domingo, 6 de outubro de 2019

POESIA E CIÊNCIA EM ANTÓNIO GEDEÃO






Meu texto no último número da revista "Cadernos Nova Síntese" dedicada à "Cultura científica e neo-realismo": 

 Introdução

 No ano de 1956, na cidade de Coimbra, com a publicação na Atlântida do livro Movimento Perpétuo [1] surgia uma das vozes mais originais da poesia portuguesa do século XX. No entanto, o novo autor não era novo. Sob o pseudónimo de António Gedeão escondia-se o professor de Física e Química Rómulo de Carvalho (1906 - 1991), que à data tinha 50 anos. Conforme o próprio contou mais tarde nas suas Memórias [2], alguns dos poemas de Movimento Perpétuo tinham sido enviados em 1954 para um concurso de poesia do Ateneu Comercial do Porto por ocasião do centenário da morte de Almeida Garrett. O júri premiou um nome consagrado, apenas um ano mais novo do que Rómulo de Carvalho (doravante, RC), Miguel Torga (1907 - 1995), que era médico em Coimbra, mas Torga decidiu doar o valor do prémio em favor da difusão de novos autores. E foi assim que quatro poemas de RC apareceram em 1957 numa antologia organizada pelo crítico e romancista João Gaspar Simões (1903 - 1987) sob o nome de António Gedeão (RC tinha concorrido com o seu verdadeiro nome) [3]. O nome literário foi escolhido pelo autor juntando o nome próprio de um tio, António, ao apelido de um seu aluno do Liceu de D. João III, onde RC ensinava.

 RC conta nas mesmas Memórias o secretismo com que pretendeu manter a autoria do seu primeiro livro poético (tinha já publicado outros livros didácticos e de divulgação). Não queria talvez que se soubesse que o rigoroso e austero professor de Física e Química do ensino secundário escrevia versos. Manifestava-se, sob forma impressa, uma segunda personalidade, reprimida até essa altura, embora ela se tenha manifestado logo na infância (os primeiros versos de RC saíram impressos quando ele tinha dez anos de idade). Deu-se até a circunstância anedótica de o editor, a pedido do autor, ter remetido pelo correio o Movimento Perpétuo à esposa de RC, a bibliotecária e escritora Natália Nunes (1921 - 2018). O marido fingiu de início que não era nada com ele, mas a mulher terá desconfiado de qual era a verdadeira autoria, conforme lhe confessou mais tarde. Da mesma maneira anónima, o livro foi enviado pelo editor a vários literatos, um dos quais Jorge de Sena (1919 - 1978), que haveria de escrever um tão notável como controverso prefácio para a edição na Portugália das Poesias Completas de Gedeão, que teve lugar em 1968 [4]. Jorge de Sena, que curiosamente tinha sido aluno de RC no Liceu Camões em Lisboa (era 13 anos mais novo) apreciou a nova voz poética, conforme fez saber ao autor em carta que teve de passar pelo editor, já que RC teimava em permanecer anónimo. O mesmo comprazimento na leitura ocorreu com outros críticos que eram autores de renome, como David Mourão Ferreira (1927 - 1996) [5] e o já referido João Gaspar Simões [6], que escreveram recensões laudatórias na imprensa da época. Destoou, na apreciação que fez ao segundo volume do autor, Teatro do Mundo (1958), o professor de literatura Óscar Lopes (1917 - 1923), que achou o estilo de Gedeão um pouco antiquado [7]. Em 1964 saiu o livro Máquina do Fogo, na mesma linha poética dos anteriores. Com estes títulos, o poeta consolidou-se, afirmando um estilo muito próprio.

Todos os títulos tinham algo de barroco, que evoca a mundividência científica. Sena assinala, no referido prefácio, com merecido relevo, a ligação estreita entre ciência e poesia que é bem visível na lírica de Gedeão:

"O tremendo mal do nosso tempo, que é a cisão entre uma cultura que se pretende largamente humanística e é apenas uma forma organizada de ignorância do mundo em que vivemos, e uma cultura científica que não sabe sequer da existência dos valores estéticos que dão humano sentido à vida, esse mal não favorece o entendimento de um poeta como António Gedeão."

Já antes, em 1958, em carta ao autor (que nessa altura ainda não lhe tinha revelado a sua verdadeira identidade), ao agradecer o envio de Teatro do Mundo, Sena tinha escrito [8]:

 "Além de fluente desenvolta maestria rítmica e intelectual dos poemas, o que mais me toca é a “precisão” de uma linguagem científica, que chama tudo pelos seus nomes exactos, nesta terra do vago e do difuso, e que não receia, com a maior naturalidade, em dizer o que lhe apraz como lhe apraz."

 O prefaciador, cuja formação era em Engenharia Civil, adoptou no seu texto um estilo analítico, de índole quantitativo, que estava ao arrepio do cânone da apreciação literária vigente na época, mas que ele também haveria de usar para dissecar os clássicos portugueses, como Luís de Camões. O prefaciador assinala devidamente o vocabulário científico de Gedeão, afirmando que ele ia mais longe do que as referências científico-técnicas dos autores modernistas:

"A linguagem especializada que aparece nos poemas de António Gedeão deriva da física, da química, das ciências naturais em geral (biologia, mineralogia, petrografia). Ao contrário do que a novidade pode fazer crer, ela constitui pequena parcela da linguagem dos poemas."

