domingo, 9 de novembro de 2008

Passatempo DRN-Sorumbático


Na sequência da minha crónica "Insulto", temos dois livros para oferecer, em colaboração com o Sorumbático. Os livros são Insultos, Reprimendas e Impertinências: Como Fazê-lo, de Angel Palomino e Da Liberdade de Pensamento e de Expressão, de John Stuart Mill.

Os autores das duas melhores respostas à pergunta "Será sempre mau ser insultado?" receberão um livro cada. O autor da primeira melhor resposta tem direito a escolher o livro que quer receber. O passatempo termina dia 10, às 23:59; o que conta em termos de fuso horário é a data que surge no comentário.

17 comentários:

André Campos disse...

A pergunta esconde uma falsa simplicidade (ou assim finjo pensar para não insultar a inteligência do perguntador). Talvez sim, talvez seja sempre mau ser insultado: até porque o insulto não é necessariamente o palavrão ofensivo ou o gesto povinho - esses, tantas vezes reveladores do complexo e da afectação do autor da pretensa ofensa, funcionam, pelo contrário, como um bálsamo para o ego do insultado, perdendo assim a qualidade de insulto. Talvez o paradoxo resida apenas no insolúvel problema de atribuirmos um nome a tudo. Isto é, não será o mesmo dizer que é 1) é sempre mau ser insultado, e dizer que 2) é sempre mau que alguém nos chame um palavrão ou nos estique o dedo do meio. 1) não é igual a 2). Se a pergunta fosse feita como em 2), a resposta seria simplesmente Não.
Por outro lado, a palavra «sempre» também tem o seu peso. Teoricamente, a palavra «sempre», por se referir justamente a todas as situações, variantes e particularidades, impede a defesa inequívoca de uma resposta positiva.
Por este pouco, e pelo inconclusivismo do dito-cujo, coloquei, logo ao início, entre parênteses, um insulto meio dissimulado. Eu não fingi pensar nenhum.
Ademais, se me pusesse aqui a tecer considerações acerca, por exemplo, do seu nome, não seria, muito provavelmente, insultuoso. Aliás, até lhe poderia dizer que o comecei a ler no jornal pela estranheza que me causou o Desidério adjectivado - que, de resto, lhe dá uma certa aura de credibilidade.
R.: Sim, mas.

Ana disse...

Será sempre mau ser insultado?

Eis a questão que se coloca... Embora ninguém goste de ser insultado, por vezes há pessoas que estão mesmo a pedi-lo! Parece que gostam mesmo de tomar atitudes provocatórias, vezes e vezes sem conta, o exemplo que mais me ocorre é no trânsito.
Por vezes até nós próprios somos insultados, umas vezes sem merecermos, e outras vezes merecemos e bastante, quer porque fizemos tudo o que estava correcto (pensavamos nós, e fomos injustamente insultados), ou então porque, já fartos de uma situação fizemos tudo mal, e já estamos desde logo preparados para ouvir um insulto e responder logo a seguir.
Por isso não creio que ser insultado, seja sempre mau... dependendo do tipo de insulto, muitas vezes podemos aprender com ele!

JSA disse...

A pergunta é simples e pede uma resposta simples. A minha resposta simples é Não! Com uma explicação um pouco mais detalhada.

Em primeiro lugar, o insulto forma o carácter de uma pessoa. Ninguém passa pela vida sem ser insultado, com ou sem razão. O insulto ajuda então a aumentar a famosa "capacidade de encaixe", a capacidade de manter a calma e avaliar as razões para o insulto. O livro de Palomino tem uma situação simples: perante um insulto numa situação de trânsito, convém ter capacidade de encaixe para manter a calma e assim evitar maiores problemas. Ao mesmo tempo permite avaliar se o insulto não será justificado por um erro de condução.

A outra razão prende-se com o simples uso de humor. Desde que usado com cuidado e embrulhado em humor, o insulto pode ser boa ideia. Claro que aí se chama ao insulto de ironia ou de sarcasmo, mas continua a poder estar presente. E, mais uma vez, permite dizer verdades que de outra forma não sairiam.

A liberdade é um factor importante a ter em conta, mas deve ser equilibrada entre a liberdade de expressão de uma pessoa e a liberdade de paz de espírito de outra. Um insulto ad hominem tem de ser cuidado. Um insulto que envolva temas caros ao insultado mas que não o envolvam pessoalmente (a religião é o exemplo mais comum) já deve merecer liberdade. E é nestes casos que o insulto pode ser importante.

João disse...

Ao contrario de um leitor acima a minha resposta é: Não, mas...

Porque não? Porque o que não mata engorda (provado cientificamente).

Porque mas? Porque faltam estudos de eficacia, dosagem, segurança etc... Nem sequer ha uma rede de farmacovigilancia montada.

PS: Desidério, mete uma cunha por mim ta? Quero o I.R. e I.

João disse...

