segunda-feira, 20 de abril de 2009

Refutado

Em resposta a um comentário de Vítor Guerreiro ao meu artigo "Jornalismo de Qualidade e Palermices", defendi o seguinte:
Não é verdade que usar sem pagar o que alguém se esforçou por produzir seja sempre imoral. Depende das circunstâncias. É imoral quando 1) colocamos em risco a viabilidade económica de uma vida dedicada a produzir isso que consumimos ou 2) somos free-riders, isto é, só podemos consumir de borla porque outros pagaram.
Outro leitor atento chamou a atenção para a palermice desta ideia que defendi sem reservas: que é imoral fazer algo que torne economicamente inviável uma dada actividade. Se esta ideia fosse verdadeira, seria imoral fazer algo que torne economicamente inviável a escravatura, por exemplo. O que é imoral é agir de modo a tornar economicamente inviável uma actividade que prezamos e que de outro modo não pode subsistir.

Por exemplo, eu gosto de ler boa divulgação científica, além evidentemente de filosofia. Assim como ensaios históricos e biografias. E consumo desde há muito com gosto boas obras de consulta (enciclopédias e dicionários). É para mim impensável fazer escolhas económicas que ponham em causa a sobrevivência económica dessas mesmas coisas. Não me chateia que as novelas brasileiras ou os professores de Reiki ou os blogs de tretas se tornem coisas economicamente inviáveis, mas preocupa-me que a cultura que prezo se torne economicamente muito difícil. O caso é que muitas pessoas que dizem prezar a cultura não a prezam realmente, porque se o fizessem abririam os cordões à bolsa. Quem nunca comprou uma enciclopédia mas financia tolices como o Firefox ou a Wikipédia faz isso por motivos exclusivamente religiosos, e não por prezar a manutenção da cultura. Na verdade, trata-se de pessoas cujos horizontes de leitura não ultrapassam o que se pode ler gratuitamente na Internet. Defender que essas coisas devem ser gratuitas, mas depois paga quem quer é defender que quem deve ser pago por produzir uma enciclopédia não é quem a escreve mas o engenheiro informático que tem a ideia brilhante de viver a vida à custa do trabalho cultural dos outros.

E é este o ponto fundamental da questão. Um modelo de financiamento da cultura baseado no voluntariado constitui uma forma de tornar economicamente inviáveis ou muitíssimo difíceis actividades culturais cujos resultados prezamos. Isto não é uma novidade, note-se. Ao longo da história da humanidade isto sempre foi assim, porque a generalidade das pessoas sempre preferiu palermices, ainda que depois usufruam do resultado da dedicação cuidadosa à cultura, nomeadamente quando estão doentes e usufruem da medicina científica.

O meu protesto é duplo. Por um lado, sublinho que no novo mundo digital nada muda de substancial, ao contrário do que querem pensar os evangelistas da RNED (Religião Nova Era Digital). Por outro, chamo a atenção para duas realidades: se houvesse assim tanta gente a prezar a cultura, a sua viabilidade económica não seria um problema; e é incoerente reconhecer que a generalidade das pessoas prefere comprar carros e telemóveis e televisões de luxo a comprar cultura, e ao mesmo tempo dizer que precisamos de pôr a cultura de borla para essas pessoas. A minha insistência é que este pensamento é uma forma de hipocrisia ventilada por quem quer realmente cultura, mas só se for de borla; para a generalidade das pessoas, ter cultura de borla ou paga é irrelevante porque nem de borla a querem.

Finalmente, esclareço que reconheço completamente o direito de preferir novelas brasileiras a Eça de Queirós, ou telemóveis de luxo a livros de divulgação científica. Mas reconhecer o direito a algo não é o mesmo que aplaudir essa escolha; uma estupidez não é menos estúpida por ser preferida pela maior parte da humanidade. Também não me passa pela cabeça tentar mudar-lhes os hábitos; na verdade quem procura fazer isso é quem defende a cultura de graça (como se isso tivesse algum efeito). Perante a estupidez generalizada da humanidade tudo o que é imperioso fazer é dizer às pessoas que há muitas maneiras de viver a vida, e que se uma pessoa não se sentir bem com as frivolidades do costume, pode-se viver a vida de outra maneira (ainda que a RNED não torne isso mais fácil). Compete a cada qual escolher o seu modo de vida.

111 comentários:

Anónimo disse...

Stephen Hawking internado
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gWO-x5pRRzjoTWjMNV1CsMcd4gWw

Anónimo disse...

A sério que diz mesmo "reconheço completamente o direito de preferir novelas brasileiras a Eça de Queirós"?
Obrigado mestre, obrigado por esta liberdadezinha!

Aquilo que sei da leitura de blogues americanos é que há académicos de muito prestigio a trabalhar gratuitamente para a wiki, aliás basta visitar páginas que têm dezenas de referências bem feitas, como esta: (http://en.wikipedia.org/wiki/X-ray_crystallography), para perceber que há pessoas muito melhores que o Deside que acham bem a wiki.

Continuo a pensar que é impossível pagar livros que custam 300 euros e que é preferível fazer terrorismo cultural e pô-los nos torrents, porque é uma roubalheira descarada, são mais caros do que telemóveis de luxo!

Vou ver se conto o número de posts do Deside sobre o tema, imagino que sejam muitos. Como é que o Público compra 20 crónicas seguidas sobre o mesmo tema? Depois queixam-se que não têm leitores!
luis

Anónimo disse...

Caro Desidério como o amigo insiste terei de me repetir,
Parece-me que o seu raciocínio está errado.
Deduzimos das suas palavras que o amigo desidério agrupa as pessoas em dois grupos.
Os interessantes, cultos e inteligentes(ávidos consumidores da boa cultura e decerto todos seus amigos) e noutro grupo toda a restante gentalha desinteressante, inculta e acrítica que se afunda nos sofás frente ao lixo superficial que caracteriza o cheiro da má cultura.
Depois há o problema de uma certa tendência fascista na oposição nós/eles.

artur campos

Anónimo disse...