Sena identifica, na sequência, uma série de termos científicos quer em títulos de poemas (e.g., Pedra Filosofal, Aurora Boreal, Suspensão Coloidal) quer no texto dos mesmos. No primeiro livro os termos científicos apareciam em 50 por cento dos poemas, no segundo em 60 por cento e no terceiro em 73 por cento, num óbvio crescendo. Sena extrapolou para o futuro («[…] é de esperar que, mais uns 50 poemas publicados, não haja um único em que essa linguagem não apareça»), mas equivocou-se, pois, no post scriptum de 1968 acrescentado após a inclusão das Linhas de Força (mais 30 poemas), teve de reconhecer que o valor medido desceu para 23 por cento, apesar de o novo título ter uma conotação ainda mais científica do que os anteriores.

 O poeta António Gedeão haveria de “morrer” (isto é, ser “morto” por RC, segundo ele próprio por não ter mais nada a acrescentar ao que já tinha dito) após a publicação destes quatro livros, apesar do extraordinário êxito das Poesias Completas (venderam-se no total das edições mais de 25.000 exemplares). Contudo, em 1983, passados 16 anos, RC haveria de ressuscitar Gedeão, com um livro de título assaz estranho, Poemas Póstumos [9], ao qual se seguiria em 1990 novo volume, Novos Poemas Póstumos [10], livros esses que Jorge de Sena, entretanto falecido, já não pôde analisar. Com este sexto livro de poemas (não contando com a concatenação dos primeiros) Gedeão calou-se para sempre. Não obstante, RC só faleceu em 1996, seis anos após a segunda morte de Gedeão.

 Se, na obra de vários autores da literatura portuguesa, ciência e poesia aparecem juntas (ver duas interessantes antologias recentes [11]), é difícil encontrar uma simbiose tão perfeita entre essas duas dimensões da criatividade humana como nalguns dos poemas de Gedeão (mas veja-se, por exemplo, na literatura do século XX, Limite de Idade [12], o último livro de Vitorino Nemésio, 1901 - 1978).

 Neste artigo procuramos analisar a relação entre ciência e a poesia em António Gedeão. A posição não é de um crítico literário, mas de um leitor cuja formação é na área da Física e que se interessa pelas relações entre ciência e literatura [13]. Outras análises literárias de Gedeão, de especialistas em literatura, podem ser vistas em duas monografias publicadas aquando de exposições sobre RC /António Gedeão [14] e também no número da revista Nova Síntese dedicado à poesia neo-realista [15]. E existem vários trabalhos académicos [16].

Ciência e poesia

 O britânico de origem polaca Jacob Bronowski (1908 - 1974), que foi matemático, histo­riador e divulgador de ciência, poeta, dramaturgo e crítico literário, publicou em 1956 1956 (curiosamente, o ano da estreia literária de Gedeão) na revista Universities Quaterly três artigos associados a três palestras que proferiu no famoso Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Boston, em 1953, que, no seu conjunto, constituem o ensaio publicado no mesmo ano, Science and Human Values, do qual saiu uma tradução portuguesa na Dom Quixote em 1972 [17], tendo surgido mais tarde uma nova tradução inserida numa co­letânea de textos de Bronowski intitulada A Responsabilidade do Cientista e Outros Escritos [18]. Nesse ensaio, Bronowski ilustra a unidade da cultura citando o poeta inglês Samuel Coleridge (1772 – 1834):

"Quando Coleridge tenta definir a beleza, regressava sempre a um único pensamento profundo: a beleza, disse, é a «unidade na variedade». A ciên­cia não é nada mais do que a procura da descoberta da unidade na desorde­nada variedade da natureza – ou, mais exactamente, na variedade da nossa experiência. A poesia, a pintura, as artes, são a mesma procura, na frase de Coleridge, da unidade na variedade. Cada um, à sua própria maneira, procura as semelhanças sob a variedade da experiência humana."

No mesmo ano do livro de Bronowski, em 1959, o físico-químico, ensaísta e romancista britânico Charles P. Snow (1905 – 1980) proferiu na Universidade de Cambridge, em Inglaterra, uma conferência em que lamentou a infeliz separação entre ciência e arte. O livro que resultou da conferência, intitulado The Two Cultures, em português As Duas Culturas [19], deu origem a uma grande polémica. Snow foi muito duro para com os literatos por eles ignorarem factos científicos básicos e o tom então usado não ajudou ao diálogo entre as duas partes.

Hoje, passados várias décadas depois da polémica das duas culturas, a cultura das artes e humanidades e a cultura das ciências e das técnicas, levantada pelo livro de Snow, convém enfatizar que o homem da arte e o homem da ciência são, afinal, um e o mesmo homem. Apesar de todas as aparências e pretensões em contrário, só há uma cultura, a cultura humana. Dessa unidade entre ciência e poesia nos dá inequivocamente conta Rómulo de Carvalho, numa entrevista que deu, em 1991, a Christopher Auretta e António Nunes dos Santos [20]. Quando interrogado sobre a dicotomia entre ciência e poesia respondeu:

"Há alguma dicotomia? Não há nenhuma! A pessoa encara a poesia como encara a ciência como encara a arte, como encara qualquer coisa, não há incompatibilidade. [...] Quer dizer, há uma base de onde parte tudo o que é um certo entendimento do que nos rodeia, na busca da melhor maneira de expressar aquilo que se sente. Tanto pode ser num campo como noutro. [...] É que na poesia estou a falar comigo. Enquanto na minha actividade profissional, estou a falar com os outros."