Ao contrario de um leitor acima a minha resposta é: Não, mas...

Porque não? Porque o que não mata engorda (provado cientificamente).

Porque mas? Porque faltam estudos de eficacia, dosagem, segurança etc... Nem sequer ha uma rede de farmacovigilancia montada.

PS: Desidério, mete uma cunha por mim ta? Quero o I.R. e I.

Rolando Almeida disse...

Caros,
Creio que é sempre mau ser insultado, mas a ideia é que não me parece nada má, já que há gente que merece mesmo ser insultada do piorio.:-)
abraços

Nuno Albuquerque disse...

Obviamente, não.
Porquê?
Aceitando como boa a tese de que o insulto é a arma dos fracos, o insultado sairá sempre mais forte.
Acresce ainda que um insulto, quando vindo de alguém a quem notoriamente falta a arte e o engenho para nos apoucar, pode mesmo ser o maior dos elogios.

Nuno M. Albuquerque

Tiago Moreira Ramalho disse...

É claro que ser insultado nunca é agradável. Mas a verdade é que por vezes é proveitoso, principalmente no debate de ideias, no qual o insulto e o ataque pessoal (a falácia 'ad hominem') nos dão uma brecha e nos permitem ficar por cima. Vira-se o feitiço contra o feiticeiro...

abraço

Carlos Medina Ribeiro disse...

Extra-concurso:

Costuma dizer-se que "Quando A diz mal de B, fica-se a saber mais acerca de A do que acerca de B".

Passar-se-á o mesmo quando A insulta B?

Ivo Gorki disse...

Segundo o dicionário on-line da Priberam:

Insulto - injúria -> violação de um direito.

Ser insultado é sempre mau... A questão prende-se com o que se enquandra nessa definição. EX: os cartoons críticos(ou insultuosos) sobre maomé e a religião mulçumana.

Serão insultos ou apenas críticas?

Se quiserem talvez seja melhor reformularem a questão para: «O que é um insulto?» ou «Requisitos para insultar»


P.S:Para quem não saiba:
Direito - o que é justo, recto, conforme a lei.

O que implica que a violação de um direito é a de uma lei. Aqui levanta-se outra problemática se todas as leis são boas(ou justas). Bem isto fica para outra pergunta...

ART disse...

Boa noite, quanto ao saber se será sempre mau ser insultado, parece-me que, descontada a dose de subjectivismo que qualquer resposta envolverá, a primeira dúvida é saber se é possível uma definição objectiva de insulto de maneira a se poder afirmar que dizendo um indivíduo algo do tipo X a outro indivíduo, à partida isso é um insulto. Só que o "insulto" não chega para tornar completa a questão. Falta o "sentir-se" insultado. Ou seja, mesmo que aceitassemos que X é um insulto (e chegar a esse entendimento/consenso objectivo parece-me muito duvidoso) teríamos ainda que verificar que produziu o efeito de alguém se sentir insultado. Porque, se este alguém não se sentiu insultado, X era verdadeiramente um insulto? E se apesar de X poder ser mesmo um insulto mas que não teve a referida 2ª consequência alguém foi insultado?
Isto leva-me a concluir, em primeiro lugar, pela inexistência tout court da categoria insulto, porque o que o vai determinar não é ele em si mesmo, mas o efeito noutrem a que podemos chamar o "sentir-se insultado". E dada a dose de arbitrariedade na constituição deste último estado, fica a dúvida de saber se foi mesmo outra pessoa a "insultar-nos", ou se fomos nós a apropriar-nos daquilo que nos disseram para, na prática, ao o aceitarmos e levarmos em conta, nos "auto-insultarmos". Só que o auto-insulto custa-me a acreditar que exista. Parece-me dizer mais respeito à irritação que o contacto com a realidade e uma certa verdade provoca (que nós próprios assumimos ao dar relevância ao "insulto"), ainda para mais quando teve origem noutra pessoa (será, no seu artigo, "a ponta de verdade", o momento do confronto com a ilusão possivel em que se estaria). Concluindo: processado racionalmente acho, pois, que o insulto nunca é mau. As pessoas podem é ter dificuldade em lidar com aspectos da sua própria vida quando não do seu próprio eu, especialmente se utilizadas com intuito de arma de arremesso por estranhos. Mas, na minha perspectiva pessoal, quem já sabe não tem com que se confrontar; quem não sabe deve ser o primeiro a querer saber (ainda que de forma pouco ortodoxa). Já que estamos para o campo da filosofia, considero possível a analogia com o apetecer e querer de Sócrates: pode não nos apetecer, para o caso, sermos tratados duma certa maneira por certa pessoa que pode nem nos dizer nada; mas, ainda que com algum esforço, somos os primeiros a compreender que é isso que verdadeiramente queremos.

Luis Terrinha

ART disse...

