sábado, 10 de janeiro de 2009

"A DIFERENÇA É PROFUNDA"

Palavras do naturalista Francisco de Arruda Furtado, o correspondente português de Darwin (infelizmente falecido de tuberculose aos 33 anos), que sintetizam qual era, na sua opinião, a diferença entre uma visão teísta e naturalista da origem do homem:
"Cristo propôs-se regenerar um ente miserável, decaído do seu primitivo esplendor por causa dos seus pecados; Darwin estimula a humanidade na senda dum progresso incessante partindo, ao contrário, duma origem obscura e bestial. A diferença é profunda."
Francisco de Arruda Furtado, "Carlos Darwin", O Século, 2 (433) 9 de Junho de 1882, ano da morte de Darwin.

8 comentários:

alfredo dinis disse...

Caro Prof. Fiolhais,
Felizmente, hoje é possível ser cristão e afirmar que essa 'diferença profunda' desapareceu.
Saudações,

Alfredo Dinis

Osame Kinouchi disse...

Carlos,

Me parece que o "pecado original" ou "pecado de origem" seja uma historinha mitologica que reflete a sabedoria convencional de que o ser humano é por constituição egoista, ou seja, não é fruto de seus atos mas de seus genes ("de sua origem"). E que para transcende-lo, eu necessitaria de memes muito poderosos (religiosos?) a fim de contrabalançar meu genes egoistas.

Por outro lado, não sei se Darwin estaria confortável hoje com uma visão de evolução progressiva da humanidade (progressismo não faz parte da Nova Sintese).

Daí, se igualarmos Pecado Original = Genes Egoístas, não vejo qualquer diferença entre as duas posições. Na verdade, acho que o Darwinismo defenderia que a humanidade não irá evoluir (eticamente ou em qualquer outro aspecto) no curto ou medio prazo, a menos que usemos engenharia genetica e eugenia, o que é temerário atualmente. O que é uma idéia análoga à idéia cristã de que o homem não pode salvar a si mesmo (mudar sua constituição psiquica profunda ou Id Freudiano) apenas através de suas ações.

Ou seja, ambas as visões de mundo são realistas em relação à natureza humana e se contrapõe às visões românticas tipo "o bom selvagem" ou "o homem é (apenas) fruto do seu meio".

Me parece que uma crítica à sociobiologia feita na década de 70 era de que ela seria uma versão secular da visão cristã da natureza humana (o que pode não ser coincidencia, dado que Edward Wilson era batista).

Andrew Black disse...

«Darwin prova que a ciência é uma conquista colectiva. A selecção natural foi explicitada pela primeira vez por Russel Walace, e os tentilhões e suas diferenças foram descobertos por John Gould. Darwin entregou as aves a Gould, antigo jardineiro, dizendo que eram melros, trinca-pinhões e tentilhões. Foi Gould que descobriu e alertou Darwin de que eram diferentes variedades de tentilhões. Geralmente os chamados direitos de autor, com algumas excepções, são uma apropriação abusiva e interesseira do património colectivo.»

- Este é um comentário muito interessante que copiei da caixa de comentários do jornal Público.

Não é correcto atribuir-se a Jesus de Nazaré a intenção de "redimir os pecados da Humanidade com o seu sangue" e coisas que tais. Essa é uma interpretação da Igreja Católica, a qual Jesus não fundou, e a quem não passou procuração alguma.

Jesus, aliás, não fundou nenhuma religião, não ordenou sacerdotes, não prescreveu rituais nem organizou quaisquer hierarquias ou organizações. Jesus permanece a meu ver muito subvalorizado, continua a ser visto como um ditador que ameaça com as chamas do Inferno quem não for à missa, e coisas assim. Ora Jesus nem sequer falou no Diabo ou no Inferno. Isso seria uma negação total da sua doutrina. Os homens têm transformado Jesus no mensageiro de um Deus austero, irracional e vingativo.

Russel Walace, co-autor da Teoria da Evolução, era cristão, mais precisamente espírita, e como tal, os avanços da Ciência, só confirmavam as suas convicções filosóficas.

Seria correcto para Walace, dizer-se que:

«Jesus estimula a humanidade na senda dum progresso incessante partindo, ao contrário, duma origem obscura e bestial.»

Pelo exemplo que nos oferece. De aprimoramente interior, de amor ao próximo, de tolerância.

Anónimo disse...

« progresso incessante »
Em que sentido é que pensa ser utilizada a palavra progresso, em "Carlos Darwin", O Século, 2 (433), de 9 de Junho de 1882?´

A minha dúvida deve-se a que a associação de incessante a progresso, para a perceber, é certamente necessário compreender o que o autor citado quiz dizer (ou disse).

Anónimo disse...

Repetição do comentário anterior com correcções.

Correcção ortográfica: "quis" em vez de "quiz"
Correcção gramnatical: "ter sido utilizada" em vez de "ser utilizada"
Acrescentar "Caro Professor Fiolhais"


O comentário completo fica

Caro Professor Fiolhais,

« progresso incessante »
Em que sentido é que pensa ter sido utilizada a palavra progresso, em "Carlos Darwin", O Século, 2 (433), de 9 de Junho de 1882?´

A minha dúvida deve-se a que a associação de incessante a progresso, para a perceber, é certamente necessário compreender o que o autor citado quis dizer (ou disse).

Américo Tavares

João Pedro Ferrão disse...

No fundo, ambos sugerem uma evolução: o primeiro espiritual, o segundo física.

Carlos Fiolhais disse...

Caro Alfredo Dinis
Eu sei, eu sei...

Caro Américo Tavares
Dei uma achega sobre a ideia de progresso na época num novo post.
Cordialmente
Carlos Fiolhais

Anónimo disse...

Caro Professor Fiolhais,

Obrigado pela sua resposta.

Saudações também cordiais.

Américo Tavares

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