Um comentário de José Batista da Ascenção sobre a
Ordem dos Biólogos, insito no post “Ensino
e Liberdade” (24/04/2012), de Desidério Murcho, que transcreverei lá mais para
diante, não podia deixar de despertar a
minha atenção pela responsabilidade por mim assumida em me fazer defensor da
criação de Ordem dos Professores com fundamento em razões como evitar que o Estado atribua um papel menor à
docência como se tratasse de uma
profissão (ou melhor, infelizmente, mero
exercício profissional!) que não se pode responsabilizar pela qualidade dos
actos profissionais prestados à sociedade educativa pelos seus actores, como consubstancia a legislação que respeita a
esta forma de organização profissional de direito público. Isto é, que os poderes públicos continuem,
como até aqui, a arrogar-se senhores de uma sufocante tutela sobre eles e
os sindicatos tudo tentem para usurpar um papel que a Constituição lhes não
consente por ser da atribuição de ordens profissionais.
No “Fórum Pensar a
Educação/Outubro de 97”, promovido pelo Sindicato Nacional dos Professores
Licenciados, sobre a oposição pública de
forças sindicais à criação de um Ordem dos Professores, não pude de deixar de
formular a minha crítica a este statu quo da forma seguinte: “Mas, para mal
dos seus pecados, as suas posições passadas, por de mais evidentes e
divulgadas, não lhes devem consentir, agora, a desculpa de mau pagador. Assim, terão
eles que arcar com o remorso de tentar fazer passar a imagem da actual docência
como que a modos de uma profissão de escravo grego aos serviço dos filhos dos
senhores de Roma, expiando a sua ignorância, ou a sua má-fé, em acto de contrição
pública”.
Mas indo ao cerne da
questão sobre a Ordem dos Biólogos, confesso que, na altura, a sua criação me levantou algumas perplexidades.
Aliás, como levanta a José Batista da Ascenção, algumas interrogações a criação
da Ordem dos Professores: “Fazer uma Ordem dos Professores? Talvez. Devemos até
tentar. Mas não sou muito otimista, confesso. Por um lado, conheço bem a
diversidade dos professores. Veja-se quantos sindicatos se formaram e o que
ganhámos com isso…Por outro lado, já pertenci a uma ordem, que supus pudesse
ser útil aos professores de biologia e que foi completamente ineficaz, para não
dizer pior, na defesa do ensino daquela disciplina. Com grande pena minha”.
Desde a sua criação, tenho-me
interrogado sobre a abrangência da Ordem dos Biólogos numa acção dual sobre o exercício profissional de biólogos
propriamente ditos e professores de Biologia. Desde logo, confesso, me pareceu que a acção
do exercício docente desta matéria só poderia ter efectividade através de uma
Ordem dos Professores. Aliás, a experiência
pessoal do subscritor do referido e oportuno comentário, na sua condição de professor de Biologia, confirma, segundo me atrevo a pensar, que a
Ordem dos Biólogos só tem papel na qualidade exigida aos cursos universitários
que formam biólogos e na sua correspondente actividade profissional não tendo,
como é óbvio, possibilidades para
intervir, por exemplo, nos programas curriculares do ensino secundário e outras actividades correlacionadas.
Ou seja, “a César o que é de César”!
Mas, no meio disto tudo, o que mais me
impressiona é o facto de os que estão a favor ou contra a criação de uma Ordem
dos Professores se remeterem a um silêncio que em nada ajuda a clarificar situações. Parafraseando o título da obra de
Edward Albee: Quem tem medo da Ordem dos Professores?
4 comentários:
Meu caro Rui Baptista
Houvesse um bom punhado de Professores com a
sua determinação e outra seria a minha
esperança na criação da respetiva Ordem. Por
pedregoso que fosse (e seria!) o caminho.
Mas, no fundo, no fundo, não está morta em mim
essa esperança.
E por isso sou grato a todos os que não calam
a sua voz.
Em particular, a si.
Estimado José Batista da Ascenção: Grato lhe estou eu pelas objecções e concordâncias que tem levantado à criação de uma Ordem dos Professores, e que não se limita, dado o seu espírito crítico, em dizer estou a favor porque sim ou porque não! Ou estou contra por iguais motivos...
Por vezes, no campo da indiferença de quem comodamente não se pronuncia sobre esta temática, esperando que outros o façam, colhendo os louros se os houver, e sacudindo a água do capote de uma responsabilidade que não querem tomar para não se comprometerem, fica-me o sabor de uma teimosia minha perigosa num país de falsos porreirismos, passe o plebeísmo da palavra.
Aceito esta atitude pessoal e personalista (que remédio tenho eu!), mas já não aceito, repudio mesmo, o silêncio cúmplice de uma classe profissional que entendo que o seu importante papel se deve circunscrever, apenas, a questões laborais: vencimentos e horários de trabalho. Se assim é, a razão está do lado sindical. E o silêncio sindical (mormente da Fenprof) em debater a criação de uma Ordem dos Professores disso mesmo nos dá conta. Como nos diz a voz popular, “o silêncio é a arma do negócio”…
Cumprimentos amigos,
Errata: 4.ª linha, último §, substituir "entendo"por entende.
Desidério Murcho considera que uma Ordem de Professores é qualquer coisa de medieval. Nem sei se concordo ou não, talvez seja um Sonho-pressupor a possiblidade de uma Ordem de Professores dirigida por pessoas plenas de conhecimento e actuação ética-, ou talvez não passe de uma espécie de mal menor. Seja como for, mesmo quando o desânimo me abala as convicções, continuarei a situar-me como adjuvante da única possibilidade que vislumbro para reabilitar a dignificação profissional dos professores. E não porque queira ter razão ou protagonizar seja o que for, mas tão simplesmente porque desejo que haja alguém que dirija o barco para que eu possa nele navegar e absorver-me em adquirir e transmitir o conhecimento que uma viagem permite. Para que uns possam navegar, outros têm que dirigir o navio. Qualquer um dos papéis é necessário e nenhum o é mais do que o outro.
PS - Como isto é publico, não será insensato assinalar que o discordar da posição de Desidério Murcho neste e noutros aspectos não impede que muito o aprecie enquanto ser reflexivo e com pressupostos éticos inequívocos.
HR
Enviar um comentário