segunda-feira, 24 de março de 2008

De onde vem o ovo, perdão, o dinheiro?

Recentemente, surgiu um novo navegador para o Windows, da Apple, chamado Safari (já existia antes para outros sistemas operativos). Evidentemente, é gratuito. Entretanto, estalou a polémica porque a Apple enfiou o navegador nas actualizações automáticas do iTunes; como a maior parte das pessoas aceita o que lhe enfiam no computador, vão ficar com um novo navegador, que tem também a "vantagem" de estar integrado com o iTunes. Quem protestou? Os homens (sim, parece que são sempre homens) do Firefox.

Trocaram-se argumentos de um lado e do outro, mas ninguém queria mencionar o que estava verdadeiramente em causa, porque essa é a alma do novo negócio digital: fingir que se dá coisas às pessoas, ao mesmo tempo que se faz muito dinheiro sem elas se aperceberem disso porque não pagam directamente.

Até que Larry Dignan (ler aqui), da ZDNet, pôs tudo em pratos limpos: o que está em causa é que os homens do Mozzila ganham muito dinheiro do Google com as pesquisas que as pessoas fazem no Firefox; e quantas mais pessoas começarem a usar o Safari da Apple, mais dinheiro do Google vai para a Apple em vez de ir para os bolsos dos homens do Firefox.

Este é o retrato da nova economia digital, baseada na publicidade. O gratuito é uma miragem que sai caro: um mundo com cada vez mais publicidade e cada vez mais controlado pelas grandes companhias que vivem da publicidade, como o Google. E baseado em grande parte no trabalho voluntário de jovens crédulos que pensam que os bons e os maus são fáceis de identificar como nos filmes de Hollywood.

E já agora, se quiser realmente um navegador alternativo, experimente o Opera. É muito melhor do que o Firefox.

20 comentários:

Anónimo disse...

Porque acha que o Opera é melhor que o Firefox?

Unknown disse...

Eu também uso o Opera: não há spyware por enquanto, não há popups.

Tem o inconveniente de alguns scripts não correrem em Opera mas isso na maioria dos casos não chateia. Quando chateia, uso o Flock.

Anónimo disse...

Eu tenho um grande respeito pelo trabalho do Desidério Murcho e acho que a observação que fez neste artigo sobre os antros obscuros do mercado de programas informáticos é muito pertinente ao estado de alienação do consumidor e de alguns programadores voluntários (ou será voluntariosos?).

Contudo, o remate vergonhoso que fez deita em saco roto o moralismo que habita a sua crónica. Porque nós, programadores voluntários e/ou utilizadores de programas informáticos livres, sômo-lo por princípio.

O Opera não é um programa livre, é somente gratuito — em certa medida; pois, remetendo para o artigo que escreveu, os seus programadores vivem à custa de serviços prestados a companhias que vivem da exploração do consumidor moderno.

Em contrapartida, um programa livre, de acordo com a definição da Fundação para o Software Livre (FSF), providencia um conjunto de direitos fundamentais para o utilizador:

— liberdade de utilizar o programa sem restrições de qualquer tipo;

— liberdade de adaptar o programa às necessidades do utilizador, o que pressupõe o acesso ao código;

— liberdade de copiar e distribuir o programa;

— liberdade de modificar e publicar o programa modificado.

Supondo que o Opera, por graça de uma qualquer divindade, adquiriria uma quota de mercado equivalente àquela que detém o Firefox (e outrs adaptações do software livre Gecko), de que modo a relação da Opera Software em relação ao consumidor seria diferente da do Mozilla, no termos que o seu artigo aborda?

É óbvio que o modelo capitalista, independentemente da sua face, se rege sempre pelos mesmos princípios.

Anónimo disse...

O Firefox também tem bloqueador de popups, que diga-se de passagem nem sempre são maus, visto que muitos sites, tal como o Blogger, usam os popups para, por exemplo, escrever comentários, como este. Existem é sites que se aproveitam de vulnerabilidades para instalar spywares, sendo que uso o Firefox, nunca tive grandes problemas e é mais uma questão de configuração.

