segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A tragicomédia de Queiroz

“O riso é a mais útil forma de crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo” - Eça de Queiroz.

Num país tristonho sem razões para esboçar um simples sorriso pelo que se passou nos bastidores do Campeonato Mundial de Futebol/2010, transcrevo, quase integralmente e bem a propósito, a crónica do humorista José Diogo Quintela, intitulada “O Rui Santos do cabelo desfrisado”, publicada na revista Pública (12/09/2010), em castigo de costumes promíscuos entre a política e o desporto:

“Um português sabe que a crise é grave quando se vê obrigado a arranjar um segundo emprego. E sabe que a crise é gravíssima quando vê que há membros do Governo que fazem o mesmo. Como Laurentino Dias, que agora acumula o lugar de secretário de Estado do Desporto com o de comentador de futebol. Mesmo sem utilizar o jargão indecifrável de Luís Fretas Lobo ou o histerismo sóbrio dos comentadores do Dia Seguinte, Laurentino Dias é o analista do momento. Uma espécie de Rui Santos com o cabelo desfrisado. Depois dos autarcas/dirigentes, agora temos os membros do Governo/comentadores. Para quando os deputados/ fiscais-de-linha?

Simão Sabrosa abandona a selecção? Laurentino comenta a actual forma do extremo do Atlético de Madrid, enquadrada nas últimas exibições dos “colchoneros”- O Braga apura-se para a Liga dos Campeões? Laurentino disseca a estrutura do clube minhoto para nos explicar as raízes do sucesso. Ronaldo não joga na selecção? Laurentino prova, por A+B, que o jogador do Real Madrid não faz falta à equipa, desvendando os mecanismos que permitem suprir a sua ausência. Só tenho pena de ainda não ter ouvido a sua opinião sobre quem é a melhor opção para a baliza do Paços de Ferreira: Cássio ou Coelho?

Mas onde Laurentino tem sobressaído é na cobertura do processo Carlos Queiroz. Como a Guerra do Golfo para José Rodrigues dos Santos, está o “C*** da mãe de Luís Horta Gate” para Laurentino Dias. È a grande oportunidade da sua vida para brilhar. Ora validando sentenças, ora perorando sobre recolhas de chichi. ora sugerindo estratégias à FPF, Laurentino não pára de atirar bolas para o pinhal. É uma espécie de chuteira falante.

Poderão dizer que esse é o trabalho de um secretário de Estado do Desporto. Talvez. Mas só se, por exemplo, entre as funções do secretário de Estado da Agricultura estiver a obrigação de entrar em minha casa à hora do jantar e censurar-me por não papar legumes suficientes.

O que sucede é que a Secretaria de Estado do Desporto é o órgão oficial com que o Governo se associa aos êxitos desportivos. É a UHU dos balneários. Depois de uma vitória, lá aparece o secretário de Estado a colar-se aos vencedores. Laurentino Dias é aquele dedo maroto que vai rapar o chocolate ao fundo do tacho, para que o Governo se lambuze com os restos do bolo. É uma rémora que se agarra à selecção. O que só funciona quando a selecção é um tubarão e não o carapau que agora anda aí â rasca.

Só que, quando a selecção não tem bons resultados, não serve de muito. Isso talvez explique a forma enérgica com que Laurentino Dias se empenha em despedir Queiroz”, et cetera.

Do mundo do futebol, diz a crónica de José Diogo Quintela, faz também parte um cabelo mais ou menos frisado. Em nome da estética nacional, e do muito que aqui escrevi sobre o caso Carlos Queiroz, na ocorrência da escolha da Federação Portuguesa de Futebol recair em Paulo Bento – por não me atrever a duvidar do bom senso do secretário de Estado em não se imiscuir na escolha do novo Seleccionador Nacional de Futebol - que não seja levado a mal a Laurentino Dias, ainda que em simples conversa informal, aconselhar ao novo timoneiro da equipa das quinas um corte de cabelo moderno num cabeleireiro nacional a quem as grandes figuras públicas entregam o cuidado das suas mais ou menos frondosas guedelhas.

Não! Não se trata de querer fazer apelo às imponentes e longas cabeleiras postiças dos salões da antiga monarquia portuguesa, apenas aos cuidados cortes de cabelo republicanos das actuais figuras de Estado, das personagens da política (o próprio secretário-geral do PCP dizia há dias, numa entrevista, não dispensar um bom corte de cabelo) ou da maioria dos craques do nosso futebol. Mesmo sem entrar nos exageros de Abel Xavier!

4 comentários:

Anónimo disse...

Ante uma patacoada
de um político qualquer
ninguém consegue reter
uma forte gargalhada!

JCN

Anónimo disse...

Costuma o povo dizer
que uma boa gargalhada
dá saúde e faz crescer
como faz a madrugada!

JCN

Anónimo disse...

Caro Doutor, o sorriso
fere mais que uma risada:
para evitá-lo é preciso
saber estar na parada!

JCN

Anónimo disse...

Em Portugal a justiça
envergonhada fugiu:
com bandeira a meia adriça,
nunca mais ninguém a viu!

JCN

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