E continuou, mais adiante:

~"Bem, […] repudio até essa dicotomia. Nós estamos muito viciados, nós ocidentais, [...] nós estamos todos muito viciados pela cultura greco-latina... todos... e continuamos a ver na poesia aquela coisa extraordinária, mítica e mística, aquele valor extraordinário que os gregos e os romanos atribuíram aos poetas. É claro que era uma época em que a ciência não tinha peso nenhum. Embora hoje nós saibamos que eles tecnicamente tinham coisas muito valiosas – muito interessantes, muito valiosas, muito bem imaginadas. Mas, naturalmente, não havia ninguém que pensasse pôr uma coroa de louros na cabeça dum técnico. Isso ficava reservado para os poetas."

Já há muitos anos RC tinha as suas ideias sobre a dicotomia entre ciência e artes bem arrumadas, isto é, apesar do escondimento inicial da identidade do poeta, António Gedeão e RC eram uma e a mesma pessoa. No artigo “Ciência e Arte”, publicado no primeiro número da revista Palestra no Liceu Pedro Nunes em Lisboa, em 1958 [21], o autor, que na época ensinava nesse liceu, escreveu:

"No nosso sentimento (e o tema é para discussão) o artista e o cientista são dois destinos paralelos embora em fases dispares da sua evolução. Ambos desempenham na sociedade o mesmo papel de construtores, de descobridores, de definidores: um, do mundo de dentro; outro, do mundo de fora. Precisemos melhor a questão. Não estamos apenas a afirmar (o que certamente teria o aplauso geral) que o artista e o cientista são pessoas igualmente estimáveis, merecedoras do mesmo respeito e ambos imprescindíveis na sociedade. Estamos a querer exprimir mais do que isso, que um e outro ocupam lugares de igual necessidade, que aqueles mundos de dentro e de fora são de transcendência equivalente, que ambos esses mundos exigem a permanente busca, a orientada investigação que, em nossos dias, é considerada apenas apanágio da Ciência."

É curioso ver que o tema da ligação entre ciência e poesia pairava na altura, não apenas internacionalmente (ver as posições de Snow e, antes desta, de Bronowski, que é de resto citado por Snow no seu post scriptum a The Two Cultures [22]), mas também em Portugal. O matemático e enge­nheiro geógrafo António Lobo Vilela (1902 - 1966), um opositor do Estado Novo, publicou em 1955 Ciência e Poesia [23] que trata as relações entre ciência e arte (o texto é o de uma conferên­cia realizada no Museu de João de Deus, em Lisboa, nesse ano) enfatizando uma para muitos insuspeita proximidade entre ciência e poesia. O livro, publicado pela Portugália (a mesma editora que haveria de publicar mais tarde as Poesias Completas de RC) começa assim:

" Radicou-se há muito no meu espírito a convicção de que entre sábios e poetas existem íntimas afinidades, contrariamente a uma opinião muito vulgarizada."

Vilela citou, nesse seu livro, os hoje célebres versos do poeta Fernando Pessoa (1888 - 1935), ou melhor, do poeta e engenheiro naval Álvaro de Campos, sobre a equivalência estética entre o binómio de Newton e a Vénus de Milo, que data de c. 1915, que coexiste com a falta de equivalência do ponto de vista da compreensão pelo público:

" O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
 O que há é pouca gente para dar por isso. […]"

 E, recuando no tempo, citou o poeta, escritor e político Guerra Junqueiro (1850 - 1923), que, em 1887, no prefácio à segunda edição do seu livro de poesia Morte de D. João, escreveu:

"A poesia é a verdade transformada em sentimento. A lei descoberta por Newton tanto pode ser explicada num livro de física, como cantada num livro de versos. O sábio analisa-a, demonstra-a, e o poeta, partindo dessa demonstração, tira dos factos todas as consequências morais, sociais e re­ligiosas, traduzindo-as numa forma sentimental. A ciência, neste caso, dá o convencimento, a certeza; a poesia dá a emoção, o entusiasmo."

Avançando para tempos mais recentes, mas na mesma linha, Bronowski assinalou a profunda unidade que descortinava entre ciência e arte, baseado na sua análise do processo criativo, que ele considerava ser a justaposição de conceitos diferentes[24]:

"As descobertas da ciência, os trabalhos de arte, são explorações – ou antes, são explosões – de uma semelhança oculta. O investigador científico ou o artista apresentam neles dois aspectos da natureza e funde-os num só. É o acto da criação em que nasce um pensamento original, e o acto é o mesmo na ciência e nas artes."

O público crê que a matemática está afastada da poesia. Mas as duas estão afinal muito próximas pois ambas usam a criatividade humana, da qual a imaginação é o maior meio. Claro que usam linguagens diferentes, mas estas são num certo sentido complementares. Há coisas que a ciência não pode dizer, mas que a poesia pode. É por isso bastante natural que Bronowski tenha feito a apologia da poesia numa entrevista publicada na revista The American Scholar em 1974 e republicada, em tradução portuguesa, no capítulo “A Ciência, a Poesia e a ‘Especificidade Humana’“ do volume A Responsabilidade do Cientista e Outros Escritos, atrás referido. Bronowski respondeu assim a uma das perguntas [25]:

"A poesia é um tema maravilhoso que deveríamos considerar sempre que falamos de ideias científicas, porque nos relembra que se pode comunicar uma verdade de indubi­tável valor intelectual sem necessidade de ser complementada por qualquer sistema de equações."

