Os estudos sobre a função docente deixam-nos perceber que ela tem uma representação oscilante, que varia entre o elogio rasgado e a desvalorização absoluta. Deste modo, nuns momentos, atribui-se aos professores um estatuto social digno, imputando-se-lhes a nobre tarefa de transmir os princípios morais e os conhecimentos da Humanidade e reconhendo-se-lhes legitimidade para, além de ensinarem, educarem as crianças e os jovens, tanto mais se se entender que a sociedade e as famílias falham neste último propósito; noutros momentos, tende-se a menosprezar a sua capacidade para decidirem e conduzirem tal tarefa, devendo, nessa medida, ser o ministério, a sociedade, as famílias a ditarem e a controlarem de perto a sua acção.
Quando se tende para este último modo de encarar o ensino e se percebe que dele não derivam resultados positivos, pensam-se e tomam-se várias medidas, algumas delas muito curiosas. Eis uma das que foi pensada pela tutela há uma dezena e meia de anos:
“Na última década foram realizados vários estudos e sondagens para avaliar o prestígio e a consideração de que gozam os professores junto dos alunos e dos encarregados dos jovens e da população em geral. Em 1987, uma sondagem promovida pela comissão de Reforma do Sistema Educativo revela que a imagem social do professor era bastante negativa (...).
O Ministério da Educação está a considerar a possibilidade de realizar uma campanha publicitária de reabilitação da imagem do professor do ensino secundário, revelou ao EXPRESSO uma fonte próxima do Gabinete de Manuela Ferreira Leite. Contudo, o Ministério da Educação tem recebido reacções negativas a esta iniciativa, vindas de vários sectores da área educativa, e continua a manter em segredo pormenores sobre a operação de «cosmética na imagem social do professor»
A ideia, que está a ser discutida num dos departamentos do Ministério da Educação, aponta para uma verdadeira campanha de «marketing», a ser encomendada a uma agência de comunicação, com «spots» publicitários na televisão e cartazes para serem divulgados em jornais e colocados nas escolas. Por detrás desta campanha, está o sentimento de necessidade de corrigir uma progressiva degradação da imagem dos docentes junto da opinião pública e reabilitar o conceito de professores como pedagogos da sociedade.
Os sindicatos de professores concordam que a imagem social dos docentes precisa ser melhorada, mas consideram que uma campanha de «marketing» não é a melhor estratégia para o conseguir. Não é com slogans publicitários que se recupera a dignidade dos professores. O que falta aos docentes são condições para realizarem condignamente as suas funções e o respeito do Ministério da Educação pelas suas competências».”
Pinto, R. J. (1994). Marketing para professores. Semário Expresso de 3 de Dezembro.
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2 comentários:
Importante post! É que parece que os professores andam muito enganados com a opinião que as pessoas têm deles e pensam que foi com esta ministra que a sua popularidade diminuiu. Comecem os resultados nos exames a melhorar e essa é a melhor forma de a opinião pública sobre os professores melhorar. Muito mais eficiente que qq campanha de marketing.
Caro Alf
A imagem dos professores não depende apenas do seu desempenho profissional. Isto é, uma imagem negativa não corresponde necessariamente a um mau desempenho assim como uma imagem positiva não corresponde necessariamente a um bom desempenho. Vários factores se introduzem entre estes dois aspectos. As políticas e medidas da tutela, bem como os discursos da tutela sobre o ensino, são alguns desses factores.
No caso do nosso país e no presente, concordo consigo quando diz que a desvalorização da função docente não se pode atribuir apenas a este governo. É verdade, infelizmente.
Por outro lado, não podemos cair na falácia de acreditar que os resultados que os alunos obtêm nos exames traduzem directa e linearmente a competência do professor. Uma corrente pedagógica que teve muita importância na pedagogia, e que se designa por behaviorismo, defendeu durante algum tempo essa relação mas a investigação que se realizou sob o seu auspício deixou perceber a interferência de inúmeras variáveis entre o que o professor faz e o que o aluno aprende. Isto não significa que se negue qualquer validade aos exames, nem que os resultados dos alunos sejam de todo alheios ao que o professor ensina. Isto, se admitirmos que os exames são construídos segundo critérios de validade e honestidade, que nos exames nem sempre se afiguram garantidos.
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