Para mim o Firefox tem uma grande vantagem em relação ao Opera: extensões fáceis de usar e instalar. Estas facilitam-nos bastante a vida, especialmente para quem produz HTML, CSS e Javascript (Firebug é o cálice sagrado que poupa bastante tempo no chamado debugging).

Por outro lado, ter corrector ortográfico instalado de origem, possibilidade de configurar os motores de busca (podemos, por exemplo até por um dicionário português no lugar do Google ou mesmo mudar para Yahoo, entre outros), resumindo, a flexibilidade que permite, julgo que não o deixam atrás do Opera.

Já usei vários navegadores, desde Internet Explorer, Maxthon(MyIE2), Opera, Avant, Mozilla Fireforx, Konqueror, Safari. De todos o que continuo a usar regularmente é o Firefox, não tirando mérito a algumas funcionalidades do Opera.


Relativamente a esta questão do Safari... pessoalmente não fico lá muito contente quando ao instalar um programa ele, quando está a fazer actualizações, queiram subrepticiamente logo instalar mais dois ou três (iTunes + Quicktime + Safari), quando eu apenas tirei e instalei o iTunes ou só o Safari (sendo que na página entre a opção de instalar tudo ou só um já tinha escolhido só um deles).

A Mozilla poderia fazer isso com o Thunderbird e outros programas seus e não o faz... se por um lado deve haver uma "educação" por parte do utilizador e dar a conhecer alternativas, por outra o utilizador não precisa de ser quase que forçado (a opção de instalar o resto vem seleccionada por omissão).

Não fico minimamente preocupado por a Fundação Mozilla receber dinheiro com as minhas pesquisas, este blog pode fazer exactamente o mesmo usando os Google Ads ou similares (que permitem a ligação embutida ao motor de busca, ou até mesmo uma ligação para descarregar o Mozilla Firefox!). Pelo trabalho que realizam, acho que merecem.

Desidério Murcho disse...

Caro Hugo

Obrigado pelas suas palavras!

Falei do Opera apenas para mostrar como a manipulação mental que se faz na Internet pode ir longe. O modelo de ganhar dinheiro do Opera é igual ao do Firefox, mas há a ideia falsa de que o Firefox é melhor ou mais “libertário”.

O código do Opera não é aberto, mas isso é de facto totalmente irrelevante do ponto de vista económico e do ponto de vista do utilizador. Como é óbvio, a quase totalidade das pessoas não sabe código, nem faz a mínima ideia do que fazer com o código aberto do Firefox.

Por outro lado, a ideia de software gratuito tornou os criadores de software totalmente dependentes da publicidade e das grandes companhias de software. Não podem viver das suas criações porque ninguém compra software, excepto às grandes companhias. O que dá ainda mais poder às grandes companhias, como a Adobe, Microsoft, Apple, Sun, etc. E ao Google, Yahoo e outros que vivem da publicidade. O software livre dá poder às grandes companhias, ao contrário do que pretende a ideologia que está por detrás dele, e tira poder aos pequenos criadores. Se em vez de campanhas tolas a favor do software livre se fizesse campanhas para que as pessoas pagassem o freeware que usam, pode crer que a Microsoft, a Apple e outros começariam a tremer. Assim, devem rir à gargalhada de cada vez que legiões de pessoas iludidas advogam o software livre como meio para enfrentar os Grandes Capitalistas.

Tudo isto faz-me lembrar as pessoas nos anos trinta e quarenta do século passado. Face às imensas injustiças sociais, começaram a defender ideias libertárias, e a falar da justiça social. E tornaram-se comunistas, por serem libertários. E apoiaram a União Soviética — que foi um dos estados mais totalitaristas que já existiram na face da Terra.

Eu estou de alma e coração com os evangelistas do freeware e do open source e da Internet gratuita para toda a gente. Só que eu penso que estou a ver as consequências terríveis que eles não estão a ver.

