domingo, 29 de abril de 2012

ASCENSÃO E QUEDA DE TEORIAS CIENTÍFICAS



Não é por uma teoria cientifica cair que deixa de ser científica. Pelo contrário, só as teorias científicas podem cair, por poderem estar erradas, isto é, por serem passíveis de negação, pela lógica, pela observação e pela experiência. Por exemplo, o sistema geocêntrico foi substituído pelo sistema heliocêntrico, no século XVI, por ser mais lógico e estar mais de acordo com as observações. Foi Galileu, no século seguinte, quem fez vingar a visão de Copérnico. Por outro lado, no mesmo século, a teoria de movimento de Aristóteles foi substituída pela mecânica de Galileu e Newton, que tinha, ao contrário das antigas ideias gregas, não só sustentação matemática como também um enorme poder preditivo na descrição de acontecimentos reais. Em tempos mais recentes, ao longo do século XIX, o energicismo, que teve em Ostwald e Mach dois dos seus últimos defensores, deu lugar ao atomismo, de Maxwell, Boltzmann e outros, por os átomos terem inequivocamente, num extenso rol de experiências, dado provas da sua existência.

Avançando no tempo, esses dois grandes pilares da física moderna que são a teoria quântica, proposta por Planck, Bohr e outros, e a teoria da relatividade, tanto restrita como geral, proposta por Einstein, ainda não foram substituídos desde que ascenderam há cerca de um século. Tal não ocorreu por falta de investidas do engenho humano em imaginar situações e criar dispositivos que permitam verificar a respectiva validade, mesmo em situações extremas, mas sim e tão só porque os resultados de todas as experiências realizadas até agora eram resultados que podem ser encaixados por elas. Alguns físicos, como foi o caso de Einstein, acham que a teoria quântica é insatisfatória do ponto de vista conceptual. Mas isso não basta para a arredar: é preciso que alguma observação ou experiência a ponha em causa, o que não aconteceu até agora. A electrodinâmica quântica - que resulta do “casamento” da teoria quântica com a teoria da relatividade - tem sido testada com uma precisão incrível, dando sempre boa conta de si. Por seu lado, a teoria da relatividade restrita acaba de vencer um ataque, perpretado pelos defensores dos pretensos neutrinos superluminais, que afinal não passavam de um mero erro experimental. Finalmente, a teoria da relatividade geral tem englobado um número cada vez maior de observações astronómicas e cosmológicas, embora permaneça o sentimento de insatisfação, bem patente nos cultivadores de teorias de grande unificação, de não ter ainda sido celebrado o seu “casamento” com a teoria quântica. Podemos dizer que as duas grandes teorias da física moderna – a teoria quântica e a teoria da relatividade - continuam em ascensão. Não há sinais de decadência.

A história da ciência ensina-nos, porém, que um dia, cedo ou tarde, as nossas melhores teorias físicas acabarão por dar lugar a outras quando for revelada uma sua pequena ou grande falha. Não quer isto dizer que tenham de ser largadas e esquecidas. A sua consistência interna e a forte acumulação até agora de observações e experiências em seu abono indica-nos que as teorias seguintes as incluirão de alguma maneira. Planck, Bohr e outros nada tiveram a opor à mecânica de Galileu e Newton aplicável à escala macroscópica, ao desenvolver uma nova mecânica que descreve uma multidão de fenómenos microscópicos, , à escala dos átomos, e que dá lugar à velha mecânica quando se amplia a escala de observação (a ligação da nova com a velha mecânica pode fazer-se de várias maneiras). De modo semelhante, Einstein não derrubou Galileu e Newton, mas antes forneceu uma teoria mais abrangente, pois consegue descrever não apenas fenómenos do nosso dia-a-dia mas também fenómenos que envolvem velocidades próximas das da luz. Assim, é razoável prever que as teorias físicas futuras tenham de incluir os ensinamentos de Planck, Bohr, Einstein, etc. Não poderemos deitar fora o bebé com a água do banho. De certa forma, as grandes teorias científicas nunca caem. As novas teorias prolongam as anteriores de um modo que não é de modo nenhum trivial. É por isso que as mudanças  não são fáceis: elas desafiam as mentes mais imaginativas. Em ciência a imaginação nunca é livre. Feynman, que trabalhou com grande sucesso na electrodinâmica quântica, disse que a "imaginação está contida numa camisa de forças".

