domingo, 13 de outubro de 2019

O declínio do pensamento histórico

Na continuação do texto A história sem passado.

Num conjunto de artigos, publicados em continuidade (por exemplo, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), vários jornalistas e historiadores, recorrendo a dados sólidos, têm demonstrado que a História, como disciplina, definha no currículo das universidades europeias e americanas. Em concreto, desde 2011, não obstante o número crescente de estudantes no ensino superior, esta área sofreu uma enorme regressão.

Mas isso não acontece em todas as universidades: a História é abandonada nas dos universidades dos pobres mas é reforçada nas dos ricos.

Nas universidades públicas ou nas privadas com as propinas mais baixas, os estudantes tendem a escolher cursos capazes de lhes assegurarem emprego imediato (enfermagem, engenharia, ciência da computação e biologia). Por seu lado, os financiadores (“são eles que dirigem as coisas") optam por programas STEM – Science, Technology, Engineering and Mathematics. Além disso, certas universidades para não despedirem professores combinam a História com outras disciplinas, retirando-lhe a identidade.

Nas universidades mais prestigiadas, de elite, com as propinas mais elevadas, assiste-se a um boom da História. Por exemplo, em Yale, não tendo os estudantes a pressão de encontrar um emprego, pois o seu diploma dá-lhes acesso ao emprego que quiserem, podem "dar-se ao luxo" de estudar a evolução do mundo. E é isso que a História faz: localiza-nos, ajuda-nos a entender como chegámos aqui e porque as coisas são como são, dizem esses jornalistas e historiadoresNas palavras de um deles:
“A história incute um sentido de cidadania e lembra-nos que nunca há respostas fáceis para perguntas sobre o mundo e a vida pública. Como o discurso político não se importa com a verdade, chegamos cada vez mais perto da situação que Walter Lippmann advertiu há um século, em seu seminal Liberdade e notícias: «as pessoas que perdem o controlo sobre os fatos relevantes do mundo são inevitáveis vítimas de propaganda. O charlatão prospera onde há privação de acesso à informação»”.
E conduz-nos a uma reflexão muitíssimo preocupante:
"A desigualdade afecta a saúde física e mental, a capacidade de relacionamento e de fazer ouvir a voz no sistema político, no futuro que se pode oferecer aos filhos. Além da desigualdade financeira, há a «desigualdade intelectual». Algumas pessoas têm recursos para entender a sociedade e outras, a maioria, não.  

Sem comentários:

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A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...