Há anos que temos aí o Linux e o Ubuntu e tudo isso e nada passa de fantasias. O grande único sucesso foi o Firefox… que ganha dinheiro às escondidas, sem as pessoas saberem disso, de cada vez que fazem uma busca no Google, e que se apoia em trabalho não pago. É caso para dizer que venha o diabo e escolha. Prefiro pagar à Microsoft, porque pelo menos não é só o Bill Gates que mete o dinheiro no bolso: ele paga a toda a gente que trabalha na Microsoft. Não se apoia nas novas modalidades do trabalho escravo do séc. XXI: a escravatura voluntária e de cara alegre, sustentada por uma ideologia religiosa plena de confusões, economicamente irrealista e que contribui tanto para uma vida digital da treta como as grandes companhias, dado que tem de se apoiar no mesmíssimo modelo económico: o modelo da publicidade, que é o modelo responsável pela sociedade consumista que os americanos exportaram para todo o mundo.

O que está em causa? Isto: se pusermos publicidade neste blog, recebemos umas migalhas de 5 dólares por ano; mas o Google não só mete muito dinheiro ao bolso, isso não é o mais grave. O mais grave é que aprofundamos o tipo de sociedade consumista dominado pelas MARCAS, pela publicidade a gritar palavras de ordem, pela mentira institucional. Pois o que é a publicidade são a mentira institucional?

Anónimo disse...

Mas que grande confusão vai na cabeça do autor deste "post". E que tal informar-se sobre o que é "free software" antes de escrever asneiras? Sabe que "free" pode ser traduzido como "grátis" ou como "livre", que são duas coisas distintas...

P

Anónimo disse...

Prefere pagar à micro porque não lhe causa qq mossa os 300 euros à cabeça.

A mim tb não mas prefiro o modelo da google. Se todos ganham dinheiro e o utilizador pouco ou nada paga (a pub não é incomodativa e às vezes até mostra um produto/serviço que faz todo o sentido pagar/subscrever) onde está o problema?

Não estou a ser irónico, simplesmente não vejo onde está a vantagem (para o utilizador) do modelo microsoft.

Cumpts

Desidério Murcho disse...

Onde está desvantagem de um mundo repleto de publicidade? Bom, em primeiro lugar, a publicidade é a mentira institucionalizada. Quem nada vê de errado na mentira institucionalizada, nada de errado vê na publicidade.

É preciso compreender que para um negócio viver da publicidade tem de se vergar aos ditames da publicidade. Que ditames são esses? Fazer algo, seja o que for, que atinja milhões de pessoas porque a publicidade vive do número bruto de pessoas. Assim, um jornal finlandês poderia viver perfeitamente bem com 10 mil leitores apenas, se cada qual pagasse 1 euro por mês. Mas da publicidade não pode viver porque precisa de ter pelo menos um milhão de leitores para poder viver da publicidade.

O modelo de negócio baseado na publicidade funciona apenas para mercados massificados com um só hábito, uma só língua, uma só mentalidade. É um modelo desenvolvido nos EUA porque eles têm precisamente esse tipo de mercado interno. Na Europa isso não funciona porque temos hábitos diferentes, mentalidades diferentes, línguas diferentes. Cada vez menos, claro, porque cada vez mais o modelo americano de negócios está no mundo inteiro.

Penso que isso é inevitável, mas espanta-me que seja aplaudido. É como ver os tanques a avançar e a liberdade a desaparecer e declarar que não nos importa muito desde que não tenhamos de pagar o combustível dos tanques.

E eis a maior falácia: de onde vem o dinheiro que os anunciantes dão ao Google para fazerem publicidade? Dos produtos que vendem, obviamente. Portanto, estamos a pagar esses produtos mais caros para eles poderem encher o mundo de publicidade para podermos ter a sensação falsa de que não pagamos as borlas da Internet. Se isto fosse uma obra de ficção, seria até engraçada. Mas como é a realidade não tem graça rigorosamente nenhuma.

Anónimo disse...

Então o jornal finlandês tem de se adaptar.

Tentar criar nas pessoas a necessidade (sem muito esforço pois a necessidade está lá mesmo sem ser lembrada) de lêr os conteúdos sobre o que se passa na Finlândia e que para isso terá de pagar 1 euro no quiosque (ou no paypal) por edição (31€/mês se comprar todos os dias). Nem que para isso tenha de investir uns 10 mil euros em publicidade na google!

