sábado, 18 de setembro de 2010

Não anotes!

Desde há uns anos que constato nos manuais escolares do Ensino Básico a advertência ao aluno de que não deve escrever neles. Num desses manuais, para o 7.º ano de escolaridade, consta o símbolo que abaixo reproduzo e que me deixa perplexa pelas razões que passo a expôr:

1.ª - Um manual é um documento de estudo que todos os alunos têm de ter. O estudo, para ser verdeiramente estudo, não dispensa a realização de sublinhados e notas. Logo os alunos, dispondo de um manual que é seu, ganham em escrever nele;

2.ª - Mas, assim, podemos argumentar o manual só pode ser usado por um aluno, não pode ser usado por vários. Esta é uma questão falsa por duas razões.

A primeira razão é que quando o manual passa de mão em mão, sublinhados e notas não lhe tiram o valor, podem acrescentar-se outras e se forem feitas a lápis podem apagar-se. Não é um livro novo, mas continua a ser útil.

A segunda razão é que mesmo que o manual fique intocável, o mesmo não acontece à panóplia de acessórios que se lhe anexam (cadernos de apoio, caderno de actividades, fichas, etc.), onde o aluno deverá escrever. Lembro que manual e acessórios vendem-se em pastas e pacotes, ainda que, presumo, por imposição legal, se advirta em todos eles que os seus diversos componentes podem ser vendidos separadamente. Só que, na realidade, não podem porque alguns dos acessórios são declarados como oferta, logo o aluno terá, necessariamente de comprar o manual para que lhe seja "oferecido" o resto.

19 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Ora, cá está um conselho que muitos alunos seguem... E ainda há quem diga que os jovens não ouvem os "cotas". Claro está que isso só acontece porque nem todos lhes dizem o que eles querem ouvir. Tais pessoas não deviam ser professores. Mas não se queixem, mesmo os professores deste jaez que ainda restam já se vão calando muitas vezes. É só esperar-lhes pelo baque.
E então... será uma grande harmonia!

Anónimo disse...

Mas, afinal, o que é um "manual"?

A questão é o dito "manual" é demasiado caro.
Algumas sugestões:
porque não é elaborado em papel reciclado (tipo sebenta) ?
porque é que as ilustrações são a cores ou com fotos ?
porque são apresentados, muitas vezes, com conteúdos tão extensos ?

Hoje em dia, há meios de pesquisa que permitem aprofundar os conteúdos (tanto descritivos, como visuais, como práticos). Um "manual", na minha opinião, deve ser concebido como um auxiliar.

joão moreira
por

Ana disse...

Olhe, um manual é o que alguns professores são obrigados a conceber por cada módulo que dão, em alguns centros de formação...a juntar-lhe a quantidade de burocracia sem fim, a preparação das aulas, a preparação dos materiais de apoio escrito/visual, o desenrolar das aulas, reuniões, mails, telefonemas, mensagens...e mais um manual...não se faz mais nada e não se pode aceitar mais trabalho...resultado: o que se ganha é sugado pelos impostos.

Por mim, o baque já chegou. O idealismo já voou pela janela e a vontade de ajudar e de ensinar desapareceu perante a ausência total de condições para que o ensino se processe. A juntar-lhes alguns tipos de mentalidades tacanhas que se encontram todos os dias... eh pah, basta, mas basta mesmo. Não querem aprender, não querem ajudar a que se aprenda? então quem sou eu para os contrariar... :p

Mário R. Gonçalves disse...

Barbaridade hipersocialista, mais uma. É como dizerem ao rapaz que conquista a primeira namorada , "não toques ", " não estragues!".

Sempre tive um gosto especial em manusear os livros novos cada ano, e em escrever neles o nome, notas e opiniões, muitas vezes comentários depreciativos. É uma censura imoral impedir este prazer.

Em nome de uma caridade parva, querem castrar um natural impulso das crianças, quando o justo seria garanti-lo a todas - garantir manuais novos. Isso sim.