A sua posição não pode ser racionalmente defendida porque analiza mal o problema e deduz a partir desse erro.
Depois há uma questão de generalização e redução.
Faz me lembrar o modelo de Watson comportamento em função de uma resposta a um estimulo.
Ora bem a questão da gratuidade é fundamental na democratização da cultura e o trabalho voluntário e de qualidade vai ter e tem de ter uma expressão significativa.
A oposição nós eles é absolutamente errada e ridicula assim como a tentativa de conceito de "boa cultura".
A verdade é que os mais frágeis são facilmente manipulados e não bastasse ainda são discriminados socialmente pelos seres cultos e dotados dos quais o senhor se pensa pertencer ou antes, existir.
A sua opinião devia primeiro que tudo envergonhar-nos.

artur campos

Vítor I. disse...

Até já o Firefox foi metido ao barulho! Gostava de saber qual o prejuízo causado à cultura por um programa de navegação. Certamente que o Sr. Gates terá razão de queixa, mas penso que o autor do artigo não defende monopólios inibidores da inovação e da evolução tecnológica.

Já que não gosta do Firefox use o Opera que é ainda melhor e é produzido por uma empresa que dá (bastante) lucro.

Ciência Ao Natural disse...

"E é este o ponto fundamental da questão. Um modelo de financiamento da cultura baseado no voluntariado constitui uma forma de tornar economicamente inviáveis ou muitíssimo difíceis actividades culturais cujos resultados prezamos."

Duas questões:
1- Dá valor ao que aqui publica?
2- É pago por escrever aqui?

Luís Azevedo Rodrigues

Anónimo disse...

É sinal de inteligência preceber quando uma ideia deixa de ser interessante e se torna ridicula, ao aplicá-la a tudo que mexe!

João Sousa André disse...

Caro Desidério, quanto a esta passagem:

«quem deve ser pago por produzir uma enciclopédia não é quem a escreve mas o engenheiro informático que tem a ideia brilhante de viver a vida à custa do trabalho cultural dos outros»

pergunto o seguinte: se as pessoas sabem o que é a Wikipedia e nela escrevem sem pedir dinheiro, onde está a imoralidade? Por outro lado, o tal engenheiro informático também está a ter um trabalho, o de programação, manutenção, etc. Para não falar nos custos associados à memória necessária para manter a "enciclopédia". Por outro lado, onde vão os autores das enciclopédias buscar a sua informação? Tradicionalmente, suponho que a livros e artigos, os quais foram pagos. Mas tê-lo-ão sido por eles, pelos autores da enciclopédia tradicional (digamos, a Britannica)?

Já esta parte: «é incoerente reconhecer que a generalidade das pessoas prefere comprar carros e telemóveis e televisões de luxo a comprar cultura, e ao mesmo tempo dizer que precisamos de pôr a cultura de borla para essas pessoas» levanta uma questão. Qual a função do estado? Se lhe reconhecermos uma função educativa e de fornecedor de acesso à cultura, não é incoerente o que está acima descrito. E se não lhe reconhecermos tal função, optarmo por uma visão do mercado mais, digamos, "neoliberal", então a mesma situação se verifica, mas de forma oposta.

Primeiro caso, Estado intervencionista: os automóveis e televisões e telemóveis de luxo são isso mesmo, produtos de luxo, não essenciais. O Estado não tem que os financiar. Quem os compra, fá-lo com os meios que possua. Já a cultura será importante para a população, pelo que o Estado deve apoiá-la.

Segundo caso, modelo de mercado completamente livre: os produtos têm o valor que o mercado lhes atribuir. Os tais produtos de luxo são caros porque as pessoas estão dispostas a pagar esse preço. A cultura torna-se barata ou "à borla" porque os utilizadores não a consomem de outra forma.

Eu não estou nem num extremo nem no outro, pelo que defendo uma certa liberdade de partilha de informação (que não é o mesmo, para mim, que partilha de bens) ao mesmo tempo que defendo que o Estado subsidie a cultura (em parte) e que o mercado estabeleça o preço que entender para os produtos de luxo.

João Sousa André disse...

Escreve o Luís: «Continuo a pensar que é impossível pagar livros que custam 300 euros e que é preferível fazer terrorismo cultural e pô-los nos torrents, porque é uma roubalheira descarada, são mais caros do que telemóveis de luxo!»

Ora é aqui que há um erro. Estes livros (habitualmente são os técnicos) talvez sejam caros, mas há um trabalho de base que não é formatado (como na indústria musical e cinematográfica) e que é feito ad-hoc pelos especialistas. Enquanto o preço de um CD (por exemplo) inclui mais dinheiro para a empresa discográfica, de distribuição, o marketing, etc, e os autores recebem pouco do dinheiro, no caso de um livro desses, técnico, há muitas vezes que pagar a vários autores no mesmo livro, que o escrevem fora das suas funções profissionais (são engenheiros ou professores, por exemplo) e cujo contributo tem um passado de muitos anos de experiência e estudo. Além disso há a questão da escala: um CD modesto pode ter umas boas dezenas de milhares de vendas, enquanto que um livro destes terá umas centenas de vendas, na melhor das hipóteses.

Há ainda outro aspecto a considerar: esses livros são, normalmente, facilmente encontrados nas bibliotecas, e de graça. Os CD's ou músicas nem por isso. Há uma diferença muito grande. E quem descarrega um livro técnico por torrents, dificilmente o vai ler. Mantém-no apenas porque pode.

João Sousa André disse...

