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8 comentários:
Tsk tsk, então abomina igualmente o Desidério a tão oportuna leitura do sr. Cavaco Silva sobre a raça portuguesa?
E isso é um juízo a priori ou não? :D (não estou a gozar, até acho que é uma excelente pergunta)
Gozos àparte, este vai ser um dos temas mais importantes num séc. que vai ser mais globalizante do que aquilo que possamos sequer imaginar, e as questões da heterogeneidade e/ou homogeneidade cultural/social/étnica serão muito, muito tensas.
Por outro lado, vejo o centro de Londres, a "City" sem praticamente nenhum inglês de "gema", com hindus, portugueses, espanhóis, chineses, etc., e vejo aí um futuro brilhante.
Opinião de Vítor Guerreiro:
Ponhamos de parte a palavra "povo" e usemos antes "população"
Opinião da Constituição Portuguesa:
Artigo 3.º
(Soberania e legalidade)
1. A soberania, una e indivisível, reside no "povo", que a exerce segundo as formas previstas na Constituição.
Artigo 7.º
(Relações internacionais)
1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos "povos", da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros "povos" para a emancipação e o progresso da humanidade.
2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os "povos", bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os "povos".
Artigo 9.º
(Tarefas fundamentais do Estado)
São tarefas fundamentais do Estado:
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do "povo" e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do "povo" português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
Artigo 10.º
(Sufrágio universal e partidos políticos)
O "povo" exerce o poder político através do sufrágio universal, igual, directo, secreto e periódico, do referendo e das demais formas previstas na Constituição.
________________-
Outras designações: pessoas, cidadãos, todos, trabalhadores, as famílias, pais, mães, mulheres, crianças, filhos.
________
Certo que a Constituição não é uma Enciclopédia, mas fico na corda bamba entre o povo da enciclopédia e a psicopopulação do Vítor Guerreiro.
Sem demagogia.
A constituição portuguesa, como quase qualquer outro documento político, é uma psicofoda e das grandes. E subsiste com base em mentiras políticas: que há uma coisa chamada "povo", e não apenas pessoas, que há uma coisa chamada "identidade cultural", e não apenas costumes idiotas, que há que defender a melhor língua do mundo, que é sempre a nossa, etc.
Despsicofoder-se é começar por compreender a mentira política que nos rodeia.
Caro Desidério
Pelo seu argumento posso chegar também à conclusão que a filosofia, a psicologia, a sociologia, a economia, e os habituais etecéteras também se encaixam na etiqueta das mentiras filosóficas, psicológicas, sociológicas, económicas, e das mentiras das habituais etecéteras.
Além da palavra "povo" que agride o entendimento de Desidério e Vítor, indiquei igualmente outros signos usados na Constituição que não vou aqui repetir, e entre eles o de "pessoas".
O que me é difícil entender, é o tom agressivo com que se filosofa e expõe ideias.
Com certeza que não há uma maneira única de as expor, há mil, e todas aceitáveis, mas a de Desidério, como a de Vítor, é peremptória, assertiva, e ditatorial, como se não admitisse réplica, contestação ou alternativa, sob pena de eu ser classificado como psicomentecapto, ou atrasado mental.
Como é possível o diálogo quando os problemas são postos, não com argumentos, mas classificando pessoas e documentos pejorativamente, e como decidido que é assim e não se fala mais disso?
PsiCordialmente.
Caro Vítor Guerreiro
Eu entendo a revolta que sente por aquilo a que chamamos “normalidade” da vida “normal”, “repetitiva”, usando o vocabulário da língua portuguesa, e o encantamento que lhe dá força para quebrar a rotina das frases feitas, estereotipadas, as “good manners” do caldo em que estamos todos mergulhados, e o uso e abuso das metáforas.
Mas já não entendo que a revolta se limite à simples revolta, sem o contra-ponto, sem a explicação das razões que provocam o seu desencantamento.
A atracção que sente pelas ideias Colin McGinn oferece-me algumas dúvidas, como também ao próprio Colin, que também afirma assertivamente que “nada há de mais irritante para mim do que um longo tratado filosófico no qual o autor nunca chega a dizer exactamente o que pretende, ou no qual elabora o óbvio. Tenho sempre a vontade de dizer: despacha-te com isso.” (Como se faz um filósofo).
Deduzo daqui, e porventura mal, que Desidério e Vítor, têm certezas óbvias, nas e das incertezas. A este propósito ia referir-me ao Popper, mas dispenso-me porque Colin, quando diz que lhe apetece mandar despachar as pessoas, já está a dizê-lo. Portanto despacho o Popper.
Dito isto, perfilham (as pessoas necessitam de pontos de apoio para haver comunicabilidade) uma dada doutrina, ideia, ideologia, pontos de vista, convicções, ou o que quer que seja, para criarem uma etiqueta diferente da chamada “usual”, “corrente”, “rotineira”, “clonada”, “gasta”, “ultrapassada”.
