quinta-feira, 30 de abril de 2009
Terá Darwin ressuscitado Deus?
Post convidado de Paulo Trincão, o autor de "O português que se correspondeu com Darwin" (Gradiva, 2009):
“Terá Darwin morto Deus?” foi o título escolhido pelo professor António M. de Frias Martins, da Universidade dos Açores, para a intervenção que fez a 21 de Abril no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, no âmbito do ciclo de conferências “Biologia na Noite”, que este ano tem como tema central Darwin. Este título serve-me de pretexto para falar um pouco sobre uma das questões que tornam a figura de Darwin polémica e mediática: as relações da sua teoria com Deus.
Realmente, se for feita uma análise linear e um pouco acrítica, dizer que os seres vivos evoluíram implica necessariamente aceitar a ideia que algo que evolui é porque não é perfeito. Evoluir segundo a definição do dicionário da Porto Editora significa, “passar por uma sucessão gradual de transformações; passar para uma situação melhor”.
Assim sendo, não há grandes dúvidas que a perfeição do responsável pela Criação era posta em causa e, se Deus não morria, era pelo menos ferido. Vale a pena saber como evolui a interpretação da visão humana sobre a obra de Deus (ou de quem poderá ter sido responsável por haver formas de vida).
Um dos primeiros pensadores cujas ideias sobrevieram até aos nossos dias foi Empédocles de Agrigentum (495 a.C - 435 a.C). Dizia este grego que a vida vegetal surgiu primeiro após a formação da Terra e que a animal “desabrochou” das plantas. As plantas não produziam animais inteiros, mas partes deles: braços, olhos, pernas, cabeças, de todo tipo de animais e até humanas... Estas componentes individualizadas uniam-se e criavam criaturas extraordinárias e maravilhosas: centauros, monstros de duas cabeças e vários olhos, e todo o tipo de criaturas estranhas. Dizia Empédocles que as formas monstruosas que não conseguiam encontrar parceiros para se reproduzirem desapareciam rapidamente, extinguiam-se como hoje dizemos, sobrevivendo somente as formas cujas várias componentes do seu corpo funcionavam harmoniosamente.
É possível, entre uma barafunda de ideias estranhas, mitos e lendas da época, encontrarmos a ideia velada da noção que a evolução envolve a selecção natural, onde as formas mais adaptadas (as que tinham capacidade de se reproduzirem) é que sobreviriam.
Aristóteles (384 a.C - 322 a.C) citou Empédocles dizendo que ele foi o primeiro a dizer que as formas de vida melhor adaptadas poderiam ter aparecido por acaso e não por planificação (obviamente divina). Apesar dessa citação, a sua posição era claramente oposta. Foi Aristóteles que apresentou uma escada “evolutiva” em que ia das criaturas marinhas mais simples aos peixes, aos animais terrestres e no sentido ascendente, até à humanidade. “A Natureza não faz nada sem um objectivo. Está sempre a esforçar-se para alcançar a maior beleza possível”. Parecia assim aos filósofos da época que a humanidade se considerava como a perfeição divina, sendo o Homem a forma mais bela que a Natureza poderia alcançar. Aí estava a obra de Deus!
A ironia é que, na verdade, uma combinação das ideias de Empédocles sobre o acaso e a sobrevivência dos mais adaptados, em conjunto com a ideia de Aristóteles da evolução gradual, desde as formas mais simples de vida às formas mais complexas (embora não através de uma escada de perfeição crescente) é a base de uma versão exequível que consideramos ser a teoria de Darwin.
Nos séculos imediatamente posteriores ao nascimento de Cristo, algo notavelmente parecido com a moderna visão da evolução, mas baseada nas ideias veiculadas por Aristóteles e na noção da luta da Natureza para alcançar a perfeição, foi aceite e ensinada por alguns dos pais fundadores da Igreja Cristã. Gregório de Nissa (331-396) ensinou que a criação era potencial: Deus provia a matéria das suas leis e propriedades fundamentais mas que os objectos e formas completas do Universo desenvolviam-se posteriormente ao seu próprio ritmo, do caos primordial. Santo Agostinho (353-430) foi ainda mais claro dizendo que os germes originais das coisas vivas surgiram em duas formas, uma colocada pelo Criador nos animais e plantas e uma segunda variedade espalhara-se através do meio ambiente, destinada a tornar-se activa apenas sob as condições adequadas. A sua interpretação do registo bíblico da Criação não deveria ser literal como ocupando seis dias, mas sim seis unidades de tempo. Santo Agostinho liga a Criação ao crescimento de uma árvore a partir da sua semente, a qual tem o potencial para se tornar uma árvore. Deus criou o potencial para os céus e a terra e para a vida mas, neste enquadramento, os detalhes geravam-se a si mesmo de acordo por leis definidas por Deus (que não eram claramente do seu conhecimento). Não era necessário que Deus criasse individualmente cada espécie. Em vez disso o Criador fornecia as sementes do Universo e da vida e deixava-as desenvolver ao seu próprio ritmo. Em todos os aspectos com excepção da mão de Deus para iniciar o Universo a teoria de Santo Agostinho era uma teoria de evolução.