A ciência na poesia em Gedeão

Uma das marcas de Gedeão é a sua originalidade. Ele é uma voz singular na poesia portuguesa: não pode ser integrado nem no movimento do Neo-Realismo, que despontou na poesia em 1936-1937 (bastante anterior ao aparecimento de Gedeão), nem em nenhum dos vários movimentos de poesia que se foram sucedendo ao longo do nosso século XX. Embora não caiba no Neo-Realismo, podemos encontrar em alguns poemas, como por exemplo em “Poema da Pedra Lioz” e em “Calçada de Carriche”, preocupações sociais que são muito caras aos autores neo-realistas. Por outro lado, encontramos em Joaquim Namorado (1914 – 1986), professor de Matemática e um dos poetas do Novo Cancioneiro, temas científicos. Gedeão está na forma e nos conteúdos mais perto do Neo-Realismo que o antecedeu do que, por exemplo, do movimento Poesia 61, de Gastão Cruz (n. 1941) e outros, que surgiu no início dos anos 60 e que RC criticou de uma forma muito clara nas suas Memórias.

A originalidade de Gedeão reside mais nos conteúdos do que nas formas, pois Gedeão ateve-se a formas mais tradicionais (segundo ele próprio explicou em carta de 1963 a Jorge de Sena não tanto por respeito pela tradição, mas mais por “didactismo” [26]). Só parte dessa originalidade tem a ver com o emprego da linguagem científica. Mas esta linguagem, apesar de estar esparsa no corpus poético, é uma marca muito própria, à qual os críticos literários não podiam ficar indiferentes.

 Assim, escreveu o escritor Alexandre Pinheiro Torres (1923 – 1999) ao analisar o livro Poesia Completa [27]:

"Uma escrita sabiamente carregada de expressões científicas que traduzem uma visão actualizada e despoetizada do mundo e uma imagética de raiz concreta."

 E escreveu o ensaísta Eduardo Prado Coelho (1944 - 2007), ao comentar as Poesias Completas [28]:

"A modernidade da sua poesia consistirá sobretudo na utilização frequente, e sempre certeira, de vocábulos de raiz científica, que por si só implicam um princípio de racionalização considerado habitualmente anti-poético, e também numa visão do mundo cientificamente fundamentada, que não é algo acrescentado ao poema, mas que, pelo contrário, o organiza e estrutura de forma a dar-lhe uma feição inesperada para o autor de hoje."

Todos os títulos “não póstumos” dos livros de Gedeão reunidos em Poesias Completas contêm palavras de ciência:

 - Fala-se de “movimento perpétuo” (perpetuum mobile) quando se referem máquinas que violam as leis da termodinâmica (normalmente, a primeira, a Lei da Conservação da Energia, mas também a segunda, a Lei da Não-Diminuição da Entropia, conforme seja movimento perpétuo de primeira ou segunda espécie).

- A expressão “teatro do mundo” vem do latim theatrum mundi, nome cunhado pelo filósofo inglês João de Salisbury no século XII e retomado pelo inglês William Shakespeare quando escreveu, em 1599-1606, na peça Como Vos Aprouver, que “todo o mundo é um palco” e pelo espanhol Pedro Calderón de la Barca, que escolheu para título de uma das suas peças O Grande Teatro do Mundo, obra criada em 1634-1635. A palavra “mundo”, que designa o Universo mas que também pode designar só a Terra, é decerto uma palavra da ciência, que mais não é do que a descoberta do mundo usando um determinado método. Por outro lado, a palavra “teatro” denota espectáculo, reflectindo a espantosa variedade do mundo de que somos espectadores. A ciência tem mostrado que, apesar da sua imensa disparidade, o mundo tem uma certa ordem, isto é, funciona de um modo regular, o que nos remete para a expressão seguinte.“máquina do mundo”, usada por Luís de Camões no canto X de Os Lusíadas (“Eis aqui a máquina do mundo”), e que é, de resto, o título de um dos poemas insertos em Máquina do Fogo.

 - “Máquina de fogo” era o nome que se dava no século XVIII à máquina a vapor, que então estava nos seus primórdios. Por exemplo, o jurista e, na prática, engenheiro Bento de Moura Portugal (um autor estudado por Rómulo de Carvalho [29], que, para além de professor e poeta, foi um dos maiores estudiosos da ciência no século XVIII português) propôs em 1751-1752 um novo modelo de “máquina de fogo” num artigo publicado nas Transactions of the Royal Society.

- Finalmente, “linhas de força” são, na física, as linhas imaginárias que seguem as tangentes de um conjunto de forças numa certa região do espaço, à qual se chama campo. O conceito foi introduzido no século XIX pelo físico inglês Michael Faraday.

 Vale a pena analisar alguns dos poemas mais “científicos” de Gedeão para ver como neles a ciência se entrelaça com a poesia. O mais conhecido poema de Gedeão é provavelmente “Pedra Filosofal”, inserto em Movimento Perpétuo, que ficou famoso através da versão que Manuel Freire cantou na RTP em 1969. Refere as proezas conseguidas pelo sonho humano ao longo dos tempos através de uma compassada enumeração [30]:

"[…]
 máscara grega, magia,
 que é retorta de alquimista,
 mapa do mundo distante,
 rosa-dos-ventos, Infante,
 caravela quinhentist
 Que é Cabo da Boa Esperança,
 […]
 cisão do átomo, radar,
 ultra-som, televisão,
 desembarque em foguetão
 na superfície lunar."

