Excerto de “Halley – O Cometa da República”, de Joaquim Fernandes, Editora Tema s& Debates /Círculo de Leitores, Maio 2010:
(Na imagem: Um título apaziguador em O Liberal, 10 de Março 1910)
Manchete positiva, que dava passo a uma “interview com o sr. Costa Lobo”, uma das mais respeitadas autoridades da época garantindo que “o cometa não dará cabo da Terra”.
Desenvolvendo relações privilegiadas com instituições internacionais congéneres, em especial com o Observatório de Paris-Meudon, o matemático Francisco da Costa Lobo viria a dirigir o Observatório Astronómico de Coimbra, a partir de 1913, e a revista coimbrã O Instituto, sendo o responsável pela introdução da Astrofisica Solar em Portugal. Fiel à monarquia, Costa Lobo revelou-se uma personalidade polémica na sua evolução e postura científicas.
O texto dirige-se aos “mais assustadiços” assegurando-lhes que “o cometa passará sem maior incómodo para nós e para ele. A Humanidade inteira poderá continuar no seu ram ram quotidiano, nas suas lutas de ignóbeis egoísmos, nas suas torpezas e nas suas misérias”. O jornalista reforça essa certeza após ouvir “uma autoridade de incontestável garantia, o sr. Dr. Costa Lobo, sábio e ilustrado lente de astronomia na Universidade de Coimbra que ainda o ano passado andou em visita aos principais observatórios da Europa”.
Procurámo-lo ontem à tarde no Hotel Borges tendo-lhe previamente solicitado a entrevista sobre o cometa de Halley. À hora marcada, pontualidade inglesa, encontrava-se o ilustre sábio à nossa espera na sala de visitas do seu Hotel.
- Então o que deseja saber a respeito do cometa de Halley? – diz-nos S.Ex.ª
- Tudo! Tem-se dito e escrito muito a respeito dele, mas o facto é que anda por aí muita gente desassossegada, embora cada vez perceba menos das explicações que os jornais estão dando. Por isso, desejávamos, em resumo, saber a opinião de S.Ex.ª.
Sentando-nos cada um em sua poltrona e depois de acendermos os nossos cigarros, o sr. dr. Costa Lobo diz:
- É indubitável que a despeito das repetidas e variadas informações o público continua preocupado com os acontecimentos que receia tenham lugar quando no próximo de Maio o cometa Halley se encontre à mínima distância da Terra na sua presente digressão em volta do Sol.
Chega a ser curioso observar que o estado de adiantamento em que a Humanidade se encontra, não evita inquietações análogas às que nos são descritas pela história de épocas remotas, embora com aspecto mais civilizado.
- De forma que devem ser muito cautelosas as informações. Não concorda V. Ex.ª.?
- Sem dúvida; e sobre tudo é extraordinariamente preciso que essas informações sejam claras a fim de não provocarem injustificado alarme.
E decerto assim o sente o grande propagandista Flamarion, a quem a ciência tanto deve pelas suas investigações e o público pelo grande esforço desenvolvido por aquele astrónomo, a fim de difundir os conhecimentos astronómicos e interessar a Humanidade por estes tão importantes estudos, que decerto são de molde a darem ao homem a maior satisfação pelo vigor que têm atingido.
- Mas as explicações de Flamarion concorreram talvez para este alcance – dissemos nós
- Tem razão. Arrependido se confessou já o ilustre astrónomo, tendo reconhecido o inconveniente de aventar hipóteses simplesmente com o fim de interessar o público pelas observações celestes mas que a fantasia pública rapidamente admitiu como sendo de possível realização, o que não duvido afirmá-lo, nada justifica.
Repare-se no uso do qualificativo “propagandista“ atribuído a Flammarion e ao estado de “arrependimento” do mesmo astrónomo, a quem se atribui, com fundadas razões, as origens do aterrorizado rumor do “fim do mundo”. (…)"
Joaquim Fernandes
terça-feira, 4 de maio de 2010
COM O COMETA DE HALLEY NÃO SE ACABARÁ O MUNDO
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1 comentário:
Despedimento colectivo de 112 trabalhadores no Casino Estoril
Nestas condições não constituirá um escândalo e uma imoralidade proceder-se à destruição da expectativa de vida de tanta gente ? Para mais quando a média de idades das mulheres e homens despedidos se situa nos 49,7 anos ?
Infelizmente, a notícia de mais um despedimento colectivo tem-se vindo a tornar no nosso país numa situação de banalidade, à qual os órgãos de comunicação social atribuem cada vez menos relevância, deixando por isso escondidos os verdadeiros dramas humanos que sempre estão associados à perda do ganha-pão de um homem, de uma mulher ou de uma família.
Mas, para além do quase silêncio da comunicação social, o que mais choca os cidadãos atingidos por este flagelo é a impassibilidade do Estado a quem compete, através dos organismos criados para o efeito, vigiar e fazer cumprir os imperativos Constitucionais e legais de protecção ao emprego.
E o que mais choca ainda é a própria participação do Estado, quer por omissão do cumprimento de deveres quer, sobretudo, por cumplicidade activa no cometimento de actos que objectivamente favorecem o despedimento de trabalhadores.
Referimo-nos, Senhores Deputados da República, à impassibilidade de organismos como a ACT-Autoridade para as Condições do Trabalho e DGERT (serviço específico do Ministério do Trabalho) que, solicitados a fiscalizar as condições substantivas do despedimento, nada nos respondem.
Mas referimo-nos também à Direcção-Geral da Inspecção-Geral de Jogos, entidade a quem cumpre fazer cumprir as normas legais da prática dos jogos, que não hesita em violar os imperativos da Lei nº 10/95, de 19 de Janeiro, para possibilitar à empresa o despedimento dos porteiros da sala de jogos tradicionais.
A corrupção não existe, agora chama-se: Ciência Politica Utilitária
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