quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A ESCOLA COMO START-UP - 2

Como mencionei no texto anterior (aqui), há um modelo-tipo para a "educação" escolar pública que não se detém nas fronteiras dos países, nem é exclusivo de certa(s) organização(ões) ou pessoa(s). É "o" modelo: o modelo do futuro/do século XXI. Então, desloquemo-nos dos Estados Unidos da América para Portugal e, em vez de fundações, pensemos em autarquias e escolas. O resultado não é muito diferente. 

Imagem recolhida aqui
Foram apresentadas publicamente, por estes dias, duas "salas do futuro" situadas em dois estabelecimentos de ensino de uma determinada autarquia. Fazem parte do "Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar" que emergiu numa CIM, Comunidade Intermunicipal. Como arma de combate ao insucesso escolar, as salas serão replicadas noutras escolas, num investimento de milhares de euros. Uma das razões apresentadas é que os alunos "de meios rurais", com acesso reservado a tecnologias, também têm direito a elas.

Não sendo capaz de entender como é que salas em que "o aluno é o centro e o professor não tem secretária" (ver aqui) podem "combater" o insucesso escolar, passo a uma questão mais superficial: o que justifica a pompa numa circunstância tão banal? As “salas do futuro” são muitíssimas no país e por essa Europa fora, além de que constituem uma "inovação" tão pouco recente que pertence mais ao passado do que ao futuro, como o seu nome indica (ver aqui e aqui).

"Dispositivos informáticos" (como robótica, ecrãs de visualização de conteúdos multimédia, quadros e mesas interativas, impressoras 3D, câmara de filmar, tablets...) são ingredientes de uma receita que se repete. Receita que também integra mobiliário "diferente do tradicional" (como sofás e pufes, mesas e cadeiras com design arrojado e cores vivas) e expressões vazias (como "potenciação da aprendizagem", “laboratório de aprendizagem”, "novas metodologias”).

“Tudo é pensado para que haja uma grande interatividade tecnológica entre alunos e professores”, disse o presidente da autarquia (ver aqui). Questionado-me acerca do sentido efectivo da expressão "interactividade tecnológica" aplicada à relação entre professores e alunos, envolvidos na complexa tarefa que é o ensino e de aprendizagem, acrescento que, tenha ela o sentido que tiver, os grandes empresários agradecem.

2 comentários:

Anónimo disse...

O combate ao insucesso não é mais do que um pseudo sucesso. Estamos a formar ignorantes. É O QUE CONVÉM AO PODER POLÍTICO.Não estão isentos os diretores de agrupamento / escolas que se curvam perante a tutela e têm uns quantos acólitos ( a maioria dos professores) a aplaudir as políticas aberrantes que implementam, com obediência cega, nas suas escolas. O conhecimento dissipou-se, a autoridade e a disciplina estão ausentes, a escola pública está moribunda!

Anónimo disse...

Colocar o pseudo-sucesso escolar acima do ensino e da aprendizagem é uma estupidez! Muito pior do que uma escola em que poucos alunos alcançam o sucesso verdadeiro, é a farsa da escola flexível das aprendizagens essenciais, que fez da boçalidade uma obrigação legal até aos dezoito anos!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...