quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Porque morrem os pelicanos?
Em 1948, Paul Müller ganhou o Nobel da medicina pela descoberta das propriedades insecticidas do DDT, em particular em relação aos vectores de doenças como a febre amarela e a malária. O DDT foi assim um dos primeiros insecticidas a ser usado extensivamente, não só na erradicação da malária como na agricultura. Mas o DDT é igualmente um poluente organoclorado persistente e bioacumulável, nomeadamente o DDT utilizado na agricultura é lixiviado dos campos para os cursos de água e posteriormente para zonas costeiras, afectando peixes e os seus predadores. Este desregulador endócrino que se acumula nos tecidos adiposos afecta especialmente os sistemas reprodutivo e nervoso. Em particular, o DDT e um dos seus produtos de degradação, o DDE, interferem na regulação hormonal de certos pássaros, provocando o enfraquecimento da casca do ovo e comprometendo a reprodução da espécie.
Em 1962, foi publicado o livro Silent Spring, de Rachel Carson, considerado uma das obras mais influentes do século e que despertou a consciência ecológica do mundo. O livro alertava para os efeitos ambientais do DDT, em particular para o facto de o DDT estar a causar a extinção de algumas espécies, entre as quais aquela que é o símbolo dos EUA, a águia careca, mas também o falcão peregrino e o pelicano castanho da Califórnia. O livro esteve várias semanas na lista de best-sellers no New York Times e causou tantos protestos públicos que o DDT, após uma acirrada disputa judicial e política, foi banido nos EUA e pouco depois na maioria dos países industrializados. Actualmente a sua utilização é controlada pela Convenção de Estocolmo sobre POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes).
Os pelicanos castanhos da Califórnia, depois de terem recuperado dos efeitos nocivos do DDT, parecem estar de novo ameaçados, pelo menos é o que indicam as notícias que nos chegam da Baja California. Um número pouco habitual de pássaros mortos ou gravemente doentes têm aparecido na costa oeste dos Estados Unidos, do Oregão a San Diego, e os peritos em vida marinha não sabem bem porquê. De acordo com o International Bird Rescue Research Center em Fairfield, Califórnia, mais de 74 pássaros doentes foram trazidos para o centro nos últimos dias e receberam centenas de chamadas informando a descoberta de pelicanos mortos ou doentes e confusos. O director executivo do centro, Jay Holcomb, indica que os pelicanos estão exaustos, desorientados e apresentam as patas e a bolsa do pescoço descolorida.
«The ones that are captured are very thin, emaciated birds — these are animals who know how to care for themselves that don’t know where they are,» informou Holcomb. «The starvation is secondary, so something is going on that's making them not able to hunt.»
As autoridades norte-americanas estão a tentar descobrir a causa primária da morte dos pelicanos. Embora se especule se esta poderá ser o ácido domóico que causa a intoxicação amnésica de que falei a propósito do filme «Os pássaros» de Hitchtcock, os sintomas apresentados e o facto de apenas pelicanos serem afectados parecem excluir a hipótese. Mas poderá ser uma toxina ainda desconhecida produzida por outra alga que se acumule nos peixes de que se alimentam os pelicanos. Outra possível causa poderá ser um vírus como o vírus do Nilo que em 2007 ameaçou a colónia de pelicanos brancos no Medicine Lake National Wildlife Refuge no Montana.
Qualquer que seja o culpado encontrado, este é mais um alerta para a urgência de salvarmos os nossos oceanos e os seus frágeis ecossistemas.
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1 comentário:
Por que.
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