quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ESTADO DE PÂNICO

A morte recente do escritor de ficção científica norte-americano Michael Crichton (1942-2008), médico de formação, levou um dos colunistas do New York Times, John Tierney, a interrogar-se sobre o modo de separar ciência de religião nas questões ambientais. Com efeito, no seu último livro, publicado em 2005 (em Portugal na Dom Quixote), e que tal como os restantes (Parque Jurássico, etc.) é um "best seller", Estado de Pânico, Crichton defende que o aquecimento global é um "não problema", fazendo portanto parte dos chamados "cépticos". Num discurso de 2003, Crichton escreveu:

"There’s an initial Eden, a paradise, a state of grace and unity with nature, there’s a fall from grace into a state of pollution as a result of eating from the tree of knowledge, and as a result of our actions there is a judgment day coming for us all. We are all energy sinners, doomed to die, unless we seek salvation, which is now called sustainability. Sustainability is salvation in the church of the environment. Just as organic food is its communion, that pesticide-free wafer that the right people with the right beliefs, imbibe."

Comentários? Confesso que, quando ouvi Al Gore ao vivo, o seu discurso me pareceu semelhante ao de um pregador evangélico. Agora não tenho tempo para desenvolver o assunto (ver aqui o meu comentário da altura), mas há um espaço em baixo para quem o queira fazer...

41 comentários:

sguna disse...

"Uma verdade inconveniente" segue a moda de ter que tornar a divulgação científica dramática, senão não vende! E para isso, nada melhor que o fim do mundo como o conhecemos!

Outros exemplos, são os decumentários da BBC de hoje e de à 10, 15, 20 anos atrás.

Será esta a melhor maneira de divulgar a ciência? Ou alertar para problemas? Os fins justificam os meios?

perspectiva disse...

Efectivamente não se pode desvincular a situação ambiental da realidade moral, particularmente num contexto de grande desenvolvimento científico e tecnológico.

Este desenvolvimento é, em si mesmo, uma coisa boa, na medida em que assenta em informação acumulada, inteligência e design.

No entanto, a natureza pecaminosa do ser humano diz-nos que se algo pode ser usado para fazer mal, acabará por sê-lo.

Muitos dos problemas ambientais dos nossos dias estão claramente relacionados com problemas morais como a vontade de lucro a todo o custo, a conquista do poder, o desrespeito pelos seres humanos e pela natureza não humana, etc.

O que está a acontecer no Congo neste momento é um exemplo de como a luta pelos recursos naturais (v.g. ouro, diamantes, cobre, coltan) é levado a cabo sem qualquer consideração das consequências humanitárias e ambientais.

No livro do Génesis é claro que a queda do homem no pecado teve como consequência a morte e a maldição de toda a Criação.

No livro do Apocalipse é claro que toda a Criação será novamente restaurada, sem pecado, sem morte e sem maldição.

Mas essa mesma relação entre a decadência moral e ambiental surge no Profeta Oseias, cap. 4:1-3, em termos que parecem um retrato da actualidade:

"
1 Ouvi a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus.

2 Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro.

3 Por isso a terra se lamentará, e qualquer que morar nela desfalecerá, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar morrerão"

João disse...

Carlos Fiolhais:

Parece-me pelo tom geral do artigo, que ou não acredita na responsabildade humana acerca do aquecimento global, ou tem sérias duvidas acerca dela.

O Al Gore é um politico e por isso age com um politico, mas isso pode ter as suas razões. R. Dawkins não se inibe de recomendar que o vejam.

Agora a parte importante da questão é que o Al Gore não devia ser a referencia acerca deste assunto quando existe uma comunidade cientifica dedicada. (Nem muito menos o Michael Crichton, cuja formação em medicina o compele tanto para a ciencia como aos medicos portugueses que vão participar no congresso espirita.)

Quando ha um consenso cientifico tão forte acerca do que se esta a passar com o clima, não compreendo como é que nos podemos admitir a discutir o assunto como se fossemos todos experts e usar como referencias o Al e o Mike!

Das referencias que posso citar de cor e que declararam reconhecer a validade cientifica do IPCC inclui-se a academia sueca das ciencias (a do prémio nobel)e a academia americana de ciencias.

Os trabalhos sujeitos a "peer-review" publicados em revistas com reputação idonea são quase todos(quase unanimemente) a apontar na mesma direcção. Que o aquecimento global é antropogenico.

Por outro lado, gostava ainda acrescentar que a exxonmobil, petrolifera, foi referida como tendo patrocinado "a la Discovery Institute" estudos ditos "cepticos", para provar que queimar combustivel fossil até faz bem ao planeta. ( cepticos é curioso e ironico neste contesto, pois a maioria dos cepticos acredita que o homem é responsavel.) Portanto mostra bem quem é que tem a ganhar com o aquecimento global.

Por ultimo, gostava apenas de referir o problema da responsabilidade acerca deste assunto. Ou da irresponsabilidade de o negar.

Antes de gozarem com cenarios catastroficos pensem bem na historia da biologia ( a extinção é a regra e não a excepção) e na historia humana (preciso de dar exemplos???) Eu não tenho duvidas que a humanidade vai ultrapassar esta questão, mas estamos a agir bem? Um mundo mais quente convem à maior parte de nos?

Carlos Medina Ribeiro disse...

Infelizmente, a edição da D. Quixote (pelo menos a que eu li) é um desastre completo: gralhas, erros de português e até de ortografia são às dúzias e para todos os gostos.

Um dos capítulos começa mesmo por referir o "Tráfico automóvel na rua"...

João disse...

Carlos Fiolhais:

So agora tive tempo de ir ver o Link que deixava para contextualizar melhor este post.