São Tomás de Aquino (no século XIII) aprova a ideia de que Deus pôs o Universo em movimento e depois foi descansar. Estas teorias foram aceites na Igreja até meados do século XVI. A partir desta altura a ideia de Criação Especial – a noção de cada forma de vida na Terra foi individualmente criada por Deus e tem permanecido inalterável desde a sua Criação - tornou-se a sabedoria aceite pela Igreja cristã e foi o padrão da Igreja até meados do século XIX. Francisco Suarez (1548-1617), jesuíta espanhol cuja educação religiosa o tornou particularmente hostil aos ensinamentos muçulmanos, emerge como um dos fundadores deste interpretação da Criação Especial.
Não posso neste contexto aprofundar esta questão, mas é importante lembrar que foi a partir de fontes muçulmanas que muitos textos clássicos gregos chegaram aos nossos dias, e que não é improvável que alguma mistura de ideias entre os textos clássicos e o pensamento muçulmano, pudesse ter tido influência no abandono da posição de Aquino.
Gostaria ainda de referir a posição de Francis Bacon (1561-1626) que sustentava que tanto a Bíblia como a Natureza eram obras de Deus e, portanto, o estudo da Natureza (obra de Deus) era tão importante quanto o estudo da Bíblia (palavra de Deus) para compreender Deus.
Poderei então concluir que Darwin não matou Deus, mas fez ressuscitar o Deus de Agostinho e Tomás.
Paulo Trincão
Deus de tudo e do nada, se existes,
uno e trino, suprema omnisciência,
trabalhaste seis dias e resistes
impassível do céu, com paciência;
se em vez da criação numa semana
tivesses operado um mês a eito,
esculpisses o barro com mais gana
e fizesses um mundo mais perfeito;
(repara, por exemplo, vê o homem
que se diz ser à tua semelhança
e que mata e devasta e cria a fome,
em nome do poder e da abastança);
perdoa-me a pergunta impertinente:
existes como O Ser, ou como ente?
Domingos da Mota
NOTA: Informações recolhidas no livro “Darwin” de Michael White & John Gribbin (Europa-América).
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8 comentários:
Este é o melhor artigo que li contra o criacionismo.
António Parente disse: Este é o melhor artigo que li contra o criacionismo.
Eu acrescentaria, este e o livro do génesis, para quem o quiser ler com olhos de ler!
In rectum natura... Olhai os lírios do campo.. Não são António Parente e xico com certeza...
Como me maravilho na beleza do criador e da sua peste suína, a malária e a SIDA que matará os seus seguidores...
CRIAÇÃO, EVOLUÇÃO, CIÊNCIA E RELIGIÃO
Muitos pensam que o conflito entre criação e evolução é entre a ciência e a razão, por um lado, e a religião e a fé, por outro. No entanto, nada poderia estar mais longe da verdade. A ciência é a mesma para criacionistas e evolucionistas. Os factos (v.g. DNA, fósseis, rochas, isótopos, estrelas, galáxias) são exactamente os mesmos para uns e outros. Do mesmo modo, os conhecimentos científicos são os mesmos. Não existe nenhuma observação científica que o criacionismo bíblico negue. O criacionismo apenas rejeita a filosofia naturalista, que afirma que a natureza é tudo que existe e nega a priori a existência de um Criador. É essa filosofia que muitos confundem hoje com a própria ciência.
Na verdade, os efeitos da existência e actuação de Deus são perfeitamente detectáveis através das observações científicas e históricas em si mesmas. Estas corroboram inteiramente o ensino Bíblico. Vejamos:
1. O Universo é um efeito da presença de Deus, já que ele não tem condições para se produzir a si próprio. Tanto quanto se sabe, a massa e a energia não se criam a elas próprias, antes se mantêm constantes. Do mesmo modo, toda a evidência aponta para o facto de que o Universo teve um princípio, estando hoje a perder energia e complexidade. As suas características corroboram que ele necessitou de uma causa que lhe tenha fornecido energia e ordem no princípio. Essa causa só pode ter sido um Deus todo poderoso, racional, espiritual e eterno, para além do Universo, tal como a Bíblia ensina.
2. O Universo encontra-se estruturado de acordo com leis físicas, as chamadas leis naturais. Por isso, ele pode ser estudado racionalmente. A ordem e a racionalidade inerentes ao Universo, juntamente com a sua extrema complexidade, permitem-nos corroborar a racionalidade, a omnisciência e a omnipotência de Deus. As leis da natureza são descobertas e formuladas pelos cientistas, mas foram criadas por Deus.
3. O Universo encontra-se plenamente sintonizado para a vida, falando os cientistas da existência de centenas de coincidências antrópicas. Também isso é inteiramente consistente com a existência de um Deus vivo que criou o Universo para manifestar a sua glória e para permitir a vida do ser humano criado à sua imagem e semelhança. A sintonia do Universo para a vida só é um mistério para quem não conhece o Deus da Bíblia.