Pagar mais caro? Eu pago mais caro o OMO que compro no supermercado por estes investirem milhões em anuncios de TV? Se eles não o fizerem existirão daqui a um par de anos?

Publicidade é investimento não é custo!

Cumpts

Anónimo disse...

«E já agora, se quiser realmente um navegador alternativo, experimente o Opera. É muito melhor do que o Firefox.»


Alternativo mas não livre nem grátis e mais grave, envia (ou enviava) constantemente informação ao servidor sobre as páginas que estava a ver para apresentar anúncios. Excelente não?

Tanto o firefox como o Safari (na realidade o Webkit) são livres no sentido em que posso ver, utilizar e alterar o código fonte e nem imagina como isto é útil e criador/facilitador de emprego.

E já agora, utilizo Opera com muita frequência há mais de 5 anos e na minha opinião a sua grande vantagem são os "mouse gestures".

Anónimo disse...

Caro autor do post, se queria falar dos males da publicidade no mundo moderno, porquê escolher o tema dos "browsers"? E porquê acabar com publicidade (gratuita?) ao Opera?
Continua a ser a (grande!) desilusão deste blog...

P

Anónimo disse...

Estou a gostar e a aprender muito com esta discussão. Queria fazer uma pergunta. No meio universitário, pelo menos em ciência, o Ubuntu está cada vez mais difundido. E está cada vez mais userfriendly, e portnto acredito que reoube cada vez mais clientes ao Windows. Onde é que eles ganham dinheiro, visto que não têm publicidade?

Quanto ao Windows, para mim o grande problema (e a razão pela qual o deixei de usar) é que as sucessivas actualizações que nos "obrigam" a colocar pedem cada vez mais memória, cada vez melhores computadores. E acho que isso não passa de estratégia. Ver a memória necessária para um sistema operativo da Apple ,ou no caso do meu Ubuntu.

P.S. Como acho que é a primeira vez que comento no blog, parabéns a todos, em especial à Palmira, ao Desidério e ao Carlos, que são a sua alma, quanto a mim.

Anónimo disse...

Caro Desidério

Estou de acordo consigo, de um modo geral, quanto à opinião que nutre sobre o mercado da publicidade.

Retiro, desde já, a acusação de o remate que fez ao artigo ser vergonhoso. Pelo contrário, e de acordo com a sua resposta, ele é o reflexo da sua posição moral em torno do mercado de software — posição sobre a qual eu não podia estar mais em desacordo.

Assim o afirmo porque o caso do software não está sujeito a análises económica e ética lineares que advêm da experiência que temos com os modelos de mercado e produção típicos da era industrial.

Vejamos em que medida o software tem características muito distintas dos outros produtos industriais:

☆ o custo de reprodução de um produto de software é, de tão insignificante (remete-nos exclusivamente para o trabalho de natureza electromagnética), nulo. Portanto, um dos argumentos justificadores do copyright, a escassez¹ (o outro é a recompensa), não lhe é aplicável;

☆ todo o programa informático² pode ser representado formalmente por uma Máquina de Turing, um modelo matemático cujos casos particulares não estão sujeitos (ou não deviam estar) às restrições impostas pelas patentes e demais leis da propriedade.

Contudo, e como temos conhecimento, estas características são olvidadas em nome do lucro e da exploração. Vejamos o exemplo das patentes de software e as consequências que têm sobre a evolução do mercado, nomeadamente no que toca à subjugação dos pequenos empresários às grandes empresas — que suponho opor-se, caro Desidério.

É exactamente no modelo de mercado do software proprietário que prosperam as grandes empresas sobre as mais pequenas. É quase universal que os produtos das pequenas empresas estão dependentes dos produtos dos gigantes do software, o que traz consequências significativas aos bolsos dos consumidores.

