domingo, 16 de novembro de 2008

Clusters e Pólos de Competitividade: para que precisamos deles e como devem ser promovidos

Crónica de Norberto Pires, professor de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra e CEO da Coimbra Inovação, publicada no "Jornal de Notícias" de 16 de Novembro:

A aposta do futuro depende fortemente da capacidade de gerar conhecimento e da sua utilização em actividade económica; isto é, depende em grande parte das empresas que incorporam conhecimento na sua actividade produtiva, criando valor e vantagem competitiva através de produtos inovadores que se diferenciam no mercado internacional pela sua novidade, qualidade e interesse comercial. Este objectivo obtém-se de três formas complementares:
  1. Apostando num novo paradigma de parques para acolhimento de empresas, nos quais a inovação em consórcio com universidades e centros de I&D é encarada como motor de desenvolvimento. É esse o conceito dos Parques de Ciência e Tecnologia, que têm como objectivo catalisar o desenvolvimento económico de uma região, através da promoção do desenvolvimento de empresas baseadas em conhecimento (e não só em tecnologia) incentivando a transferência de saberes entre empresas e centros de conhecimento tendo por base projectos de desenvolvimento em consórcio;

  2. Apoiando a constituição de clusters, isto é, a constituição de parcerias duradouras entre os vários parceiros para que em conjunto reforcem a sua contribuição numa determinada área, cooperando no desenvolvimento de novos produtos e serviços criando valor e vantagem competitiva;

  3. Garantindo que este investimento em Parques de Ciência e Tecnologia e na associação de empresas, centros de I&D e universidades em clusters tem também um efeito positivo no reforço dos parceiros, criando um ciclo virtuoso que melhora a nossa competitividade e capacidade de inovar tirando partido da actividade económica e dos resultados gerados (Figura 1).


Figura 1: Os clusters têm um efeito muito positivo na dinamização das empresas, centros de I&D e universidades, criando valor, emprego e actividade económica.

A constituição de núcleos de competência com uma lógica bem definida e que explore sinergias é fundamental para o futuro das regiões e da Europa. Mas devemos ser muito exigentes e selectivos. Os clusters têm necessariamente de ter uma lógica bem justificada e orientada para o mercado, que mostre como os vários parceiros têm cooperado no passado, quais os resultados que obtiveram e como se pretendem posicionar no futuro: ou seja, é necessário demonstrar um passado de colaboração relevante, bem como uma forte estratégia de reforço dessa cooperação no futuro. A formação de clusters só faz sentido, como disse recentemente o vice-presidente da Comissão Europeia (Sr. G. Verheugen), se tiver como objectivo o aumento da qualidade para níveis internacionais. Só assim os clusters podem contribuir de forma decisiva para a necessária inovação nas nossas empresas. Só assim poderão ser fontes de emprego qualificado, que terá entre outros o efeito positivo de incorporar formação avançada nas empresas, com reflexo a médio e longo prazo na respectiva actividade. Só assim o objectivo final será a excelência e o aumento da cooperação entre os vários actores e os vários clusters, num efeito de funcionamento em rede que é vital para Portugal e para a Europa.

Os clusters identificam-se de forma muito evidente com as PME (Pequenas e Médias Empresas). As PME representam elevadas percentagens do número de empresas industriais (mais de 90%), do emprego (mais de 80%) e do PIB europeu (mais de 65%), constituindo por isso o motor da nossa economia. No entanto, dada a sua dimensão, não têm capacidade para incorporar eficazmente processos de inovação, essenciais ao seu desenvolvimento, pelo que a associação em Parques de Ciência e Tecnologia e em clusters é vital como forma de promover a sua relação com universidades e centros de I&D.

A região de Coimbra está atenta a este movimento internacional, tendo iniciado em devido tempo um ambicioso Parque de Ciência e Tecnologia (iParque - Coimbra Inovação Parque, www.coimbraiparque.pt) que tem como objectivo dinamizar a actividade económica na região, promover a criação de sinergias entre os vários parceiros do centro de Portugal, dinamizando o estabelecimento de consórcios que criem novas oportunidades, emprego qualificado e novos produtos. Participa por isso nos clusters nacionais que actuam nas áreas estratégicas que definiu para a sua actividade, nomeadamente no pólo TICE.PT (Pólo em Tecnologias da Informação, Comunicação e Electrónica), HCP (Health Cluster Portugal) e HABITAT (Habitat Sustentável).

No entanto, Coimbra tem uma longa história de sucesso na área das tecnologias associadas à saúde, com actividade demonstrada na formação de consórcios e na capacidade de os dinamizar no sentido de obter produtos inovadores que se diferenciam pela qualidade e competitividade comercial. Consequentemente, Coimbra e o Centro de Portugal apresentaram uma candidatura muito forte nesta área ao recente concurso do QREN para Pólos de Eficiência Colectiva, denominado CHMS (Cluster em Health Care and Medical Solutions). É um cluster que reúne mais de 70 entidades, divididas entre entidades do edifício científico e tecnológico nacional, empresas, Universidades e centros hospitalares, etc., as quais asseguram a massa crítica necessária para o desenvolvimento de projectos inovadores e indutores de competitividade. Na verdade, essas entidades identificaram já 61 projectos de I&D que representam um investimento global de 124 milhões de euros.

Coimbra e o Centro de Portugal já demonstraram a sua especial apetência para esta área, com resultados muito relevantes e uma actividade continuada e concertada entre as várias entidades, que criaram uma cultura de cooperação e de desenvolvimento em consórcio verdadeiramente notável. Merece o reconhecimento nacional a bem do país e do seu futuro.

J. Norberto Pires

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