7 comentários:

Manuel Rosa Martins disse...

Atentemos em Galileu, fulcral na observação e na experimentação para fundamento duma Teoria.

O Próprio Galileu errou ao considerar, na sua Teoria das Marés, que o facto de haver 2 marés (2 ciclos) por dia se devia efeitos secundários das bacias dos Mares (observou o Adriático em Veneza e recolheu informações do centro e do Sul de Itália) para justificar que a sua Teoria apenas previa um ciclo por dia.

Tentou adaptar os factos à sua Teoria, desclassificando a Teoria de Kepler com a sua proverbial má criação, "ficção inútil."

Usou palavras menos agrestes simpáticas para desclassificar, uma vez mais, Kepler, no caso das órbitas elípticas, referindo a "pureza e perfeição" dos círculos.

Com a patronagem e beneplácito do Papa, seu amigo pessoal, foi autorizado a defender o Heliocentrismo (que por sua vez definia o Sol como centro do Universo). Para o efeito, não achou melhor analogia do que chamar bobo da corte ao seu patrono.

Digamos que não era um personagem fácil, sendo até famoso pela sua antipatia pessoal.

Não obstante estas limitações de carácter nos relacionamentos, demonstrou enorme carácter em defender o que acreditava.

Mas aqui temos um problema, porque a Ciência não é feita de crenças.

E chegamos ao ponto fulcral, será que a Ciência erra?

Pois não erra, pois corrige os erros das Teorias científicas, mantendo o que era parcialmente correcto.

E Newton? No caso de Newton há uma instância em que a Ciência o corrigiu, mas a própria ciência, por servilismo, sobretudo nos sistemas de Ensino (mesmo nos de hoje, do séc.XXI), pelo peso do nome, pelo Magister Dixit, mantém uma incorrecção para mais facilmente verificável.

F=ma está incorrecto, a segunda Lei de Newton está incorrecta.

Provaram-no Leibniz e Émilie du Châtelet, a fórmula correcta é Ek = 1⁄2mv², em que Ek será a energia cinéticadum objecto, m a sua massa e e v a sua velocidade em quantificação vectorial.

Outro problema aqui, pois não frisamos, usualmente, de forma explicita, a diferença entre velocidade e... velocidade. Não diferenciamos convenientemente se se trata de velocidade vectorial (velocity, em Inglês) ou velocidade escalar (speed).

Mas, lá que tentamos corrigir, lá isso tentamos.

Como diria o Mr.Spock: fascinante!

E é fascinante porque este artigo é de Excelência. Obrigado.

Francisco Domingues disse...

É sempre gratificante para um racionalista, logo, um amante da Ciência que promove o avanço do Conhecimento humano e desvenda o segredo das coisas, do átomo ao Universo, à anti-matéria, relembar que a Ciência caminha por etapas, apoiando-se a segunda na primeira e assim sucessivamente, caminhando de erro em erro ou, melhor, de descoberta em descoberta. É pena que tal não se aplique a todas as actividades humanas, sobretudo as mais importantes para as sociedades: a política, a finança, a economia e a religião. É notório que os políticos não sabem governar as sociedades, que a finança (ou o sistema financeiro actual) é fonte de toda a corrupção e injustiças sociais, que a economia, ligada à finança, não está ao serviço da sociedade mas dessa finança, que a religião só aprisiona o raciocínio do Homem dentro de fantasias a que chamam - os mentores religiosos - de verdades inquestionáveis. Ah, quanto não seria necessário que estes quatro vectores que condicionam as sociedades e comandam o mundo aplicassem o método científico da experimentação, mudando continuamente métodos em ordem a atingir a perfeição, dignificando a condição humana! Mas, não: a corrupção e desregulamento grassam por toda a parte. E assim temos o mundo cheio de fomes, guerras, injustiças (nos países desenvolvidos) atraso civilizacional em grande parte do mundo onde impera a lei religiosa ou tribal.
(PS: Escrevi e reli. E constatei que não disse nada de construtivo além de expressar um desejo o que, no fim de contas, nada adianta. Para não me alongar, remeto para os meus blogs "Em nome da Ciência" e "Ideias-Novas", onde tento dar soluções e construir algo de novo, tanto para a religião como para a política conómico-financeira)

Luís disse...

