sábado, 29 de novembro de 2008

Preconceito, distanciamento e política


Na sequência do meu post “Discussão de Ideias e Boas Maneiras”, o Pedro refutou-me. Mostrou-me que, como é meu costume, exagerei. E eu aprendi algo importante: que o problema não é apenas as pessoas terem ou não preconceitos, mas o apego emocional que têm aos lugares-comuns, a favor dos quais até podem ter “justificações fraquinhas”.

Um apego emocional a ideias é uma má ideia. Uma das coisas que se devia ensinar na escola é precisamente a olhar com distanciamento para todas as nossas ideias, incluindo as nossas ideias mais queridas. Infelizmente, tanto na escola como nos meios de comunicação, a ênfase é toda posta na ideia de “identidade de grupo” — daí a minha polémica crítica ao multiculturalismo. O multiculturalismo tem outras intenções, louváveis, mas é uma psicofoda porque sanciona o apego emocional às ideias que queremos classificar como elementos da nossa identidade. Não nota isto quando nos limitamos a pressupor que as pessoas realmente querem e devem identificar-se com as ideias e práticas dos seus grupos étnicos -- o que teria o resultado absurdo de eu ter o dever de me identificar com o racismo e com o colonialismo dos meus antepassados, para não falar no machismo dos meus contemporâneos.

Quando não há distanciamento perante as nossas ideias mais queridas, gera-se o dogmatismo e a guerra política. Veja-se o que acontece neste blog com os comentários criacionistas: a vontade de debater ideias, por parte do criacionista que aqui comenta, é nula. Tudo o que está em causa para o criacionista é fazer guerra política. Não há o mínimo interesse no debate intelectual porque sem distanciamento perante as nossas ideias mais queridas não pode haver debate: há apenas guerra política. Uma sociedade em que os seus membros não têm distanciamento perante as suas próprias ideias — agarrando-se dogmaticamente a elas por constituírem elementos de identidade cultural, religiosa ou política — é uma sociedade que só pode estar em guerra constante (verbal ou pior). Na guerra ideológica o objectivo não é descobrir a verdade, mas antes aniquilar as vozes dissidentes e empurrar o mundo numa dada direcção, que exclui a existência dos dissidentes, ou lhes retira poder político.

Discutir ideias não devia ser entendido como o aniquilamento de ideias que põem em causa o nosso apego emocional aos nossos lugares-comuns preferidos, mas antes como a abertura para discutir pormenorizadamente esses lugares-comuns. Olhe-se criticamente para os supostos debates na televisão e nas escolas: geralmente, ninguém nesses pseudodebates tem o mínimo interesse em discutir ideias; trata-se apenas de voltar a dizer os mesmos lugares-comuns ecológicos, ou igualitários, ou multiculturalistas, ou seja o que for. O papel crucial do ensino de excelência devia ser preparar o cidadão para resistir a esta psicofoda, e perguntar descaradamente a um ecologista: “Mas afinal qual é o problema de lixar o planeta, se quem paga a factura não somos nós mas os nossos descendentes? Que fizeram os meus descendentes por mim? Nada. Por isso, por que hei-de eu fazer algo por eles?” Se o ecologista gaguejar, já sabemos do que se trata: mero lugar-comum, como no passado era um lugar-comum dizer que os índios ou os negros não tinham alma e por isso podiam ser escravizados, como no passado era um lugar-comum que as mulheres não deviam ter igualdade política porque... bem, porque dava jeito às bestas da altura.

18 comentários:

José Lourenço disse...

Pois...nos tempos que correm (e desde sempre), parece que o mundo está impregnado de lugares comuns, gente comum - que existe, mas não vive - e sem capacidade de se destanciar para analisar com alguma objectividade o que quer que seja!

Nuno disse...

Como ecologista e em resposta á sua sugestão em vez de gaguejar digo que não há problema nenhum mas devo dizer que existem modos mais rápidos e eficazes de cometer suicídio do que "lixar o planeta".

Victor Gonçalves disse...

Boa Desidério, espero que comece por si, boa sorte!

Fernando Dias disse...

A submissão ao apego emocional tem mais força do que se pensa e mistura-se com os próprios interesses. E quais são os próprios interesses? Bom, podem ser apenas as próprias ideias tidas como ‘summum bonum’.