 A ciência, hoje inseparável da tecnologia, é uma contínua demanda que resulta do sonho humano: «o sonho comanda a vida» (a Vida é Sonho é o título de uma outra peça de Calderón de la Barca). O poeta passa rapidamente da Antiguidade aos tempos de hoje, surgindo a moderna descoberta espacial numa linha de continuidade com os descobrimentos marítimos, numa rota de progresso ineludível.

 No “Poema do homem-rã”, inserto em Teatro do Mundo, perpassa a admiração pela tecnologia que permite ao homem concretizar alguns dos seus sonhos, como por exemplo o de descer ao fundo do mar ou o de se elevar nos céus, para descobrir novas facetas do mundo. Essas proezas, que parecem -humanas, exibem a possibilidade de domínio do homem sobre o mundo, um domínio que, no caso do fundo do mar, lhe permite conhecer uma fantástica flora e fauna:

" Sou feliz por ter nascido
 No tempo dos homens-rãs
 que descem no mar perdido
 na doçura das manhãs.
 […]
 Eu sou o homem. O Homem.
 Desço ao mar e subo ao céu.
 Não há temores que me domem
 É tudo meu, tudo meu."

 O poeta canta uma das capacidades humanas: é a ciência que nos permite não só conhecer o mundo como também dominá-lo, pelo menos a pequena parte do mundo ao nosso alcance imediato, domínio esse que remete para a antiga questão da hubris humana.

No muito conhecido poema “Lágrima de preta”, inserto em Máquina de Fogo, o tema já não é o sonho humano ou o domínio humano do mundo, mas um dos temas preferidos de Gedeão: as relações entre os humanos. A questão da discriminação racial é abordada no contexto de uma experiência de química: no fim da análise laboratorial de uma lágrima de uma pessoa de cor, conclui-se que os seus resultados não autorizam qualquer discriminação. A descrição científica termina, de um modo abrupto, com uma mensagem sobre a igualdade:

" […]
 Ensaiei a frio,
 experimentei ao lume,
 de todas as vezes
 deu-me o que é costume:

 nem sinais de negro,
 nem vestígios de ódio.
 Água (quase tudo)
 e cloreto de sódio."

 Continuando na área das ciências físico-químicas, que é a especialidade profissional de RC, e ainda tratando a água, no poema “Lição sobre a água”, inserto em Linhas de Força, é feita uma descrição dessa substância abundante no nosso planeta para surgir no final, mais uma vez de um modo inesperado, como um punch, uma das mais famosas cenas do Hamlet. A ciência é subitamente interrompida pela tragédia, marcando um contraste súbito entre ciência e arte. Snow, ao tratar o problema das “duas culturas,” afirmou que desconhecer a Segunda Lei da Termodinâmica equivalia a desconhecer a obra do Shakespeare. Ora aqui temos reunidas, pela pena de um provável leitor de Snow, a termodinâmica e Shakespeare:

" Este líquido é água.
 […]
 É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
 dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

 Foi neste líquido que numa noite cálida de verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
 apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
 com um nenúfar na mão."

Finalmente, no “Poema de ser ou não ser”, inserto em Novos Poemas Póstumos, Gedeão trata poeticamente um tema da física moderna: o estranho fenómeno da teoria quântica que consiste no facto de os electrões (ou quaisquer outras partículas) poderem ser ondas ou corpúsculos, conforme a experiência realizada. Este poema, todo ele à volta da física, concluí com a famosa questão existencial do Hamlet:

" São ondas ou corpúsculos?
 Sim ou não?
 São uma ou outra coisa, ou serão ambas?
 São “ou” ou serão “e”?
 Ou um tudo se passa como se?

 Percorrem velozmente órbitas certas
 as quais existem só quando as percorrem.
 Velozmente. Será?
 Ou talvez não se movam, o que depende
 do estado em que se encontre quem observa.
 […]
 Sim, ou não?
 Estou à janela,
 e vejo muito ao longe a linha do horizonte.

 Ser ou não ser?
 Eis a questão."

 Todo o mundo é, de facto, um palco. Mas a presença do observador no poema lembra-nos que os espectadores são os humanos e que eles fazem parte do espectáculo. Uma das questões filosóficas suscitadas pela física quântica é precisamente é a de saber se existe uma realidade externa ao observador.

Verificamos com os exemplos anteriores, extraídos de quase todos os livros do poeta, que o vocabulário de origem científica é sempre um meio de transmitir uma mensagem poética, quer dizer, o poeta nunca sacrifica a poesia à ciência, não sacrifica a emoção à razão. A mensagem pode ser inspirada pela ciência, mas o homem nunca está ausente do poeta.

 A ligação entre o homem e o Universo

Vale a pena analisar alguns outros poemas, para perceber melhor de que modo, em Gedeão, ciência e poesia se conluiam para transmitir mensagens relativas ao homem. O tema, muito antigo, do paralelismo entre o homem e o Universo é exposto em alguns poemas ao longo da obra de Gedeão, sendo quase um leit-motiv. O primeiro poema de Movimento Perpétuo intitula-se simplesmente “Homem”. O homem é, decerto, o tema principal da poesia, como é, pelo menos para alguns autores, o tema principal da ciência. Tanto na poesia como na ciência nos interrogamos sobre a identidade humana: “Quem somos nós?” Foi o físico austríaco Erwin Schrödinger, um dos autores da teoria quântica, que chamou a atenção, em duas conferências que fez em Londres (1948) e em Dublin (1950), cujos textos foram reunidos no livro A Natureza, os Gregos e Ciência e Humanismo [31], que todas as ciências se destinam a satisfazer a necessidade humana de auto-conhecimento, como ao fim e ao cabo, embora de uma outra forma, acontece com as artes. E isso acontece também com a física, que tão distante parece do homem quando avança na imensidão do espaço ou recua para as profundidades do tempo. Para esse físico, a inquieta­ção maior do homem foi, é e será sempre a procura da resposta à questão “quem somos nós?”, reflectida na máxima “Conhece-te a ti mesmo” que estava inscrita no templo de Delfos.