Por isso vejo-me obrigado a corrigir a questão de não compreender de que lado do problema se encontrava e terminar a minha entrada anterior referindo que o Al Gore não deve ser uma referencia no assunto, mas como divulgador agradeço a sua devoção. Como aos outros.

PS: Penso que poderia ter sido menos ambiguo no presente texto e não deixar tanto por dizer num link. Mas isso é a minha opinião.

Carlos Medina Ribeiro disse...

A ideia-chave que M.C. deixa no seu livro é que
«Má informação juntamente com boas intenções é receita certa para o desastre».

Também estou de acordo quando ele diz que «o problema da poluição é suficientemente real e grave para que não seja necessário mentir acerca dele».

Recordemo-nos que, depois de bloqueada a construção de Foz-Côa, houve quem confessasse que tinha mentido acerca da idade das gravuras, alegando que o fizera por uma boa causa. Em Ciência isso será aceitável?

João disse...

Carlos Medina:


"Recordemo-nos que, depois de bloqueada a construção de Foz-Côa, houve quem confessasse que tinha mentido acerca da idade das gravuras, alegando que o fizera por uma boa causa. Em Ciência isso será aceitável?"


Não, acho que não é aceitavel.

Acha que ha uma analogia com o caso do Al Gore? Ele nem é um cientista é um politico, mas que eu saiba, ele tem-se preocupado em dar informação tão correcta quanto possivel. Acredito que tenha exagerado por vezes nas artes circenses, mas mentir deliberamente? Não vi as coisas dessa maneira. Porque acho que o caso deixa aberta muitas hipoteses para catastrofe..

Jorge Oliveira disse...

Caro João.

Fui ver o seu blog, “Crónica da Ciência” (julgo que não me enganei) e encontrei um texto seu, de 7 do corrente, intitulado «Certezas ? Não tenho a certeza», em que faz afirmações, como por exemplo, «Algo que é difícil de explicar na ciência é a sua ausência total de certezas. Porque se houver um caminho rápido para a Verdade, seja ela o que for, não é a ciência», que se afiguram incompatíveis com o seu comentário a este post do Carlos Fiolhais.

Afinal o que é, para si, o consenso científico? Defende que seja um conceito cientificamente aceitável? Os cépticos podem, ou não podem, guardar uma prudente e científica atitude de dúvida sem ser queimados na fogueira?

Você tem consciência da falta de rigor, já nem digo científico, mas de simples senso comum, de uma afirmação como esta que aqui deixou ? : «a exxonmobil, petrolifera, foi referida como tendo patrocinado "a la Discovery Institute" estudos ditos "cepticos", para provar que queimar combustivel fossil até faz bem ao planeta.»

Foi referida…!? Como tendo…!? O seu espírito científico não reage ? Ou acredita nisto por uma questão de fé, que é tudo menos Ciência, porque está convencido de que as companhias petrolíferas são incarnações do Mal?

Além do mais, fazer insinuações acerca daquilo que os cépticos terão a ganhar, é contraproducente. O que não falta são exemplos daquilo que estão a ganhar os alarmistas com a campanha aterrorizadora das populações.

Para terminar, recordo que o post invoca o falecido Michael Crichton, um homem que chamou a atenção para os perigos da politização da Ciência, uma ligação que ele detectava na campanha do aquecimento global, chegando a comparar esta campanha à que se observou nas primeiras décadas do século XX com uma pseudo-teoria científica, a eugenia, consensualmente aceite e promovida por eminentes personalidades políticas e científicas da época. Foi posta de parte depois da 2ª Grande Guerra, quando se viram os resultados das experiências dos nazis.

João disse...

Caro Jorge Oliveira:

O Blog que identifica como sendo o meu é de facto o meu. Dá muito trabalho e esta o melhor que posso.

O texto que refere é sobre a duvida metodica que faz parte do espirito cientifico. Isso não impede a ciencia de formular hipoteses e teorias. Âté é parte do processo.

O texto esta disponivel para quem quiser ler. Comentarios e sugestões são aceites de agrado. De certeza que o posso melhorar muito.

A minha opinião sobre o consenso cientifico tem uma entrada propria no mesmo blog ja desde ha cerca de um mes. convido quem quiser a le-la.

Alias está la para isso. Aceito sugestões e estou desejoso que alguem me ajude a melhora-la.

Em relação à exxonmobile, se falei com uma certa prudencia, não foi por falta de referencias. Sem querer exagerar em links, o que me diz da carta que a Royal Society lhes enviou? Pode ler a noticia aqui:

http://www.guardian.co.uk/environment/2006/sep/20/oilandpetrol.business

Começa assim:" Os cientistas engleses mais importantes (leading) desafiaram a empresa de petroleo ExxonMobil para parar o financiamento de grupos que tentam minar o consenso cientifico nas alterações climaticas".

Como vê não ha aqui contradiçôes. De facto, eu não tenho certezas, mas compreendo que as probabilidades não são favoraveis. A ausencia de certezas não significa, mais uma vez, ausencia de conhecimento sobre o qual se deva agir.

Agir agora pode salvar muitas vidas. Como habitante do sul da europa ainda me preocupo mais por mim e pelos meus.

O onus da prova esta em quem vai contra o consenso cientifico, como sempre foi.


Obrigado por me dar oportunidade de me explicar.

João disse...

Desidério:

Este problema do consenso cientifico é um problema da filosofia da ciencia ou estou enganado? E o da duvida metodica tambem acho eu?

Gostava de ter a sua opinião sobre o assunto. Acha que estou a entender mal a questão? De facto ha muito tempo que ando para lhe fazer este pedido, mas não encontrei pretexto.

