Excelente artigo de Nuno Crato, publicado na edição da revista Única do semanário Expresso de 25 de setembro de 2010.
:-)
"Uma das descobertas mais surpreendentes dos modernos estudos sociais quantitativos é a "não existência de uma relação sistemática nem de relações fortes entre os gastos da escola e o desempenho dos estudantes". A frase é de Erik Hanushek, um dos principais fundadores da chamada "economia da educação", uma área académica que recorre a métodos estatísticos e a conceitos e modelos de economia para estudar o ensino.
A descoberta é surpreendente e perturbante, pois uma das premissas habituais dos responsáveis educativos é a de que, colocando mais meios à disposição da escola - por exemplo, computadores - ela educará melhor os seus alunos. Mas não é nem surpreendente nem perturbante para quem nela trabalha. Claro que há sempre recursos que faltam, e que é importante, por exemplo, melhorar o acesso às modernas tecnologias. Mas o essencial é a formação dos professores, os pais, a boa estruturação e a exigência dos programas, a qualidade dos manuais, o rigor da avaliação e outros fatores da atividade letiva.
Recentemente, como já aqui referimos, um grupo de investigadores da Universidade Duke, na Carolina do Norte, analisou uma amostra gigantesca, de 150 mil estudantes, seguidos ao longo de cinco anos, concluindo que os jovens não melhoram os seus conhecimentos pelo simples uso de computador pessoal. Os rapazes têm mesmo algum retrocesso escolar, um retrocesso modesto, mas estatisticamente significativo.
Mais recentemente ainda, investigadores do Instituto Superior Técnico e da Universidade de Carnegie Mellon estudaram os resultados da introdução de banda larga nas escolas portuguesas. Analisaram mais de 900 escolas entre os anos 2005 e 2009 e registaram as classificações dos alunos no 9º ano de escolaridade. Construíram um modelo de "função de produção" com base nas "primeiras diferenças", de onde extraíram as suas conclusões.
Uma função de produção é uma função matemática que relaciona os resultados com os recursos e que pode ser estimada com instrumentos estatísticos estudados em econometria. A equação que os investigadores utilizaram não é linear e os interessados poderão analisá-la aqui. O método das "primeiras diferenças", por seu turno, é a consideração dos incrementos em vez dos valores originais. Ou seja, em vez de comparar as notas com o uso da Internet, compara-se o aumento ou a diminuição das notas com o aumento ou a diminuição do uso da Internet ao longo dos anos. Tenta-se assim isolar os fatores em estudo, eliminando a influência de condicionantes perturbadoras, como a qualidade das escolas ou os rendimentos das famílias.
O que os investigadores verificaram foi que as escolas em que mais tinha aumentado o uso da Internet foram aquelas em que os resultados escolares mais diminuíram. Notaram ainda uma tendência, embora menos evidente, para que os resultados tivessem piorado mais nas escolas em que o acesso à Internet foi, possivelmente, menos bem enquadrado.
Os resultados são provisórios, limitados a uma série curta, que apenas mede um primeiro efeito, e sujeitos à crítica, como tudo em ciência. Mas é encorajador que os temas de educação sejam estudados com este rigor quantitativo. Hanushek, Daniele Checchi, William Schmidt e outros grandes nomes da economia e econometria da educação estarão em Portugal em janeiro. Será interessante ver como esta área está desenvolvida entre nós e que resultados serão apresentados.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
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4 comentários:
limitados a uma série curta, que apenas mede um primeiro efeito...faz um apanhado de várias fontes e compõe um texto
tem falhas (all my faults are stress related)
e compara o incomparável...eu posso gastar 30 milhões em fotocópias e fotocopiadoras
outro gastará em quadros interactivos
ou em videojogos
sem o factor humano que interessa isso
interessa ver em que é que foram usados esses meios e para que fins
um quadro interactivo, tal como a televisão e os vídeos educativos que impingiram à escola em 25 anos serviram para muitas empresas se encherem
mas para os alunos foi visualizar sem pensarem ou discutirem o que veêm
Mas é encorajador que os temas de educação sejam estudados com este rigor quantitativo...eu também vi fazer uns estudos quantitativos assim
é preciso publicar uns papéis fica bem no currículo
publicar com que fim?
ah isso qualquer coisa serve
Bom Dia.
Não sei se será só problema meu, mas não consigo aceder ao artigo do Professor Nuno Crato através do link indicado.
Cumprimentos
António Piedade
Considerando as dificuldades de acesso de António Piedade ao artigo de Nuno Crato, tomámos a liberdade de o transcrever no De Rerum Natura.
Agradeço a cortesia e amabilidade.
Cumprimentos
António Piedade
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