sexta-feira, 4 de outubro de 2019

"Nem tudo vale o mesmo em questões de finalidades, meios e resultados da educação"

Na continuação do texto O sucesso escolar com base em evidências.

O desígnio imputado à educação no documento em destaque no mencionado texto está longe de ser aquele que, com legitimidade, se deve imputar à educação que os sistemas de ensino públicos de países democráticos, como o nosso, têm obrigação (constitucional) de proporcionar a todos.

É, pois, de crucial importância confrontarmos ambos os desígnios (o vigente e o desejável). Em concreto, é preciso ponderar a centralidade da noção de eficácia que a tutela diz ter sido conseguido (com vista à declarada produção de "capital humano"), necessária ao desenvolvimento e competitividade económica (centro da Agenda 2020 da ONU) e destinada a conseguir o bem-estar (centro da Agenda 2030 da mesma organização). Reafirmo que, não obstante, a aparente diferença de finalidades dessas agendas, não existe uma ruptura entre elas mas, sim, uma continuidade.

Para o leitor se localizar nesse confronto, deixo as palavras que se seguem, das quais retirei o título desta apontamento. A sequência, faz perceber o caminho educativo que estamos a descuidar, com elevados custos no futuro, em termos do "humano" e da "humanidade", já se vê:
“A questão da legitimidade da educação é a questão do fundamento e controlo do poder (…). (Se) educar é necessário, (toda) a educação é legítima, é sempre para o «bem» do educando [trata-se de] um raciocínio falacioso, porque não distingue entre necessidade e legitimidade. A metaquestão de legitimidade pode ser assim formulada: com que direito educar? Tendo a educação, hoje, estatuto normativo de «direito do homem» – o mais elevado da normatividade contemporânea – a resposta mais legítima a esta metaquestão (…) e às questões subsequentes deve ser procurada no conteúdo do «direito à educação»” (Reis Monteiro, 2004, 15). 
“É preciso precisar: é necessária uma boa educação” (Portocarrero, 2008). 
Nem tudo vale o mesmo em questões de finalidades, meios e resultados da educação. Vale o que concorre para a finalidade (ética) perfectibilizadora. Só a perfeição do humano pode ser objecto de educação – essa é a boa educação. Abdicar de educar(-se) é o mesmo que abdicar dessa finalidade; é atentar contra essa dimensão ética constituinte de ser pessoa. É, por isso, um crime contra a humanização (humanidade) (Maia, 2019, resumo).
Referências bibliográficas:
  • Maia, C. F. (2019). Ética e educação no quatro evangelhos: uma antropeugogia inadiável. Lisboa: Chiado. 
  • Portocarrero, M. L. (2008). A hermenêutica como sabedoria prática: entre Gadamer e Ricoeur. Phainomenon. Revista de Fenomenologia, vol. 1, n.º 14, pp. 267-282.
  • Reis Monteiro, A. (2004). Educação e deontologia. Lisboa: Escolar Editora.

2 comentários:

Anónimo disse...

As autoridades que atualmente superintendem o sistema de ensino em Portugal são maquiavélicas. Para obterem um falso sucesso escolar para todos os alunos, maniataram, com camisas-de-forças, os professores, retirando-lhes a liberdade e a autoridade para ensinar, através da imposição de um normativo de caráter burocrático tão limitativo da função docente que, ao longo dos últimos anos e ao fim de cada ano letivo, as classificações muito positivas não têm parado de melhorar, em detrimento da sabedoria e competência dos alunos, que vão de mal a pior.
O silêncio dos professores nas caixas de comentários deste blogue, motivado, muito provavelmente, pelo enorme entusiasmo com que estão a aderir às aprendizagens essenciais da escola da flexibilidade, é ensurdecedor!

Ommmmmmm disse...

Falar para quê?
Por isso, vou votar PAN (Partido Anárquico Nacional) só porque os animais não falam, são seres sencientes, e a Natureza é para preservar porque é a única coisa natural que existe no planeta inteiro.
Eu, por exemplo, regressei à lalação (la, la, la). Agora já não penso. Curei-me. Mas estive muito doente: pensava todos os dias. A minha mãe estava sempre a dizer-me: "Não penses mais nisto", Não penses mais naquilo", "Não penses dessa forma", "Não penses daquela", "Não penses assim", "Não penses assado", "Não estejas sempre a pensar" e foi o que fiz. Sábia, a velha! Agora, dou-me bem com toda a gente (dantes, era horrível) porque não penso e tenho uma relação profunda com o meu mestre budista só porque ele não me responde. Tornei-me fã da simplicidade do vazio e estou sempre a mandar calar os meus alunos.

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