Obrigado por qualquer atenção que de ao assunto.

Jorge Oliveira disse...

Caro João

Não tem que agradecer a oportunidade de se explicar. É louvável que o faça, mas a forma como está a abordar o assunto, desculpará que lhe diga, não tem aquele rigor científico que seria de esperar.

Uma coisa é a petrolífera financiar, como parece que foi o caso, entidades que não acreditam na origem antropogénica de um eventual aquecimento global.

Outra coisa é a petrolífera pagar a alguém para dizer que a queima de combustíveis fósseis faz muito bem ao planeta. Não li nada disso no artigo que sugeriu. Além do mais, até eu, que não acredito na influência do CO2 antropogénico, não recomendo que se continue a queimar os combustíveis fósseis, pelo menos ao ritmo que se observa e sem os cuidados que devem ser observados para evitar a emissão de partículas e de gases verdadeiramente poluentes, coisa que o pobre CO2 não é.

A propósito, já tomou conhecimento de que as temperaturas estabilizaram, ou até baixaram, de 2001 para cá, embora o dióxido de carbono de origem antropogénica tenha continuado a ser alegremente emitido para a atmosfera? Convém tomar conhecimento disto. Está tudo na internet. Concordará que é um dado de peso na análise desta questão.

Mas há outro aspecto importante a considerar, que parece ter-lhe passado despercebido. Que direito têm os Britain´s leading scientists de interpelar seja quem for pelo facto de financiar organizações que recusam as teorias do aquecimento global? Essa agora ! Voltámos à Inquisição?

Então e os cépticos não têm o direito de interpelar outras entidades, sobretudo os governos que andam a gastar o dinheiro dos contribuintes em gigantescos financiamentos a uma turma de cientistas, que parecem mais interessados nas conferências em países exóticos, de clima ameno, que põem cá fora teorias duvidosas, sem uma clara relação causa-efeito. Que falsificam descaradamente resultados, como se verificou no escândalo do Hockey Stick.

Não acha que há motivos mais do que suficientes para se ser céptico, sem estar enfeudado a uma petrolífera? Pelo meu lado, posso garantir-lhe que não estou. Não escondo a ninguém que sou partidário da energia nuclear. Por um motivo que não tem a ver com o propagandeado facto de uma central nuclear não emitir CO2. É verdade, mas aquilo a que dou mais valor é à segurança de abastecimento energético, uma coisa que ninguém tem quando depende dos combustíveis fósseis comprados a países que não merecem confiança nenhuma.

João disse...

Caro Jorge Coelho:

Ao financiar um grupo que produz textos de divulgação, não esta a finaciar esses artigoS?

Os interesses dos autores não interferem com a produção de um artigo? Não deve ser tida em conta?

Quais poderão ser os interesses da Exxonmobil?

Nega a legitimidade da Royal Society de pedir a uma empresa que cesse o financiamento de grupos com produção de informação que induza o publico em erro, por não ter suporte cientifico? (nas palavras da carta.)Link da carta propriamente dita:

http://image.guardian.co.uk/sys-files/Guardian/documents/2006/09/19/LettertoNick.pdf

A Royal Society torturou alguém? Porque ha de ter menos direitos que os que negam o aquecimento atropogenico ao expressar a sua opinião?

Não faz um mes, e ja depois do famoso "the great global swindle" que o "hockey stick" graph sofreu correcções mas que o mantem como a melhor interpretação possivel das temperaturas nos ultimos 1000 anos, se não mais.

João disse...

O competitive enterprise institute é uma instituição que foi finaciada pela Exxonmobil, ja não é. Mas leia sobre os beneficios que o seu fundador refere sobre o CO2 e o Aquecimento Global:

http://thinkprogress.org/2006/05/17/global-warming-looks-good/

O que pensa disto em relação a envolvimento da Exxonmobil em relação a beneficios de queimar combustiveis?

Jorge Oliveira disse...

Caro João

Eu não posso deixar de lhe perguntar se leu bem e se meditou na carta de Bob Ward, Senior Manager da Royal Society, dirigida a Nick Thomas, Director da Esso UK.

Como é que o sujeito tem o arrojo de pedir a lista das entidades financiadas pela Esso, tanto no Reino Unido, como nos outros países europeus, para ele poder verificar quais as que teriam andado a espalhar informação enganadora ao respeitável público? Enganadora, porque contrária às teses dos warmers, como se depreende.

Acha isto normal? Isto não passa de um procedimento pidesco. O caro João não deve ter chegado a conhecer o regime salazarista e muito menos a PIDE, a polícia política do regime. Nesse tempo, os funcionários públicos eram obrigados a assinar uma declaração a dizer que rejeitavam todas as políticas subversivas, uma forma eufemística de eles se referirem ao comunismo. Para dar aulas no IST, tive de assinar essa declaração. Toda gente o fazia, marimbando-se para o conteúdo

Mas pelo caminho que as coisas estão a tomar, não me surpreenderiase que um dia destes os candidatos a professores ainda venham a ser obrigados a assinar uma declaração em que se comprometem a não difundir junto dos alunos opiniões contra o aquecimento global.

Julgo que basta observar este tipo de comportamento dos warmers para desconfiar das suas posições.

João disse...

Caro Jorge Coelho:

Como deve calcular eu não tenho os documentos que provam a veracidade destas questões, são outros que os têm. Por isso disse que: "Tem sido referida como, etc, etc.." la esta, deixei espaço para duvida, para quem achar que essa duvida é razoavel.

Jorge Oliveira disse...

Caro João

Suponho que está a dirigir-se a mim quando escreve Jorge Coelho.

Mas olhe que eu não quero ser confundido com aquele canastrão do PS que usa esse nome.