Uma vez mais somos brindados por uma enxurrada de asneiras e mitos.

1) O conceito de ciência que Fiolhais aqui usou é, sem o dizer, uma versão simplista do conceito de Popper. Que, como todos os conceitos é alvo de debate. Por exemplo, por este conceito de ciência, a teoria de evolução de espécies a la Darwin não é uma teoria científica, nem boa parte da Biologia, nem as Ciências Humanas (e, já agora, nem a teoria de cordas, o modelo standard da física de partículas, etc).

2) "Por exemplo, o sistema geocêntrico foi substituído pelo sistema heliocêntrico, no século XVI, por ser mais lógico e estar mais de acordo com as observações". Erradissimo. Qualquer pessoa que saiba o mínimo de história da física do séc. XVI sabe que o modelo geocêntrico era no seu início mais complexo e com muito menor correspondência com as medição. A passagem do Heliocêntrismo para o Geocêntrismo não foi realizada por razão num acto inductivista. Se assim fosse, nem Galileu precisaria de andar a argumentar conceptual e teologicamente em favor do geogêntrismo, nem esta transição mereceria tanta atenção da epistemologia.

3) O atomismo está presente na fundação da física de Newton. Qualquer pessoa que saiba o mínimo de Newton sabe que ele era um atomista e que, precisamente, a grande diferença entre a física de newton e de Aristóteles está no atomismo (que permite a decomposição analítica dos fenómenos, a redução dos corpos a pontos, etc). O atomismo percorre toda a física embora no século XIX não haver qualquer "prova experimental" da existência de átomos físicos- corpúsculos. Aliás, a dificuldade em defender os corpúsculos perante a nova vaga surgida do electromagnetismo, como é sabido por qualquer pessoa minimamente culta na história da ciência, contribuiu para o suicídio de Boltzmann.

O resto nem li. Verdadeiramente, este texto não era aceitável sequer ao nível de um estudante de uma qualquer cadeira de história da ciência. Mas de Fiolhais não se pode esperar mais.

Cláudia S. Tomazi disse...

Talvez, estude Feynman - electrodinâmimica quântica : "imaginação está contida numa camisa de força"

cosmo minimizado - pensamento humano
camisa de força - metáfora

Apenas, uma suposição que para avançar em teoria e projecção matemática, cálculos e sistemas constroem-se ou cumulativo, mas o pensamento norteia contrapontas e a ciência emoldura conquistas.

Possivelmente Feynman avança nos dois sentidos (quando cito dois sentidos é a matemática e anti-matemática, se é que isso existe)...não consigo expressar de forma diferente. Voltando a Feynman este constrói a identidade que suporta o paralelo subjetivo, pois a mente humana é programada somente para fraccionar partículas, enquanto a quântica reordena. E talvez, seja possível, aliás tem muitas pontas soltas a ciência neste sentido, pois o complemento implica sempre o óbvio. Sei lá...

Cláudia S. Tomazi disse...

“Cada pedaço ou parte da natureza total é sempre uma
mera aproximação da verdade completa,
ou da verdade completa até onde a conhecemos.
De fato, tudo que conhecemos é apenas algum tipo de aproximação,
pois sabemos que não conhecemos todas as leis ainda.
Portanto, as coisas devem ser aprendidas apenas para serem
desaprendidas de novo ou, mais provavelmente, para serem corrigidas.”
Richard P. Feynman

Chama a atenção o enunciado é quase uma fórmula: ...as coisas devem ser aprendidas apenas para serem desaprendidas...

