sábado, 28 de abril de 2012

MUSEU DO QUARTZO

Quartzo hialino

Vai ter lugar no próximo dia 30, 2ª feira, pelas 21,00 horas, a cerimónia de abertura deste invulgar museu, concebido e construído junto à escarpa da pedreira de quartzo abandonada, no Monte de Santa Luzia, em Viseu. Numa estreita colaboração da Câmara Municipal de Viseu e do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, esta interessante realização, de notável interesse pedagógico, visa realçar as inúmeras variedades e o sem número das suas aplicações nas ciências da Terra, nas tecnologias mais variadas e na arte, nomeadamente na joalharia.

Por decisão camarária de 28 de Abril de 2012, este museu vai ter o nome de Galopim de Carvalho, o autor desta ideia e no qual trabalhou ao longo de quase duas décadas.

Concebido para, numa primeira fase, de âmbito local, servir as escolas da região e divulgar conhecimentos entre o cidadão comum, este pequeno museu reunirá uma representação significativa de exemplares desta espécie mineral (e suas variedades) e das suas múltiplas aplicações industriais e artísticas, a par de equipamentos interactivos adequados e de oficinas pedagógicas. A médio prazo, numa segunda fase, de âmbito nacional, aspira-se a uma colaboração activa com as universidades e as empresas interessadas no quartzo como matéria-prima nas mais variadas tecnologias. Na eventualidade de previsível sucesso deste embrião do saber, e se as entidades competentes (a autarquia e/ou o poder central) assim o entenderem e apoiarem, esta estrutura, por enquanto meramente pedagógica, poderá e deverá evoluir para um centro de investigação científica e tecnológica em torno desta temática, a nível internacional, domínio amplamente justificável e, por si só, susceptível de atrair patrocínios por parte de grandes empresas interessadas nesta investigação, como são, por exemplo, as da relojoaria.

HISTÓRIA DO PROJECTO

Por inícios dos anos 90, era vereador da cultura na Câmara Municipal de Viseu o Dr. Américo Nunes, hoje vice-presidente desta autarquia. Licenciado em Biologia na minha Faculdade, muito ligado aos professores de que fora aluno, este autarca concebeu e pôs em prática uma série de cursos de actualização de conhecimentos, dirigidos aos professores da região, suportados financeiramente pela Câmara e pedagogicamente assegurados pela Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais. Na altura, eu era o presidente da direcção desta veneranda Sociedade e foi nesta condição e, ao mesmo tempo, para apresentar uma das aulas a terem lugar no auditório Mirita Casimiro, que estive várias vezes na cidade de Viriato. Foi uma surpresa agradável, viver esta cidade em crescimento harmonioso, crescimento que tenho vindo a acompanhar de perto nos mais de vinte anos que se sucederam. Viseu é hoje uma cidade em que dá gosto viver.

A exploração do quartzo numa pedreira aberta no Monte de Santa Luzia, nos arredores de Viseu, entre 1961 e 1986, pela “Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos”, de Canas de Senhorim, teve como resultado o enorme rasgão na paisagem que ali se observa, desde sempre considerado como elemento altamente negativo em termos de impacto ambiental.

Desta exploração, ficou-nos, como é costume entre nós, uma pedreira abandonada, onde o quartzo filoniano, num escarpado de acentuada brancura, contrasta com a densa arborização envolvente, aspecto que se manteve desde que ali terminou a lavra, há 26 anos, sem que o agente económico tivesse procedido a quaisquer trabalhos de requalificação. A solicitação do Dr. Américo Nunes, concebi, em nome do Museu Nacional de História Natural (MNHN) da Universidade de Lisboa, um projecto de musealização do sítio como local de interesse geológico e mineralógico a recuperar, conservar e valorizar.

