segunda-feira, 23 de abril de 2012

Abril, águas mil!


Crónica Publicada na Imprensa Regional:

A água é uma constante da vida!

Sem essa molécula, H2O, sem as propriedades a que ela dá lugar nos diversos estados físicos que se lhe conhecem (líquido, gasoso, sólido), nas condições de temperatura e pressão dos vários locais onde a vida foi encontrada no nosso planeta, sem essa molécula não estaríamos aqui.

Nem eu teria escrito este texto, nem o leitor o estaria, porventura, a ler!

 Na geringonça cíclica em que a substância água faz mover informação e energia no nosso planeta, a chuva desde sempre foi necessária para fertilizar com vida as rochas e terrenos emersos dos continentes, penínsulas, istmos e ilhas.

No regresso aos oceanos, a água corrente dos rios finais beija o mar com aromas, compostos, matéria e vida que recolheu e transporta desde as suas fontes nascentes, desde o local a montante onde brota e nasce despida, fresca, promessa de vida a jusante. Logo que a Humanidade se fixou na ideia da “urbe”, assentou os alicerces junto a cursos de água. Todas as antigas civilizações se semearam, cultivaram, disseminaram junto ou entre grandes rios (Tigre, Eufrates, Ganges, Nilo, Danúbio, Guadalquivir, Douro, Tejo, Guadiana, Sado, Mondego, entre tantos outros).

Mas sem chuva a trazer de volta água à terra que pisamos, a miséria instala-se. Se tarda, se demora, se se ausenta, quebrando os ritmos sazonais anuais, seculares, logo se instalam severas preocupações com a morte a substituir o mar a jusante.

Quase todos ouvimos o ditado popular “em Abril, águas mil”. Quase nenhum de nós o questiona. É um saber feito de tempo, saber tácito feito de regularidade passada que teima em se repetir anualmente, pouco tempo depois do equinócio (da primavera) em regiões acima da nossa latitude até ao círculo polar árctico. 

Aquele ditado não existe só em terras lusas. Que se encontre também em Espanha não é de espantar. Mas que faça parte da “sabedoria popular” por essa Europa acima, isso já levanta algum espanto (e pede ciência). Encontramos o provérbio em França - "les giboulées de Mars” -, no Reino Unido e Irlanda – “April showers”, "April showers bring May flowers" – e, exemplo nórdico, até na Noruega – “April bygger”.

O fenómeno meteorológico que alimenta o provérbio assenta no aumento do período de luminosidade solar incidente de forma progressivamente mais perpendicular a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte). Isto provoca um aumento progressivo da temperatura do solo, o que causa evaporação da água (mesmo que pouca devido a outonos e invernos menos chuvosos – como foi o caso este ano) retida e presente nos interstícios da terra.

Correntes de ar quente e vapor de água ascendem, aumentando a humidade relativa do ar. Como a temperatura média do ar também subiu, maior quantidade de água passa e fica na atmosfera (maior humidade relativa), prenúncio de nuvens, certezas pluviais. Este movimento, por convecção de ar quente e água (quer no estado gasoso quer no liquído), provoca fenómenos meteorológicos súbitos que nos “estragam” os passeios primaveris, mas que redistribuem a água preciosa, minorando os efeitos de secas nefastas para a maltratada agricultura.

O curioso e certo é que, apesar da seca deste ano, temos vivido um Abril que faz justiça ao ditado! Transcrevo, para terminar, a resposta que o Prof. António Galopim de Carvalho me enviou  à minha pergunta sobre o provérbio:

"Os ditados populares são testemunhos de muita sabedoria. São a síntese de um saber colectivo de gerações. A suposta tendência actual (no nosso hemisfério) da desertificação estar a migrar para norte, leva-me a pensar que, num passado geologicamente muito recente, tivemos aqui, no sul da Península, um clima chuvoso como o da chamada Ibéria Húmida, bem exemplificado no nosso Minho e na Galiza, clima esse que poderia estar na base do referido ditado."

António Piedade

(Agradeço a colaboração do Ricardo Cardoso Reis, na investigação para esta crónica.)

1 comentário:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Onda


Onde moras
Ode, onde?!

Moro lá ... Longe

Na lisonja
que esconde
o mar.

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