Não me espanta muito que a racionalidade se submeta à emoção, e que esta se aposse das ideias. Não somos tão radicalmente diferentes dos outros animais, mas é o preconceito (não podemos viver sem pré-conceitos) que nos distingue dos ‘meros’ animais. Ao querermos ser tão racionais quanto possível, acabamos por abdicar de tudo o resto e apenas obedecer à ordem das ideias que se apoderaram de nós. Segunda ordem de Orgel: a evolução é mais esperta do que nós.

Desidério Murcho disse...

O gaguejo e a mentira são equivalentes neste caso, e substituem o argumento. A verdade é que nunca ocorre aos ecologistas que pressupõem que temos deveres para com as gerações seguintes, mas não sabem justificar tal coisa. Eu não estou a dizer que não temos tais deveres, apenas mostrei o que é ter um preconceito: andar na rua a lutar por X sem fazer a mínima ideia de como se defende X: limitamo-nos a ligar a cassete e lá vai disto.

Nuno disse...

O Desidério (e qualquer outra pessoa) tem a total e sagrada liberdade de renunciar a todas as responsabilidades que não sejam obrigatórias e a qualquer comportamento proactivo.

Não percebo o que quer dizer com "ecologistas na rua" porque o que une os verdadeiros ambientalistas não são as cores políticas ou sociais mas um pragmatismo que só tem significado com acções concretas.

Infelizmente existem muitos ecologistas de paleio como existe muito paleio irresponsável...

joão boaventura disse...

Usando o lugar comum da metáfora e o lugar comum que se transmite de geração para geração (também um lugar comum), o mundo é um lugar comum cheio de gente comum com locuções de lugares comuns.

Desculpe Desidério mas há aqui uma obsessão ou fixação ou manifestação de distanciamento em relação ao homem comum, vulgar,
ou uma panóplia de dribles pensados, aglutinados, saltando todos uns por cima de todos, como se ser filósofo é servir-se de exemplos salteados, pensados, escrutinados, mastigados, diferentes,atrapalhados, com o pensamento estereotipado, repetido, de Colins, Ecos, Deleuzes e quejandos, para exteriorizar que é diferente e acima dos outros.

Isto, porque, salvo erro (deculpe mais este lugar comum) o Desidério faz saltos de cavalo na prosa para provocar, como é a especialidade do Colin, esquecendo que também se serve dos lugares comuns de todos os filósofos.

Acontece que uns são mais filósofos que outros (mais um lugar comum que espero me perdoe mas tenho uma obsessão genética).

Concluo que o Desidério não terá aprendido os lugares comuns do abc, da tabuada, e de todas as disciplinas curriculares do secundário e universitário.

A filosofia do Desidério, embore pense pela sua cabeça, acaba por ser a filosofia de todos os filósofos, mastigada, adaptada, congeminada, alterada, actualizada, trabalhada, adulterada por vezes (não esqueça... os meus lugares comuns são genéticos).

Quando fala n'"O papel crucial do ensino de excelência devia ser preparar o cidadão para resistir a esta psicofoda..." (cá está uma etiqueta que foi buscar ao Colin e que acaba também por se transformar num lugar comum de tanto o repetir).

Faz-me lembrar o Goffman que, quando lhe perguntaram se era um interaccionista simbólico, respondeu que o interaccionismo simbólico não existia, que apenas criaram uma etiqueta, juntaram uns tantos à volta da etiqueta, e passaram a viver disso.

Assim o Desidério. O Colin McGinn criou a etiqueta da psifoda, e aí temos o Desidério como um fã e um dos novos seguidores. Acaba por funcionar como os lugares comuns dos fãs do Sporting ou do Benfica.

Eu sei que o Desidério quer ser diferente dos outros mas não precisa agredir e estabelecer o Novo Mundo.

Nós sabemos que o Desidério é obrigado a pensar porque isso é o apanágio dos que escolhem viver do cérebro e com o cérebro.

Mas isso não o autoriza a ser um xenófobo dos não pensadores, ou racista dos lugares comuns.

Faz-me lembrar um padre que conheci. Dizia-me: "Eu sei que não endireito o mundo, mas sempre que ele passar torto a meu lado, eu não me calo".(Obs.: O Manuel Alegre é capaz de o ter conhecido, donde deduzo que aquele aforismo passou também a etiqueta).

Cordialmente

Desidério Murcho disse...

Eis então como as coisas são. Quem procura alertar as pessoas para os lugares-comuns que nos impedem de pensar e nos fazem agir em manada está também a agir em manada e a seguir lugares-comuns.

Aceito.

