Respeitando a ortografia original, transcrevo o parágrafo final da primeira tradução portuguesa da "Origem das Espécies" de Charles Darwin (Livraria Chardron de Lelo e Irmão, 1913):
"É interessante contemplar uma ribeira luxuriante, tapetada com numerosas plantas pertencentes a numerosas espécies, abrigando aves que cantam nos ramos, insectos variados que volitam aqui e ali, vermes que rastejam na terra única, se se pensar que estas formas tam admirávelmente construídas, tam diferentemente conformadas, e dependentes umas das outras duma maneira tam complexa, teem sido todas produzidas por leis que actuam em volta de nós. E estas leis, tomadas no seu sentido mais lato, são: a lei do crescimento e reprodução; a lei da hereditariedade que implica quási a lei da reprodução; a lei da variabilidade, resultante da acção directa e indirecta das condições da existência, do uso e não-uso; a lei da multiplicação das espécies em razão bastante elevada para trazer a luta pela existência, que tem como consequência a selecção natural, que determina a divergência de caracteres, e a extinção de formas menos aperfeiçoadas. O resultado directo desta guerra da natureza, que se traduz pela fome e pela morte, é pois o facto mais admirável que podemos conceber, a saber: produção de animais superiores. Não há uma verdadeira grandeza nesta fórma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continúa girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas dum comêço tam simples, não tem cessado de se desenvolver e se desenvolve ainda!PS) O Dr. José Feijó, Comissário da Exposição sobre Darwin, na Fundação Gulbenkian, chamou-me a atenção para o facto de na edição original não haver esta referência ao Criador, na penúltima frase, que abreviada puxei para título. O leitor poderá verificar issso mesmo, lendo o original inglês:
"It is interesting to contemplate an entangled bank, clothed with many plants of many kinds, with birds singing on the bushes, with various insects flitting about, and with worms crawling through the damp earth, and to reflect that these elaborately constructed forms, so different from each other, and dependent on each other in so complex a manner, have all been produced by laws acting around us. These laws, taken in the largest sense, being Growth with Reproduction; inheritance which is almost implied by reproduction; Variability from the indirect and direct action of the external conditions of life, and from use and disuse; a Ratio of Increase so high as to lead to a Struggle for Life, and as a consequence to Natural Selection, entailing Divergence of Character and the Extinction of less-improved forms. Thus, from the war of nature, from famine and death, the most exalted object which we are capable of conceiving, namely, the production of the higher animals, directly follows. There is grandeur in this view of life, with its several powers, having been originally breathed into a few forms or into one; and that, whilst this planet has gone cycling on according to the fixed law of gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being, evolved."
6 comentários:
Charles Darwin diz:
"É interessante contemplar uma ribeira luxuriante, tapetada com numerosas plantas pertencentes a numerosas espécies, abrigando aves que cantam nos ramos, insectos variados que volitam aqui e ali, vermes que rastejam na terra única, se se pensar que estas formas tam admirávelmente construídas, tam diferentemente conformadas, e dependentes umas das outras duma maneira tam complexa, teem sido todas produzidas por leis que actuam em volta de nós."
Darwin confunde as suas observações com as suas interpretações. As leis naturais não produzem informação codificada, sendo que a vida depende de informação codificada em quantidade, qualidade, complexidade e densidade que transcende tudo o que a mente humana pode abarcar e compreender.
"E estas leis, tomadas no seu sentido mais lato, são: a lei do crescimento e reprodução; a lei da hereditariedade que implica quási a lei da reprodução;"
Estas leis apenas corroboram o que a Bíblia diz: os seres vivos reproduzem-se de acordo com a sua espécie. É isso, e só isso, que observamos todos todos dias.
"...a lei da variabilidade, resultante da acção directa e indirecta das condições da existência, do uso e não-uso;"
Na verdade, hoje sabemos que os seres vivos se dividem em grandes famílias, de acordo com o seu potencial genómico. Por exemplo, existem muitas espécies de caninos dentro da familia dos caninos.
Também existem muitas espécies de felinos ou de gatos. No entanto, toda a variabilidade já está pré-programada nos genes, os quais se expressam de forma muito diferente consoante as pressões do meio ambiente. Essa capacidade de adaptação reflecte um criador com grandes soluções inventivas.
"...a lei da multiplicação das espécies em razão bastante elevada para trazer a luta pela existência".
A multiplicação das espécies resulta da existência de um programa, no DNA, que a permite. A luta pela existência não cria genes novos nem estruturas e funções novas. Ela apenas se limita a eliminar os mais fracos.
"...que tem como consequência a selecção natural, que determina a divergência de caracteres, e a extinção de formas menos aperfeiçoadas."
Mas não explica a origem de informação genética nova, codificadora de novas e mais complexas estruturas e funções. A selecção natural, que nenhum criacionista nega, vai eliminando a quantidade e a qualidade da informação genética no genoma.
