“Uma sociedade europeia, mas atrasada como a nossa, não se eleva com ‘certificações’, indisciplina generalizada, formação que não ’forma’, pouco trabalho, Simplex ou cartão único” (Henrique Medina Carreira).
Em face da polémica gerada pelo meu post anterior sobre esta mesma temática, publicado no passado dia 19 deste mês, e pelo seu inegável interesse em clarificar determinados aspectos subjacentes às Novas Oportunidades, transcrevo, na íntegra, uma esclarecedora peça jornalística, da autoria de Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos, saída no semanário Expresso (18/09/2010), intitulada "O 'melhor' aluno chegou à faculdade sem acabar o liceu":
Em face da polémica gerada pelo meu post anterior sobre esta mesma temática, publicado no passado dia 19 deste mês, e pelo seu inegável interesse em clarificar determinados aspectos subjacentes às Novas Oportunidades, transcrevo, na íntegra, uma esclarecedora peça jornalística, da autoria de Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos, saída no semanário Expresso (18/09/2010), intitulada "O 'melhor' aluno chegou à faculdade sem acabar o liceu":
Programa Novas Oportunidades pode ser usado como ´via verde´para facilitar entrada no superior
“As dificuldades apareceram no ensino secundário, quando a Matemática se tornou uma verdadeira dor de cabeça para Tomás Bacelos. Por mais que insistisse, não conseguia passar à disciplina e os chumbos sucessivos acabaram por fazê-lo desistir da escola sem acabar o liceu. No ano passado, arranjou a solução ideal para contornar o problema. Inscreveu-se num Centro de Novas Oportunidades em Esposende, frequentou dois módulos (Saberes Fundamentais e Gestão) e em meses conseguiu equivalência ao12-º. Acabou agora por entrar na faculdade, no curso de Tradução, na Universidade de Aveiro, e é oficialmente, segundo as listas do Ministério do Ensino Superior, o aluno com a mais alta nota de candidatura do país: 20 valores.
A questão é que a sua média não tem em conta as notas do secundário – que não terminou – e baseia-se apenas no exame nacional de Inglês, o único que teve de fazer para entrar em Tradução e onde conseguiu nota máxima. Ainda tentou entrar num curso de Biologia, fez a prova de ingresso, mas não foi além dos 7,4 valores.
Ao contrário de Tomás, todos os jovens do ensino regular tiveram de realizar provas nacionais a várias disciplinas e apresentaram-se a concurso com estas classificações e com as notas do secundário.
O percurso de Tomás e dos restantes alunos não podia, por isso, ser mais diferente. Ainda assim, ele disputou as mesmas vagas e concorreu em igualdade de circunstâncias com os outros. A lei permite-o, mas o jovem, 23 anos, sente que beneficiou de uma injustiça. 'Para mim, foi ótimo. Mas é claro que é bastante injusto porque os outros passam anos a esforçar-se para terem boas médias. Com o Novas Oportunidades, uma pessoa que só tem o 7.º ano pode fazer o 9.º em seis meses e a seguir, em ano e meio, consegue tirar o 12.º. Se tiver sorte, pode passar à frente (no acesso à universidade) e tirar o lugar a pessoas que fizeram esse esforço. Conheço quem tenha entrado assim no ensino superior', admite.
Discriminação positiva
Contactado pelo Expresso, o Ministério do Ensino Superior não revelou, até à hora do fecho da edição, quantos estudantes entraram na universidade por esta via, retirando lugares a candidatos do ensino regular. No curso de Tradução da Universidade de Aveiro, onde Tomás entrou em primeiro lugar, por exemplo, quatro jovens que também colocaram a licenciatura como primeira opção acabaram por ficar de fora. O último a conseguir entrar teve 14,4 valores de média.
Certo é que a história de Tomás Barcelos está longe de ser única. 'O caso dele só é visível porque tirou uma grande nota no exame. Mas houve outros alunos que entraram da mesma maneira, só que não saltam à vista nas estatísticas', garante António Boaventura, do Centro Novas Oportunidades da Secundária Henrique Medina (Esposende), que Tomás frequentou. 'Há uma discriminação positiva destes alunos' reconhece.
O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Virgílio Meira Soares, admite que possa haver uma “injustiça”, mas rejeita responsabilidades e lembra que os candidatos vindos das Novas Oportunidades também podem acabar por sair prejudicados com esta legislação. Isto porque só concorrem ao superior com uma única nota de exame, sem outras classificações a pesar na média, o que pode prejudicá-los, caso a prova não corra bem.
Luís Capucha, presidente da Agência Nacional para a Qualificação e um dos responsáveis pelo Programa Novas Oportunidades, recusa comentar as regras de entrada no ensino superior, por não serem da sua competência. Ainda assim, afirma que 'não faz sentido aferir a dificuldade de ingresso pelo número de exames exigidos 'aos estudantes'”.
Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos
17 comentários:
Chamo a atenção do leitor para o post da Professora Helena Damião, publicado no passado dia 18, intitulado "Discriminação positiva", que desencadeou grande polémica.
Pois, as regras são complicadas, feitas para "ajudar" e "não desmotivar", e depois dá nisto.
Seria mais justo um exame igual para todos como única prova de admissão, feito pelas Universidades a que os alunos se candidatam (que estas é que sabem o que os alunos à entrada precisam de saber).
Ah, e tal, e se o aluno nervosos se espalha? Bom, nesse caso fica mais preparado para a vida, que os obstáculos são grandes Mestres, e pode sempre tentar outra vez (ou estudar mais, o nervosismo costuma atacar mais os mais ignorantes...).
E seria sempre melhor que a injustiça das notas inflacionadas de certas escolas secundárias (todas?) ou professores, pois é humano "puxar" pelos seus.
Dar a responsabilidade desse exame às Universidades também teria a vantagem de incentivar os pais dos meninos a exigir um ensino de qualidade. Bastava para isso publicar a matéria exigida nas provas de admissão.
Relativamente à descriminação positiva, que não rejeito mas desconfio, poderia ser concedida como bónus desse exame. Claro e sem esquemas.
Mais simples e mais justo.
As NO, com cujo princípio não discordo - incentivar as pessoas a aprender mais - podiam dar diplomas de competências avaliadas por exame. Metas em vários patamares para cada um subir o degrau que conseguir, mesmo que pequeno.
E quem quisesse ir para a Universidade, com percurso normal, NO ou estudo pessoal em casa, nada mais fácil e justo: é só fazer o exame de admissão.
SNG
Está tudo doido - um aluno de Ciências (que não consegue fazer Matemática e tentar entrar em Biologia...) vai para um curso de Tradução?
Eu sei que tirou 20 no exame de Inglês (o que é expressivo em termos da dificuldade de muitos exames ...) mas algo não bate certo aqui - o Ministério da Educação e os seus sucessivos ministros podem limpar as mãos à parede.
PS - talvez algum leitor possa dar um contributo para perceber este caso - o aluno não será bilíngue?
Portugal no seu melhor...
Como pode o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Virgílio Meira Soares, dizer que "os candidatos vindos das Novas Oportunidades também podem acabar por sair prejudicados com esta legislação. Isto porque só concorrem ao superior com uma única nota de exame, sem outras classificações a pesar na média, o que pode prejudicá-los, caso a prova não corra bem."? Como é possível? Alguém impediu aquelas pessoas de seguir o ensino norma? Seria injusto se não os tivessem deixado ir à escola mas o que acontece é que escolhem o caminho mais fácil, não seja mais um português desenrascado.
Mas o que interessa á a partir de agora. Ou ele nunca mais termina o curso porque lhe falta preparação e "só" se perde o 4 ou 5.000€ que custa um aluno no ensino superior ou termina e então significa que se exige demais às pessoas que querem tirar esse curso, em vez de estudarem deviam comprar uma rede de praia e passar um anito em inglaterra.
Se ele terminar o curso significa que esse curso é um flop pois não devia dar uma licenciatura mas sim o 12º ano. :) coitados dos colegas que andaram a estudar, o pessoal vai achar que são burros.
Ao cuidado do Expresso e restante comunicação social: Daqui a três anos, quando supostamente o fulano estiver a finalizar o curso, procurem-no. Se estiver mesmo a terminar o curso, óptimo e ainda bem que teve esta oportunidade. O pior é se ainda está no primeiro ano ou se já desistiu!...
Aluno bilingue? É o mais certo...
O exame é facil? Não sei... Quantos 20 houve?
E não me parece haver descriminação positiva nem negativa, apenas opções.
Um aluno do ensino "regular" não pode concorrer apenas com as notas de exame das especificas?
Confesso-me algo confuso com tanto alarido em redor desta questão . O aluno em causa tirou o lugar a alguém ? As universidades não estão a aceitar alunos com notas negativas ? De resto esta coisa das novas oportunidades será assim tão diferente do foi o estatuto do trabalhador estudante ou de quem se candidatava ao ensino superior ao abrigo da “ condição militar” ? Recordo-me por exemplo de um colega de universidade que há trinta anos saltou directamente do equivalente ao 6º ano para a universidade fazendo simplesmente os exames do antigo sétimo ao abrigo da dita condição militar. Portanto, para quê tanto espanto ?!
Como vivemos rodeados de pessoas inteligentes e inteligíveis eu pergunto muito inocentemente para que serve o Curso de Especialização em Tradução, que a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa proporciona, no âmbito de nove disciplinas.