Mas daqui não se segue que quem me denuncia a mim de pensar segundo lugares-comuns que está a usar o velho lugar-comum do ataque ad hominem falacioso por pura falta de argumentos, desvinado o assunto que estava em discussão?

Desafiar o óbvio é óbvio que pisa sempre alguns calos.

Vitor Guerreiro disse...

Não deixa de me espantar o modo como o termo "psicofoda" psicofode as pessoas...

Haverá melhor indício de que esbarrámos no termo exacto?

Aplicando aqui o raciocínio acerca do insulto (só posso sentir-me insultado se suspeito um fundo de verdade no insulto), diria que "psicofoda", ao descrever com precisão o fenómeno que está por trás de alguns comportamentos verbais e inargumentativos, ofende precisamente pela mesma razão.

E quem não salta... não é anal-retentivo! ua ha ha

joão boaventura disse...

Caro Desidério

Como não argumentou nada - embora acredite na psico-auto-convicção de que argumentou - exige agora dos outros que argumentem o seu não-argumento, quando os seus enunciados são constatativos, isto é, verdades irredutíveis e indiscutíveis.

Repare que a sua asserção é, liminarmente,a de que, quem usa lugares comuns, é um não-pensador, e, consequentemente pertence ao rebanho dos usuários de lugares comuns. Distingue assim dois tipos de rebanhos: o do seu, e o dos outros, sendo o seu o correcto, e o dos outros, o errado, a erradicar.

Que argumento é esse? Basta afirmar como óbvio? declarar? decretar? Passa a ser lei? O homem que não declarar a apostasia aos lugares comuns entra na gaveta dos não pensadores? é uma casta a abater?

Basta dizer generalidades como a de que nos debates televisivos ninguém tem o mínimo interesse em discutir ideias? Ninguém? Que argumento é este? O que é que vou contrapor a esta afirmação que chega a ser a opinião, ou um lugar comum, de muita gente? Quem é "ninguém"? São todos? São alguns?

Desculpe mas penso (veja a minha ousadia de pensar) que os lugares comuns podem constituir ferramentas da comunicabilidade, para haver uma intercompreensão. A menos que o Habermas e o Adler, menos preocupados com essas agravações, também andem a dizer e a escrever lugares comuns.

Quando assevera que "Na guerra ideológica o objectivo não é descobrir a verdade, mas antes aniquilar as vozes dissidentes e empurrar o mundo numa dada direcção, que exclui a existência dos dissidentes, ou lhes retira poder político.", pergunto se esse conceito não será um lugar comum, porque muita gente (desculpe, mas Desidério também generaliza) o sabe, o diz, o escreve e o divulga.
O conceito não tem originalidade, não é novo. Está vulgarizado, logo é um conceito-lugar-comum.

A menos que nos queira explicar o que é que entende por lugar comum, porque, se estamos a falar de lugar comum é necessário saber do que é que se está a falar. Repare que explicação nos fornece sobre os temas abordados na televisão:

"os mesmos lugares-comuns ecológicos, ou igualitários, ou multiculturalistas, ou seja o que for". Os mesmos? Não os cita porquê? E depois responde-me que "...procura alertar as pessoas para os lugares-comuns que nos impedem de pensar..."?

Reconheço que terá autoridade para o dizer, mas terá mais autoridade se, para além do alerta, também abrir a bíblia e precisar quais são os lugares comuns que impedem as pessoas de pensar... como o Desidério.

De qualquer forma como tem uma opinião formada, e distanciada entre o signo e o significante, deixe os outros distanciarem os significados dos significantes, que também se usam nos aderentes aos lugares comuns.

Admita ao menos que nem todas as cabeças têm a sorte de possuírem o brilhantismo intelectual, argumentativo e crítico de Desidério. Isto sem demagogia (mais um lugar comum, suponho).

Se todo o mundo fosse brilhante como o Desidério, o mundo seria fastidioso. Assim, os usuários dos lugares comuns oferecem-lhe a oportunidade de se destacar, mesmo que, uma vez por outra, vá escorregando em um ou alguns lugares comuns.

Quando estabelece que o meu comentário "por pura falta de argumentos" desviando o assunto que estava em discussão", também não é argumento, ou antes é o argumento depreciativo.

Isto é o que penso, e porventura mal.

Com cordialidade.

Vitor Guerreiro disse...

"Desculpe mas penso que os lugares comuns podem constituir ferramentas da comunicabilidade, para haver uma intercompreensão. A menos que o Habermas e o Adler, menos preocupados com essas agravações, também andem a dizer e a escrever lugares comuns."