Uma questão nisto tudo: porque razão é proibida a troca de ficheiros mas não era proibida a troca de cassetes e a fotocópia de livros (pelo menos na minha universidade era proporcionada sem limites aos alunos)? Um dos argumentos é a questão da qualidade, mas um ficheiro de mp3 ou um vídeo em avi não é a mesma coisa que uma música no CD, no DVD ou no blu-ray. Também ter um livro em pdf não é o mesmo que ter o livro propriamente dito. Para cúmulo, se eu comprar um roduto (um CD, um DVD ou um livro), porque razão hei-de ser impedido de o dar a conhecer a amigos? Posso emprestar o CD a um amigo, mesmo sabendo que ele o poderá copiar. Poderei fazer o mesmo com o DVD ou com o livro. Desde que eu não o venda, qual é o crime? Eu estou a partilhar informação, ou seja, o conteúdo de um produto, mas não o produto em si. Se isto não é permitido, também não deveria ser permitido recitar um poema em voz alta.

E, já agora, que me diz o Desidério do facto de as empresas discográficas incluirem software anti-cópia nos seus CD's? Se eu comprar um Cd, porque razão hei-de ser impedido de o copiar para o formato que eu bem entender? Se eu quero ouvir as músicas do CD que comprei no meu computador sem ter que andar com o CD atrás, ou no meu iPod ou telemóvel, porque razão hei-de ser impedido? Note-se que paguei pelo produto. Qual a razão para aquilo? Isso parece-me uma restrição dos meus direitos enquanto consumidor.

Por fim, há a questão do mercado. As empresas dizem que, caso não haja pirataria, os utilizadores passarão a comprar os produtos. Por outro lado, há a questão de qual o valor que os consumidores atribuem ao produto. Note-se que todos os CD's têm habitualmente o mesmo preço, sendo que variações de mais de 25% no preço estão relacionadas com edições especiais (duplas, triplas, com DVD's, etc). Num livro, por exemplo, isso não sucede. Os livros custam frequentemente 200% mais do que outros na mesma livraria, do mesmo autor e sem terem que ser edições especiais. Há um certo mercado a funcionar. No mercado musical isso não sucede. Há aqui uma assimetria de algum tipo.

Eu sei que isto foi tudo motivado pelo Projecto Gutenberg e que trata de livros. Eu uso os CD's como referência porque o mercado musical é o principal advogado do fim da pirataria. Já no caso do projecto Gutenberg, devo confessar que não tenho uma posição definida, por compreender ambos os lados.

Vitor Guerreiro disse...

Se as pessoas fossem 90% sensatas e apenas 1% borlistas, não teria de haver DRM e os preços dos livros e discos seriam muito inferiores, tal como há albuns a 3 euros no itunes store, precisamente porque o site é economicamente viável. Se alguma coisa provoca a atitude irracional de alguns editores que vendem ebooks a preço de hardback é a falta de sensatez e o egoísmo dos 90% de borlistas. É fácil para estes esbracejar e cuspir e bater no peito porque não são eles a fazer investimentos pesados à espera de retorno para pagar a empregados e alimentar a família. É muito fácil colocar-se na posição do cínico marginal que tudo despreza como emanações da venalidade burguesa.

Isto é... até ao dia em que por artes do diabo os vemos à frente de um negócio. Aí o caso muda de figura. Quando trabalhei em lojas e armazéns de tintas, os mais notórios filhos da mãe que conheci não vinham da hierarquia, eram idiotas invejosos que vinham do mesmo meio que nós, os camelos eventuais, mas não descansam enquanto não trepam para a jaula acima dos velhos colegas. Aí dão livre rédea à vilania. Nada pior do que um pelintra com dor de corno convencido de que é um aristocrata e o mundo lhe deve algo. Sai de baixo!

Anónimo disse...

"E, já agora, que me diz o Desidério do facto de as empresas discográficas incluirem software anti-cópia nos seus CD's? Se eu comprar um Cd, porque razão hei-de ser impedido de o copiar para o formato que eu bem entender?"

E já agora, caro João, que me diz de eu comprar um DVD com DRM (tecnologias anti-cópia) e não o conseguir ver legalmente no meu leitor de DVD?

Eu não tenho televisão, nem leitor de DVD de sala. Não sinto falta. Uso o meu computador para tudo, trabalho e lazer. Depois de experimentar windows e mac os, decidi-me por GNU/Linux, um sitema estável, sem vírus, sem adware, etc, que me permite ter segurança enquanto trabalho e tem as ferramentas que me possibilitam uma maior produtividade.

(à parte: a propósito do GNU/Linux eu gostaria de pedir ao sr Desidério que não mentisse aos seus leitores. O sr. Desidério disse aqui há tempos na sua "Crítica" que a razão pela qual as pessoas não preferem GNU/Linux é pelo facto de quase não existir software para este sistema operativo, o que é manifestamente falso.
Provo: neste momento estou a usar Debian, uma distribuição entre centenas que contêm mais software, estou a usar apenas um nível dessa distribuição, stable, de três que posso escolher com mais software, estou ainda a usar apenas os repositórios oficiais de dezenas que poderia usar e que contêm mais software.
Assim, com um mínimo eu tenho disponíveis para instalar mais de 23000 pacotes de software, nas mais diversas áreas: matemática, física, astronomia, produção de textos científicos, Humanidades, etc
Com o mínimo dos mínimos, eu tenho 23000 pacotes de software, prontos a instalar. Acha pouco? Quase não há software?)