Quanto ao assunto, penso que já deixei clara a minha opinião.

Um abraço

João disse...

Caro Jorge Coelho:

Quando disse "são outros que os têm" é apenas um pressuposto que me parece razoavel. Não pode inferir que eu sei defacto da existencia desses documentos. Não tenho de facto a certeza, nem posso declarar que tenho. Mas por favor não me venha implicar com isso, porque senão daqui a pouco estamos a discutir sobre a hipotese de toda a realidade ser um filme tipo matrix.

E sim acho razoavel quando são publicados estudos e apresentados ao publico saber de onde veio o dinheiro que os financiou. Não creio que isso seja uma prova certa de que o estudo é enganador. Mas penso que deve ser conhecida, sobretudo, mas não só, no ambito da divulgação ao grande publico.

João disse...

Caro Jorge Coelho:

Quando disse "são outros que os têm" é apenas um pressuposto que me parece razoavel. Não pode inferir que eu sei defacto da existencia desses documentos. Não tenho de facto a certeza, nem posso declarar que tenho. Mas por favor não me venha implicar com isso, porque senão daqui a pouco estamos a discutir sobre a hipotese de toda a realidade ser um filme tipo matrix.

E sim acho razoavel quando são publicados estudos e apresentados ao publico saber de onde veio o dinheiro que os financiou. Não creio que isso seja uma prova certa de que o estudo é enganador. Mas penso que deve ser conhecida, sobretudo, mas não só, no ambito da divulgação ao grande publico.

João disse...

Caro Jorge Oliveira:

Desculpe a troca de nomes foi lapso.

E a duplicação de comentarios tambem.

sguna disse...

Caro Jorge:

"Que falsificam descaradamente resultados, como se verificou no escândalo do Hockey Stick." Mas isso é mesmo assim? Tem a certeza que houve falsificações deliberadas? Está provado Hockey Stick é assim tão desajustado?

"Outra coisa é a petrolífera pagar a alguém para dizer que a queima de combustíveis fósseis faz muito bem ao planeta." Se não me engano foi a ExxonMobil e amigos que financiou a campanha publicitária que tinha o slogan: 'CO2: they call it pollution, we call it Life!'

Actualmente a atmosfera contém aproximadamente 0.038% CO2. Quanto e que ritmo é que este valor terá que mudar para o equilíbrio se alterar?

Jorge Oliveira disse...

Caro Sguna

Hockey Stick (em português Taco de Hóquei) é a designação por que ficou conhecido um gráfico de temperaturas elaborado por Michael Mann, Raymond Bradley e Malcolm Hughes, da Universidade de Massachusetts, no qual se procura representar a evolução da temperatura global desde o ano 1000 até ao presente.

O gráfico revela uma temperatura relativamente estável, até com uma ligeira tendência de diminuição, entre 1000 e 1900 (é a parte que constitui o cabo do taco) e a partir daí revela uma subida brusca e acentuada (a parte que constitui a lâmina do taco).

Ou seja, de 1000 a 1900 praticamente não se passou nada e assim que começa o século XX a temperatura vem por aí acima. How convenient !

Não surpreende que este gráfico tenha sido desde logo entusiasticamente adoptado pelos “warmers”. E o IPCC, claro, deu-lhe logo um amplo destaque num relatório de 2001.

O problema foi que os warmers se esqueceram de reparar que Mann e colegas tinham pura e simplesmente aplanado dois períodos já conhecidos, o Período Quente Medieval (ca. 800 a 1300) e a Pequena Idade do Gelo (ca. 1550 a 1850). No primeiro verificaram-se temperaturas superiores às actuais e no segundo temperaturas inferiores. Mas para Mann e colegas foi tudo raso. O objectivo era mostrar uma subida em flecha das temperaturas a partir do início do século XX. A mão do Homem, esse perigoso manipulador do clima…

O pior, para eles, foi terem entrado em campo dois cientistas canadianos, Stephen McIntyre e Ross McKitrick, que encontraram uma falha matemática básica no programa de cálculo utilizado por Mann.

McIntyre e McKitrick perceberam que Mann tinha enviesado os dados proxy de forma a exagerar os valores mais recentes das temperaturas e assim chegar a uma curva com aquele formato. Mann acabou acusado de negligência e mesmo de fraude.

McIntyre e McKitrick publicaram dois artigos a criticar o hockey stick na revista Energy and Environment, em 2003, e um terceiro na Geophysical Research Letters, em 2005. Estes artigos e muitos outros comentários e debates acerca do tema estão disponíveis na página web de Stephen McIntire, em www.climateaudit.org

É também interessante ler uma explicação não técnica dada por McKitrick, num artigo intitulado “What Is the Hockey Stick Debate About?”, apresentado ao Australian APEC Study Group, em 4 de Abril de 2005 e acessível em http://www.uoguelph.ca/~rmckitri/research/McKitrick-hockeystick.pdf

O ambiente aqueceu (nada de admirar, quando se debate o aquecimento…) e a pedido do House Energy and Commerce Committee, o Dr. Edward J. Wegman, do Centro de Estatística Computacional da Universidade George Mason, reuniu uma equipa de especialistas de estatística para apreciar a crítica de McIntyre e McKitrick aos dados e à metodologia seguida por Mann e colegas.

Entre outras coisas, o comité concluiu que os textos de Mann eram um tanto obscuros e incompletos e que as críticas de McIntyre e McKitrick eram válidas.

O famoso consenso dos cientistas sobre o assunto, não é tão alargado quanto se pensa.

Outra interessante leitura sobre este tema pode ser encontrada aqui :
http://www.john-daly.com/hockey/hockey.htm

João disse...

