sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Senhor Computador


A coluna de J. L. Pio de Abreu no "Destak" de hoje:

Lido com ele há 36 anos, ainda usava cartões perfurados. Quando chegou o Spectrum deslumbrei: naquela caixinha cabia a memória que antes ocupava uma casa inteira. E podia programar cálculos e tabelas que antes demoravam meses. Gastei olhos e sono. Cansado, comecei a zangar-me quando se travestiu de IBM, cheio de programas enlatados que já não podia abrir nem controlar. Era o negócio do Sr. Bill Gates.

A desgraça veio depois. Os devotos do computador produziam imensos textos (à custa do copy/paste) mostravam estatísticas elaboradíssimas (sem conhecer os cálculos subjacentes) e gráficos maravilhosos (mas pouco esclarecedores). Mesmo assim, tornaram-se importantes e prepotentes. Por outro lado, quem tentava domesticar o bicho era arrasado pela competição dos enlatados do Sr. Gates. E o pior é que estes queriam ser mais inteligentes do que os utilizadores.

Fui-me reconciliando com o Computador porque na escrita, no correio e na pesquisa de informação, ele trabalha por 10 ajudantes. Mas eis que os políticos descobriram que a ligação em rede podia controlar as pessoas a partir do Terreiro do Paço. Foi uma descoberta tardia mas entusiástica. Atabalhoadamente, fizeram surgir as negociatas do software à medida. E invadiram tudo e todos.

Em qualquer trabalho que se preze, estamos hoje a ser vigiados e formatados pelo Computador. Não há matéria que se ensine sem que se faça download, não há sintoma observado ou medicamento prescrito que não esteja no programa, não há resposta que se dê que não conste do formulário. Agora, o Senhor Computador é o Big Brother e o Grande Educador de todos nós.

J.L. Pio Abreu

5 comentários:

tca disse...

Existem hoje alternativas:GNU Project. Basta querer!

Teresa disse...

Pois é! A evolução leva-nos muitas vezes a grandes exageros. Por mim, sinto-me completamente dominada e viciada por esta caixinha. As possibilidades são imensas, procuramos o computador quase tudo.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

1) O computador é, antes de qualquer coisa, aquilo que nós dele fizemos.
2) Não há erro em se buscar inteligência
3)O "copy-paste", desde sempre foi utilizado, antes do computador. Mudou apenas a forma.
4)Nao há "pecado" em ser competitivo - ética é outra coisa
5)E, para que o texto não fique tendencioso, que tal trazer a público, tb. os benefícios do meio (computador)?

Armando Quintas disse...

Caminhamos a passos largos para um cenário Orweliano, 1984 no seu melhor, os computadores são instrumentos muito bons, mas que servem apenas para auxiliar os humanos e não para os substituir, há de chegar um dia que ninguem sabe semear uma terra, plantar uma arvore, executar trabalhos de carpintaria ou eletricidade porque o computador não mandou ou não sabe, é deprimente para onde caminhamos, para um mundo dominado por maquinas imperfeitas programados por humanos imperfeitos, até ao dia em que as maquinas se revoltem..
Ainda não é tarde, computadores muito bons e auxiliares muito bons, mas prefiram o manual, o contacto fisico ou estaremos condenados!

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