Continuando, para ver um DVD com DRM no meu leitor eu teria de instalar software que quebrasse o DRM. Mas a lei portuguesa proíbe isto (pode dar até um ano de prisão). Por isso não vejo. Claro que a lei, justa, fornece uma solução: ir à IGAC e pedir o conteúdo sem DRM, que as editoras colocaram lá aquando do registo.
Ao fim de um ano a falar com a IGAC, lá confessaram que não têm nada, as editoras não colocaram lá os conteúdos e a IGAC não lhes pediu.
Deixei de comprar DVD e CD com DRM. E aproveitei e deixei de dar dinheiro a toda e qualquer empresa que promova DRM: Sony, Universal, Lusomundo, Apple, Microsoft, etc

Como faço? Simples, há excelente música sem DRM que compro, em CD. Mas também há excelente música, filmes e livros livres, em creative commons, gratuitos, legais.

Eu prefiro mil vezes fazer uma doação a um autor que disponibilize a sua obra gratuitamente, do que dar dinheiro a empresas que me restringem os direitos que tenho, que me servem mal, que obrigam a utilizar formatos (de documentos por exemplo) fechados, não standard, que acham que têm o direito de me dizer quantas vezes eu posso ler aquele livro (que eu comprei), ou onde posso ver aquele DVD (que eu comprei).

Não, sr Desidério, isto não é religião. Isto tem a ver com a lei.

E não, eu não quero a sobrevivência económica de filmes e música e livros que vêm com ordens como: não pode ler isto em voz alta, não jogar isto mais do que três vezes, só pode ver isto no leitor que nós quisermos, se quiser o mp3 do cd que comprou tem de o pagar...

Sabe quanto tempo demora a fazer uma cópia de um mp3? (experimente com um mp3 sem drm, que tem direito à cópia privada, se tiver drm não o faça que é ilegal)
2 segundos - o tempo de faezr copy/paste
Sabe quanto custa? zero euros.

E não me venha com o argumento das editoras: "ai é para os autores coitadinhos" porque sabemos muito bem que a grande fatia não vai para os autores.
Felizmente muitos estão a abrir os olhos e a perceber que não precisam daquelas editoras que se aproveitam do seu trabalho.
Houve 2500 pessoas que pagaram 300 dólares por um cd que estava disponível gratuitamente e legalmente na web.

Sabe porquê? Porque os consumidores vão passar a pagar por aquilo que eles querem, por aquilo que eles acham bom.

Lembra-se daquele cantor que ao vivo desafinava, mas que a editora fez tal campanha de marketing que ele tinha o cd no top?
POis cada vez mais, este tipo de cantor vai deixar de ter hipótese.
O sr tem pena, quer ajudá-lo? Força. Eu não.
Paula

Anónimo disse...

"Se as pessoas fossem 90% sensatas e apenas 1% borlistas, não teria de haver DRM "

Isto é falso. O DRM não protege a obra. Tecnicamente, os vários tipos de DRM têm vindo a ser quebrados, com uma facilidade espantosa.
Aliás, a própria Sony admitiu aqui há uns meses que o DRM incentiva a pirataria.

O DRM castiga as pessoas que querem cumprir a lei e promove aquelas que a não cumprem.

O DRM NÃO é um mal necessário, como parece dar a entender. Até porque a tecnologia não gere direitos, o que gere os direitos é a lei.
paula

nuvens de fumo disse...

Notas piedosas:
1) a cultura Sr. Desidério tem milénios, passou algumas dificuldades, e não se extinguiu. tenha calma, ela vai conseguir sobreviver.
2) a cultura daqui a 1000 anos provavelmente não há-de ser nada daquilo que acha neste momento importante, aproveite o momento e deixe as gerações vindouras darem cabo daquilo que pensa ser importante. Para isso elas estão cá
3) a cultura tb é lazer, aproveite as moças do Reiki , são pouco consistentes do ponto de vista intelectual mas tem energias escondidas, desperte os seus shakras...
4) Não leve o problema cultural tão a peito, veja o deserto da produção nacional quando comparado com qualquer país e faça como eu: encomende na amazon e de preferência em línguas com mais falantes, fica mais em conta e não tem tantos erros de tradução. há a versão segunda mão, não tão barata como a gratuita mas anda lá perto, tem livros classicos a um euro

5) nem tudo o que é gratuito é mau, há iniciativas de grande mérito, vai ter imensos livros divulgados pela unesco:

http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1207489&seccao=Livros

Nem tudo é mau neste mundo....

PART disse...

O que é o "RNED"?

João Vasco disse...

Desidério:

Na caixa de comentários da discussão anterior, o comentador João Pedro tinha escrito:



«A maioria das pessoas não gosta de cultura boa.
Logo, "o mercado da cultura boa" não é viável economicamente num sistema borlista.
Logo, para "o mercado da boa cultura" sobreviver teremos de pagar por ela.


Neste sentido, quando quisermos ter acesso a boa cultura, teremos de pagar por ela - a não ser que alguém a produza voluntariamente.


Daqui não se infere que a Wikipedia e o projecto Gutenberg sejam maus.
Se me derem cultura boa de graça, não há mal nenhum nisso.
Se o serviço for mau, eu procuro qualidade noutro lado (possivelmente pago).
Para as pessoas que não valorizam a cultura boa, se a Wikipedia e o Gutenberg não existissem, elas não iriam buscar o serviço noutro lado.
Logo, quer prestem um serviço de boa ou má qualidade, o projecto Gutenberg e a wikipedia não são maus.



Agora que percebo o argumento global vejo que ele não é radical. Apenas implica que quando as pessoas quiserem cultura boa em princípio vão ter que a pagar - como era dantes.

A única diferença do sistema borlista para o antigo parece ser a seguinte: enquanto que dantes o povão não recebia cultura nenhuma, agora recebe-a de graça mas de má qualidade; as pessoas que valorizam a cultura continuarão a pagá-la normalmente.»