Caro Sguna e Jorge Oliveira:

O hockey Stick Graph foi revisto em termos de metodologia e em quantidade de informação utilizada e republicado em Setembro passado. As conclusões são compativeis com as ja alcançadas anteriormente.

Sobre o consenso acerca do aquecimento global é tão extenso que se eu aqui colocasse todas as entidades creditadas cientificamente que sobre ele estão de acordo dava um comentario enorme. Va-le a pena ver as revisoes bibliograficas que concluem o mesmo como a de Oreskes.

McIntyre e McKitrick, um economista e um executivo da area mineira, tiveram os seus poucos trabalhos publicados em revistas de peer-review tambem bastante criticados.

O site www.realclimate.org e a Wikipedia na lingua Inglesa são sugestôes de mais leitura.

sguna disse...

Caros,

Concordo com o João; se existisse um erro crasso de metodologia no tratamento estastítico dos dados, seria de esperar muito mais artigos críticos. Além do mais, vários autores publicaram artigos com medições a mostrar que o "período de aquecimento medieval" não foi um fenómeno global.

Também seria de esperar que existissem modelos que revelassem, outras causas para o "recente" aumento de temperatura. Embora não conheça o tema extensivamente, ainda não encontrei modelos que "forçassem" o recente aquecimento de outro modo além de factores antropogénicos.

Jorge Oliveira disse...

Ah, já cá faltava. Então o Período Quente Medieval não foi um fenómeno global? E a Pequena Idade do Gelo também não? Serão, portanto, fenómenos regionais, estatisticamente irrelevantes para a teoria do aquecimento “global”. Bom, então para que diabo serve uma teoria “global” que não é capaz de dar conta de fenómenos climáticos regionais, ainda que as regiões sejam tão vastas como a Europa inteira, ou grande parte dela?

Em suma, tudo o que não se ajusta à grande teoria é varrido para debaixo do tapete. Isto é Ciência? Astrologia talvez…

Com critérios destes, compreende-se que se continue a falar de um largo consenso mesmo quando, por exemplo, uma centena de cientistas (sim, foram precisamente 100) escreveu uma carta ao Secretário Geral das Nações Unidas, o Sr. Ban Ki-Moon, no dia 13/12/2007, exactamente quando estava a decorrer a Conferência de Bali, alertanto-o para o facto de a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima estar a levar o mundo numa direcção completamente errada, criticando os relatórios alarmistas do IPCC, manifestando a convicção de que o ser humano não é responsável pelas alterações climáticas observadas e referindo a inutilidade das acções em curso para as combater.

É claro que, para os alarmistas, estes 100 cientistas não contam. E prosseguem alegremente, sobretudo em Portugal, onde a comunicação social está completamente controlada pelos fanáticos do ambiente. Com efeito, em Portugal não se publicou uma única linha acerca daquela carta dos 100 cientistas. Será isto normal ? A carta existiu. Era um facto. Se eu ainda acreditasse na teoria dos warmers, ficaria de pé atrás logo que me apercebesse deste tipo de manobras controleiras.

Jorge Oliveira disse...

E a propósito de controleirismo na nossa comunicação social, no que diz respeito às notícias sobre ambiente, energias renováveis e aquecimento global, é bom ter presente o seguinte :

O jornal Público tem um jornalista warmer a controlar tudo o que diz respeito ao aquecimento global.

O semanário Expresso tem, no seu Conselho Editorial, um conhecido empresário de parques eólicos e warmer convicto.

A RTP tem um Director de Informação que está convencido de que a fusão do gelo do Árctico fará subir o nível do mar e se aconselha exclusivamente com warmers.

A TSF, de cada vez que há questões respeitantes à energia nuclear, energias renováveis e aquecimento global chama aos microfones o mesmo empresário de parques eólicos e outros warmers.

Que credibilidade merecem os nossos órgãos de comunicação social nestas matérias? Zero!

João disse...

Caro Jorge Oliveira:

Decidiu adoptar uma tenica Al Goriana?

Jorge Oliveira disse...

Caro João! Não me dê falsas esperanças. Será que eu conseguiria ter o mesmo sucesso que o Al Gore em palestras para enganar tótós? O dinheiro que ele recebe dava-me um jeitão...

sguna disse...

Caro Jorge,

O sr., e bem claro, tem uma postura crítica em relação a tudo que diz respeito às evidência de aquecimento. No entanto, o contrário não parece acontecer. Se a comunicação social é tendenciosa, o que dizer de McIntyre, ou dos membros da "House Energy and Commerce Committee"?

Em relação ao "período quente medieval", salvo o erro as primeiras evidências deste período surgiram de "proxies" de árvores nos estados mais ocidentais dos E.U.A. Face a estes resultados, muita propaganda foi escrita e emitida. No entanto, ao realizar mais analíses, de partes diferentes do globo, os resultados indicam que as temperaturas neste período não foram superiores às registadas durante o séc. XX. Mas isto foi a informação a que tive acesso, se conhece artigos que mostram conclusões diferentes, agradecia que os indicasse.

João disse...

Sguna:

Acerca do periodo quente medieval o que diz é correcto, tanto quanto é humanamente possivel saber. Foi um fenomeno local e não global, e sim, aqueles que procuram tirar partido da incerteza cientifica normal fizeram disso um icone. Mais uma vez ao bom estilo criacionista.

O que me parece inquietante é serem professores universitarios a tentar usar o seu proprio "deus-das-lacunas" para defender a existencia de unicornios verdes e chamar tótós a quem não acredita.

João disse...

Exmo Professor Jorge Oliveira:

Não tenha duvidas que a sua eloquecia é razoavel e a sua capacidade rectorica também. Alias demasiado boa. Se conseguiria viver dela não sei.