Ao aquirir este modelo de computador portátil no qual respondo, foi-me impingido o Windows Vista sem alternativa de qualquer tipo. Não obstante nunca ter utilizado o sistema operativo que cá vinha instalado, paguei-o. Assim acontece porque a posição dominante da Microsoft foi conquistada à custa da exclusividade dos seus produtos e da omissão de detalhes de aplicação do software, impondo um espectro monopolista sobre o mercado. Não se trata de ódio à Microsoft, mas somente o melhor exemplo — ou o mais esclarecedor — para as consequências de um mercado fechado de software.

É claro que a opinião do Desidério é fundada no desconhecimento da história do software e da sua “indústria” — notório pela confusão que faz entre freeware, software livre e o modelo comercial Open Source.

Noto ainda que o Desidério não tem conhecimento da dinâmica de produção e consumo de software, caso contrário não insinuaria que o caso estaria resolvido para todos se o consumidor pagasse o software (e não o freeware, que é gratuito). Assim é porque o pequeno consumidor pirateia software de qualquer categoria e qualiadade, enquanto o grande consumidor, sujeito à fiscalização, consome somente software de grandes empresas ou largamente difundido — como algum software livre (um caso de sucesso é o servidor Apache).

Além de consumirem software, grandes e pequenos empresários consomem serviços de, usando suas palavras, “pequenos criadores”, que modificam, adaptam e criam interfaces para o software que a empresa necessita. De que modo os pequenos produtores dependem da natureza do software que adaptam? Eis, então, a contrapartida a qualquer argumento em prole do modelo fechado: a formação ao mais alto nível para a utilização de software proprietário é dada, não por universidades e escolas profissionais, não em bibliotecas, mas por empresas em parcerias financeiras com os gigantes do software. Os programas informáticos livres, pelo contrário, seguem padrões de dados disponíveis a toda a gente.

Não equivoque o interesse do utilizador pelo software livre com base no código. Ao utilizador comum não interessa de modo algum esgravatar em linhas de texto ilegíveis para qualquer leigo, mas os direitos providenciados pela licensa não só implicam acesso ao código como garantem utilização sem restrições e o poder de adaptar — por via de um serviço, e.g., de um “pequeno criador” — o programa às suas necessidades.

Este assunto é demasidado complexo para ser abordado de um modo tão lato.

Aliás, é com algum desconforto que noto o caro Desidério a entrar em comparações com modelos sociais e políticos que a esta discussão nada concernem. Falta a seriedade, mas domina o desconhecimento, alimentado pelas campanhas subversivas das mesmas “companhias” a que se opõem.

¹ — não pretendo ser pedante, mas entenda-se que a escassez refere-se à necessidade de realizar trabalho industrial para reproduzir um produto.

² — o programa enquanto objecto executável e não o interface visual, o qual é constituído por elementos de natureza artística e sujeitos a outras considerações de ordem económica e ética.

Anónimo disse...

O que a mim realmente me interessaria saber é quanto cobra o senhor Murcho pela publicidade que lhe faz a Opera?


Se calhar a Opera não paga ao sr. Murcho. E se calhar a postura da Mozilla fundation não tem nada a ver com os anúncios da Google, e sim com a maneira da Apple de forçar aos seus utentes a actualizações abusivas. Alem do mais Apple, apropria-se de software livre para limitar a liberdade dos seus utentes. Não é estranho que no movimento de software livre protestem.

Desidério Murcho disse...

Caro Hugo: obrigado pelas suas palavras. Eles ganham dinheiro como o Firefox ganha dinheiro: com publicidade. E isso chega porque não pagam aos engenheiros que trabalham para eles. É como a Wikipédia. Baseia-se na exploração do trabalho alheio.

Caro Hugo Gouveia

Não me fiz compreender. Eu não defendo o software com código fechado, nem defendo as patentes. Isso é totalmente irrelevante — e é aí que você falha.

O que é relevante é encontrar um modelo que permita aos criadores de software viver da criação de software. E isso é obviamente impossível se depois de seis meses a desenvolver um software sofisticado você o puser na Net para toda a gente puxar de graça. Como é que você vai viver? Simples: arranja emprego num gigante comercial; ou então vive de publicidade no seu site. Não há alternativas. Bom, também pode ir trabalhar para um restaurante.

