sexta-feira, 10 de abril de 2009

Delgado Domingos sobre o aquecimento global


Em Fevereiro de 2009, José Delgado Domingos foi entrevistado para uma peça jornalística sobre aquecimento global. Uma vez que as respostas solicitadas foram truncadas, achamos interessante transcrever na íntegra a opinião do professor jubilado do Técnico que, dada a sua extensão, será dividida em duas partes, uma sobre aquecimento global propriamente dito e outra sobre modelos climáticos e a mediatização do problema.

Há um aquecimento global do planeta?
O termo “aquecimento do global do planeta” refere-se habitualmente a uma temperatura média do ar a 2 metros da superfície. É um valor de referencia que teria sentido físico se todas as componentes do sistema climático estivessem em equilíbrio entre si, nomeadamente a atmosfera, a litosfera e os oceanos , o que não sucede. Aliás, em qualquer ano, encontramos diferenças de temperatura entre uns locais e outros que são superiores às que se verificaram entre as médias nas idades do gelo e as actuais. Existem grandes limitações no estabelecimento das próprias médias porque as estações de medida estão muito afastadas, nos oceanos são muito poucas e a sua fiabilidade e rigor variaram significativamente ao longo dos cerca de 150 anos em que existem. Mas aceitando que as medidas, directas e indirectas, existem e são rigorosas, o facto é que o tempo sempre variou ao longo dos anos, dos séculos e dos milénios, com grandes e pequenas glaciações e períodos quentes interglaciais muito antes de o Homem existir. A estas variações dá-se o nome de variabilidade natural. Tendo em conta a variabilidade natural, a grande questão é saber se as acções do homem aumentaram essa variabilidade natural e se não poderão vir a provocar desequilíbrios catastróficos. Para esta questão fundamental não existe, até hoje, uma resposta objectiva e convincente. Existem, isso sim, inferências subjectivas e contraditórias mau grado o aparato científico e computacional invocado. Pessoalmente, acredito que os dados observados mostram um aquecimento global mas sem as consequências alarmistas que, em geral, lhe são atribuídas pela comunicação social. Em contrapartida, há alterações climáticas locais e efeitos catastróficos decorrentes da mera variabilidade climática que só por incúria, incompetência ou ganância não foram ou não são tidos atempadamente em conta. Por exemplo, os efeitos de um furacão Katrina, ou as consequências de construir em arribas ou leitos de cheia são de há muito conhecidas mas ignoradas pelos que desejam atribuir tudo ao aquecimento global. O próprio termo “aquecimento global” é infeliz porque tende a ignorar o facto de poder existir arrefecimento global, como sucedeu, por exemplo, entre as décadas de 40 e 70 e é natural que volte a suceder.

Se sim, o que o está a provocar?
Há variabilidade natural e há efeitos antropogénicos de que o CO2 e outros gases com efeito de estufa (GEE) são o exemplo habitual. Todavia, há factores locais e globais pelo menos tão importantes como os gases com efeito de estufa que têm sido ignorados pela comunicação social. Entre estes encontram-se as alterações no uso do solo (desflorestação, urbanização, etc). A importância exagerada atribuída ao CO2 e outros GEE é consequência directa de poderem ser considerados como uniformemente distribuídos na atmosfera, o que simplifica os modelos climáticos e as simulações com os computadores existentes. Actualmente, não existe ainda o conhecimento suficiente de alguns fenómenos físicos e biológicos fundamentais nem a capacidade de cálculo para tratar adequadamente os efeitos locais e suas implicações globais. Por exemplo, nenhum dos modelos existentes consegue prever as alterações no início e fim das estações, que têm efeitos ecológicos muito importantes, nem fenómenos bem conhecidos e tão básicos como o El Niño ou a oscilação do Atlântico Norte, entre outros.

1 comentário:

Anónimo disse...

Carlos

Gostaria de saber entao se o CO2 contribui ou nao para o efeito de estufa...
Obrigado

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