À semelhança de uma “janela aberta” para o interior da crosta, este rasgão na paisagem permite observar, por dentro, diversas e interessantes particularidades geológicas e mineralógicas deste tipo de ocorrências. O referido escarpado tem, na óptica da preservação e valorização do nosso património natural, o mérito de chamar a atenção para o mais volumoso e possante filão de quartzo leitoso, de entre os muitos que atravessam o substrato do nosso território, como exemplo da actividade hidrotermal residual, afectando granitos do final da era paleozóica, com cerca de 280 milhões de anos. Associado a esta ocorrência propus, então, a criação de um pequeno museu inteiramente dedicado ao quartzo, algo de inédito na museografia mundial.

O Monte de Santa Luzia constitui um pequeno relevo suportado pela maior dureza do quartzo e pela sua maior resistência à meteorização, relativamente ao granito que atravessa. Com várias dezenas de metros de espessura, este filão é a causa da existência deste relevo residual com cento e poucos metros acima da superfície planáltica que o rodeia.

A valorização deste sítio decorre não só da grandiosidade e espectacularidade deste acidente, como também da grande importância mineralógica, geológica e económica do quartzo, do seu elevado número de variedades, quer em termos de cores, quer no que diz respeito aos diferentes hábitos cristalinos, modos de jazida, associações com outras espécies minerais, etc. Tal valorização decorre, ainda, e muito, da invulgar diversidade das aplicações do quartzo como matéria-prima, nas mais variadas indústrias, com destaque para a fundição, a cerâmica, a vidraria, a cristalaria, a óptica, a química, a medicina reconstrutiva, a electrónica, a relojoaria e a joalharia.

Ao aceitar este projecto de musealização, a autarquia visou recuperar o que resta de uma exploração caótica abandonada, transformando-a num pólo da Universidade de Lisboa (protocolo assinado entre o Museu Nacional de História Natural e a Câmara Municipal de Viseu, em 14 de Outubro de1997), com grandes potencialidades pedagógicas, culturais e, também, naturalmente, turísticas.

Para além da recuperação do escarpado (a frente de exploração tal como foi deixada), o conjunto dispõe do referido Museu do Quartzo, e de um percurso pedonal a ser criteriosamente apoiado em painéis explicativos, convenientemente localizados, e de documentação escrita (para já, uma brochura) a facultar aos visitantes.

Com a minha aposentação como director do Museu Nacional de História Natural e a nomeação do meu substituto, o meu brilhante ex-aluno, Prof. Doutor Fernando Barriga, este ambicioso projecto, que aceitou de imediato, pôde beneficiar da modernidade do seu saber como professor catedrático de mineralogia, interessado na moderna museologia da área científica e profundo conhecedor das novas tecnologias aplicadas a esta vertente pedagógica.

O projecto do Monte de Santa Luzia, cuja componente arquitectónica, incluindo a do edifício do novo museu, é da autoria do Arq. Mário Moutinho, foi galardoado, em 1997, com o Prémio Nacional do Ambiente (Autarquias).

A materialização em termos museográficos dos conteúdos em exposição, a cargo da Y Dreams, foram concebidos por mim e pelo Prof. F. Barriga, com a colaboração do Dr. Rui Galopim de Carvalho, na qualidade de gemólogo. A terminar não posso deixar de louvar a autarquia viseense, nas pessoas do seu presidente, Dr. Fernando Ruas, e do seu vice-presidente, Dr. Américo Nunes, com quem trabalhei directamente todos estes anos, pelo invulgar interesse que puseram neste projecto, vencendo as mais diversas dificuldades e permitindo a concretização de um sonho.

29 de Abril de 2012

A. M. Galopim de Carvalho

3 comentários:

virita disse...

Graças ...por ainda surgirem estes pólos de cultura...

FERNANDO LAIRES disse...

TEM HORÁRIO A PENSAR NOS REFORMADOS E DESEMPREGADOS.
AOS SÁBADOS E DOMINGOS AS FAMILIAS NÃO PODEM VISITAR O MUSEU.

Leonor disse...

Atenção é explicitado no texto acima, que o principal objetivo é:"servir as escolas da região e divulgar conhecimentos"! Um abraço

O QUE É FEITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS?

Passaram mil dias - mil dias! - sobre o início de uma das maiores guerras que conferem ao presente esta tonalidade sinistra de que é impossí...