Fartinho da Silva disse...

Esta é a consequência de um dos mandamentos do eduquês:

- Não se vai à escola para aprender, mas sim para socializar.

Anónimo disse...

Bem, desta não estava a par. É, no mínimo, curioso. Não creio que a informação disponível na internet ou outros conteúdos de "livre acesso" substituam os manuais escolares, da mesma forma que não creio que os manuais escolares tenham a qualidade suficiente para dispensar outras fontes de informação. Aliás, mesmo que fossem de qualidade extraordinária, não seriam suficientes. E por qualidade não me refiro ao aspecto gráfico, porque como é evidente, faria todo o sentido que fossem feitos de papel reciclado, etc. Mas o problema aqui é o facto de os alunos ficarem limitados na sua utilização dos manuais. Não percebo. Pois se a cada ano cada aluno é "obrigado" a ter um manual (no mínimo, porque se contarmos com os materiais de apoio...) para cada disciplina e centenas de manuais não vendidos (numa estimativa novamente optimista) são deitado ao lixo sem serem utilizados, que ideia idiota de que impedir os alunos de sublinhar os manuais, contribui para alguma caridade ou poupança?

MJ

Anónimo disse...

A não ser claro está, que haja a possibilidade de os manuais em bom estado de preservação serem devolvidos (a quem não sei, editoras, ministério....) e quem os comprou receba o reembolso da pequena fortuna dispendida...

MJ

Anónimo disse...

Se fosse aluno agora ser-me-ia muito mais difícil estudar à minha maneira: sublinhando e anotando o que me parecia necessário.

Exemplo: cópia da página 143 do Compêndio de Álgebra do meu 6.º ano

http://calcauxprobteor.files.wordpress.com/2010/09/manualriscado.jpg

E nem é uma folha particularmente riscada, muitas outras ficaram pior (melhor).

Anónimo disse...

Pois, infelizmente essa moda de não escrever nos livros pegou, sabe-se lá por que razão. Modernices.
Não sou assim tão velha como isso ( 43 aninhos) e FARTO-ME de "ensinar" aos meus alunos que podem, devem, têm que escrever, anotar, fazer os problemas e exercícios no manual / caderno de actividades, apesar daquelas instruções RIDÍCULAS, principalmente na MATEMÁTICA, para "copiar" a tabela para o caderno, etc, etc.
Estou saturada, farta, saturada, cansada, cansada, tão cansada... .
"O manual deve ser um auxiliar". Tá bem, leve lá a bicicleta. Com mãe de dois, depois de ter gasto 500 euros em manuais, por mim, acabem com eles que é para o lado que durmo melhos.
Tem razão numa coisa: enchem-nos tanto de patetices e hiperligações e "saber mais" , hipertextos, mais não sei o quê, a propósito de tudo e de nada que, querendo anotar, sublinhar, comentar, trabalhar no pprio manual, nem espaço há agora para tal.
Já para não dizer que se a miudagem seguisse aquilo tudo em todas as disciplinas, as 24 horas do dia não seriam suficientes.
ps: sugiro que explorem dois ou três manuais de Inglês do 2º ciclo para melhor entenderam a confusão mental do manual-lúdico hiper coreografado e folclórico. São verdeiramente mega-agrupados!!!

Anónimo disse...

Um bom livro de Matemática deve ter margens amplas.

As linhas de qualquer livro não devem ser maiores do que o que é adequado para as ler sem movimentar a cabeça, apenas usando os olhos.

Anónimo disse...

Na minha percepção:

Embora um livro mereça
toda a consideração,
nada impede que careça
da devida... anotação!

JCN

Anónimo disse...

Seria fenomenal
se pud


Seria fenomenal,
quase morrendo de pasmo,
se pudéssemos um dia
numa qualquer livraria
folhear um manual
anotado por Erasmo!

Anónimo disse...

Pindérico ou pindárico?


