segunda-feira, 23 de abril de 2012

"Não se toca numa obra de génio"

"O autor desta quase literal adaptação de Os Lusíadas reconhece - apesar do respeito, do cuidado e do carinho que pôs na delicadíssima tarefa - que ela é de qualquer modo sacrílega.
Não se toca numa obra de génio, para a apresentar simplificada aos olhos do público, sem a triste e aliás inevitável sensação de amarfanhar a sua beleza, de corromper e desfolhar o seu encanto radioso.
Não me pejo de confessar que estive constantemente angustiado, que sofri contínuos e sérios remorsos, enquanto procurava interpretar, em prosa corrente e fácil, a grandeza, a majestade épica de Os Lusíadas.Insisti e teimei em fazê-lo, não por gosto e deleite no trabalho, mas porque este me pareceu necessário, urgente..."
Estas palavras são de João de Barros e constam do prefácio do seu livro Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões contados às crianças e lembrados ao povo.

Recordo-as no Dia Internacional do Livro com a intenção de sensibilizar editores e autores de manuais escolares que por aqui passarem para o cuidado que é preciso ter com os textos de autor. A prática de suprimir partes de textos e de os adaptar tão comuns, tão banais, tem de se repensada, sob pena de desrespeitarmos as Obras e de impedirmos que crianças e jovens tenham acesso a elas.

6 comentários:

Cláudia S. Tomazi disse...

Noli turbare circulos meos!

Não estragues meus circulos!
Arquimedes
c.287-212a.C.

Carlos Ricardo Soares disse...

Em minha opinião, tratando-se de arte, seja ou não de génio, não se toca. A obra é o que é e não descortino nenhuma espécie de dever ser diferente. Por exemplo, parece-me que nenhum poema ou verso, ou romance, ou quadro, ou trecho musical, "deveria" ser outra coisa.

Anónimo disse...

Completamente de acordo. Até porque se trata de uma obra fundamental para ser lida antes do 9º ano (quando se estudam excertos d'Os Lusíadas no original), porque a curiosidade que a sua pré-leitura desperta nos pré-leitores é motivição segura do interesse dos mesmos pelo texto original. Então, quando estes alunos começam a compreender a beleza e grandiosidade do que estão a ler, desenvolvem uma aptidão de interpretação e compreensão de leitura que os tornará mais capazes para uma vida mais plena, estética e, - consequência das anteriores- qualitativa em eficiência e humanidade.

É um bom negócio para as editoras... as que tiverem olho, claro!

Até porque, "porque não sublinhá-lo" - pela contribuição que os portugueses (nós todos) podem(os) dar a criar/conservar os bons textos nas bibliotecas das escolas, e nas municipais, fomentando um trabalho digno de qualidade,por parte dos professores.

HR

Anónimo disse...

Partilho na totalidade o comentário de Carlos Ricardo Soares!
Hr

Anónimo disse...

Obra de gênio ou não, divirjo das opiniões aquí colocadas. Pois os tempos são outros e de comunicação rápida - é um tempo de resumos.
Para exemplificar a razão da minha opinião apelo para o que aconteceu com a minha filha, pessoa extremamente ocupada e que jamais se dera ao trabalho de ler Shakespeare. Teve a oportunidade de ler a obra facilitada e se apaixonou pelo autor, indo agora atrás da obra.
Acho que isso não invalida obra nenhuma, pelo contrário a valoriza.
Se fôsse sacrilégio adaptações e simplificações dos clássicos de modo a torná-los acessíveis à população, não poderíamos aceitar suas filmagens que são feitas às dúzias e os popularizam sem maculá-los e proporcionando-nos novas leituras e perspectivas.
Nós temos que pensar nesses novos tempos regados pelas lições dos clássicos!
Ab.
Carlos Eurico Augusto Germer
Palhoça - Santa Catarina - Brasil.

Cláudia disse...

Enaltecendo o comentário do Sr. Carlos Ricardo Soares: que em tônica da idéia por ser da arte, outro plano em contexto (liberdade) de expressão frágil e que projecta o equilíbrio, contrapartida suportando a pressão no sentido evolutivo; eis a humanidade orienta-se! Através da arte que também, é uma partilha consciente e insconsciente, pois toda verdade norteia da acção, sendo ou não de cunho imaginativo pela emoção. Porém, se tiver o outro lado, seria (da moeda) por vezes a arte sofre com especulação, e corre no desajuste, excesso.

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