 Claro que o homem é uma parte do mundo, mas é uma parte que o pode compreender (é até a única parte do mundo que o pode fazer, tanto quanto sabemos). É curioso notar que, de acordo com sabedorias ancestrais, o ser humano seria também um espelho do mundo. Segundo a muita antiga astrologia, antecessora da moderna astronomia, o destino do homem está traçado no céu: são os astros que determinam o futuro humano. No poema “Homem”, Gedeão começa por dizer que é inútil definir o homem, a quem ele chama “animal aflito”. Talvez seja inútil porque é impossível, dada a complexidade do humano. Mas, aceitando a correspondência entre o homem e o mundo, Gedeão leva-a a um extremo: o homem é, ele próprio, um universo em expansão, um espaço infinito sempre em crescimento:

"Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
 nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito."

 A metáfora associa a caminhada da humanidade e o Big Bang do cosmos (em 1955 já estava consolidada a ideia de Big Bang para descrever a origem do Universo que tinha surgido nos anos 20 do século passado).

Na mesma linha de Movimento Perpétuo, Teatro do Mundo começa de um modo muito teatral, com a aparição de um homem, que, solitário em palco, afirma a sua identificação com a Natureza, afinal a razão de ser da sua força. Intitula-se "Fala do Homem Nascido":

 (Chega à boca de cena, e diz: )
 […]
que a Natureza sou eu,
 e as forças da Natureza,
 nunca ninguém as venceu.

 Com licença! Com licença!
 Que a barca se faz ao mar.
 Não há poder que me vença.
 Mesmo morto hei-de passar.
 Com licença! Com licença!
 Com rumo à estrela polar."

A afirmação do poder humano é semelhante à que é feita no “Poema do homem-rã”. O pequeno homem é afinal do tamanho do mundo.

Em Máquina do Fogo (que abre com um poema com o mesmo título, onde o coração é identificado com o fogo, um dos elementos dos antigos gregos), Gedeão volta, no poema “Amostra sem valor”, um título irónico tal como vários outros, a identificar o homem com o Universo: o homem, apesar de parecer insignificante, é, com a sua infindável complexidade, tão grande como Universo. É como se no microcosmo estivesse o macrocosmos, como se a dor humana fosse uma dor cósmica, como se a dor individual pudesse ser universal:

"Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
 com ele se entretém
 e se julga intangível.

 Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
 sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
 que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
 não pesa num total que tende para infinito.

 Sei que as dimensões impiedosas da Vida
 ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
 Universo sou eu, com nebulosas e tudo."

A mesma ideia de identificação entre o homem e o mundo regressa um pouco mais adiante, no mesmo livro, quando Gedeão, no poema “Máquina do mundo”, subscreve a ideia de Demócrito de que tudo no mundo é átomos e espaço vazio. Assim, o “arrepio”, que pode ser a permanente insatisfação do homem na sua relação com o mundo, é associado ao vazio:

"O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
 Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
 Espaço vazio, em suma.
 O resto, é a matéria.

 Daí, que este arrepio,
 este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
 esta fresta de nada aberta no vazio,
 deve ser um intervalo."

 Um dos Novos Poemas Póstumos, o “Poema da Minha Natureza”, fala da flora multiforme que abunda no nosso planeta, assim como da fauna que igualmente prolifera, seguindo ambas inexoráveis leis naturais, para concluir que o Homo sapiens, sendo parte do mundo, está sujeito também ele a leis naturais (sendo, portanto, objecto do determinismo), ainda que seja, ao contrário dos outros seres vivos, capaz de pensar, amar e sofrer (e, portanto, de livre arbítrio):

" Crescem as flores no seu dever biológico,
 e as cores que patenteiam, por sua natureza,
só podem ser aquelas, e não outras.
Vermelhas, amarelas, cor de fogo,
lilases, carmesins, azuis, violetas,
assim, e só assim,
 tudo conforme a sua natureza.
Ásperas são as folhas, macias, recortadas
ou não, tudo conforme;
 e o aprumo como tal,
 ou rasteiras, ou leves, ou pesadas,
tudo no seu dever,
por sua natureza.

 É como os animais.
Em cada qual, por sua natureza,
 todo o dever se cumpre.
Comem, dejectam, dormem,
fazem amor nas horas competentes,
lutam, caçam, agridem,
rosnam à Lua, trinam, assobiam,
escondem-se, espreitam, fogem, amarinham,
 dançam, mudam de pele, agacham-se, disfarçam-se,
tudo conforme a sua natureza.

 Assim eu penso, e amo, e sofro, e vou andando.
 Tudo conforme a minha natureza."