Muito gosta o senhor Mário
de emitir opinião
com seu ar autoritário
de quem sabe da questão!

JCN

Susana A. disse...

Sublinhar e fazer pequenas anotações nos meus manuais escolares sempre me ajudou a estudar e a conseguir excelentes resultados. A pedagogia não pode nem deve seguir uma única receita, indiferente às especificidades de cada aluno, e baseada não se sabe muito bem em quê(aparentemente, antigos preconceitos). E a propósito de preconceitos, aproveito para aqui deixar o link de uma notícia recentemente publicada no The New York Times sobre métodos de estudo:

http://www.nytimes.com/2010/09/07/health/views/07mind.html?_r=1&src=me&ref=health

José Ricardo Costa disse...

Acontece também que muitos manuais já são elaborados, tendo a negrito os conceitos mais importantes, trazendo pequenas sínteses e anotações nas margens. Ou seja, o aluno não precisa de escrever pois já vem tudo escrito para facilitar o seu trabalho. Pedagogicamente é um erro crasso. O aluno não precisa de ler com olhos de ler, interpretar, pensar e, já agora, de escrever. Como no ensino básico é usual fazer testes, preenchendo apenas os espaços em branco, acaba-se também a angústia da folha em branco. Entretanto, chegam ao 10ºano num belo estado.
JR

Sérgio O. Marques disse...

No que concerne aos alunos, esse sinal deve-se assemelhar às riscas amarelas que pintam na estrada (acho que servem para indicar a impossibilidade de aí parar e estacionar) - só está lá para adornar a coisa.
Isto da educação já começa a parecer uma novela. Impaciente, aguardo o próximo episódio.

Anónimo disse...

Vani,

Deduzo que o teu comentário me foi dirigido.
Se o foi, amanhã respondo. : )

João Moreira

Anónimo disse...

Subscrevo completamente as suas ideias relativamente ao uso dos manuais. É necessário que os alunos se esforcem no sentido de assimilar de forma consistente os conhecimentos que veiculam. E isso passa por escrever e sublinhar. Ou seja, apropriar-se do livro. Chamo a atenção para um aspecto que, tanto quanto me recordo, não foi assinalado por nenhum comentador na entrada anterior que a Professora Helena Damião. O preço dos livros escolares em Portugal raia o obsceno. E como existem muitas famílias que têm filhos com 2/3 anos de diferença e como o prazo de vigência dos manuais escolares é de 4 anos, muitos pais usam os livros dos filhos mais velhos para os mais novos, particularmente se eles vão para a mesma escola, o que sucede muitas vezes. A única alternativa que vejo, como já foi referida, é mesmo usar o lápis. Mas diz-me a experiência pessoal, não generalizável, que a utilização de cores (marcadores, etc.) tem vantagens.
Este tópico imbrica noutro que sugeria à Professora Helena Damião abordar numa outra entrada. Refiro-me à forma como os alunos estudam. Na esmagadora maioria dos casos que conheço parte-se do princípio de que os alunos sabem como estudar. Isto é completamente falso. Saber estudar implica treino. Em Portugal a área de Estudo Acompanhado do currículo do ensino básico foi pensada para isso mesmo. Infelizmente foi sendo completamente desvirtuada e colonizada por outras disciplinas do currículo. Penso que é um erro grave. Esta área poderia ser muito útil, particularmente para os alunos que têm pouco apoio em casa por parte dos seus pais, para o treino de competências muito básicas (como organizar um caderno, como sublinhar as partes mais importantes de um texto) até às mais complexas (como organizar em esquemas cognitivos gradualmente mais complexos e diferenciados conceitos nucleares de determinadas disciplinas).
Para isso é necessário que os professores tenham a devida formação, o que é raríssimo. Mas acima de tudo que se reserve um tempo do currículo para o treino destas competências que exigem um trabalho consistente.

PJ

Anónimo disse...

À primeira namorada
comparar o dicionário,
é mesmo do senhor Mário
uma tal... patacoada!

JCN

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