É precisamente por não haver modelos económicos credíveis para pagar aos criadores de software que os gigantes subsistem. Se você é programador, e se as pessoas estivessem dispostas a pagar-lhe a si directamente o trabalho de fazer um programa, você poderia viver sozinho da produção de software, directamente financiado pelas pessoas que usam o produto do seu trabalho. Mas isto é impossível porque as pessoas vão ao seu site, puxam o seu programa, e não lhe pagam. Agradecem-lhe, dão-lhe palmadinhas nas costas, dizem-lhe que o software é uma maravilha e até melhor do que as alternativas comerciais. Mas não lhe dão nem uns míseros 3 euros pelo resultado do seu trabalho. É esta a mentalidade da Internet. Não ocorre às pessoas pagar aos criadores. Não fazem por mal; é a mentalidade que é assim.

Assim, você está a confundir duas coisas completamente diferentes. Uma é a história das patentes, código fechado, etc. Outra é as pessoas pagarem ou não pelo software que usam. O erro é pensar que negar a primeira implica defender que as pessoas não devem pagar pelo software que usam. Isto é que é suicidante. É como estar a querer competir com as grandes cadeias de restaurantes, como a Pizza Hutt, abrindo restaurantes baseados em trabalho voluntário e onde as pessoas vão lá e não pagam. Isto não põe em causa as cadeias de restaurantes porque enquanto isso acontecer você nunca terá os recursos que têm os grandes gigantes. Como você mesmo disse: vai à loja, compra um computador, e vem já com um sistema operativo pago por você, sem você o pedir. Você acha que isto acontece porquê, exactamente? A razão principal é que o Linux não tem dinheiro nem para mandar cantar um cego, e por isso não poderão nunca convencer as grandes marcas e as grandes lojas a vender computadores com o seu sistema operativo lá dentro. E não têm dinheiro precisamente porque é gratuito.

A verdadeira medida do poder do Linux ou do Firefox é o seguinte: se eles pagassem aos preços normais de mercado aos engenheiros todos que trabalham para eles, poderiam sobreviver? Não; iriam à falência em três meses. É por isso que o modelo de negócio deles só faz rir os gigantes. É um suicídio económico.

Quando temos uma coisa de graça e as pessoas consomem outra ao lado que é paga, tem de haver uma forte razão para isso, não acha? É fácil construir teorias da conspiração sobre isto, mas a explicação mais simples é só esta: isso acontece porque, sendo gratuito, tal coisa não tem o poder comercial para entrar nos mercados normais de distribuição. A generalidade das pessoas não vai puxar 600 megas de um sistema operativo, depois nem sabe fazer uma ISO quanto mais rebentar o Windows e substituir isso pelo Linux. Você e eu sabemos fazer isso, mas as pessoas não sabem. Por isso, a menos que o Linux tenha força comercial para vir já nos computadores que as pessoas compram, isso é um sonho que nunca vai acontecer. O Linux nunca irá passar de uma tolice enquanto não repensar a sua estratégia. Mas não pode fazê-lo porque os seus partidários têm uma crença religiosa: todo o software deve ser gratuito, é um pecado mortal pagar aos criadores de software uma parcela do seu trabalho em função do uso que fazemos do software que criaram.

Eu paguei aos criadores todo o freeware que uso porque considero importante apoiar os pequenos criadores. Quantas pessoas você acha que fazem isto? Quase ninguém. E enquanto isto for assim, esses pequenos criadores nunca poderão fazer nada excepto… trabalhar para os grandes gigantes, vender publicidade ou trabalhar em restaurantes.

Anónimo disse...

"Mas não pode fazê-lo porque os seus partidários têm uma crença religiosa: todo o software deve ser gratuito,"

Caro Desidério

Recorrentemente faz o mesmo erro. Ninguém da comunidade Open Source defende que o software deva ser gratuito. Ninguém que saiba do que fala pelo menos. Defende-se sim que ele deve ser LIVRE, de distribuição livre, de modificação LIVRE. LIVRE NÃO É GRATUITO (as letras são garrafais porque parece que a mensagem custa em passar), certo?

Anónimo disse...

