domingo, 27 de outubro de 2019

Em nome da educação a que a escola pública está obrigada, "é preciso resistir", diz um professor.

Subscrevo inteiramente um texto que António Duarte, professor no nosso sistema educativo, publicou no seu blogue sobre a atitude de resistência daqueles que têm por função ensinar o que é do foro escolar a quem precisa de aprender isso mesmo.

Ensinar foi sempre, em todos os tempos e lugares, um acto de resistência e, consequentemente, de coragem. A nossa (estranha) contemporaneidade não pode ser excepção. Por isso, os professores (nós), ainda que laborando nas condições precárias que são conhecidas, precisam (precisamos) de manter essa atitude, pois é ela que permite concretizar o dever de educar.

Subscrevo também o registo do texto: a atitude em causa (a que alguns chamam virtude), tem de ser sempre informada, crítica e construtiva.

Isto tudo em benefício das novas gerações e da própria dignidade da profissão docente.
Quando um novo governo se prepara para dar continuidade às más políticas educativas do anterior, o que devem os professores fazer? Quando se torna evidente que a decisão política não é ponderada nem esclarecida, quando se percebe que o desconhecimento da realidade, a permeabilidade aos lobbies e o voluntarismo levam a decidir com base na ignorância, no preconceito ou no puro oportunismo político, como devemos agir? 
Na minha opinião, resistir. 
Isso envolve preservarmos e desenvolvermos uma permanente atitude crítica e reflexiva sobre a nossa profissão. Nas salas de professores e nos órgãos das escolas a que pertencemos, nas associações profissionais e nos sindicatos, nos blogues ou nas redes sociais, é importante manter o hábito de reflectir, questionar e discutir tudo o que envolve e determina o nosso quotidiano profissional, as mil e uma decisões que são tomadas por quem de direito, tantas vezes em nosso nome, na presunção de que será bom para nós e para os nossos alunos, mas sem que os próprios professores sejam, alguma vez, tidos ou achados. 
Sem enveredar pela crítica destrutiva, como se tudo o que é superiormente decidido deva ser, só por esse motivo, objecto de contestação (...) fazendo ouvir a voz esclarecida e crítica dos professores (....). 
Finalmente, resistir não é apenas sabermos o que não queremos. Passa também por lutarmos convictamente pelo que defendemos: uma escola pública de qualidade para todos os alunos e uma profissão docente valorizada e dignificada."

2 comentários:

Anónimo disse...

As três grandes causas da degradação do prestígio social dos professores do ensino secundário e da concomitante transformação do sistema de ensino num sistema de não ensino, em Portugal:

1 – Criação da Carreira Única dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário e dos Educadores de Infância - com uma carreira única, não se justificam os horários de privilegiados dos professores do ensino secundário, com 22 horas semanais de serviço letivo, beneficiados ainda com principescas reduções no horário de trabalho à medida que a idade avançava, ou quando lecionavam os anos terminais mais exigentes em termos de preparação de aulas e da complexidade das matérias abordadas. Agora, esses professores são iguais aos antigos primários e educadores de infância, tanto a nível da formação universitária inicial como no exercício das respetivas e equivalentes funções docentes. Portanto, os horários também têm de ser iguais, com a agravante de os antigos primários e educadores de infância ainda estarem sujeitos a um regime de monodocência, seja lá o que isso for, que arrasa com os nervos de qualquer um. É urgente encontrar meios de compensar esta clamorosa discriminação!
Resumindo, neste sistema que acolhe com pompa e circunstância as flexibilidades das aprendizagens essenciais, quer dizer, que é contra o ensino e as aprendizagem, onde tanto faz não ensinar trigonometria como ensinar a história do capuchinho vermelho, ser professor de química ou biologia é igual a ser educador de infância.

2 – A Submissão dos Políticos aos Teóricos do Eduquês – a malta da política, tradicionalmente oriunda de Direito, que todos proclamam com orgulho que não é uma ciência exata, aceitaram, de bom grado, entregar os destinos da educação a gente com a indispensável preparação científica na área educativa. O resultado está à vista: nas escolas não se deve ensinar, o que interessa é que todos os alunos à saída da escolaridade obrigatória tenham um perfil de cidadão democrático, com altos conhecimentos em cidadania e atualidades.

3 – Consulado do “Engenheiro” Sócrates e da Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues – estes dois grandes estadistas, da área do socialismo democrático, no seu afã de igualarem, por baixo, deixaram de remunerar como tempo de trabalho os intervalos entre aulas que os professores do ensino secundário “gastam” na deslocação de uma sala para outra, ou na ida à casa de banho. É verdade que os educadores de infância não têm “intervalos entre aulas”, mas...
Na prática, os professores do secundário deixaram de integrar um corpo especial da função pública – é preciso encerrá-los na escola o máximo de tempo possível, não só exercendo as suas óbvias funções letivas, mas também ocupando-os com muitas atividades não letivas, porque passaram a ser uns funcionários como outros quaisquer.

Não posso estar mais de acordo com o professor António Duarte, na necessidade de lutar contra a destruição do sistema de ensino em Portugal, mas com o Governo, os encarregados de educação e a maioria dos professores no outro lado da barricada, vamos ter muito que resistir!

Anónimo disse...

Os meus aplausos para o comentário anterior!

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