Meu artigo no último semanário Sol (a minha coluna Heliosfera passou da revista Tabu para as páginas interiores do jornal, com a remodelação gráfica que este sofreu que correspondeu também a um abaixamento do preço):
Há festa nas
escolas para além do Parque Escolar. No dia 10 de Abril, feriado na Pampilhosa
da Serra, foi aí inaugurado um radiotelescópio, com uma antena de três metros
de diâmetro, para uso escolar. O instrumento que recebe microondas pode ser
controlado, via Internet, de uma sala de aula. O objectivo é recolher radiações
oriundas da Via Láctea, a nossa Galáxia, devendo esses registos ser integrados
com outros, recolhidos por equipamentos semelhantes em quatro países europeus
que formam com o nosso o consórcio Connecting
schools to the Milky Way.
Se este é um
radiotelescópio com fins educativos, não muito longe existe desde o ano passado
um outro maior, com fins profissionais. O prato, com nove metros de diâmetro,
bem visível no meio da serra (a Pampilhosa da Serra bem merece o seu nome, pois
a paisagem serrana é impressionante!), recolhe microondas da Galáxia. Os cumes
em redor asseguram uma blindagem natural
em relação às microondas usadas nas comunicações por telemóvel. Assim as
microondas naturais da Galáxia não são perturbadas pelas nossas conversas à
superfície do planeta.
Qual é o
interesse das microondas da Galáxia? Não, não se trata de comunicação de extraterrestres.
Os corpos celestes emitem radiações de todas as frequências, incluindo as
microondas. E o Universo emite, de uma forma quase uniforme, uma radiação de
microondas, que não é mais do que um registo, podemos dizer um “fóssil”, da
formação dos átomos, há 14 mil milhões de anos, quando o Universo tinha apenas
300 000 anos e ainda não existiam nem estrelas nem galáxias. Para conhecer melhor
essas microondas, que vêm de todo o lado e documentam o Big Bang, há que descontar as microondas provindas da Galáxia. É precisamente
esse o objectivo do radiotelescópio da Pampilhosa da Serra, que funciona
apoiado por uma equipa internacional de cientistas. Entre estes está o
norte-americano George Smoot, Nobel da Física de 2006, mas estão também físicos
e engenheiros portugueses do Instituto de Telecomunicações de Aveiro.
O radiotelescópio
de uso escolar não é mais do que uma imitação em menor escala do seu “irmão” maior.
A aprendizagem da astronomia que está a ser realizada a partir da Pampilhosa
confere uma dimensão galáctica às nossas escolas.
Na imagem: o radiotelescópio de 9 m de diâmetro de Pampilhosa da Serra.
Sem comentários:
Enviar um comentário