A opinião pública acorda, os governos seguem-na. Portugal não é excepção.
Parece que a sociedade percebeu que os bandos de crianças e adolescentes fazem demasiado barulho pelas ruas quando os adultos decidem dormir, que partem o que lhes aparece à frente, que sujam as ruas e os becos...
Parece que a sociedade percebeu que esses bandos não lhe provocam apenas perturbação mas também preocupação: aparecem espancados, violados, doentes, mortos...
Quem pode ficar indiferente a isso?
E, devemos continuar a perguntar: está certo deixar as crianças e adolescentes entregues si próprios e uns aos outros, quando se sabe bem que correm todos os riscos do alargado menú que cidades grandes ou pequenas, vilas e aldeias disponibilizam?
Se não está certo, porque é que se chegou a um estado de (quase) abandono, de negligência dos que são mais vulneráveis e que, por isso mesmo, os adultos deveriam proteger?
É pelo medo de se parecer moralista, retrógrado, antigo? De não se "desintegrarem" os menores dos seus grupos, de não lhes causar sentimentos de "marginalização" ou outros que se supõem negativos? De não se querer negar-lhes direitos que reivindicam, de se confiar incondicionalmente neles? De desejar a sua felicidade, de não lhe impor qualquer impedimento na concretização da sua juventude? É isto tudo, numa mistura confusa, na qual não se quer pensar?
Ou, é simplesmente porque se entende que as coisas se foram tornando assim, e estão assim, e não há nada a fazer, restando pagar-se-lhes um táxi, dar-se-lhe um telemóvel e rezar para que enviem um sms e para que nada de (muito) dramático lhes aconteça?
O nosso governo anunciou ontem que este não é o caminho, que pais, professores e sociedade em geral têm de assumir o controlo da situação. Há que tomar medidas...
Sim senhor, vamos a medidas: quais são elas?
Ao que percebi só uma e tão gasta quanto inútil: proibir o acesso a bebidas alcoólicas a todos o que ainda não completaram os 18 anos para os "desincentivar de beber"... e vigiar e punir (as palavras de Michel Foucault constantemente repetidas) as entidades que prevariquem... Como se faz noutros países...
Médicos aplaudiram tal medida, tão preocupados que estão com o estado em que lhes chegam os seus jovens doentes, cada vez mais jovens e cada vez mais doentes. Percebo-os.
Mas não seria de começar pela educação? Não seria de alguém (mas quem?) dizer, serena mas afirmativamente, que os adultos que têm de assumir, em consciência, o dever de cuidar e de educar os mais novos?
Assumir o dever de educar é, afinal, preparar o outro, que ainda não é adulto, para o exercício duma faculdade especificamente humana que define o adulto: o livre arbítrio.
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4 comentários:
Isso e aquela treta de limitar/proibir as máquinas automáticas de venda de tabaco não passam de uma técnica de apelar à repressão em vez de à educação e de esconder os problemas graves que os autores dessas normas estão a provocar deliberadamente na democracia portuguesa.
O governo só tem de obedecer àqueles que no fundo apenas desejam que nos destruamos, de preferência pelas nossas próprias mãos. É óbvio que os jovens andam perdidos, e que por vezes até se sentem valorizados quando algum professor tem a "coragem" de lhe "puxar as orelhas". E é (pelo menos para mim) óbvio que os governos estão ao serviço das grandes corporações interessadas em "purificar" o mundo de toda a imperfeição da Medusa. É a justiça de Perseus em marcha há mais de 50 anos, e que agora acredita estar perto do seu fim: a limpeza dos terrenos de toda a devassidão humana, de todo o "lixo humano", entretanto alimentada com a ajuda de slogans infantilizantes do tipo "viva o momento now", "não invente, vá ao continente", etc. Pode não haver nenhuma conspiração por detrás disso tudo, é verdade, mas a razão de não haver talvez seja demasiado simples:não havia necessidade.
Concordo consigo (autor do texto), acrescentava apenas uma ideia muito importante, a autonomia/responsabilidade além de ser o objetivo da educação, deve também ser um dos métodos dessa educação. Não podemos conceber que um jovem seja tão limitado na sua autonomia ao ponto de não poder comprar determinados produtos que comprovadamente prejudicam a saúde, enquanto os adultos o podem fazer. Existirá, está claro, ainda maior ânsia por ser adulto e maior vontade de o comprovar precocemente aos pares. Ao limitarmos constantemente acessos fomentamos a curiosidade quando o sentido devia ser a abertura e o diálogo explicando o porquê, de forma fundamentada, da importância do consumo de certos produtos com moderação.
Quando se responsabilizar os pais de forma efectiva, tudo muda num espaço de tempo muuuuuuuuuuuuuuito curto!
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