... ferramentas de comunicabilidade para um intercompreensão...

ou seja: os lugares-comuns fazem parte da maneira como as pessoas comunicam.

... não, não, não. É definitivamente muito mais profundo do que isso. muito menos redutor.

É isso e os meus antigos colegas de faculdade que nunca se libertaram da umbigo-diarreia serem incapazes de escrever "palavras", por causa da compulsão de escrever "dispositivos verbais". Não os culpo. É a psicofoda universitária portuguesa.

... com a cerejinha habitual: então nã querem lá ver que o Habermas diz lugares-comuns?! Habermas!

A sua ousadia de pensar permanece uma ousadia de impensar, porque, mais uma vez, para rechaçar a acusação de que não tem argumentos, despejou mais um monte de palavras onde não há um único argumento... mas muitos lugares-comuns (entenda-se: só para denunciar o lugar-comum de se denunciar os lugares-comuns de quem denuncia lugares-comuns de quem denuncia lugares-comuns)

e quem não salta é umbigo-diarrento...

Desidério Murcho disse...

Caro João

Há uma grande diferença em considerar indesejável que um sapateiro não saiba fazer sapatos e considerar indesejável que um electricista não saiba fazer sapatos. Eu considero indesejável que os intelectuais sejam vítimas do lugar-comum; nunca falei das outras pessoas. Não é de esperar de pessoas que não tiveram ou não têm acesso a livros, ou a uma formação intelectual sofisticada, que tenham ideias bem pensadas sobre vários assuntos. Mas isso mesmo seria de esperar de pessoas que têm essa formação. Pôr lugares-comuns em causa é crucial, porque muitos desses lugares-comuns escondem falsidades; e não é de esperar que não sejam os intelectuais a pô-los em causa. Há menos de um século, João, era “óbvio” que as mulheres ou os negros ou os ciganos não deviam ter iguais direitos políticos. Se não fossem algumas pessoas terem colocado em causa este “óbvio” ainda estávamos na mesma. Por isso, eu considero crucial que as pessoas que trabalham com ideias sejam capazes de pôr ideias em causa, e que não aceitem apenas os lugares-comuns que leram aqui ou acolá, agachando-se perante a autoridade de qualquer intelectual, só por ser um intelectual. Na verdade, o que você está a fazer comigo — pôr em causa o que eu afirmo, e ainda por cima sem me chamar nomes (o que agradeço!) — é o que eu defendo que se deve fazer com qualquer intelectual, e não apenas comigo.

Gostaria de sublinhar que não há elitismo na minha posição. Não me parece elitismo aceitar como normal que um padeiro ou um comerciante não tenha ideias sofisticadas sobre centrais nucleares; é preciso divulgar a informação e dar a todas as pessoas, incluindo essas, instrumentos para pensarem por si nesses temas, se quiserem fazê-lo. Mas muitas podem não querer fazer tal coisa, e têm todo o direito. O que eu argumento é que quem trabalha com ideias não deve estar ao nível do lugar-comum, pelas razões apontadas acima.

Espero ter tornado mais clara a minha posição. Consegui?

CPRT disse...
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CPRT disse...
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CPRT disse...

Desidério Murcho,

Isto de lugares-comuns e defesa de algo sem se saber bem porque, e ficar-se imune à razão, lembra-me sempre a tribo do futebol, pois um adepto defende o seu clube, mesmo quando a razão deveria fazer com que o adepto mudasse para o clube mais vencedor da actualidade, uma vez (já faz alguns anos) passou na RTP uma reportagem que tinha o nome que era mais ou menos "A tribo do Futebol". O que me parece é que a tribo foi um mecanismo com claro sucesso evolutivo, favorecendo claramente a nossa espécie, onde a defesa do grupo está como algo instintivo, sobrepondo-se a tudo, dando vantagem a esse mesmo grupo, sendo a estratégia mais adequada, e daí parece-me que deriva este tipo de comportamentos, tipo: militantes que defendem tudo dos seus dirigentes por mais absurdo e contraditório que seja.

alexandre o médio disse...