É pena é que a use para defender causas anti-cientificas usando uma falta de rigor de que diz não perdoar nos outros, permitindo-se inclusivamente ser ofensivo, o que me convida a certas liberdades.

O seu argumento publico contra o consenso cientifico actual preocupame e mesmo sabendo que o consenso cientifico não é um argumento valido entre pares, ele certamente é valido para todos os restantes. Ha sempre alguem importante e informado a defender qualquer posição que seja pensável. Então quem decide o que se ensina nas escolas e se ensina ao publico? Pense nisso.

João disse...

Pesso desculpa pelas gralhas mas escrevo sempre apressado.

Jorge Oliveira disse...

Caros João e Sguna

Não sou professor. Já fui há muitos anos. E não quis ser ofensivo. Se o João se refere àquela dos tótós, se quiser retiro.

O que impressiona neste tema, se bem reparam, é que há sempre um contra-argumento.

Se o Mann aldrabou os dados para fazer o hockey stick, os que o desmascaram são suspeitos disto e daquilo. Se o Período Quente Medieval foi mais quente do que hoje, não é bem assim porque os dados proxy são suspeitos.

Também lhes posso dizer que há artigos muito respeitáveis que põem em causa os dados obtidos a partir dos cilindros de gelo. Deita-se fora tudo aquilo?

Enfim, pelos vistos nesta matéria nada é seguro. E quando nada é seguro, devemos confiar no nosso instinto. Ora, o que me diz o instinto é que os warmers são uns aldrabões de todo tamanho. E agora não retiro nada !

Não são necessários dados proxy, nem equações de absorção da radiação infravermelha. Basta-me o senso comum.

Quando faz um tempo um bocadinho mais quente, ou quando um furacão assola a costa dos EUA, aí está o aquecimento global em grande. Os nossos jornais embandeiram e os telejornais rejubilam.

Quando faz um frio de rachar ou quando neva fora de tempo, nos locais mais inesperados, assobiam todos para o lado. Nevou na Madeira há duas semanas e só soube quem lá vive ou quem lá foi. Jornais e televisões, nem uma palavra.

Para mim isto é suficiente para desconfiar que existe marosca. Ou, melhor dizendo, uma grande conspiração. Eu conheço alguns dos conspiradores nacionais e não lhes comprava um carro em segunda mão.

Mas como tenho um espírito científico, estou sempre pronto a reconhecer razão a quem a tiver e até a mudar de opinião. Por enquanto, não tenho motivos para isso.

sguna disse...

À muito tempo que se fala em efeito estufa. Enquanto o assunto só interessava a académicos - não havia política metida no assunto - estava tudo muito bem. Os cientistas andavam às "cabeçadas" uns com os outros, mas ninguém perdia o sono com o assunto. Agora pedem-nos para alterarmos comportatmentos, para perdermos o nosso conforto, etc. Decisões políticas têm que ser tomadas. Aqui começa o problema. Levantam-se dúvidas, suspeitas. A discussão passa de científica para política... Aqui Al Gore, acaba por prejudicar o debate, devido à falta de qualidade científica da sua exposição, exagerado possiveis cenários ou usando "meias verdades". E assim instalam-se as dúvidas acerca dos motivos e intenções de quem tem realmente que trabalhar no tema.

Não há dúvida que se trata de um tema difícil, e que muita da ciência pode ser posta em causa. Alguns dos "aldrabões" são os maiores críticos dos outros "aldrabões": os primeiro modelos não incluiam a contribuição do ciclo solar (heresia na altura), depois era o ciclo solar responsavél pelo recente aquecimento (como ainda se lê frequentemente), ou então os dados não estão correctos, as metodologias estão erradas, etc. muitas destas dúvidas surgem do debate científico. Mas caro Jorge, todas estas objecções só servem para melhorar, refinar as actuais ferramentas que temos à disposição. E apesar de tudo a resposta costuma ser sempre a mesma. Tanto quanto sei, ainda não surgiu um modelo que diga: despejar 27Gt de CO2/ano na atmosfera dá saúde e faz crescer!

João disse...

Caro Sguna:

Por isso é que acho que os cientistas precisam de "Al Gores" com encenações supra-blockbuster para defender as suas ideias. Porque os cientistas não escondem duvidas que na realidade não são aquilo que alguns querem fazer delas. Porque se ha "pregadores" de um lado temos de ter do outro. Pelo que sei o filme Al Gore não esta muito mal do ponto de vista cientifico se tivermos em conta que é um trabalho de divulgação.

O que me diz?

Jorge Oliveira disse...

Caro Sguna

«Tanto quanto sei, ainda não surgiu um modelo que diga: despejar 27Gt de CO2/ano na atmosfera dá saúde e faz crescer!»

É claro que a sua observação faz sentido. Há uns anos coloquei a mim próprio esta questão e confesso que fiquei apreensivo. Todavia, já não vivo preocupado com isso.

Que o CO2 faz crescer as plantas, parece não haver dúvidas. Como deve saber, alguns dos cépticos até classificam o CO2 como um “fertilizante atmosférico”. Se mais CO2 na atmosfera nos proporcionar melhores e maiores colheitas, não é nada mau.

Se nos dá saúde a nós é a questão em aberto.

Bom, por um lado, parece que não existem problemas respiratórios provocados pela actual concentração de CO2 na atmosfera. Estamos com 380 ppm em volume (570 ppm em massa) e ainda que as 27 gigatoneladas por ano nos pareçam uma enormidade, se fizer as contas verifica que representa cerca de um milésimo da massa de CO2 que já reside na atmosfera. Impressiona?

