quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A dispersão continua

Não é preciso estar muito familiarizado com a vida escolar para se perceber que os professores de todos os níveis de ensino são solicitados a desempenhar inúmeras tarefas de cariz burocrático. Em vez de, como sociedade, lhes pedirmos que se concentrem no ensino, que é, em rigor, a sua função, fazemo-los viver aquilo a que alguém chamou a "vertigem da dispersão". E no nosso sistema educativo essa dispersão parece não ter limites...

Isto a propósito do que leio no documento "Informação aos Professores e Encarregados de Educação", proveniente do Ministério da Educação e Direcção Regional de Educação do Centro, onde se explicitam os passos que os professores do Ensino Básico devem seguir para que os alunos possam adquirir o computador de que se fala. Passo a transcrever esses passos, pois a sua transcrição é mais elucidativa do que a explicação que se poderia fazer:

1. Informar os encarregados de educação sobre o programa e.escolinha.
2. Receber os documentos para adesão ao programa e.escolinha (ficha de inscrição e termo de responsabilidade) e facultá-los aos encarregados de educação.
3. Realizar a inscrição dos alunos que desejem aderir ao programa no sítio da Internet do e.escolinha

4. Verificar a veracidade dos dados exportados para o sistema e corrigi-los caso se verifique alguma discrepância relativamente aos dados do aluno.
5. Agendar, através do sítio da Internet do programa e.escolinha, a entrega de computadores Magalhães na escola, junto dos operadores seleccionados pelos encarregados de educação.
6. Receber os computadores Magalhães e distribuí-los pelos alunos.
7. Realizar esta operação o número de vezes necessárias, de acordo com a manifestação de intenção de adesão dos encarregados de educação.

6 comentários:

João Sá disse...

É incrível o ambiente que se vive, hoje, nas nossas escolas. E a culpa - nem a responsabilidade - não é, certamente, dos professores.

Quando o nosso primeiro ministro, num evento político ao mais alto nível (cimeira Ibero-Americana) vai faz de vendedor de computadores, e não tem vergonha, não é de estranhar que os professorzecos não tenham também de o fazer.

Ainda tenho esperança que o bom senso acabe por se impôr.

Helena Damião disse...

O bom senso acabará, necessariamente, por se impor. E isto por uma razão muito simples: se os professores não ensinarem, os alunos não aprendem.
Mais cedo ou mais tarde, a sociedade vai perceber que, ao contrário do saber, a atribuição de certificados não é uma mais-valia e pedirá aos seus professores para voltarem a ensinar.
Sabemos que, neste momento particular, por múltiplas e diversas razões, os professores têm dificuldade em concentrar-se no ensino. Ainda assim, vejo-os persistir na sua função, na consciência de que estão a remar contra todas as marés.
Um país que (ainda) tem professores com esta vontade, tem futuro.

jose reyes disse...

Os professores fariam esse trabalho de bom grado se realmente gostassem dos seus alunos. Infelizmente grande parte dos actuais professores são-no não por vocação mas por não saberem fazer mais nada.

Anónimo disse...

Jose, acho que está a ser muito injusto. Isto não tem nada a ver com o facto de se gostar de um aluno, ou não. Tem a ver com a atribuição de tarefas a um professor, que não fazem parte dos seus deveres, como professor. Experimente ter de dar aulas um dia inteiro, depois ter reuniões até às tantas, chegar a casa e dar de comer aos filhos, preparar aulas para o dia seguinte e ainda "estudar" os critérios de avaliação.


Rui Peres

Rolando Almeida disse...

José,
A sua afirmação incorre na falácia da generalização precipitada. Eu sou professor e procuro tratar os meus alunos com imparcialidade. Mas humanamente tenho de tudo, tenho alunos que são umas bestas e outros que são generosos e gentis. E daí? qual é o problema?

Fartinho da Silva disse...

Como diz um grande amigo meu e professor do ensino secundário, hoje os professores ensinam os alunos quando lhes sobra um "tempinho" de todas as patetices com que têm que lidar.

Eu estou convencido que os professores já não trabalham para os alunos mas sim para justificar o emprego de terceiros!

Este é que é o verdadeiro problema no ensino não superior.

Joaquim Ferreira Diniz

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