“Acreditai
que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais do que uma vida ou a alegria
de tê-la” (Jorge de Sena).
Em nossos dias, em
Portugal assiste-se a um busca desesperada de uma espécie de santo graal que
harmonize um Serviço Nacional de Saúde, em decadência, e uma ADSE, em desnorte de soluções.
Exemplifico este “status
quo” com uma peça legislativa partejada pelo PSD, em banho-maria desde 2005, repescada
durante o actual consulado do PS que expulsou, de forma, descaridosa, quiçá,
embalado em estatísticas que lhe eram favoráveis,
cônjuges de titulares com oitenta ou mais anos de idade, inscritos há dezenas de anos, nesta obra de
assistência a funcionários públicos e seus familiares, com reformas irrisórias
da Segurança Social, por vezes, com doenças crónicas com elevada percentagem de
invalidez.
E isto num país de tradição
judaico-cristã que passou a dar guarida a pessoas vivendo em união de facto (decisão
que critico, não por excesso de puritanismo,
mas por ter passado a beneficiar estas desprotegendo pessoas casadas) sem
qualquer objecção por parte de todos os partidos políticos do espectro nacional com a passividade,
portanto, do CDS de quem era de esperar (esperava
eu, pelo menos!) uma veemente reacção de repúdio.
A menos de uma semana
de eleições para a Assembleia da República, temo que esta medida possa prejudicar os partidos
políticos por tratar-se de uma medida
passível de famílias cristãmente estruturadas, ou com ela apenas discordantes, votarem em branco, ou mesmo desmotivá-las para a
comparência nas mesas de voto, por não se sentirem representadas pelo silêncio cúmplice do CDS e de
outras forças políticas.
Desiludido, portanto,
obrigo-me a este testemunho porque, como defendeu António Bagão Félix, “o Estado Social discute-se porque é a parte do
Estado que tem mais a ver com as pessoas velhas, reformadas,
desempregadas, estão doentes, estão sós, têm incapacidades, pessoas que não têm
voz, não têm ‘lobies’, não abrem telejornais, não têm escritórios de advogados,
não têm banqueiros” (“Jornal de Negócios”, 30/11/2012).
Por esta norma
jurídica encaixar, como peça de um puzzle, na citação por mim feita, no parágrafo
anterior, de um ex-ministro da Segurança Social e do Trabalho
do XV Governo Constitucional, que tenho na
conta de verdadeiro humanista, entendo
aplicar-se ela, a papel químico, aos
escorraçados pelo Partido Socialista, num apertar de cordões à bolsa, apesar de “uma auditoria do Tribunal de Contas, ter noticiado que o Governo está a financiar o Orçamento do Estado à
custa da ADSE por os funcionários públicos estarem a pagar mais 228 milhões do que
seria necessário” (“Expresso”, 17/07/2015). Como sói dizer-se, poupando no
farelo de doentes e velhos “com pesares
que os ralam na aridez e secura da sua desconsoladora velhice” (Garreth), para
gastar na farinha de novos e inesperados benificiários vivendo em união de
facto.
Em consequência, sofrimento
desapiedado imposto a doentes e idosos escorraçados da ADSE, nos derradeiros
anos de vida, coagidos a processos burocráticos de um Serviço Nacional
de Saúde (ou de Doença?), que lhes acelera uma morte desassistida por uma
operação cirúrgica, ou mesmo uma simples consulta, nos serviços de saúde estatais, chegar, muitas vezes, a desoras por os respectivos utentes terem falecido entretanto!
2 comentários:
Das coisas que mais me doem é o silêncio dos partidos políticos no que tange ao desprezo com que assistem, mudos e quedos, à degradação das condições em que vivem, velhos e doentes, quando mais necessitam de afecto e atenção, despojados de contas em paraísos fiscais, que não beneficiam de benesses políticas, pela expulsão da ADSE, em palavras de Simone de Beauvoir , porque "a velhice denuncia o fracasso da nossa civilização". Senhores políticos que estais sentados no hemiciclo do alto das vossas tamanquinhas, ou sapatos italianos , descalçai-vos por momentos e digam o que pensam, e quais as medidas que tendes no segredo dos deuses, ou não tendes, quando nos vossos comícios prometem o céu a quem se contentaria com o limbo da esperança de uma ADSE sem actuar em genuflexão ao rei Midas. Uma coisa é certo, não uma simples promessa de cidadania, que a liberdade de expressão me permite, para mim, em lição colhida em Séneca: “Viver significa lutar”!
Na última linha do meu comentário, onde escrevi "expressão me permite, para mim", retiro para mim!
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