O Desidério não respondeu a estes argumentos, mas eu creio que eles, assumindo como premissas as afirmações que o desidério faz, chegam à conclusão que não faz qualquer sentido considerar moralmente errados projectos como a wikipedia e o projecto Guttenberg.

(Nota: eu não aceito a premissa segundo a qual a wikipedia em inglês ou o projecto G. são "cultura de má qualidade". Apenas noto que assumindo essa premissa se chega mesmo assim à conclusão que o Desidério não tem razão ao considerar a participação nestes projectos como moralmente errada)

Anónimo disse...

Estava-me a lembrar que (e uma vez que o Desidério só tece considerações, não as apoia com números) que eu também posso ter o argumento inverso. A "borlização" aumenta a qualidade dos produtos oferecidos porque obriga a quem quer ser remunerado pelos mesmos a oferecer algo cujo diferencial seja percebido como merecedor do dinheiro pedido. Que eu saiba até hoje a facilidade de acesso à informação aumenta o conhecimento e a potencial qualidade das decisões e, consequentemente, a nossa qualidade de vida em geral.

A outra nota que faço é que projectos como o wikipedia e guttenberg são parecidos com qualquer associação, olhem, como o Automóvel Club de Portugal, para o qual as pessoas pagam voluntariamente para usufruirem de uma série de serviços. A wikipedia é paga por doações directas e pelas horas de trabalho oferecidas por milhares de utilizadores. A massificação diminui também o esforço que cada um tem de prover para o projecto continuar viável. O serviço oferecido é informação, com um nível desigual de qualidade mas um excelente ponto de partida para pesquisas mais profundas e que tende (globalmente, em nichos especificos já o atingiu), no infinito, para a excelência.

Anónimo disse...

Oh meu amigo...saia lá da sua bolha e tente perceber realmente qual é o mundo que o rodeia...e já agora, leia algumas das coisas que o sr. Don Tapscott publicou e veja algumas das suas conferências e perceba o quão minúscula e mesquinha é a sua visão...

Por acaso, esse senhor está neste momento a apresentar a sua keynote em Lisboa: http://www.itu.int/osg/csd/wtpf/wtpf2009/programme-dialogue.html

Já agora, devo informar que estou a comentar este post, como anónimo, porque não tenho o hábito de comentar em blogs de..."trolls", porque também eu, não os quero no meu blog.

Acrescento que sou utilizador do Firefox em Mac OS X (sabe o que é?) e Windows e cheguei a este post através do Twitter (com certeza que já terá ouvido falar)...

Já agora, este blog quer enquadrar-se em que categoria? Começa por ser gratuito...e não me parece que faça grande defesa da cultura...estamos portanto a falar de uma tolice, correcto?

Tenho dito!

Vitor Guerreiro disse...

recitar poemas em voz alta e emprestar livros aos amigos todos não põe em causa a viabilidade económica destas actividades. fotocopiar indiscriminadamente livros e meter discos nos torrents sim.

Mais uma vez, as pessoas perdem-se nas discussões da metafísica do acto. A discussão não é metafísica, é prática, ao mesmo tempo económica e moral. Não é uma discussão para saber se reter uma sinfonia na memória e ouvi-la na cabeça é uma violação de copyright. Se formos por aí, eu vou pintar a casa, digamos, a um leitor do blogue. Vou à loja comprar o esmalte acrílico para os móveis da cozinha. Imaginemos que uma lata me fica por 7 euros com o desconto a profissionais da pintura. O argumento dos borlistas é que é imoral eu cobrar mais do que 8 euros porque eles coitadinhos não me podem pagar a mão de obra, pois têm o jogo do Porto para ir ver, a conta da luz para pagar e uns filmes porno para alugar. Claro que se eu viver da pintura, vou cobrar aquilo que tenho de cobrar para pagar a minha subsistência, e não em função da metafísica da tinta. É o que essas pessoas já fazem para poderem pagar bilhetes para jogos e filmes porno.

Não defendi que o DRM é racional ou desejável. Disse que, tal como os preços absurdos dos ebooks académicos, é uma reacção irracional dos editores ao facto igualmente irracional de que 90% das pessoas são borlistas que se estão a cagar para a viabilidade económica das actividades.

Todos gritam e batem no peito por causa da imoralidade das empresas. Será que aplaudiriam se a maioria das empresas de software decidisse distribuir gratuitamente os programas, e fazer cortes substanciais em mão de obra? Afinal, essas pessoas depois de desempregadas, teriam mais tempo para fazer programas freeware e ir comer sopa a casa dos amigos. talvez comprar umas sandálias e uns pauzinhos de incenso com os contributos da "comunidade".

Ninguém é obrigado a ajudar o cantor desafinado. Basta não comprar as coisas dele. O que se passa com os borlistas é diferente: querem falar mal, não pagar, mas consumir a desafinação à mesma. Não consumam. Não podem pagar 500 discos de uma vez mesmo que sejam baratos? Comprem um de cada vez. Assim ouvem-nos mesmo, em vez de os acumular na estante e ouvir daqui a 20 anos. Não têm dinheiro? Há as fonotecas públicas. Ou então vão a menos jogos de futebol, comprem menos tabaco e vão menos ao cine paraíso.

Mesmo que o DRM não proteja os autores, os propagandistas da borla protegem-nos menos. Não é com o paleio borlista que os produtores financiam a sua vida. As pessoas só são contra o DRM porque querem ter discos sem pagar. Estão-se nas tintas para os produtores. Caso contrário, 90% do que os borlistas consomem nao seria material com copyright, e sim material aberto, fazendo cada consumidor individualmente contribuições ao autor. Mas isto é hipocrisia porque o grosso do que os borlistas consomem não é nestas circunstâncias. Estão-se tanto cagando para a comunidade como o mais venal capitalista.

