terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eco e Narciso

Em Metamorfoses, num universo ficcional, o poeta sulmonense Ovídio conta histórias de transfiguração de deuses e de homens, em diferentes formas naturais, para lembrar como os deuses realizavam sonhos e desejos. A partir da transformação dos homens, os deuses provam a sua superioridade diante dos mortais. Tal temática da metamorfose servirá a divulgação de vários mitos gregos na romanidade.

Muitos são os exemplos em que os mitos greco-latinos serviram de inspiração a explicações psicanalíticas, como é o caso do Narcisismo, de Freud.
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Reencontremos o Livro III em que Ovídio narra como a doce ninfa Eco entretinha Juno com longos discursos para impedir que a deusa descobrisse as artimanhas de Júpiter, que galanteava as ninfas nos bosques. Por este motivo, Eco foi castigada pela deusa a repetir a última palavra do que acabara de dizer. Por infortúnio maior, um dia apaixonou-se perdidamente por Narciso, um jovem de singular e divina beleza, amado por jovens e ninfas, mas a cujo amor permanecia insensível. De tal modo despedaçado o coração de Eco, pela rejeição de Narciso ao seu amor, definhou, deixando apenas um sussurro débil e melancólico, que ecoava o nome do amado.

Porém, a vingança divina não tardou e Nemésis (vingança), decidiu actuar, condenando Narciso a um triste fim. Era uma tarde quente de Verão e Narciso aproximara-se de uma fonte límpida e cristalina em busca de refrigério, após um momento de caçada. Ao ver a sua imagem reflectida na água, arde de amor por ela, e, assim, ali ficou num idílio contemplativo a admirar sua própria beleza na fonte, esquecido de alimento e de água. As cores e o vigor deixaram, então, seu corpo, e o jovem acabou por morrer.

No local onde as Ninfas esperavam encontrar Narciso, ficara uma flor branca e roxa, em que se transformara afinal, e que guarda o nome do jovem em sua memória.

Imagem - Óleo sobre tela de Cossiers, Museu do Prado, Madrid.

4 comentários:

joão boaventura disse...

Quem estiver interessado em ler a obra de Ovídio, Metamorfoses, traduzida pelo poeta Bocage, pode fazê-lo aqui, e se quiser recordar-se do latim, já que a tradução bocagiana é bilingue, esta é a oportunidade.

O autor que apresenta este trabalho tece vários considerandos sobre os trabalhos de tradução e os seus percalços, e desenvolve as consequentes polémicas proporcionadas não só por Bocage, como também António Feliciano de Castilho, não esquecendo o destemperado José Agostinho Macedo.

Mas vale apenas ler o texto introdutório e explicativo de João Ângelo de Oliva Neto à tradução bocagiana das “Metamorfoses” de Ovídio.

Espero que a autora do post me perdoe esta intromissão.

joão boaventura disse...

O nosso António Vieira, no seu Sermão do Santíssimo Sacramento, proferido em 1645, na Igreja de Santa Engrácia, «sobre a conveniência política da verdade do Sacramento eucarístico, e as eficácias do “mistério e do “encoberto”», também faz referência ao apontamento apresentado por Alexandra Azevedo, ao referir:

“Mas se os Gentios criam (desfaçamos todos etes impossíveis), se os Gentios criam, que Dafne se converteu em louro, que Narciso se converteu em flor, que Níobe se converteu em mármore, Hipómenes em leão, e Aretusa em fonte*, que razão lhes fica para duvidar, que o pão se converte em Corpo, e o vinho em sangue de Cristo?”
* Ovídio, Livro 2 dos “Remédios do amor”

xana disse...

Caro João Boaventura,

Muito agradeço as suas interessantes indicações. Também lembro que a Editora Cotovia se tem dedicado recentemente à publicação de alguns clássicos greco-latinos, entre os quais se conta esta referida obra de Ovídio, a reler!

Anónimo disse...

A cegueira narcisica pós-moderna ou somente a vaidade:

No entanto, a humanidade na reacção/ recusa da sua própria alienação (pelo controlo da mente) encontra um espaço de mais liberdade na necessidade de uma revolução do ser na auto-emancipação criando, assim, cultura, através da contracultura.
Contudo, Raymond Aron, em 1965, interroga-se sobre a incapacidade criada pela sociedade industrial, pela inconsciência da sua efectiva liberdade, “cega” que está pela racionalidade da sua eficiência colectiva ou pela pressão consumista (Carvalhais, 2007:54). Já Benjamin Constant, coloca o conceito de liberdade lado a lado com os prazeres individuais, na esfera privada, ao lado dos ideais individualistas, no campo do amor, da amizade, da moral familiar (Carvalhais, 2007: 51-53).
A actividade da consciência, na nova cultura electrónica, é totalizante (mas múltipla simultaneamente), simbólica à semelhança do futuro estruturalista da totalização na continuidade espiritualidade.

ABÇ,
Madalena Madeira

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