Como kyriu realça muito bem, o Desidério não sabe do que fala.

Não sabe na medida em que constitui uma excepção no mercado dos consumidores domésticos, ao pagar pelo software de terceiros que usa.

É claro que o consumidor doméstico também paga, por dedução no preço do hardware, o software das grandes empresas que têm contrato com os distribuidores.

O senhor Desidério também está muito enganado no que toca à compensação financeira dos programadores de software livre. Sabia que as mais essenciais contribuições para os programas que constituem o pacote GNU (GNU's Not Unix) vêm de profissionais pagos por empresas que vivem de serviços no âmbito do software, tal como Novell (sistema operativo e utilitários), RedHat (sistema operativo e utilitários), IBM (sistema operativo), Silicon Graphics (sistema de ficheiros), etc.? Sabia que distribuem e providenciam serviços sobre esse software a preços elevados? São, ironicamente, empresas gigantes.

Mas não vale a pena prosseguir, porque a sua posição está enviesada por pressupostos falsos.

Espero que se esclareça, porque um senhor com a sua formação tem o dever de compreender, não o software, mas o mecanismo sociológico que orienta o desenvolvimento tecnológico.

E, já agora, acha que o artesão e o “pequeno criador” ainda, salvo golpe de sorte, têm futuro, nesta fase de transição entre a sociedade industrial e um modelo avançado capitalista de monopólio de serviços que governa o mundo com base na alienação tecnológica do Homem?

O “artesão” já era, caro, e o prazer do trabalho também.

Anónimo disse...

Open Source Software Made Developers Cool. Now It Can Make Them Rich

http://www.wired.com/techbiz/it/magazine/16-04/bz_opensource

Desidério Murcho disse...

Muito obrigado pelo curto artigo da Wired, que aconselho a toda a gente. Diz precisamente o que eu tenho denunciado:

1) Este é um modelo de negócio que faz poucas pessoas ganhar muito dinheiro à custa do voluntariado das outras.
2) Este modelo de negócio depende de ter milhões de utilizadores para que os poucos que paguem sejam suficientes.
3) Este modelo de negócio enche o mundo de publicidade porque essa é uma das suas fontes de riqueza.

E o que eu digo é que nada disto seria assim se as pessoas fizessem uma coisa simples: pagassem o software que usam. Que poderia ser Open Source, mas em que todos os engenheiros envolvidos seriam pagos. Se isso acontecesse, essas empresas de Open Source não se sentiriam tentadas a ceder às tentativas de compra dos grandes tubarões, como o Yahoo.

Afinal, vejamos: a visão original não era resistir aos modelos “capitalistas” da vida social? Era. Pois, só que o que se obtém no fim é outra vez um modelo “capitalista”, com brutais concentração de capitais, em vez de termos vários criadores independentes, vivendo directamente do dinheiro pago pelas pessoas que usam os seus produtos.

Tudo isto é incrivelmente hipócrita, porque a base de tudo é só esta: as pessoas querem puxar um programa, usá-lo durante anos, e não pagar a quem o fez. É só isto que está em causa, nada mais. Para fazer isso preferem ter uma Internet pejada de publicidade, preferem ter cada vez mais concentração de capitais, preferem ter um mercado menos competitivo com menos diversidade. Só para não pagar uns míseros 5 euros por um programa de FTP, que era o que custaria se em vez de haver a mentalidade de puxar, usar e não pagar, houvesse a mentalidade de puxar e depois pagar se gostarmos e usarmos. Se pelo menos 50% das pessoas que usam o software o pagassem voluntariamente, aí sim — teríamos uma alternativa à concentração de capitais e à publicidade (que é outra forma de concentração de capitais pois a maior parte do dinheiro da publicidade vai para grandes companhias, como o Google).

Anónimo disse...

Parece que defender ideias libertárias e de justiça social levaria necessariamente à defesa do totalitarismo ... por isso, confrontados com a irracionalidade dum sistema baseado na propriedade privada, com as vantagens da cooperação solidária, com a caducidade da não-gratuitidade o que temos a fazer é ... não ser libertários para não cair de novo no totalitarismo!

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