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Os professores portugueses, que na sua maioria, marcharam em protesto no sábado passado pelas ruas de Lisboa, fizeram bem em dizer que queriam ensinar. De facto, é isso que sabem fazer e é isso que é preciso que eles façam. O Ministério da Educação devia também querer isso deles, mas a palavra "ensinar" parece estranha ao seu vocabulário. Se o Ministério quer que haja ensino, precisa mesmo dos professores, pois não há ensino sem professores. E devia precisar mais dos melhores professores, procurando apoiá-los e incentivá-los.
Para saber quem são os melhores professores é preciso um processo de destrinça. Quero crer a maioria dos professores aceita um método de avaliação competente, mas esse método terá pouco a ver com o caos burocrático com que a 5 de Outubro está a sufocar as escolas. Por outro lado, parece-me óbvio que os sindicatos não querem avaliação nenhuma, quanto mais não seja porque muitos dos seus dirigentes já não ensinam há muito tempo e ficariam decerto mal avaliados se a qualidade do ensino fosse o factor mais importante para a progressão na carreira. O governo tem todo o direito de contrariar os sindicatos. Mas já não tem o direito de confundir os sindicatos com os professores e de persistir em agredir indiscriminadamente os professores, de uma maneira que dói por ser brutal. Receio que muitos dos nossos melhores professores, profundamente feridos, estejam a abandonar a profissão, com manifesto prejuízo da qualidade do ensino público. O erro de deixar ir embora os professores mais experientes, desprezando o seu imprescindível contributo, vai, infelizmente, custar caro ao nosso ensino, vai-nos custar caro a todos.
4 comentários:
É estranho que tenhamos a necessidade de o lembrar. Sim, queremos ensinar. O que não se constitui como o contrário de ser avaliado. Ao contrário da mentira dos actuais responsáveis, já existia avaliação. Que não concordassem com ela, é legitimo. Que a pretendessem mudar - no caso de o terem afirmado antes dos votos e feito participar os agentes no processo de reflexão - é também legítimo. Mas como as palavras da Ministra - suportadas pelo PM - bem demonstram, a agressão e a intimidação são "armas" a usar. Que vão marcar negativamente, não só os professores (alvos de um discurso nunca visto relativamente a qualquer ordem ou sector profissional), mas a escola. E o papel que ela tem. Os professores conseguiram ultrapassar tanto as agressões que referi, como as manobras dos sindicatos. Em nome da tarefa de ensinar e pela função da escola na sociedade em que vivemos.
Logo, é necessário que se considere mais aprofundadamente a actual situação da Escola Pública e, naturalmente, do estatuto profissional dos seus agentes directos. Ultrapassando a leitura - falsamente política - da luta entre Ministério e Sindicatos.
Importa começar a discutir muito seriamente este problema. Comecemos.
Saudações,
Luís Vilela
E o que chateia mais é que é tão óbvio, que não se percebe como é que aquelas alminhas do ministério não vêem isso...
Não sou professor nem tenho filhos em idade escolar, mas não consigo manter-me indiferente ao estado da educação em Portugal. É impressionante e mesmo chocante ver a auto-suficiência da Ministra da Educação perante o protesto dos professores. Falar de intimidação como se a grande maioria dos professores pudessem manifestar-se por terem medo de uma minoria manipuladora, falar de tentativa de pressão sobre ela própria como se perante a situação caótica os professores não tivessem o direito de se pronunciarem em manifestações pacíficas e legais, falar em manobras eleitorais como se as eleições fossem amanhã, todas estas declarações demonstram uma profunda incompreensão do que é ser dirigente político e uma obstinação autoritária inaudita.
Também Sócrates, ao falar de aproveitamento dos partidos da oposição, demonstra falta de sentido de estado. Não será natural que a oposição esteja contra a actual política educativa e que se pronunciem nesse sentido na altura em que os professores se manifestam?
Numa altura em que o maniqueísmo se instalou, é sempre de louvar um post como este. Lúcido.Coerente.Isento.
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