Claro que, se este ritmo se mantiver, ou aumentar, daqui por umas centenas de anos teremos duplicado a massa de CO2 existente na atmosfera. Que efeito terá na nossa respiração? Parece que pouco ou nenhum. Quando estamos numa sala de aula ou numa conferência do Al Gore (salvo seja) os teores de CO2 são muito mais elevados e não se vê gente a cair para o lado.

Em todo o caso, é possível que o excesso de CO2 na atmosfera seja absorvido mais rapidamente pelos oceanos e por uma vegetação que certamente se tornará mais densa e mais extensa. É um estudo interessante.

Além disso, teremos que verificar se existem combustíveis fósseis em quantidade suficiente para aumentarmos dramaticamente o teor de CO2. Ou se, antes disso, não vamos incrementar o recurso à energia nuclear (é a minha opinião), queimando o carvão apenas de forma “limpa”.

No que respeita à influência do CO2 antropogénico no efeito de estufa e nas eventuais alterações climáticas daí decorrentes, já deixei claro que acredito nas teses dos que defendem que não tem influência. Ou que, se tem, é negligenciável em face de factores naturais muito mais importantes, em que participa, sobretudo, a estrela que nos alumia.

Em termos de quantidades presentes na atmosfera terrestre (não do potencial específico de cada gás) o componente da atmosfera que tem maior peso no nosso efeito de estufa é, de longe, o vapor de água. Depois vem o CO2 de origem natural, que também lá está e não é pouco (em massa, cerca de 1/5 da quantidade média de vapor de água).

Há quem atribua ao vapor de água um contributo até 95% do efeito de estufa total, mas ainda que se fique por valores mais baixos, frequentemente referidos, como 66%, é um contributo claramente dominante.

Ora, como já disse atrás, as 27 Gt de CO2 por ano que são “despejadas” na atmosfera pela actividade humana, constituem uma fracção ínfima do CO2 presente na atmosfera. Como é possível acreditar que seja o “nosso” CO2 a alterar o clima da forma terrífica que os alarmistas nos pretendem fazer crer?

E, ainda que se afigure gigantesca, a quantidade de 27 Gt de CO2 por ano é uma “bagatela” comparada com a quantidade de vapor de água que todos os anos entra e sai da atmosfera. Fazendo umas contas simples verifica-se que é quase 20.000 vezes superior à de CO2 antropogénico.

Em suma, o vapor de água domina claramente o CO2 antropogénico. O mesmo é dizer que a Natureza domina claramente a acção do Homem. Só os alarmistas é que não sabem.

sguna disse...

"Claro que, se este ritmo se mantiver, ou aumentar, daqui por umas centenas de anos teremos duplicado a massa de CO2 existente na atmosfera"

Em 2050, se o ritmo se mantiver, haverá um aumento de 30%. Sejamos realistas, acha mesmo que em 10 anos estaremos todos a queimar carvão de forma limpa?! Acho mais provavél o ritmo aumentar... mas isso é outra discussão. Mas se o Jorge tiver com razão, não há motivos para queimar carvão de forma limpa - a não ser que seja mais eficiente.

Acho que um aumento de 30% em 50 anos é suficientemente drástico para ter influências sérias nos ecossitemas, e.g. acidificação dos oceanos. Penso que os efeitos na vegetação não serão assim tão simples. Aumento de C02 leva a melhores colheitas se continuar a existir um equilíbrio de nutrientes e claro, se a temperatura não aumentar. As implicações das alterações atmosféricas são muito extensas e muito ainda tem que ser estudado, como o Jorge referiu. Mas penso que são poucos os exemplos em que a actividade humana (pós-industrialização) teve um impacto benéfico no meio-ambiente.

O vapor de água é sem dúvida o principal regulador do efeito estufa natural do planeta. O Jorge fala em 95% e em 66%, mas convém referir que pressuponha uma influência de 36%. O contributo atribuído ao CO2 rondará 9%. Mas não concordo que 27Gt/ano sejam uma "bagatela", porque o efeito cumulativo, como já foi visto, é sgnificante. Se o ritmo do aumento de emissões se mantiver, então duplicaremos a concentração de CO2 em cerca de 80 anos. O que não acontece com o vapor de água. A quantidade de vapor de água depende fundamentalmente da temperatura. É possivél explicar o aumento de temperatura observado no último século, através de alterações no vapor de água atmosférico? Penso que não. E o concenso extende-se em relação aos efeitos do ciclo solar, variabiliadade natural etc.

Aqui fica uma ilustração:
http://www.metoffice.gov.uk/corporate/pressoffice/myths/Forcing-Diagram.gif

Agora, se é aldrabice ou não...

Jorge Oliveira disse...

Caro Sguna

Veja o último post do Rerum Natura. Eu próprio já aqui chamei a atenção exactamente para o mesmo : o aquecimento nos últimos sete anos parou !

E isto enquanto o CO2 antropogénico continua a ser “despejado” na atmosfera.

É claro que os warmers estão calados que nem ratos acerca disto.

Mas não totalmente calados. Agora viraram-se para aquilo a que chamam a “bomba de metano” do Árctico. Compreende-se. Estão sempre a inventar um perigo, para assegurar os chorudos subsídios governamentais para investigação (?) e energias renováveis…

Barba Rija disse...

Caro Jorge Oliveira, apenas escrevo para lhe dar os parabéns por não subscrever teorias mais catastrofistas e manter um espírito crítico sobre a questão levantada. O mesmo elogio faço ao caro João, que apesar de acreditar na teoria corrente, nada tenho a apontar-lhe senão abertura de espírito. Para mim é muito difícil conciliar aquilo que me é aparente, como alguma atrapalhação dos cientistas mais proeminentes do AG - e evito calúnias pois são escusadas -, as dificuldades inerentes não só à própria catalogação das temperaturas mundiais, como ainda por cima à sua projecção em 100 anos, ao chamado consenso científico.