Luis, podes dar uma lista dos tais livros de 300 euros que tanta falta te fazem e que é impossível leres de outro modo que não pelos torrents? Aposto que descobrimos alternativas.

joão viegas disse...

Desidério,

Eu até acredito que estejas de boa fé e vejo que (muito progressivamente embora) estas a aproximar-te da verdade.

Mas sera que não podes ir um bocadinho mais depressa ? Ora vamos la procurar ajudar-te.

Vamos conceder a premissa maior do teu raciocinio : existem bens que reputas superiores, e que admites valorizar, tu e mais os membros da casta superior que sabe distinguir o que é bom do que é mau. "Produzir" tais bens, ou descobri-los, e disponibiliza-los tem um custo. OK.

Agora, admitindo que tu valorizas esses bens (que acreditas serem superiores), achas ou não que faz sentido existirem esforços para que os tais bens também cheguem àqueles que não vêem, ou não sabem reconhecer, ou não estão dispostos a pagar, o seu valor ?

Hipotese 1 : Se achas que não, então estas a dizer que esses bens deviam unicamente ser colocados à disposição daqueles que os procuram espontaneamente. Estes são, por definição, quem pode melhor avaliar o custo que estão dispostos a suportar para fruirem dos bens em causa. Neste caso, devemos privatizar completamente a educação e a cultura (pois de acordo com esta teoria, não faz qualquer sentido existir uma administração publica da educação e da cultura, ja que se trata de bens que so interessam a uma minoria e para os quais a maioria se esta completamente marimbando). O mercado encarregar-se-a, nessa hipotese, de assegurar que o "preço" dos bens corresponda ao custo que as pessoas estão dispostas a suportar. O facto de existirem pessoas que colocam espontaneamente bens à disposição de todos de forma gratuita não impede o mercado de existir, nem constitui uma perversão do sistema. Eu tenho direito de oferecer gratuitamente maçãs a quem me apetecer e se eu quiser abandonar os frutos da minha macieira a quem os fôr colher, não estou a comteter nenhum acto contra o mercado. Se as pessoas todas fizerem como eu, pode ser que as maçãs deixem de ser comercializaveis, mas isso apenas derivara do facto de estarem disponiveis em abundância. O ar, hoje em dia, não se paga. A agua da fonte não se paga. Os agentes economicos terão então de orientar os seus esforços para a produção, ou a distribuição de bens mais raros, e isto não tem nada de mal. Camões esta disponivel na Internet ? Bom então eu, como editor, vou procurar editar um livro que proporcione ao publico o que ele não encontra na net (um livro com melhor qualidade tipografica, sem erros, com notas eruditas, com ilustrações, etc.).

Portanto, nessa hipotese, não ha nada de choquante no facto de existirem pessoas que disponibilizam bens gratuitamente. Trata-se de uma actividade que não te parece viavel economicamente, mas essas pessoas nunca pretenderam que o fosse, apenas pretenderem fazer uma coisa que achas parva, mas que não tem nada de mal (existir uma racionalidade de mercado em nada exclui que as pessoas possam ter comportamentos que não se inserem nessa racionalidade).

Resta apenas, nessa hipotese, explicares o que entendes por "bens superiores".

E uma questão que levantei ha dias e tu zangaste-te, mas ela é perfeitamente legitima. Nesse caso, o que permite distinguir os bens que reputas superiores e os selos usados ? O que é que distingue a "filosofia" da "filatelia" ? O que é que te permite afirmar que os bens que tu prezas são "superiores" aos prezados pela maioria das pessoas ? Nada...

Hipotese 2 : se achares que faz sentido levar os bens que consideras superiores junto das pessoas que não os procuram espontaneamente, precisamente porque se trata de bens superiores e que podem (devem) aproveitar a todos, então tens necessariamente de sair da logica do mercado. Com efeito, neste caso, o teu problema é ser necessario desenvolver esforços (e logo suportar custos) que não conseguem encontrar a sua contrapartida no funcionamento do mercado. E' o que se passa com maior parte dos serviços publicos, e nomeadamente com o serviço publico da educação e da cultura. Se as pessoas tiveressem de pagar um perceptor para dar aos seus filhos uma educação literaria, ensinar os principios da aritmética, a geografia, etc. (como foi o caso durante séculos), então a maior parte das pessoas vai "optar" por não dar educação aos seus filhos. Podemos dizer que é porque maior parte das pessoas são alarves e preferem comer um bife, ou que é porque eles não têm possibilidade de pagar esses bens ao seu preço. Isto até nem interessa muito, porque o que interessa é estarmos a falar da "produção" e distribuição de bens e serviços que o mercado não coloca ao alcance de todos. Se acharmos que devemos suprir essa lacuna do mercado, estamos necessariamente a sair da logica do mercado.

Agora isto não quer dizer que devemos esquecer que os serviços publicos têm um custo, que esse custo é suportado por todos, que ha que procurar que seja o menor possivel, para serviços de qualidade que aproveitem mesmo a todos. Estas questões são legitimas. Mas o que é incoerente, é pretender que esses custos são irracionais por não haver pessoas dispostas a pagar o seu preço no mercado. Isto é necessariamente assim, ou não estariamos a falar de um serviço publico...

Nessa hipotese, tem sentido criticar quem disponibiliza bens culturais de forma gratuita ? Claro que não tem. Essas pessoas estão a contribuir para um serviço publico e, das duas umas, ou estão a produzir bens de qualidade e, neste caso, estão a permitir que os impostos de todos sejam utilizados para produzir outros bens, igualmente de interesse publico. Ou o que fazem não tem qualidade, mas também não estão a roubar ninguém. Afinal todos os dias ha pessoas que escrevem disparates gratuitamente, na internet e noutros sitios. Devemos considerar que estas pessoas estão a pôr em casusa o trabalho das que se esforçam por dizer coisas ajuizadas e que cobram um preço por isso ? Obviamente que não...

