Na próxima 4ª feira, dia 30 de Outubro de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra “A PLUVISILVA (AMAZÓNIA) E SOBREVIVÊNCIA HUMANA”, por Jorge Paiva, um dos principais botânicos e divulgadores de ciência portugueses, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.
Esta palestra integra-se no já popular ciclo "Ciênciaàs Seis – 4ª temporada", coordenado por António Piedade, Bioquímico,
escritor e Divulgador de Ciência.
Sinopse da palestra:
O Planeta Terrestre tem cerca de 4.600 milhões de
anos (Ma). A vida surge no meio aquático, quase 2.000 Ma depois da formação do
Globo Terrestre. Durante cerca de outros 2.000 Ma foram-se diferenciando muitas
formas de vida no meio aquático, até que os seres vivos evoluíssem e
conseguissem adaptações para começarem a ocupar o meio terrestre desabitado
(570-500 Ma). A biodiversidade foi sempre aumentando, quer no meio aquático,
quer no terrestre, apesar de épocas de diminuições massivas de biodiversidade, até
atingir o máximo do seu valor durante a era Cenonozóica, no Terciário, período
em que surgem os Hominóides. Há 7-6 Ma houve não só alterações climáticas, como
também relevantes movimentos tectónicos, tendo-se originado o Vale do Rift, com
altas montanhas e vastas planícies, no que resultou uma grande diversidade de
habitats e, portanto, elevada biodiversidade e um grupo de Símios, os
Cercopitecídeos. Aparecem, então, os principais grupos de animais herbívoros
das savanas africanas e terão surgido, há cerca de 6 Ma, nessa região africana,
os primeiros representantes dos Hominídeos. Isto é, os Hominídeos surgem numa
época de elevada biodiversidade (Terciário), numa área de grandes superfícies
lacustres (Lagos do vale do Rift), portanto muita água doce, e junto das
florestas tropicais, ecossistemas de elevadíssima biodiversidade. É assim que,
nessa mesma área do vale do Rift (Omo, Olduvai e Lago Turkana), aparecem
fósseis do Homo habilis (± 2 Ma). Onde se situa a garganta do Olduvai,
existia um grande lago, no qual desaguavam vários rios ladeados de florestas
ripícolas de galeria (nas margens dos rios), que forneciam frutos e outros
produtos, e grandes quantidades de mamíferos, que serviram de alimento a esses
nossos antepassados.
Portanto, a nossa espécie
só sobrevive desde que haja água, elevada biodiversidade e florestas, onde se
encontram os maiores produtores de biomassa, as enormes árvores tropicais.
Há cerca de
1,8-1,5 Ma surge o Homo erectus, nómada e caçador. Com as alterações
climáticas de há 1,5 Ma, aumenta a área de savanas e sobrevive este caçador
nómada, que migra para o Sul e para o Norte, penetrando no continente asiático.
Há cerca de 1 Ma, segundo alguns autores, o H. erectus evolui,
aparecendo o H. neandertalensis (± 120 mil anos) e o H.
sapiens (± 100 mil anos), que chegaram a conviver.
O certo é que ao
longo da dispersão pelo Globo Terrestre fomos sempre derrubando florestas para combustível
(lenha), construção de habitações e embarcações, produção de mobiliário e
utensílios, bem como para outros fins.
Um exemplo de
devastação florestais com resultados drásticos para a vida humana, foi o que
aconteceu na Ilha de Páscoa. Esta ilha, Rapa Nui na língua nativa, situada no Oceano Pacífico (Polinésia
Oriental) e que hoje pertence ao Chile (3700 km da costa oeste deste país)
esteve coberta por uma floresta subtropical antes da chegada de polinésios, há
cerca de 1600-1700 anos (300-400 depois de Cristo). Esta floresta foi
completamente devastada pelos rapanuios, o que, praticamente, provocou a
extinção deste povo.
Apesar de se ter este conhecimento, as
florestas continuam a ser derrubadas a um ritmo verdadeiramente alucinante e
drástico. Actualmente, com potentes máquinas e sofisticadas técnicas, por cada 11 segundos é derrubada uma área de
floresta tropical correspondente à superfície do relvado de um campo de
futebol, ou seja o equivalente à área de Inglaterra por ano. Assim, resta no
Globo Terrestre pouco mais de 20% da cobertura florestal que existia depois da
última glaciação (Würm), isto é, após o início do período actual, o Holoceno
(Antropogénico). Números da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO) revelam que, na década de 2000 a 2010, 13 milhões de
hectares/ano dessas florestas tropicais foram derrubados. Por exemplo, no
Brasil, que está entre os cinco países com maior área de floresta, a perda
chegou a 2,6 milhões de hectares anuais. Da “Mata Atlântica” brasileira, outro
ecossistema florestal subtropical, resta menos de 6% do que existia quando os
portugueses descobriram o Brasil.
Sabemos que as florestas, particularmente as equatoriais
(pluvisilva), devido à elevada
biomassa vegetal que elaboram, são ecossistemas de elevadíssima biodiversidade.
Sabemos, ainda, que é nestas florestas, que estão os maiores produtores de
biomassa (árvores com mais de 5.000 toneladas), um enorme volume de
sequestradores de carbono (plantas), pela quantidade de dióxido de carbono (CO2)
que utilizam e imensas (plantas) fábricas naturais de oxigénio (O2).
Para a criação massiva de gado bovino são
necessárias amplas áreas de pastagens, o que levou ao derrube de enormes
superfícies de florestas, particularmente das tropicais. Além de ter sido mais
um contributo para o aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
devido à devastação da floresta tropical, o elevadíssimo número de reses,
constitui, actualmente, um dos maiores factores de poluição atmosférica, pois
cada um destes ruminantes liberta, diariamente, para a atmosfera cerca de 50
litros de metano.
Devastação florestal, particularmente da pluvisilva, e imensas manadas com
inumeráveis cabeças de gado bovino, são, actualmente, dos factores mais
relevantes que contribuem para as alterações climáticas e, consequentemente,
para o Aquecimento Global.
Além de tudo isso, para se
conseguirem rapidamente vastas áreas desarborizadas para campos agrícolas e agropecuária,
anualmente incendeiam-se áreas florestadas de maneira incontrolada e
devastadora, aumentando ainda mais o volume de gás carbónico (CO2)
na atmosfera.
Apesar de se saber isso, a grande maioria da
população mundial não tem a mínima noção do que está a acontecer ao planeta em
que vivemos e que não é mais do que uma pequeníssima “ilha” do Universo, que
temos vindo a desflorestar, assim como também é uma enorme “gaiola”, que temos
vindo a poluir há milénios (depois da designada “Revolução Industrial” emitimos
para a atmosfera terrestre 72.000 produtos químicos que ali não existiam) e a
provocar-lhe uma elevação de temperatura tal que se tornará inabitável para a
espécie humana.
ENTRADA LIVRE
Público-Alvo: Público em geral
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