E tenho esta dificuldade porque mesmo sabendo que os consensos científicos nunca são gerais, mas consistem antes na confiança dos cientistas em geral no método científico e na seriedade dos colegas de profissão (não se espera que todos os cientistas auditem fervorosamente todos os trabalhos científicos - irrealizável), mesmo assim, o consenso científico é de facto um argumento sólido. Raramente o contra-consenso ganha (embora hajam exemplos clássicos e importantes na história científica). Como o Carl Sagan dizia, muitos riram de Galileo e até de Einstein. Mas muitos mais riram de Bozo, o palhaço.

Assim, desconfortavelmente me situo na desconfiança crítica da tese principal de que a situação é catastrófica e que devemos gastar triliões de dólares na resolução de um problema que é apenas visível em modelos de computadores.

Gostaria apenas de dizer ao João que a questão de se este ou aquele paper é financiado pela ESSO ou pela EXXON, ou etc., é totalmente irrelevante. Apenas interessa o conteúdo e a sua validade.

Barba Rija disse...

Só queria adicionar ao João que considerei a crítica do Ludwig ao filme The Great Global Warming Swindle execrável, não pela crítica em si, que é sempre válida e bem vinda, mas antes pela implícita censura automática de pontos de vista contrários ao "consenso geral", e para isto ser visível basta pensarmos na ausência clara de críticas que muito provavelmente Ludwig ou outras pessoas como ele têm sobre o filme do Al Gore, isto apesar de Al usar factos, fenómenos e teses completamente falsos, como o argumento da correlação do CO2 - temperatura, a recessão das neves do monte Kilimanjaro, a eventual dispersão de doenças tropicais, etc., muito embora essas teses fossem já conhecidas como falsas no momento em que o filme foi editado.

É esta incapacidade crítica que desenvolvemos que me parece muito perigosa.

João disse...

barba rija:

Hum! Mas olha, achas que o documentario é fiavel?

Teve lapsos admitidos pelos proprios que não lhes dão credibilidade nenhuma, por serem mesmo em pontos cruciais e sempre no seu interesse...

Ainda temos de discutir esse assunto. Estas em que campo? Ha ou não aquecimento global e se sim quais causas validas?

Barba Rija disse...

João, não conheço documentário controverso que não contenha pontos exagerados ou mesmo falsos, por lapso dos autores, ou até por uma certa ligeireza de investigação. Por vezes os autores ficam tão excitados com certas descobertas que não são suficientemente rigorosos na verificação de que aquilo sobre o qual fundamentam a sua tese documentária é realmente sólida ou não.

Tal foi o caso do Al Gore quando mostra aquele gráfico célebre da correlação das temperaturas com o CO2 em 650 mil anos e pergunta qualquer coisa do tipo do they fit together? O problema está, como Lubos Motl refere no seu blog, que não é só o CO2 que correlaciona com a temperatura (para além dos 800 anos de diferença com a subida de temperaturas a surgirem antes), mas também CH4, que nada tem a ver com o caso, como podes ver nesta figura. Portanto tens três correlações bastante directas. Dificilmente se poderá concluir que é o CO2 que altera as restantes. Será muito mais simples concluir que é a temperatura que faz subir a concentração de ambos os gases.

E no entanto, no momento em que vi o filme, achei este segmento o mais espectacular e conclusivo, culminando em Al Gore subir de elevador.

Houve outros. E no entanto, não me é tão importante como isso. Gostei do filme em geral, mesmo esquecendo os erros, faz lembrar em certos pontos a excelência retórica do Carl Sagan. Aquilo que hoje não considero correcto é a crucificação de qualquer crítica que se possa fazer em relação ao assunto.

Quanto à tua pergunta: Estas em que campo? Ha ou não aquecimento global e se sim quais causas validas?

Sinceramente não sei. Não sou climatólogo, e por conseguinte não me arrogo de saber mais do que aqueles que critico. Vejo enorme incompetência na própria harmonização das temperaturas terrestres, (onde o factor "heat urban island" é categorizado como terreno de negacionismo, ao invés de ser estudado com a precisão, rigor e catalogação necessárias para me convencer), vejo escândalos na metodologia do Hockey Stick que não consistem na sua incompetência - o que não danifica o campo científico em si - mas sim na defesa a todo o custo do mesmo estudo, mesmo sabendo os erros grosseiros que contém (Convém salientar que Mann 2008 publicou todos os dados que utilizou para o trabalho na internet, o que é de saudar e aplaudir, e permite a Steve McIntyre debastar pelos erros - como já o está a fazer - no período de meses ao invés de anos, como foi o caso de MBH98).

Vejo também modelos de computador que Al Gore famosamente disse serem utilizados nos sectores financeiros para reduzirem as suas margens de risco - e confesso que a anedota teria piada se não nos tivesse custado tão caro. No entanto, são estes modelos que projectam o clima em 100 anos. Relembro que a teoria do Caos foi criada através do estudo precisamente da economia e do clima. Lorentz descobriu que uma pequena alteração no início daria resultados totalmente diferentes no final. Todo o sistema climático é caoticamente complexo, e tendo em conta as incompetências que testemunho, parece-me uma missão muito optimista esta de pensar que se pode "projectar" o clima daqui a 100 anos. Parece-me muito mais provável que toda a gente está demasiado confiante dos seus resultados, e que realmente ninguém sabe qual vai ser a temperatura do planeta Terra daqui a 100 anos.

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