"O resultado directo desta guerra da natureza, que se traduz pela fome e pela morte, é pois o facto mais admirável que podemos conceber, a saber: produção de animais superiores."
A guerra da natureza é o resultado da corrupção de toda a natureza posteriormente ao pecado. Por causa dele, toda a natureza foi amaldiçoada pelo Criador. O Universo é um todo físico e moral. A Bíblia diz que toda a Criação está doente por causa do pecado humano.
Uma coisa é certa. A luta pela sobrevivência explica a morte dos seres vivos, mas não explica a origem da informação codificada que existe no núcleo das suas células.
Esta informação só pode ser executada se existirem os mecanismos de transcrição, tradução e execução das instruções codificadas.E esse mecanismo só existe porque se encontra previamente codificado no DNA.
Tudo isso leva a que se possa concluir que a vida só pode ter sido o produto de uma criação sobrenatural e instantânea, como o Génesis ensina.
"Não há uma verdadeira grandeza nesta fórma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só?"
Na verdade, o Criador criou a vida e diferentes famílias ou géneros de animais, com o respectivo potencial genómico.
A partir daí, e com especial relevo a partir da queda e do dilúvio, assistimos a mutações, adaptações, especiação, selecção natural, sendo que todos esses eventos enfraquecem e fragmentam os "pools" genéticos iniciais, diminuindo a quantidade e a qualidade da sua informação genética.
"Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continúa girar na sua órbita"
Esa lei fixa reflecte a criação ordenada e racional do Universo.
Uma grande explosão, a partir de um nada primordial, não constiui a melhor explicação para as leis do Universo.
"...uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas dum comêço tam simples, não tem cessado de se desenvolver e se desenvolve ainda!"
Não existe vida simples. Além disso, toda a variedade é o resultado do aproveitamento de pools genéticos iniciais, dotados de grande variabilidade e heterozigozidade.
Hoje sabe-se que muitas das variedades de cães criadas por selecção artificial acabam por ter menos genes e mais doenças, o que corrobora o criacionismo e refuta o evolucionismo.
A especiação e a selecção natural não criam informação genética nova, codificadora de estruturas e funções inovadoras e mais complexas.
Elas degradam a informação genética existente, e fragmentam o "pool" genético, como pode ser comprovado com a selecção artificial.
Charles Darwin tinha uma visão muito ingénua e limitada da Bíblia e da ciência.
Para ele a célula era apenas protoplasma indiferenciado.
Ele desconhecia que o DNA tem quantidades inabarcáveis de informação codificada e que esta só pode ter uma origem inteligente.
Iremos bem se não aceitarmos acriticamente as suas ideias em ambas as matérias.
Caro Jónatas:
Esqueceu-se de assinar o regougo anterior...
Conseguiu traduzir: "There is grandeur in this view of life" para "Não há uma verdadeira grandeza".
Assim é complicado procurar a verdade.
Remeto-os para este post:
http://portugalprafrente.blogspot.com/2009/01/evolucao.html
muito interessante! vou tomar a liberdade de mencionar o fato e indicar seu blog, pode ser?
trata-se de um plágio literal dessa tradução (incluída a menção ao criador), praticado no brasil desde os anos 1970 e até hoje em circulação.
pretendo publicar amanhã:
http://naogostodeplagio.blogspot.com
agradeço
denise bottmann
Ola
No link a seguir
http://darwin-online.org.uk/contents.html#origin
Aonde são apresentadas diversas edições (8 num total) de a Origem das Especies, se olhar na rimeira edição de 1859 não aparece a mensão ao Criador, porem na edição de 1860 e nas edições posteriores aparece tambem.
Abraços
hoje recebi um comentário interessante em meu post, onde eu mencionava esta questão que vc levantou. veja o comentário:
"Ola.
No link: http://darwin-online.org.uk/contents.html#origin
Onde poderemos ver diversos trabalhos de Charles Darwin (que por sinal são excelentes), lá tem 8 edições completas de a Origem das Especies. E somente na primeira edição de 1859 NÃO aparece a menção ao criador. Nas demais edições de 1860 até 1876 na versão inglesa aparece a menção do criador. Em uma versão em espanhol aparece a palavra criador. Eu tenho o livro dos autores James Moore e Adrian Desmond, com o titulo em portugues "Darwin - A Vida De Um Evolucionista Atormentado" é informado que o próprio Charles Darwin colocou nas edições posteriores esta menção ao criador.
Agora os autores não divulgam se foi contra a vontade "forçada" de Darwin ou foi por arrependimento.
Abraços
Julio"
bom, pelo menos não foi invenção do tradutor!
http://naogostodeplagio.blogspot.com/2009/04/os-200-anos-de-darwin-hemusediouro.html
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