quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A ACTUALIDADE DE JOSÉ BONIFÁCIO

Há poucos dias tive a oportunidade de ouvir no Museu da Ciência de Coimbra uma interessantíssima palestra de Martim Ramiro Portugal, Professor de Ciências da Terra, sobre a vida e obra do seu antecessor na Universidade de Coimbra José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o brasileiro descobridor do mineral onde foi encontrado o lítio e pioneiro da metalurgia em Portugal que no Brasil talvez seja mais conhecido como o "patriarca" da independência do Brasil (ver aqui um excelente sítio sobre José Bonifácio).

Com a devida autorização do autor (que agradeço), transcrevo o teor de um dos "slides" que o Professor Martim Portugal apresentou, com frases textuais de José Bonifácio e o respectivo significado na interpretação do palestrante. Conclusão: José Bonifácio permanece bastante moderno. Mudam-se os tempos, mas não se mudam todos os costumes!

Escritos sobre as Ciências Naturais de José Bonifácio de Andrada e Silva (entre parêntesis interpretação de Martim Portugal passados dois séculos):

1- "A falsa ideia que o povo tem da Ciência"
(Preconceitos sobre a dificuldade)

2- "O ódio que o clero supersticioso lhes tem."
(Prevalecimento de rotinas e velhos conceitos)

3- "O encasquetamento do direito civil e canónico, que dão pão."
(Privilégios das profissões mais rendosas)

4- "A nímia estimação que faz a capital dos estudos frívolos da poesia e retórica."
(A cultura está nas literaturas e nas ciências sociais – conceito antigo)

5- "A seita exclusiva do purismo."
(Preconceitos que prejudicam o saber fazer)

6- "A falta de museus, gabinetes de física e laboratórios."
(A falta de equipamentos e laboratórios)

7- "A negligência dos grandes para este tipo de basófia"
(O não reconhecimento da importância da Ciência e Tecnologia)

8- "A falta de meios dos literatos, para longas observações e experiências custosas".
(A inexistência de condições para investigação porfiada e bem sustentada)

9- "A falta de patriotismo etc, tudo o que pode trazer utilidade à nação".
(Não reconhecimento do valor estratégico da Ciência e Tecnologia).

10- "O modo pouco adulador do filósofo".
(O carácter austero e a expressão dos trabalhos de Ciência e Tecnologia em linguagem sóbria).

1 comentário:

Anónimo disse...

Impressionante a actualidade das "queixas". Passaram-se quase 200 anos e o problema é o mesmo... Apesar de beneficios tecnologicos, excelentes esforços de divulgação cientifica, avanços extraordinarios da ciencia... Ja chega nao?

UM TIPO CENSURA DE LIVROS AINDA SEM DESIGNAÇÃO

Não sabemos ao certo, mas podemos colocar a hipótese, muito plausível, de a censura da expressão humana, nas suas mais diversas concretizaçõ...