que bonito. então qual é a minha sorte que ainda no outro dia, já se calhar há uns meses, o tempo passa de uma maneira estranha... passa mas parece que não passa, não sinto grande continuidade... Gostaria de saber se o mesmo se passa com os meus alegres leitores? Este ponto de interrogação foi escusado... Enfim, dizia eu que naquela tarde em que vinha da faculdade a pensar... Vinha mesmo? Agora que penso não me lembro, se calhar estava a cozinhar o jantar, ou a limpar a mesa da cozinha... Mas como dizia, estava a pensar em como a "porcaria da filosofia", sim nesses termos mesmo, nesse dia estava triste com a filosofia, por alguma razão que não me consigo lembrar neste momento, umas boas semanas passadas desde o acontecimento que estou a relatar neste preciso momento... Enfim contava eu, vinha uma tarde da faculdade a pé, costumo fazer esse caminho a pé, faz-se bem, 10 minutinhos, aproveito para fumar um cigarro, meto uma musiquinha no ipod e lá vou eu... falar em musiquinhas no ipod ando a ouvir umas cenas fixes. mesmo. uma dia destes falo nelas, assim nalgum sítio, suponho que não nesta caixa de comentários, talvez um sítio com maior visibilidade, um blog meu era uma ideia porreira, tenho que me registar no blogger, então, dizia eu, vinha a pensar em como a "porcaria da filosofia" era enfim, uma grande porcaria, e pensava eu tal coisa porquê? sinceramente, não me consigo lembrar, porque como disse ali acima, este episódio passou-se há já algum tempinho... semanas, meses? não sei, o tempo desde há algum tempo que o tempo me começou a parecer estranho, como se não andassem em linha recta mas antes fizesse uma curva no ar, com a barriga para cima, ou para baixo, é indiferente, como se chama, no palavreado matemático.. Elipses? Talvez talvez, elipse não é a circunferência gorda? Quero lembrar-me do nome daquela merda, hmm... aquilo a função y=x^2, como se chama... parábola? Acho que é isso, parábola, mas enfim contava eu, estava eu a pensar nesse dia de verão, ou de outono, não sei bem, ás vezes penso que o tempo está a andar de maneira estranha, ás vezes anda mais rápido e outras vezes anda mais lento... faço sentido? talvez não talvez não... mas enfim, continuando... Continuava eu no meu caminho em direcção a minha casa, vindo da minha faculdade, isto provavelmente já eram umas 5 ou 6 da tarde... Ou talvez mais tarde se nesse dia por acaso fora ao ginásio, e dias em que vou ao ginásio so vou para casa por volta das 8 horas da noite, o que é uma chatice porque isso me obriga a ir jantar em casa e não na cantina, e eu que não gosto de aborrecer muito, se posso escolher, escolho não cozinhar... Enfim, ia eu andando com os phones do meu ipod branco no ouvido, a ouvir uma coisa qualquer, se isto aconteceu há semanas ou meses o artista provavelmente varia, não gosto de ouvir coisas durante muito tempo seguido, continuando, ia eu a caminho de casa, e ia a pensar que a filosofia era uma porcaria! exactamente! e o leitor está em choque e peço desculpa pelo acontecido, mas ninguém disse que esta narrativa ia ser uma leitura fácil, e muito menos eu alguma vez defendi tal coisa... E como se costuma dizer: quem foge não é amigo de ladrão. Ou de cão. Uma coisa assim. Mas o sentido mantém-se, impressionante como certas verdades são imutáveis à passagem do tempo... O que não acontece comigo, o tempo anda estranho, às vezes parece que encrava... Não anda... Como quando queremos ligar o carro e o carro não liga porque passou a noite no frio e o frio deve-lhe fazer mal, porque o gajo, o gajo não liga, e voltando ao assunto que motivou a escrita deste comentário na caixa desses mesmos comentários neste blog que aprecio ler, gosto muito daquelas discussões que às vezes atacam a blogosfera e este blog em particular, discussões de uma origem infeliz na minha humilde opinião... mas quem sou eu para fazer destes juizos de valor? Quem? E eu que estava a pensar nessa tarde, estava a pensar efectivamente que a filosofia era uma merda porque enfim, a filofia criava problemas do nada, parece idiota, e reconheço que falho em ver onde queria chegar naquele momento, mas enfim, a filofia, pensava eu, falava de problemas, que sei lá, não faziam parte deste universo, que enfim, a folofia era uma coisa do outro mundo!

Desidério Murcho disse...

A grande ilusão é pensar que se não temos provas irrefutáveis de algo, então não estamos justificados em pensar que isso é verdade.

Desidério Murcho disse...

A grande tolice é pensar que se não estamos justificados em pensar que algo é verdade, então isso não é verdade.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...