Contra isso nada tenho a opor, até porque já tem um apóstole no Desidério, e no Colin que também tem pressa em pensar, e tanta, tanta, que o pensamento acaba por lhe fugir e passar à frente, e de tal maneira que, de pensar em pensar, acaba como Cristo que anda de glória em glória, sem chegar lá.
Como o mundo é incerto, Vítor tem certezas quanto aos significados e diferenças dos signos “povo” e “população” (da mesma raiz latina “populus”), e por isso sente autoridade para o afirmar, escudado em Colin, o Colin que condena o óbvio.
Agora entendo porque é que Colin foi galardoado com o prémio John Locke.
Como Vítor cita Colin, eu cito Locke:
“§ 134. That which every gentleman (that takes any care of his education) desires for his son, besides the state he leaves him, is contained (I suppose) in these four things, virtue, wisdom, breeding, and learning. I will not trouble myself whether these names do not some of them sometimes stand for the same thing, or really include one another. It serves my turn here to follow the popular use of these words, which, I presume, is clear enough to make me be understood, and I hope there will be no difficulty to comprehend my meaning.” (Some thoughts concerning education, A New Edition, London: Sold by J. and R. Tonson in the Strand. 1779).
Como se verifica pelo texto também Locke não se preocupava muito com o óbvio dos signos: "virtue, wisdom, breeding, and learning"
Enfim, como dizem os brasileiros: foi um bom papo. Cá estou eu com a linguagem corriqueira e não pensada, a papinha já feita e consagrada. Com a lei do menor esforço.
Com um abraço ao Desidério que provocou o embate e ao Vítor que deu o tema da conversa.
Caro Vítor
Eu nada posso contrapor à defesa acérrima que faz sobre como devem ser interpretados os signos "povo" e "população" e a preferência para o uso mais acentuado do segundo, por se coadunar com o ideário que Colin lhe proporcionou.
Apresentou-os como óbvios e não argumentei porque também utilizei o Colin, não só por me ter proporcionou a resposta “nada há de mais irritante para mim...no qual elabora o óbvio", mas também por, como disse o Vítor, "o livro do Colin McGinn é uma intervenção tão oportuna."
Sabe muito bem que o mundo está cheio de óbvios, uns mais do que outros mas, obviamente óbvios.
Como a bíblia do Vítor é o Colin, a minha bíblia é alargada, o que permite indagar as minhas dúvidas que excedem as certezas.
Vamos então aos psicodicionários.
Houaiss:
"Povo - 1. conjunto de pessoas que falam a mesma língua, têm costumes e interesses semelhantes, história e tradições comuns (o povo russo). 2. conjunto de pessoas que vivem em comunidade num determinado território; nação, sociedade. 3. conjunto de indivíduos de uma mesma região, cidade, vila ou aldeia (o povo bracarense). 4. conjunto de indivíduos de uma mesma ou várias nacionalidades, agrupados num mesmo Estado (o povo suíço).5. conjunto de pessoas que não habitam o mesmo país mas estão ligadas por uma origem, a sua religião ou qualquer outro laço (o povo cigano).(...)"
"População - 1. conjunto dos habitantes de determinado lugar, região, país. 1.1. o número desses habitantes (população de Lisboa). 1.2. a população local. 2. conjunto de pessoas que compõem uma categoria particular (população escolar). 3. ECO conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que ocorrem juntos numa mesma região (população de cegonhas). 4. ECON parte da população de um determinado lugar dedicada à produção de bens e serviços. 5. conjunto de corpos celestes de características semelhantes.(...) ETIM lat.medv. 'populatio, onis''população, povo'.
O Vítor no seu blog disse:
"Ponhamos de parte a palavra 'povo' e usemos antes 'população'.
Na sua última resposta ao meu comentário anterior desmente-se a si mesmo e diz: "Não defendi que se deve banir a expressão "povos".
Não vou perguntar qual o certo porque afirma que tem "opiniões fortes", e, neste caso, duas opiniões fortes. O Vítor cria labirintos e perde-se neles.
Como pode ver pelo Houaiss o "povo" é tão neutro como a "população", e não sei onde foi descobrir a neutralidade da "população". Mas, pela riqueza sinonímica de ambos signos, e porque o Vítor é contra o que está estabelecido, veja o que diz Wittgenstein (esta psocomania das citações):
"Será sempre uma vantagem substituir um retrato indistinto por um muito nítido? Não será muitas vezes exactamente do indistinto que necessitamos?"(philosophical investigations, Oxford, 1953, p. 34)
Cordialmente
Caro Vítor
«De mim não aprendereis filosofia, mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes COMO PENSAR.»
Kant
Cordialmente
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