Texto de João Boavida, a propósito do texto - Se não se passa em Lisboa, então não aconteceu - da autoria de Norberto Pires.
Durante as férias (7/8/2010), o jornal Expresso publicou um trabalho intitulado Portugueses criam duas invenções por dia. Embora trate da grande evolução da ciência em Portugal, nas duas últimas décadas, refere-se sobretudo ao registo de patentes. E numa altura do ano estratégica, a da candidatura dos novos estudantes universitários, é uma propaganda ao Instituto Superior Técnico. Se é publicidade, sendo encapotada, não fica bem ao jornal, que se orgulha dos seus princípios, se não foi publicidade, é um mau trabalho jornalístico.
Norberto Pires, o Presidente do Iparque, ripostou neste blogue, revelando no seu texto indignação com a estreiteza de vistas que o artigo revela, sublinnho que se esquece significativamente o que se passa no Porto e de Coimbra, e de tudo o que, em aspectos importantes, se faz no resto do País, sugere até perguntas que, segundo ele, deveriam ser feitas às universidades:
1. Quantas empresas foram criadas pelos seus alunos?
2. Quantos empregos foram criados por essas empresas?
3. Qual o volume de negócios dessas empresas?
4. Quanto representam do PIB nacional?
5. Dos seus docentes e investigadores quantas patentes resultaram?
6. Quantas foram vendidas e deram lucro?
7. Quantas deram origem a spin-offs?
8. Qual o impacto da universidade nas exportações portuguesas?
9. Qual o valor acrescentado de um aluno da universidade/politécnico: custa quanto e vale quanto?
10. Qual o impacto da universidade/politécnico no cenário internacional de I&D: docentes e investigadores?
11. Quantos projectos europeus têm as universidades/politécnicos?
12. Quanto valem os projectos europeus em percentagem do orçamento da Universidade?
Avaliando estes itens, divulgando e estimulando os que efectivamente estão a trabalhar bem, produziríamos em poucos anos uma profunda melhoria do País. Mas, interessará isto aos lisboetas e aos que andam pelos domínios do poder resolvendo arduamente os problemas nacionais? Duvido. Por outro lado, não me espanta este tipo de trabalhos por parte do Expresso, que, todavia, mea culpa, leio desde o 1.º número, com alguns intervalos. Sempre foi um jornal assumidamente lisboeta, por vezes mesmo acintosamente lisboeta. Sempre viveu entre a alta finança, a política, nem sempre pelos melhores caminhos, muita fofoquice sob presunções balofas e o desdém pelo resto do País. Tudo tiques de quem vive na capital e acha isso uma grande coisa.
Não o dizem, mas dão-no a entender, de muitas formas e sempre que podem. Sabem que para uma certa cultura feita de ideias correntes o Expresso é uma Bíblia, e assim colaboram para aprofundar o fosse entre Lisboa e o resto do país. Reconhecem que a capital tem vindo, desde há muito e em virtude de políticas sem visão, a exaurir Portugal, mas acham isso bem e cavalgam alegremente a anomalia em vez de a tentar emendar.
Ignorando tudo o que se tem feito em muitas universidades portuguesas, um enorme esforço na investigação científica, na interacção com o mundo empresarial e na criação de empresas, podem apresentar, com cândida inocência, aquilo em que o Técnico leva vantagem. Estão assim as coisas. Um dos nossos dramas é que temos órgãos de comunicação ditos nacionais que, de facto e assumidamente são de Lisboa, e defendem a sua terra com um espírito mais provinciano que os da Província. Para se sentirem alguém têm de esquecer estrategicamente tudo o que de importante se passa em Portugal. Parecem não perceber até que ponto isto faz crescer a mediocridade geral, e portanto também a deles. Ao diminuir os outros para se sentirem alguém, o que fazem é aumentar o desequilíbrio entre Lisboa e o resto. É óbvio que acabam por sofrer com o mal nacional, e que transformando Lisboa num condomínio fechado criam em volta um círculo viciosamente crescente de favelas, que os vai matando, mas julgam que não. Será que a inteligência não lhes dá para mais?
João Boavida
domingo, 5 de setembro de 2010
O condomínio fechado
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3 comentários:
Se o universo é feito de hidrogénio,
Porque raio não vendem fósforos na Lua?...
The Prodigy
(apesar de poucos adultos terem levado a pergunta a sério, convém sempre sublinhar que a pergunta era retórica: trata-se de uma impossibilidade física, uma sorte de coleira divina. Era um koan, apenas)
Tem muita razão, Caro João Boavida.
Lembro-me de um artigo no Expresso na secção "Nacional" sobre dois buracos na Ponte 25 de Abril e no mesmo número do mesmo jornal dava-se conta na secção "Local" de uma estrada esburacada no Porto....
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