4. O Código de DNA contém informação codificada, especificando a produção, a reprodução, o funcionamento e a adaptação dos seres vivos, em quantidade, qualidade e densidade que transcendem tudo o que a tecnologia humana é capaz de compreender e imitar. As observações científicas confirmam que não existe informação codificada sem inteligência. Não existe código sem inteligência. A informação codificada no DNA não reside nos fosfatos e nos açucares que o compõem, mas no significado assumido pelas sequências de nucleótidos. A vida só é possível graças à existência simultânea de informação codificada e do mecanismo necessário para a sua cópia, transcrição, tradução e execução. A vida é um efeito visível de Deus. De resto, não se conhece qualquer explicação naturalista para a origem da vida ou de informação codificada. A vida nunca poderia surgir por processos naturalísticos, na medida em que ela necessita de um ingrediente imaterial: informação codificada. As mutações aleatórias, a especiação ou a selecção natural não conseguem criar informação codificada capaz de transformar partículas em pessoas.
5) Os fósseis dizem-nos, acima de tudo, como é que muitas espécies foram abruptamente sepultadas, antes mesmo de se decomporem ou serem comidos pelos predadores. Essa mensagem dos fósseis é inteiramente consistente com a ocorrência de um dilúvio global. O mesmo se diga da proliferação de fósseis vivos e fósseis polistráticos. O facto de, em muitos casos, muitos desses fósseis de animais marinhos poderem ser encontrados muito acima do nível do mar é um testemunho eloquente da veracidade do relato bíblico do dilúvio. O dilúvio global descrito na Bíblia fornece o contexto extraordinário que tornou possível a rápida deposição de sedimentos e o sepultamento abrupto de biliões de seres vivos. As concentrações de isótopos, a coluna geológica, a deriva dos continentes, a Idade do Gelo, a origem dos oceanos e a origem das montanhas também encontram uma explicação plausível dentro do modelo bíblico do dilúvio global. Dele falam, igualmente, mais de 200 culturas da antiguidade.
6) Uma outra importante evidência da presença de Deus é Jesus Cristo, Deus connosco. Ele foi visto por muitas pessoas, as quais presenciaram e registaram com precisão os seus milagres, a sua morte e a sua ressurreição. Eles registaram que Jesus era todo o poderoso e que a natureza obedecia prontamente às suas ordens. Ele curava cegos, ressuscitava mortos, transformava a água em vinho, andava sobre as águas, acalmava as tempestades, etc. Isso foi visto e registado, podendo ser investigado historicamente. A morte e a ressurreição de Jesus Cristo corroboram a mensagem bíblica de que Deus vai restaurar toda a criação corrompida por causa do pecado humano, dando vida eterna a quem o aceitar como Salvador.
Infelizmente para os evolucionistas, o Big Bang nunca foi observado por ninguém. A origem do sistema solar a partir de uma nebulosa tão pouco foi observada. A origem acidental da vida, também nunca foi observada ou explicada. Também o hipotético ancestral comum nunca foi visto ou descrito. A transformação de uma espécie menos complexa noutra diferente e mais complexa também não foi observada na natureza ou em laboratório. Trata-se, em todos esses casos, de inferências feitas a partir da interpretação dos dados observáveis no presente com base na filosofia naturalista, que nega a existência e a revelação de Deus.
Ou seja, mesmo do ponto de vista empírico, o criacionismo é claramente superior ao evolucionismo, na medida em que faz apelo a factos historicamente testemunhados e investigáveis. O evolucionismo remete os seus principais factos para um passado inacessível e cuja ocorrência real é impossível de provar. Os evolucionistas querem que troquemos a nossa fé em Deus e na sua Palavra pela fé nas suas próprias filosofias naturalistas, falíveis e destituídas de fundamento.
Mais informação em:
www.creation.com
www.answersingenesis.org
www.creationwiki.org
Génesis 1 e 2 são, a este propósito, extremamente elucidativos ...
Contradições criacionistas !
Já estão disponíveis em diversos formatos para download e para assistir direto as palestras do II Simpósio Darwinismo Hoje no site do Mackenzie.
Link: www.mackenzie.br/2_darwinismo_videos.html
Formatos:
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E o debate na Mesa Redonda.
O Parque Discovery espera uma visita de V.Exas., na:
Quinta Oásis
Rua Casal do Mato
Barreiralva
2640 - 416 Mafra, Portugal
Portugal
http://www.discovery.pt/
Até breve.
Sou o autor do "Poema da interrogação" acima postado por Paulo Trincão, como se poderá verificar no meu blogue http://fogomaduro.blogspot.com/.
Uma vez que o poema está aqui truncado do seu título e da respectiva epígrafe, penso que não será o melhor exemplo para comprovar, poeticamente, a tese do criacionismo, antes pelo contrário, dado o peso da ironia que atravessa o poema.
Pessoalmente, no estado dos actuais conhecimentos científicos, defendo o evolucionismo e não o criacionismo.
Peço ao autor da postagem o favor de colocar no poema o seu título e a respectiva epígrafe.
Domingos da Mota
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