quinta-feira, 10 de outubro de 2019
PORTUGAL AMORDAÇADO
Texto lúcido de Santana-Maia Leonardo nas Beiras de hoje, que merece difusão acrescida:
Segundo consta José Roquete quis fazer um partido de defesa do Alentejo e do interior mas acabou por desistir da ideia porque o único círculo eleitoral onde o partido do Alentejo e do interior tinha alguma probabilidade de eleger um deputado era no círculo de Lisboa (????!!!!....).
Consequentemente, forçoso será concluir que, para o interior de Portugal ter voz e representatividade, era preferível haver apenas um círculo eleitoral nacional do que a actual situação que reduz as escolhas dos eleitores do interior do país aos partidos do regime, ou seja, aos partidos responsáveis pela desertificação do interior. Com efeito, PS e PSD, de forma concertada e com o apoio envergonhado da CDU, reduziram Portugal à cidade Lisboa-Porto, ao mesmo tempo que criaram um sistema eleitoral que retira qualquer possibilidade às populações do Alentejo e do interior de se organizarem por forma a combater um modelo de desenvolvimento apostado precisamente em esvaziar o Alentejo e o interior do país da sua massa crítica e das suas elites, condenando estas regiões à irrelevância política.
As autarquias do interior do PS, do PSD e da CDU defendem tanto o interior como as Casas do Benfica, do Sporting e do Porto, espalhadas por esse país fora, defendem os clubes do interior. A sua função é a mesma das Casas do Benfica, do Sporting e do Porto: garantir a fidelização dos adeptos ao partido. Veja-se o caso do círculo de Portalegre. Elege apenas dois deputados: do PS e/ou do PSD. Não vale a pena qualquer outro partido aqui vir fazer campanha que o resultado não se altera. E porquê? Porque mais de 60% da população é reformada e os restantes 40% dependem das autarquias PS e PSD. Os dois deputados sairão sempre destes dois partidos. Aconteça o que acontecer. Ora, qualquer cidadão que não se reveja em qualquer destes dois partidos, como é o meu caso, não vale a pena sair de casa.
A abstenção é a única forma de mostrar a nossa desconformidade com um sistema que nos reduz as escolhas a dois partidos gémeos com os quais não nos identificamos. Qualquer reforma eleitoral que não passe pela criação de um único circulo eleitoral, como acontece nas europeias, apenas contribui para agravar e cimentar ainda mais as assimetrias entre a cidade Lisboa-Porto e o interior do país.
Santana-Maia Leonardo
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