Caro Ivo,

como estudante de Direito (e suponho que seja da área) fico com a seguinte dúvida: na sua resposta, o que é que impediria que todas as "violações de direitos", como diz, culminassem na abertura oficiosa de processos (à semelhança dos crimes públicos)?

McManager disse...

Vamos partir dos seguintes axiomas:

1. Um insulto só é mau quando magoa.

2. A capacidade de um insulto magoar depende apenas e só de quem o profere.

3. Só o alvo do insulto o define com tal.



O insulto é algo que só esta ao alcançe de quem tem o estatuto para o fazer.

Quantas vezes chamamos meretriz à mãe de desconhecidos (e por vezes conhecidos)?

Apelidamos de asno colegas de trabalho?

E quantas vezes vemos os senhores no parlamento a trocar entre si o carinhoso eufemismo de "faltar à verdade"?

Alguém, nestas ocasiões, se sente insultado? Não. E porquê? Porque por 3) não atribuimos o estatuto de insulto ao desabafo.

Neste ponto pergunta o leitor atento: " Mas e se eu me sentir insultado?"

Bem, nesse caso, por 1) se não ficou magoado vá beber uma mini!

Se ficou magoado então por 1) pode ser mau. Por 2) reconhece a quem o proferiu crédito e capacidade para o magoar. Neste caso o seu problema é fonte da informação e não a informação em si. Sente-se diminuido por alguém a quem dá importancia ter dito o que disse.
Resta o caso final em que quem o proferiu, além de ter crédito profere informação com uma ponta de verdade. Aqui estamos perante um caso de caridade cristã! O insultador abriu-lhe os olhos e o que sente é a luz a romper pela irís virgem. Isso passa e a prazo longe de ser mau, é benéfico: permite-lhe ver as cores que o rodeiam!


Podemos pois concluir que "Nunca é mau ser insultado"
.


Carece de prova que insultar é bom.

Mas essa prova é para outro concurso, outro livro...

Ivo Gorki disse...

Lamentavelmente sou de Matemática.
Contudo, posso tentar responder-lhe, de maneira satisfatória, à questão. Porém falta-me a terminologia correcta, visto não ser dessa área.
Não se impede. Ao chamar um polícia ou outra pessoa qualquer de corrupto, estou sujeito a ser 'processado' judicialmente. No tribunal é que se vai determinar se a minha afirmação é uma injúria/calúnia ou verdade. Para ser processado basta que o outro se sinta insultado, o que não é a mesma coisa que ser insultado.

J.M.P.O disse...

Ao que parece já não venho a tempo mas gostava de deixar ficar isto:

O insulto tomado como princípio absoluto não é forma de exercer a liberdade, ao contrário do que diz no artigo do Público para o qual faz uma hiperligação. De facto tem razão ao mostrar que este é fruto do exercício de uma liberdade, maxime da liberdade de expressão (e que por vezes até pode ser construtivo), contudo, assim como qualquer outra liberdade, absolutizada leva à maior das tiranias.

Aquele que insulta é realmente livre para demonstrar ao outro que fez uma asneira, contudo o insulto não produz só efeitos na "auto-estima" do insultado mas também produz efeitos exteriores como por exemplo a possibilidade de este cair em descrédito ao pé dos outros elementos da sociedade em que se insere.

Uma sociedade onde a permissão do insulto fosse absoluta tornar-se-ia numa espécie de estado de natureza em que aquele que insultasse com mais espírito, primeiro ou com mais voz (i.e. através de instrumentos de comunicação de massas) de forma a derrotar completamente o oponente exercesse a sua liberdade em detrimento da liberdade dos demais, dos menos inventivos dos mais atrasados ou daqueles com menos “poder de encaixe.

A questão que fica é: Até onde posso então insultar? Aí penso que Stuart Mill dá uma boa resposta: Posso insultar até à liberdade do outro, não lhe podendo nunca causar um dano.

João

Carlos Medina Ribeiro disse...

Antecipando:

Depois de anunciados os nomes dos vencedores, estes deverão escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio dos prémios.

O 1.º classificado deverá indicar qual o livro que prefere; o 2.º classificado receberá o outro.

Até breve.

Desidério Murcho disse...

Obrigdo a todos os participantes. As duas melhores respostas, no meu fraco entendimento, são as seguintes:

1. JSA (às 9:26). Pela articulação e clareza de visão.

Gostei do comentário de JMPO, apesar de não concordar, mas infelizmente veio fora de horas! Caso contrário, teria ficado em segundo lugar. (Não concordo porque no conceito de dano é que está o o busílis, e o que eu defendo, e isto é perfeitamente milliano, é que insultar nunca provoca dano.)

Assim, o segundo contemplado é:

2. LAHRT, Luís Terrinha (20:59)

Achei curioso que alguns comentadores não viram que defender que não, nem sempre é mau ser insultado, não é o mesmo que defender a tese mais forte de que é sempre bom ser insultado.

Parabéns aos premiados e boas leituras! Contactem por favor para o email fornecido acima.

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