Para os nossos leitores que não puderam estar presentes no Congresso Internacional de Promoção da Leitura, organizado pela Casa da Leitura/Fundação Calouste Gulbenkian e que decorreu nos dias 22 e 23 deste mês de Janeiro, aqui deixamos uma síntese do mesmo realizada por Rui Marques Veloso, que teve a amabilidade de, recentemente, nos dar uma entrevista a propósito deste evento.
O congresso Formar Leitores para Ler o Mundo teve a presença de cerca de setecentos participantes. Uma adesão tão elevada para um acontecimento desta natureza encontra justificação no leque de convidados para realizar as conferências e na temática escolhida; nunca será demasiada a reflexão sobre a formação de leitores, nem excessivos os contributos que a investigação universitária nos tem trazido.
Os quatro painéis ofereceram uma visão polifacetada da leitura, com particular incidência na sua valência literária. No primeiro, a conferência de abertura pertenceu a Peter Hunt, da Universidade de Cardiff, que focalizou o novo paradigma de leitura que hoje se vive, marcado pela tendência para textos muito simples de molde a que os leitores não tenham de pensar muito; questionou os ganhos daqui decorrentes, já que o espaço para a imaginação se reduz drasticamente. Nas conferências seguintes, foi sublinhada a importância dos paratextos e dos elementos peritextuais nas inferências produzidas pelas crianças (Lawrence Sipe/Universidade da Pensilvânia), a literacia visual e o peso da leitura literária (Maria Nikolajeva/Universidade de Estocolmo), a ficção cruzada (crossover fiction) e a criação de leitores, ou seja, em que medida a ficcção para crianças cativa igualmente os adultos (Sandra Lee Beckett/Univ. de Brock - Canadá).
O segundo painel abriu com a conferência de Teresa Colomer, da Universidade Autónoma de Barcelona, onde foi acentuado o facto de a educação literária não constituir um luxo, antes um caminho incontornável para a pertença a uma comunidade cultural e para o acesso ao imaginário colectivo. Em seguida, intervieram Pedro Cerrillo (Universidade de Castela-Mancha), que valorizou a mediação leitora na aquisição da capacidade de leitura dos cidadãos, e Michel Fayol (Université Blaise-Pascal), que analisou a actividade de compreensão da leitura realizada pela criança. Pep Duran (livreiro e narrador em Barcelona) ofereceu-nos uma performance em que acentuou o poder dos contos na articulação das componentes cognitiva, emotiva e instintiva para a construção da nossa identidade.
O terceiro painel – Projectos de Promoção de Leitura – teve, na conferência de abertura, António Nóvoa, Reitor da Universidade Clássica de Lisboa, que abordou a evolução da formação de leitores nos sistemas de ensino, e, nas conferências seguintes, António Prole (Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas), que falou da concepção e desenvolvimento do projecto Casa da Leitura, Dolores López-Casero (Fundação German Sanchez Ruiperez), que relatou os resultados de um estudo, levado a cabo pela Fundação que representa, sobre as pré-leituras na alfabetização emergente das crianças, e Galeno Amorim (Observatório do Livro e da Leitura – Brasil) que relatou experiências muito diversas, levadas a cabo no seu país, para formar leitores, especialmente em zonas rurais desfavorecidas.
O último painel consistiu numa conversa, moderada pelo jornalista António José Teixeira, sobre a leitura como experiência de vida – três reflexões protagonizadas por José Barata-Moura (Universidade Clássica de Lisboa), Fernando Savater (Universidade Complutense de Madrid) e Eduardo Marçal Grilo (Fundação Calouste Gulbenkian). A leitura arrasta o compreender e o transformar, gerando uma constelação de saberes, o que a torna uma plataforma de intervenção no mundo (J.B-M.); a leitura é um acto de liberdade que possibilita saltar as fronteiras do tempo e do espaço (E.M.G.); a leitura é uma droga que nos possui e que nos abre caminhos – uma paixão que se contagia (F.S.). Num tom informal, foram feitas afirmações que nos questionam e nos responsabilizam como cidadãos, pois a promoção da leitura não se resolve com imperativos, mas faz-se com a educação dos sentidos.
A sessão de encerramento foi marcada pela intervenção de Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura, que focou os avanços trazidos pelo Plano na promoção da leitura em Portugal, particularmente nas camadas mais jovens.
Rui Marques Veloso
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