terça-feira, 11 de novembro de 2008
"QUEREMOS ENSINAR"
Os professores portugueses, que na sua maioria, marcharam em protesto no sábado passado pelas ruas de Lisboa, fizeram bem em dizer que queriam ensinar. De facto, é isso que sabem fazer e é isso que é preciso que eles façam. O Ministério da Educação devia também querer isso deles, mas a palavra "ensinar" parece estranha ao seu vocabulário. Se o Ministério quer que haja ensino, precisa mesmo dos professores, pois não há ensino sem professores. E devia precisar mais dos melhores professores, procurando apoiá-los e incentivá-los.
Para saber quem são os melhores professores é preciso um processo de destrinça. Quero crer a maioria dos professores aceita um método de avaliação competente, mas esse método terá pouco a ver com o caos burocrático com que a 5 de Outubro está a sufocar as escolas. Por outro lado, parece-me óbvio que os sindicatos não querem avaliação nenhuma, quanto mais não seja porque muitos dos seus dirigentes já não ensinam há muito tempo e ficariam decerto mal avaliados se a qualidade do ensino fosse o factor mais importante para a progressão na carreira. O governo tem todo o direito de contrariar os sindicatos. Mas já não tem o direito de confundir os sindicatos com os professores e de persistir em agredir indiscriminadamente os professores, de uma maneira que dói por ser brutal. Receio que muitos dos nossos melhores professores, profundamente feridos, estejam a abandonar a profissão, com manifesto prejuízo da qualidade do ensino público. O erro de deixar ir embora os professores mais experientes, desprezando o seu imprescindível contributo, vai, infelizmente, custar caro ao nosso ensino, vai-nos custar caro a todos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sociedade Civil
Sociedade Civil : Físicos - A Física pode ser divertida... é uma ciência focada no estudo de fenómenos naturais, com base em teorias, atravé...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
4 comentários:
É estranho que tenhamos a necessidade de o lembrar. Sim, queremos ensinar. O que não se constitui como o contrário de ser avaliado. Ao contrário da mentira dos actuais responsáveis, já existia avaliação. Que não concordassem com ela, é legitimo. Que a pretendessem mudar - no caso de o terem afirmado antes dos votos e feito participar os agentes no processo de reflexão - é também legítimo. Mas como as palavras da Ministra - suportadas pelo PM - bem demonstram, a agressão e a intimidação são "armas" a usar. Que vão marcar negativamente, não só os professores (alvos de um discurso nunca visto relativamente a qualquer ordem ou sector profissional), mas a escola. E o papel que ela tem. Os professores conseguiram ultrapassar tanto as agressões que referi, como as manobras dos sindicatos. Em nome da tarefa de ensinar e pela função da escola na sociedade em que vivemos.
Logo, é necessário que se considere mais aprofundadamente a actual situação da Escola Pública e, naturalmente, do estatuto profissional dos seus agentes directos. Ultrapassando a leitura - falsamente política - da luta entre Ministério e Sindicatos.
Importa começar a discutir muito seriamente este problema. Comecemos.
Saudações,
Luís Vilela
E o que chateia mais é que é tão óbvio, que não se percebe como é que aquelas alminhas do ministério não vêem isso...
Não sou professor nem tenho filhos em idade escolar, mas não consigo manter-me indiferente ao estado da educação em Portugal. É impressionante e mesmo chocante ver a auto-suficiência da Ministra da Educação perante o protesto dos professores. Falar de intimidação como se a grande maioria dos professores pudessem manifestar-se por terem medo de uma minoria manipuladora, falar de tentativa de pressão sobre ela própria como se perante a situação caótica os professores não tivessem o direito de se pronunciarem em manifestações pacíficas e legais, falar em manobras eleitorais como se as eleições fossem amanhã, todas estas declarações demonstram uma profunda incompreensão do que é ser dirigente político e uma obstinação autoritária inaudita.
Também Sócrates, ao falar de aproveitamento dos partidos da oposição, demonstra falta de sentido de estado. Não será natural que a oposição esteja contra a actual política educativa e que se pronunciem nesse sentido na altura em que os professores se manifestam?
Numa altura em que o maniqueísmo se instalou, é sempre de louvar um post como este. Lúcido.Coerente.Isento.
Enviar um comentário