A Vani teve a gentileza de me informar que a União Europeia apoiava as Novas Oportunidades, o que constituiu um convite à consulta do respectivo portal, e aí senti-me ultrapassado pelo avanço às arrecuas, isto é, senti-me, em pleno século XXI, um caminhante que anda de costas para o futuro, porque o futuro está a oferecer-nos conhecimentos escolásticos da Idade Média ou, como diz Umberto Eco, tudo o que ocorre agora ocorreu na Idade Média.
Talvez esteja desactualizado, e isso perturba-me porque considerava ter alguns alicerces de suporte e aceitação do andamento da humanidade, para não me apanharem desprevenidos. Erro meu porque, fomos apanhados de surpresa quando no portal da EU se nos apresenta um documento da “Università degli Study di Firenze”, do Departamento das Ciências da Educação, de 19.01.2010, com o título da revelação da verdade, Enabling the low skilled to take one step up, cuja tradução livre ou metafórica é simplesmente “transformando ignorantes em sábios”. E entre as variadas formatações criadas por alguns países, como modelos, ínsito o modelo lusitano das Novas Oportunidades.
Para já, esta revelação espantosa de como de Itália nos chega a revelação das autoridades em matéria educacional, a primeira com o Processo Bolonha que criou alguns anticorpos, e agora o Processo de Florença, ou a forma mágica de fazer talentos sem sofrimento (estudos, exames, chamadas, provas escritas, trabalhos de casa,…). Com os resultados que vamos acompanhando placidamente, como compete a um povo impávido e impotente, perante as bombas atómicas criadas no Laboratório Pedagógico.
Isto tudo para perguntar à Faculdade de Letras que forma tradutores, se não tem receio de fechar as portas a essa curso, já que as Novas Oportunidades miraculosamente faz de um rapazinho um tradutor de inglês já com um emprego incluído na Universidade de Aveiro que, pelos vistos, não é muito exigente na qualificação de tradutores, porque já trazem a chancela inequívoca de NO.
Para que não me chamem pusilânime ofereço a entrada no Portal da União Europeia, porque nos dá matéria para pensar com um pouco mais de acuidade estes problemas que ora nos atormentam.
Caro Manuel Rocha
Tirei um curso completo numa Universidade. Depois, como a nota final me permitia entrar directamente noutra Universidade para tirar outro curso, fui admitido, mas obrigaram-me a tirar as cadeiras todas de todos os anos.
Isto para dizer que, no novo curso, não me deram Novas Oportunidades, como encurtar o tempo, saltar do 1.º ano para o 3.º, ou do terceiro para o 5.º.
Agora peço que me explique como é que havendo cursos de especialização para tradutores, nas Faculdades de Letras, um aluno é examinado em inglês e tira 20 valores, e de sopetão tem logo um emprego na Universidade de Aveiro.
Sem ofensa diga-me se ele não tira o lugar a quem tenha a especialização em tradução. O que talvez me possa responder é que a Universidade de Aveiro prefere mão de obra barata, e que tanto lhe dá que as traduções sejam sofríveis ou assim assim.
Cordialmente
Como errei devo assumir o erro
Afinal o aluno está a tirar o curso de especialização em tradução, e não, entrar na Universidade de Aveiro como tradutor.
As minhas desculpas
Atenção, no "post", aos conceitos "descriminação" e "discriminação", que não significam o mesmo.
Bem sei que são gralhas, mas é melhor corrigir.
Caro José Batista da Ascenção:
Obrigado pela chamada de atenção para a gralha da cópia da reportagem do Expresso. Já emendei. Aliás, as Novas Oportunidades não devem ser descriminadas. Bem pelo contrário,devem ser incriminadas pelo seu facilitismo.
Cordialmente
Carpo José Batista da Ascenção: olhe que também pode ser ignorância.
Sei que a crítica é às Novas Oportunidades e ao Acesso ao Ensino Superior, mas essa imagem parece-me uma caricatura ao processo Bolonha no Ensino Superior, em que o TEMPO que se dedica a uma cadeira determina os ECTS desta.
Sara
Estou neste momento a frequentar um curso EFA para concluir o 12ª, pessoalmente este tipo de formação não me acrescenta nada a nível académico.
Compreendo e aceito as opiniões sobre este tipo de formação.
Este curso para quem têm o 11º completo ou 12º incompleto, que é o meu caso é realizado em 4 meses. Penso que este curso devia estar disponível para pessoas a partir dos 25 anos e não 18 como é o que acontece é verdade que muitos meninos preferem passar do regime diurno normal de ensino para os EFA porque é mais fácil...
Mas a pérola é esta: até o ano passado havia a possibilidade de terminar o secundário em regime nocturno, por unidades ou blocos, este ano deixa de existir o regime nocturno passando apenas a existir os cursos EFA!!!
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