Abraços filosoficos (gratuitos)

Anónimo disse...

"Todos gritam e batem no peito por causa da imoralidade das empresas. Será que aplaudiriam se a maioria das empresas de software decidisse distribuir gratuitamente os programas, e fazer cortes substanciais em mão de obra?"

O que está aqui subentendido é falso. Existem muitas empresas a trabalhar exclusivamente com software open-source, software gratuito. E ganham dinheiro. Bastante dinheiro. E ainda bem que assim é.
Paula

Mário Lino disse...

Caro Desidério,

E esses "numberszinhos" que muitos lhe têm vindo a pedir desde há muitos posts atràs? Vai algum dia agraciar-nos com eles ou vai continuar a perorar incansávelmente neste tribuna que lhe oferece o Público?

É que para alguém que pelos vistos cunhou com visível satisfação este novo acrónimo RNED (Religião Nova Era Digital), a sua patente relutância em apresentar provas factuais do que afirma não deixa de ser deliciosamente irónica.

Com efeito, ao recusar liminarmente de apresentar factos, números, não deixa o Sr. Desidério de ser culpado daquilo que precisamente acusa muitos dos seus comentadores: Uma postura evangélica e um tom missionário, baseada em vagas convicções pessoais sem qualquer sustentação factual (pelo menos até à data).

Em suma, como já lhe pedi encarecidamente Sr. Desidério: Numbers! Numbers! Numbers!

Rolando Almeida disse...

Caros,
Há aqui um aspecto que vale a pena desmascarar: a maior parte das pessoas que visitam o rerum natura não trabalham nas obras. São pessoas com alguma formação academica. São pessoas com este perfil que lido diarimanente há já 13 anos. Qual a relação destas pessoas com os livros? Népias, nenhuma. Mas quantas destas pessoas assumem que não compram livros? Nenhuma. Isto é tudo hipócrisia. As pessoas pura e simplesmente não compram livros porque não os vão ler. Os hábitos de leitura são muito baixos. Grande parte desta geração de pessoas fizeram o secundário sem nunca terem lido um único livro e tiraram licenciaturas a estudar no mês de janeiro para os exames de fevereiro e no mês de junho para os exames de julho. Se somarmos 4 anos isso dá uns 8 meses de leitura, ou marranço, que é a pior das leituras. Estas pessoas não tem hábitos de comprar livros, de abdicar de determinados bens para comprar livros. E isto explica parcialmente porque não aceitam grande parte dos argumentos do Desidério. Pois, soa-lhes estranho. No fundo esta reacção é puro reaccionarismo de gente hipócrita.

Rolando Almeida disse...

Somos mesmo um país de treta, trés francaise: o engraçado é ir para o café com um Dostoevsky debaixo do braço para fazer exibição pública do nosso alto interesse cultural.

Vitor Guerreiro disse...

Correcção rolando,

giro giro é levar o livro encadernado com o titulo em russo e o miolo com uma tradução brasileira, para depois falar mal das traduções brasileiras com um ar snobe.

Ah, e a capa em bilingue, para o pessoal da mesa vizinha e o empregado verem que é dostoievsky e pensar que este gajo deve ser mesmo muito profundo, com o cabelo esgroviado, a barba rala à che, a roupa rota a fingir que é um outsider, ao mesmo tempo que enrola cigarrinhos dos mais caros...

Anónimo disse...

Sr Rolando:
Isso é falso. Em 2009, estou a ler uma média de sete livros por mês. Neste número não conto os livros que leio de trabalho e de investigação. Tenho mais de 2000 livros que comprei e sempre, sempre utilizei bibliotecas.
E não compro mais livros do que os que costumo porque não tenho dinheiro para o fazer. E leio. Sempre.

O sr devia pensar duas vezes antes de lançar insultos gratuitos.

E não, não aceito os argumentos do sr Desidério. Não posso aceitar argumentos que são construídos com base em falsidades e desconhecimento.

Anónimo disse...

esqueci-me de assinar o comentário anterior.
paula

João Sousa André disse...

Paula, «Eu não tenho televisão, nem leitor de DVD de sala» eu também não. Ou antes, tenho um leitor de DVD, que está parado porque despachei a televisão. Uso o computador para tudo. Só nunca vi DVD's com o software anti-cópia que me impedisse de ver filmes no computador. Nunca os tentei copiar, mas nunca tive dificuldades em vê-los. Talvez eu tenha sorte por não comprar os filmes em Portugal.

Declaração de interesses, já agora. Tenho cerca de 200 filmes em DVD (que comprei legalmente) lá para casa e uns 80 em DivX dos quais fiz o download (essencialmente porque tenho muitas vezes dificuldades em os encontrar, especialmente a preços decentes), mas que vou substituindo por cópias legais sempre que as encontro. Tenho também uns 300 álbuns em CD legal e uns 100 copiados (e que ou não encontrei ou não encontrei a preços decentes) e que vou substituindo por CD's legais sempre que possível. Nunca comprei nada na iTunes. De livros, não faço ideia de quantos terei (são várias estantes, em minha casa e na casa dos meus pais, onda ainda deixei bastantes) mas não terei quase nenhum que seja copiado (salvo alguma coisa técnica que tenha copiado da biblioteca da universidade).

Não deixo esta declaração para provar que sou a favor da compra. Deixo esta declaração para explicar que, quando quero um produto de qualidade, estou disposto a pagar por ele. Se há gente que prefere fazer a assinatura da SportTV, que a faça. Não é comigo. Arriscarei, contudo, dizer que quem prefere assinar a SportTV a comprar livros também nunca iria fazer download dos mesmos da internet.

