da vida assume o efeito de placebo pela ingestão de uma substância (inócua ou até pergosa) que a sugestão faz crer ter efeitos terapêuticos milagrosos e, daí, o seu efeito psicológico em pessoas facilmente sugestionáveis e que não se importam de abrir os cordões à bolsa. O placebo é, por vezes, utilizado com êxito na medicina alopática em preparações neutras, em substituição de um medicamento para atenuar dores em doentes que julgam estar a tomar um analgésico cuja acção continuada se desaconselha por efeitos colaterais.

Mas a principal função do placebo consiste em testar ensaios clínicos em que se ministra a uns doentes um determinado medicamento e a outros uma substância inócua para que neste caso a sugestão não influa nos seus resultados.

Este post, “Grandes erros: água benta científica”, e o da Palmira , “Message in a botle”(11.Agosto.2007), têm o grande mérito de avisar os incautos. Já os estúpidos são difíceis,ou mesmo impossível, de convencer porque, como disse Einstein, “há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana”.

Anónimo disse...

Queria deixar aqui a oferta de um prémio para quem conseguiu achar alguma piada ou algum interesse da "divertida história" que o Sr. Carlos Ribeiro nos deixou. A oferta é extensível a qualquer coisa que este mesmo senhor tenha escrito nos últimos tempos. Ninguém lhe dispensa um pouco de água benta?

Carlos Medina Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Medina Ribeiro disse...

Anónimo (M/F),

Tem toda a razão. Reconheço que assuntos que metam literatura (mesmo de passagem)estão muito longe dos interesses de certas pessoas.

Já agora: como é que alguém pode candidatar-se ao prémio que oferece?

Rosário disse...

Ó CMR, você cometeu três faltas imperdoáveis:

Primeiro, veio para aqui falar de escritores famosos em vez de falar do Pinto da Costa, do Mourinho ou do Camacho.

Depois, veio contar-nos uma história divertida a propósito de charlatanices (por sinal o tema do post), em vez de bolsar insultos soezes, daqueles que fazem as delícias dos anónimos ("m/f", como diz) que empestam a blogosfera.

Finalmente, esqueceu-se de que há gente sem uma pinga de senso-de-humor (que, por sinal, são o grosso da tropa-fandanga referida no parágrafo anterior...).

Ah! E cometeu uma ingenuidade ainda pior: Então você dá-se ao trabalho de gastar tempo e bits a responder a anónimos, indivíduos que, ao adoptarem essa condição (nomeadamente quando o fazem para atacar outros, como é o caso), se comportam como adolescentes imaturos em crise de borbulhas?

Francamente!

Anónimo disse...

Aquilo que qualquer pessoa bem literada sabe é que a literatura não precisa nem de paladinos, nem de damas ofendidas. Frases como "Reconheço que assuntos que metam literatura (mesmo de passagem)estão muito longe dos interesses de certas pessoas" ou "veio para aqui falar de escritores famosos em vez de falar do Pinto da Costa", quando ditas com ar sério e de dedo basculante, só fazem rir pela pena que invocam. A questão é mesmo esta: quem julgam que são?! E o repto aqui se mantem: citem, de Carlos M Ribeiro, um pensamento minimamente interessante, ou uma graça (mesmo policopiada, que a criatividade da criatura também não é nenhuma) que tenha alguma graça.

Charlatães há muitos. Uns falam para a água. Outros, quando falam, é água: sem sabor, sem cor e sem odor.

Pobre Eça. A morte é mesmo isto: ser-se apropriado, sem pudor, por todo e qualquer snob.

Rui leprechaun disse...

Tanta fé na matéria e na ciência tão séria!!!

E tão pouco conhecimento da psicologia do Ser Humano... onde estará o engano?!

Nos sábios que desconhecem ou nos analfabetos que esse saber merecem?!

Deveras, é essa crença ou fé que realmente transforma e cura, os meios são apenas acessórios... sejam da aldeia ou dos empórios!

Logo, a água que é Vida purifica aqueles que a acham querida! :)

Anónimo disse...

Centro de Ajuda Espiritual é a nova designação dos templos da IURD.

Direitos e dever(es)

Texto gentilmente oferecido por Carlos Fernandes Maia, professor de Ética.   O tema dos direitos e deveres desperta uma série de interrogaçõ...