 Finalmente, o último poema dos Novos Poemas Póstumos (que é o último poema do poeta e, portanto, as suas últimas palavras), o “Poema de andar à roda”, é, de certo modo, um regresso ao primeiro poema de Movimento Perpétuo. Baseado na ideia de ciclo, exibido literariamente pela ostensiva repetição de duas estrofes (e que também está manifesto num poema anterior do mesmo livro, “Poema do eterno retorno”), a repetição da vida humana pode associar-se à repetição dos movimentos astronómicos. Na outra estrofe, paralela à que se transcreve, fala-se do penoso trabalho repetido das bordadeiras. Estamos, como o Universo, condenados ao movimento perpétuo:

" […]
 Como as ondas do mar que vão e vêm
 pela atracção da Lua,
 outras ondas se alteiam, atraídas,
 por outras luas, satélites do rosto.
 Enquanto umas de amor cobrem as praias
 e a penetram de espuma,
 estas não amam, não molham, não se esgotam.
 Mudam de cor, apenas.
 Vem de dentro e sobem, num conflito
 Sem tréguas nem fraquezas,
 Deixando o rosto esfarelado e seco
 como os desertos quando o vento sopra.
 Correndo a mão p’la barba, molemente,
 como quem passa o tempo sem cuidados,
 disfarça-se o rugir da onda brava
 enquanto as luas,
 pedras brutas da vida sem remorso,
 friamente percorrem suas órbitas
 como se disso fossem conscientes."

Em resumo, estes poemas falam do homem como parte do mundo, uma parte do mundo que ele próprio quer conhecer, num esforço contínuo que parece inesgotável.

 Conclusão

 Apesar de Rómulo de Carvalho ter sido durante toda a sua vida professor de Física e Química no ensino secundário (e também ter sido, muito para além da sua profissão, um pedagogo, um historiador e um divulgador de ciência) [32], centrámo-nos neste artigo na sua produção poética, na qual adoptou o pseudónimo de António Gedeão. O facto de ele ter escolhido um pseudónimo para a autoria da componente artística da sua obra (de facto Gedeão não foi apenas um escritor, mas também um ilustrador: são plurais as aptidões estéticas de Gedeão) pode-nos levar a crer que existe uma separação radical entre ciência e poesia. Nada mais falso: a sua poesia está eivada de ciência.

Ensaiou-se neste artigo uma exposição, por meio de exemplos sugestivos, da ciência e da tecnologia na poesia de António Gedeão. Conclui-se que em Gedeão a ciência e a tecnologia estão presentes de um modo bastante assíduo, ainda que não obsessivo (há, na sua poesia, temas sem qualquer ligação com o mundo da ciência, o que não nos deve admirar pois há obviamente mais mundos para além daquele que a ciência descobre). O uso de termos científicos está longe de servir para dar um ar moderno a temas poéticos antigos, tal como terá acontecido no modernismo português. Ficou patente nos vários casos apresentados um sincretismo harmonioso entre ciência e poesia: a terminologia científica é útil para comunicar o tema que inspira um poema, que pode ou não vir da ciência. Como não podia deixar de ser, a poesia em Gedeão transcende a ciência.

