terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ouça um bom conselho...


Transcrição de parte do artigo de Maria João Guimarães e Nicolau Ferreira publicado na revista "Pública" de domingo passado sobre receber e dar conselhos:

Escolher o terceiro caminho

"A única frase que o físico e professor catedrático da Universidade de Coimbra Carlos Fiolhais considera aproximar-se de um conselho que procura seguir leu-a num livro e é em si mesmo um anticonselho. "Entre dois caminhos, escolhe sempre o terceiro", lembra Carlos Fiolhais à Pública. "Na área dos negócios, é o pensar 'out of the box' ", acrescentou. É uma ideia que sugere utilizar a nossa criatividade para olhar para o mundo fora das fronteiras que alguém estabeleceu por nós. "Somos confrontados com problemas que parecem ser binários, e às vezes há uma escolha ao lado que é a resposta."

Fiolhais conta que se lembra de ler a frase num livro, quando era adolescente. Era um conselho dado pelas mães judias aos seus filhos. O físico associa esta frase à história dos judeus, quando durante a II Guerra Mundial as escolhas eram entre lutar e entregar-se aos alemães - e nas duas situações o destino seria trágico. A terceira opção poderia ser fugir.

Na realidade científica, o terceiro caminho é muito utilizado e pode ser de ouro. "Niels Bohr, prémio Nobel da Física, um dos mais importantes físicos do mundo, talvez tão importante como Einstein, aconselhava sempre os seus alunos a pensar ao lado. O génio é isso, é ir para o caminho que não nos é dado." O físico de Coimbra conta que faz no seu trabalho científico este esforço permanente de "pensar ao lado", de verificar sempre a possibilidade contrária do caminho A ou do caminho B. Bohr dizia que "o oposto de uma verdade absoluta pode bem ser outra verdade absoluta." Fiolhais pergunta: "O oposto de A ou B não será também algo viável?"

Carlos Fiolhais explica que mesmo na sua vida particular este conselho já o ajudou: "Todos temos problemas, e pensamos que a solução ou é uma coisa ou é outra..."

Fica de pé atrás quando se fala em conselhos tradicionais. "São vias de obediência, às vezes de uma forma amigável e paternalista, mas são autoritários", diz. "O livro 'O Segredo' [de Rhonda Byrne] é um manual de conselhos, é puro lixo intelectual. Desconfio sempre de conselhos."

O físico prefere servir-se de referências, de pessoas como os seus pais ou alguns professores que se tornaram exemplos. "Mais do que ouvir palavras de orientação, o importante é olhar para a vida das pessoas", defende. Continuando na senda de mostrar que uma verdade e o seu contrário podem ser compatíveis, conclui: "Tenho 54 anos, já tenho idade para não dar conselhos." "

Na foto: Niels Bohr e Einstein.

6 comentários:

Anónimo disse...

"Não vou por aí" (José Régio). JCN

joão boaventura disse...

"Entre dois caminhos, escolher sempre o terceiro", equivale a sair de um labirinto, porque um labirinto tem sempre uma saída.

Entre dois caminhos é estar num dédalo. Parafraseando Sócrates (o filósofo, para evitar confusões) "quer escolhas um ou o outro, tem por certo o arrependimento", ou seja, não se alcança o termo.

F disse...

Muito, bom. Mesmo muito bom. Subscrevo.

Anónimo disse...

Saída... há sempre, nem que seja de sendeiro! JCN

joão boaventura disse...

Quando alguns amigos me pedem conselhos, digo sempre:

- Eu dou-te porque mos pedes, mas com uma condição, qual é, o de não os seguires.

Anónimo disse...

Por isso não lhos peço! JCN

PARA UMA HISTÓRIA DA MINERALOGIA, NUMA CONVERSA FICCIONADA DO AUTOR COM D. JOÃO III

Por A. Galopim de Carvalho (Do meu livro Conversas com os Reis de Portugal - Histórias da Terra e da Vida , Ancora Editora, 2013) - Soube q...