O desaprender de Feynman percebe além da desorganização - a reorganização. Particularmente a linha de pensamento adequando-se, esta para o mimetismo; assim Feynman repara além da trajetória natural da natureza, (em aspectos) da arte enquanto matemática.



A quem possa interessar, espero ter colaborado.

Anónimo disse...

De facto, concordo inteiramente com os 3 pontos! Texto muito fraquinho...

Louis Morelli disse...

Por incrível e inacreditável que pareça, aplicando teoricamente o método da anatomia comparada entre os corpos/arquiteturas/sistemas feitos pela Natureza, eu descobri que uma formula esta por trás de todos os sistemas conhecidos neste Universo - de átomos a galaxias, a células, a cérebros, etc. E depois descobri que esta formula e' um efeito do avançar de uma onda de radiação através do espaço. Pois bem...

Claro, tal formula produz uma nova, inédita, nunca imaginada antes, visão do mundo. Ela mostra que todas as interpretações feitas ate' hoje de todos os fenômenos naturais - de uma pedra ao evento da morte - seja por quem trabalha com o método cientifico ou quem raciocina misticamente, estão incompletas e sugere como devem serem corrigidas.

Isto foi a 30 anos e na selva amazônica, quando estudava aquela biosfera mais sua interação com o sistema solar, separando e depois estudando a conexão entre os seus elementos, sistemas naturais. Desde então tenho re-interpretado todas as interpretações de uns 2.000 fenômenos naturais e a unica forma de divulgação destes resultados e' um website na Internet que não e' divulgado. Outra tarefa tem sido constatar e acumular os acertos das previsões que a formula sugeriu a 30 anos atras.

Resumindo, estou tendo a impressão que algo de muito errado esta' acontecendo com as ciências humanas. Pois parece-me que as pessoas envolvidas com a atividade cientifica não esta interessada em aprender de fato para controlar de fato os fenômenos naturais. Um outro mundo imaginado ocupou o cérebro destas pessoas, e ela estão desviando a atividade cientifica tal como ela deveria ser - a busca do conhecimento da natureza universal simplesmente para saciar a curiosidade humana e revelar o guia natural para melhorar a qualidade da vida humana ao sintoniza-la com a razão e o ritmo natural - para ser uma ferramenta que as possibilite tornar esse mundo imaginário em sua realidade ambiental.

O modo moderno de vida dos "cientistas" esta totalmente artificializado, perdeu totalmente os elos con sua raiz natural. 7 anos na selva vivendo com nativos e animais me revelam isso claramente. A inexplicável teimosia da Física isolada se aliando 'a metafisica Matemática querendo explicar a Natureza Universal e' um absurdo irracional e não vou nunca entender como vocês, amantes da busca de conhecimentos, não percebem isso. Esta civilização virtual terá que desmoronar como todas as anteriores, para o perceberem, tarde demais...

A unica forma que estou podendo apresentar esta formula e' nos comentários de artigos científicos ou fóruns, questionando a interpretação dada a cada fenômeno pu evento natural e sugerindo a outra explicação da formula. Porem, nenhum humano conseguiu fixar a mente na outra interpretação, e sai logo correndo. Não adianta avisar antes que a interpretação e' cientificamente testável, experimentável. Mas diz a definição de Ciência que 'e uma empresa sistemática na organização de fatos testáveis, etc...

E' inacreditável o que esta acontecendo de diferenças entre a produção do meu cérebro e a produção da soma total de 8 bilhões de cérebros humanos.Mas a cada dia, a cada fenômeno natural a Natureza esta vindo reafirmar que o meu cérebro esta mais de acordo com Ela. Então vou morrer com este pesadelo e esta grande incógnita. Se alguém tiver curiosidade para dar uma rápida olhadela google: http://the universalmatrix.com e volte aqui para debater a interpretação que dou em qualquer fato na relacao "artigos".Thanks...

35.º (E ÚLTIMO) POSTAL DE NATAL DE JORGE PAIVA: "AMBIENTE E DESILUSÃO"

Sem mais, reproduzo as fotografias e as palavras que compõem o último postal de Natal do Biólogo Jorge Paiva, Professor e Investigador na Un...