[1] António Gedeão, Movimento Perpétuo, Coimbra, Atlântida, 1956.
 [2] Rómulo de Carvalho, Memórias, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
 [3] João Gaspar Simões (org. e intr.), Antologia do Prémio Almeida Garrett de 1954, Porto, Ateneu Comercial do Porto, 1987, p. 27-33.
 [4] António Gedeão, Poesias Completas (1956-1967), Lisboa, Portugália, 1968. A primeira edição era constituída pelos livros Movimento Perpétuo, Teatro do Mundo e Máquina de Fogo mas as edições a partir da segunda, saída em 1968, incluíram também o quarto livro de poesia do autor, Linhas de Força (1967). O prefácio, intitulado “A Poesia de António Gedeão (esboço de análise objectiva)” foi escrito por Jorge de Sena, que, na segunda edição, adicionou um post scriptum ao prefácio, de modo a contemplar o acrescento poético.
 [5] David Mourão Ferreira, Diário Popular (Lisboa, 20 Jun. 1956).
 [6] João Gaspar Simões, Diário de Notícias (Lisboa, 23 Ago. 1956).
 [7] Óscar Lopes, O Comércio do Porto (21 Ago. 1958).~
 [8] Rómulo de Carvalho, Memórias, ibidem.
 [9] António Gedeão, Poemas Póstumos, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1983.
 [10] António Gedeão, Novos Poemas Póstumos, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1983.
 [11] Vasco Graça Moura e Maria Bochicchio (coords.), O Binómio de Newton e a Vénus de Milo. Poesia e Ciência Na Literatura Portuguesa, Lisboa, Alêtheia, 2011, e Rui Malhó (coord.), O Bosão do João. 88 Poemas Com Ciência, Lisboa, By the Book, 2014.
 [12] Vitorino Nemésio, Limite de Idade, Lisboa, Estúdios-Cor, 1972.
 [13] Carlos Fiolhais, Ciência e Literatura: Desencontros e Encontros, Coimbra, Atlântida, revista de cultura do Instituto Açoriano de Cultura, vol. LXIII (Angra do Heroísmo, 2018), p. 277-286.
 [14] Teresa Arsénio Nunes, “Por uma linha recta mais suposta que o areal e o mar”, António é o Meu Nome. Rómulo de Carvalho (Organização de Manuel Rêgo e Fátima Lopes), Lisboa, Biblioteca Nacional, p. 49-58. Manuel Frias Martins, “Rómulo de Carvalho enquanto António Gedeão”, Pedra Filosofal. Rómulo de Carvalho / António Gedeão, (Organização de Fernando Bragança Gil), Lisboa, Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, 2001.
 [15] Fernando Guimarães, “António Gedeão: uma ‘envolvente solidão compacta’ “, Nova Síntese 5 (Vila Franca de Xira, 2010), p. 217 – 220.
 [16] Maria Adelaide Coelho da Silva, “Leitura social de três poemas de António Gedeão”, Arquipélago – Revista da Universidade dos Açores (Série Ciências Humanas) 3 (Ponta Delgada, Jan. 1981) pp. 261-290. Christopher Auretta, “Abordagens interdisciplinares ao ‘psychisme hydrant’ bachelardiano na poesia de António Gedeão e Jorge de Sena: uma poética da metamorfose”, Carnets – Revue Électronique d’Études Françaises 1 (Coimbra, 2009) p. 23-53.
 [17] Jacob Bronowski, Science and Human Values. Nova Iorque, Julian Messner, 1956. Tradução portuguesa: Ciência e Valores Humanos, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1972.
 [18] Jacob Bronowski, A Responsabilidade do Cientista e Outros Escritos, (Introdução, organização e notas de A.M. Nunes dos Santos, C. Auretta e J.L. Câmara Leme), Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1992.
 [19] Charles P. Snow, The Two Cultures and a Second Look, Cambridge, Cambridge University Press, 1963. Traduções portuguesas são As Duas Culturas, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1965 e Lisboa, Presença, 1996. Reedição: Lisboa, Presença, 1996; ver sobre o assunto Carlos Fiolhais, “‘Estranhas, mas irmãs’: revisitando a questão das duas culturas”, Revista Lusófona de Estudos Culturais 2, vol. 3 (Braga/ Aveiro, 2016), p. 103 – 111. http://www.rlec.pt/index.php/rlec/article/view/119/112.
 [20] António Gedeão: 51+3 Poems and Other Writings, Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 1992. Ver http://nautilus.fis.uc.pt/spf/velharia/gazeta/93/GF-16_1.93/02.html
 [21] Rómulo de Carvalho, “Ciência e Poesia”, Palestra 1 (Lisboa, 1958), p. 20-27.
 [22] Charles P. Snow, The Two Cultures and a Second Look, ibidem.
 [23] António Lobo Vilela, Ciência e Poesia, Lisboa, Portugália Editora, 1955.
 [24] Jacob Bronowski, A Responsabilidade do Cientista e Outros Escritos, ibidem. 
 [25] Jacob Bronowski, A Responsabilidade do Cientista e Outros Escritos, ibidem.
 [26] António Gedeão, Obra Completa, Lisboa, Relógio d´Água Editores, 2004, p. 321. Contém notas introdutórias de Natália Nunes. Inclui o prefácio de Jorge de Sena das Poesias Completas e cartas do autor a Jorge de Sena.
 [27] Alexandre Pinheiro Torres, Diário de Lisboa (Lisboa, 17 Dez. 1964). [28] Eduardo Prado Coelho, “Poesias completas de António Gedeão”, Seara Nova (Lisboa, Abr. 1965), n.º 1434, p. 123 [29] Rómulo de Carvalho, “Bento de Moura Portugal, homem de ciência do século XVIII”, Memórias da Academia das Ciências de Lisboa XXXIII (Lisboa, 1993-1994) p. 153-224. O grande interesse de Gedeão pelo período barroco explicará os títulos dos seus primeiros três livros.
 [30] Este e todos os poemas de Gedeão deste artigo foram transcritos de António Gedeão, Obra Completa. Lisboa, Relógio d’Água Editores, 2004.
 [31] Erwin Schrödinger, Science and Humanism, Cambridge, Cambridge University Press, 1952. Traduzido em português como A Natureza, os Gregos e Ciência e Humanismo, Lisboa, Edições 70, 1999. Ver também Carlos Fiolhais, “Ciência e Humanismo: a visão da ciência de Erwin Schrödinger”, Biblos 1, 3.ª série (Coimbra, 2015) p. 127-151. http://dx.doi.org/10.14195/0870-4112_3-1_6.
 [32] Carlos Fiolhais, “O Alquimista”, Jornal de Letras, Artes e Ideias 680, Ano XVI (Lisboa, 6 - 19 Nov. 1996); idem, “Os meus livros preferidos de Rómulo de Carvalho,” Gazeta de Física 20, fasc. 1 (Lisboa, 1997) p. 15-17; idem, “Rómulo de Carvalho: as ideias, as experiências, e três pequenas sugestões”, Gazeta de Física 20, fasc. 1 (Lisboa, 1997), p. 35-36; idem, “Rómulo de Carvalho : a alquimia dos livros,” Rua Larga 1 (Coimbra, Jun. 2003) p. 23-24; idem, “Os livros que Rómulo de Carvalho nos deixou”, António Gedeão & Rómulo de Carvalho : Novos Poemas Para o Homem Novo, Actas do Colóquio Internacional, Maia, ISMAI, 2008, p. 35-42; idem, “A história das ciências em Coimbra e o diálogo interdisciplinar: os professores Joaquim de Carvalho, Luís de Albuquerque e Rómulo de Carvalho”, Interdisciplinaridade e Universidade, (Editores literários. António Rafael Amaro, Álvaro Garrido, João Paulo Avelãs Nunes), Coimbra, Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 97-122.

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