sexta-feira, 21 de março de 2008

Re-inventar a roda




O novo Ministro da Cultura, que não tenho prazer de conhecer, afirmou há dois dias no Parlamento, perante os deputados, que uma das formas de conseguir gerir os museus nacionais - 28 dependentes do IMC - e ultrapassar uma crónica e não menos inacreditável situação de falta de vigilantes, seria a de usar voluntários reformados para substituir vigilantes. Acrescentou mesmo que já foi guiado nessas circunstâncias no estrangeiro. É de gabar a perspicácia do Ministro que soube indagar junto dos vigilantes se seriam reformados. Eu, quando visito museus nunca me lembro de uma tal questão. Mas, por outro lado, sei que os museus custam dinheiro a manter e não é possível reduzir o pessoal para lá de certos limites, sob pena de colocar em causa a sua missão e o nível que se lhes exige.

A imagem dos museus nacionais está bastante depauperada, entre outras coisas, por não se assegurarem o que chamarei de serviços mínimos. Li com espanto a afirmação há umas semanas de que o problema dos vigilantes nos museus dependentes da administração central estava resolvido até ... Maio. Sim Maio de 2008, não de 2010! Isto é ridículo! É ridículo que o Museu Nacional de Arte Antiga feche as suas portas à hora do almoço por falta de vigilantes, como sucedeu não há muito tempo e poderá voltar a suceder em ... Junho.

Além de vigilantes, para poderem ser atractivos e conseguirem lutar por públicos, os museus necessitam entre outros de serviços educativos e de gabinetes de comunicação. A dimensão de pessoal é algo de que não se quer falar quando se fala de Museus. Porque isso significa gastar dinheiro. O Science Museum de Londres é um grande museu, com muitas atracções e uma área de exposição permanente bastante grande. O espaço, as colecções, as actividades que sempre decorrem ali, requerem pessoas. Quinhentas pessoas na verdade.

Mas, entre nós responde-se ao problema de falta de pessoas - mesmo as menos qualificadas e, por isso, menos custosas - propondo-se a utilização de voluntariado!

Poderá um museu ser rentável? A resposta curta é: não. São muito raras as situações em que as receitas suplantam as despesas. Mas, estamos a falar de receitas directas. Um museu pode constituir um pólo de desenvolvimento muito importante numa região e num país. A abertura do Guggenheim em Bilbau fez elevar o PIB da região em 1% no primeiro ano! Isso significa ter uma visão diferente da promoção da cultura. E em certos casos há que assumir que se trata da prestação de um serviço cultural que tem mesmo que ser prestado.

O nosso novo Ministro da Cultura propõe a inclusão de voluntários para substituir os vigilantes. No estado em que os museus nacionais se encontram, esta proposta é ridícula e ofensiva para a nossa inteligência. É verdade que Portugal é dos países desenvolvidos um dos que menos uso faz do voluntariado. E há um importante caminho a fazer aí. Mas, não se assegura o essencial de uma instituição museológica com a colaboração de voluntários. Quando falta dinheiro para vigilantes significa que já não há verbas para programação, para investigação e formação, para produção de produtos vendáveis.

Admitamos que a notícia do jornal (DN) distorceu as palavras do Sr. Ministro que não colocou ênfase nesta 'solução' e que a terá apenas apontado como uma pequena ajuda para o problema. Fica o benefício da dúvida. Aguardamos, contudo, com expectativa para saber como é que o MC pensa revitalizar os museus sob sua responsabilidade gastando menos.

1 comentário:

Filipe Moura disse...

«A abertura do MOMA em Bilbau fez elevar o PIB da região em 1% no primeiro ano!»

Só uma nota: não é MOMA, é Guggenheim. De resto, de acordo.

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