Minha crónica no "Sol" de hoje (revista "Tabu"):
Depois da descodificação do genoma humano, terminada em 2003, a decifração do genoma humano por menos de mil dólares era uma das metas mais perseguidas pela medicina. Previa-se para 2014 mas foi há pouco atingida com o anúncio pelo norte-americano Jonathan Rothberg de uma nova máquina de sequenciar. A decifração de um só genoma passou não apenas a ser mais barata (actualmente custa cerca de 5000 dólares) como também mais rápida: demora horas em vez de semanas. Steve Jobs tinha pago cem mil dólares pela sequenciação do seu genoma. Com os preços agora anunciados, a sequenciação tornou-se acessível. E já se fala em máquinas que poderão sequenciar por menos de cem dólares com resultados a demorarem minutos.
Para que serve a sequenciação do genoma? Cada um de nós distingue-se pelo ADN, uma molécula finíssima, mas muito longa, que existe em cada uma das suas células. Somos todos iguais, pois o genoma humano é quase todo igual, mas somos todos diferentes, pois as alterações individuais, apesar de pequenas, são significativas. A cor dos olhos está no nosso genoma. E algumas doenças e, principalmente, a predisposição para muitas outras também lá estão. O conhecimento científico está a aumentar rapidamente neste domínio, sendo necessário criar “interfaces” de uso fácil pelos médicos para interpretação do genoma. Conhecendo o perfil genético de cada doente, os médicos poderão, além de efectuar diagnósticos mais precisos e prescrever medicamentos à medida, praticando a chamada medicina personalizada. Por outro lado, o tratamento estatístico dos dados anonimizados permitirá às empresas farmacêuticas conhecer melhor o perfil das populações e fabricar fármacos mais adequados para elas. O próprio poderá, conhecido o seu perfil genético, mudar o seu estilo de vida, preferindo por exemplo alimentos melhores para si. É um “admirável mundo novo” que se anuncia com a revolução em curso que, bem aproveitada, permitirá prestar melhores cuidados de saúde a um custo desejavelmente mais baixo.
Um relatório divulgado há cerca de um mês no Reino Unido em resposta a um apelo da Câmara dos Lordes recomendou a introdução de testes genéticos no Sistema de Saúde Inglês, o que implica a construção de uma plataforma informática que dê todas as garantias de segurança para armazenamento do genoma dos utentes e sua consulta. Entre nós, um projecto desse tipo, da responsabilidade de um consórcio formado pela Critical Software, pelo Biocant e pela Universidade de Coimbra, já tinha sido anunciado em Novembro passado. Nessa altura foram recolhidas amostras de sangue dos responsáveis do projecto para efeitos de sequenciação. O futuro dessas pessoas e, em geral, de todos nós está, de certo modo, que importa conhecer melhor, nos genes.
Na imagem: esquema de uma modificação genética.
Sem comentários:
Enviar um comentário