Sinceramente, alguém acha que quem faz download de um livro (ou CD ou DVD) num torrent (tem de o procurar e esperar que chegue, além de pagar a internet e a electricidade que o computador consome) vai gastar muito tempo a comprar livros se não puder fazer o tal download?

Caro Rolando Almeida, não julgue demasiado depressa porque pode ter surpresas. Aliás, se formos por julgamentos, a avaliar pela qualidade da sua escrita (não vou dizer que serei muito melhor), também não lê muito ou então não apreende o que lê. Em alternativa, está a escrever enquanto exaltado, oq ue nunca é boa ideia. Sei-o por experiência.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Não compreendo porque é que o Firefox é apelidado de "tolice".

Eu tenho-o, a par do Internet Explorer, e sei bem qual deles é que bloqueia com freqência e qual é que sempre se portou bem.

A tolice, se existe da minha parte, é ainda usar o I.E. de vez em quando...

Vitor Guerreiro disse...

paula, ou luís:

nao aceito os teus argumentos porque sao construídos com base em falsidades e desconhecimento.

O fornecedor de acesso à internet não é o editor nem o autor de um livro. Pelo mesmo raciocínio, o facto de pagar mensalmente o telefone dava-lhe direito a encomendar coisas de borla a vendedores que por acaso tivessem telefone nas paginas amarelas.

Anónimo disse...

caro João,
http://www.boingboing.net/2009/04/20/norwegian-p2p-downlo.html
Paula

Anónimo disse...

vítor
o sr deve ter um problema de interpretação. Eu NUNCA disse que o facto de pagar internet a um ISP me dá o direito de fazer o download de qualquer coisa sem pagar.
É que não dá, sr Vítor. Há vários políticos que colocaram essa hipótese, mas que eu saiba ela ainda não foi concretizada.
O sr não ponha falsidades na comunicação dos outros, sim?
Paula

João Vasco disse...

.

joão viegas disse...

Rolando de Almeida,


Não li os seus comentarios anteriores mas nestes dois ultimos (12:02 e 12:08), você demonstra, de maneira irrefutavel, que existe pelo menos um leitor deste blogue que não sabe do que fala.

O percurso logico entre esta asserção e a que afirma que somos um pais da treta, confesso que não o percebi muito bem. Mas também não interessa, pois é logicamente irrefutavel que somos um pais da treta...

João Vasco disse...

Rolando:

«Há aqui um aspecto que vale a pena desmascarar: a maior parte das pessoas que visitam o rerum natura não trabalham nas obras. São pessoas com alguma formação academica. São pessoas com este perfil que lido diarimanente há já 13 anos. Qual a relação destas pessoas com os livros? Népias, nenhuma. Mas quantas destas pessoas assumem que não compram livros? Nenhuma.»

Se elas não assumem, como sabes que é esse o caso?

Se em vez da falácia Ad Hominem dissesses alguma coisa sobre os argumentos que foram apresnetados, fazias mais pela discussão.

Em vez disso preferes insultar os intervenientes baseando-te nas tuas especulações infundadas.

Fica a saber que:

a) Não saco músicas, nem filmes, nem livros da internet.

b) Gasto uma proporção significativa do meu rendimento em livros.

c) Acho que o Desisdério não tem razão nenhuma.

d) Mesmo que todos aqueles que argumentam contra o Desidério não lessem livros e andassem a sacar livros para poupar dinheiro (mas a sacar para quê, se dizes que não os lêem?) isso não significaria que os seus argumentos seriam inválidos. O argumento vale pelos seus méritos próprios e não pela "virtude" de quem os profere.

João Sousa André disse...

Paula, obrigado. Isso segue um pouco o que sempre pensei (muitos CD's que tenho foram comprados depois da descoberta graças ao download).

Creio que a história do ISP de que fala o Vítor Guerreiro me era dirigida a mim, que falei dos custos do acesso à internet. Infelizmente demonstra que nem leu quem escreveu o comentário e que não entendeu minimamente que eu pretendia com aquela passagem.

Rolando Almeida disse...

João Vasco,
Mas por que raio te sentes atacado sempre que faço uma qualquer afirmação denunciante?
Do facto de as pessoas não assumirem não se segue que não adoptem a postura que indiquei. Aliás, esse é o problema. Se formos ao tasco da esquina beber um copo após o trabalho, aí as pessoas aí reunidas em regra não partilham destes problemas. Jogam às cartas e estão-se nas tintas para estes problemas. Eu tenho tanta legitimidade para afirmar que as pessoas regra geral adoptam uma postura hipócrita como tu para afirmares que não. Normalmente as pessoas hipócritas não dizem que são hipócritas. As minhas especulações são, portanto, tão infundadas como as tuas.

João Viegas,
A asserção aqui é que a cultura, os livros, o saber ainda são vistos como instrumento de poder para exibição pública. Não fosse então a importância imbecil que damos ao Dr e ao Engenheiro. O Viegas não vê isso? Acha que nós por cá não somos muito assim? Estoua defender alguma tese estranha à nossa realidade social? Bolas, devo andar mesmo enganado, sempre que saio à rua, sempre que ligo a TV, sempre que leio comentários nos blogs, sempre que abro os jornais e revistas.

Anónimo disse...

revejo-me nas palavras do João Viegas :) em ambos os posts.

Rolando Almeida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Rolando, mesmo que isso fosse verdade, como diz o grande Adolfo

"Mas o que é que isso interessa?"

e, como pergunta o JV, o que é que isso acrescenta à conversa?

Rolando Almeida disse...

Caro João André,
Afirma: "De livros, não faço ideia de quantos terei (são várias estantes, em minha casa e na casa dos meus pais, onda ainda deixei bastantes) mas não terei quase nenhum que seja copiado (salvo alguma coisa técnica que tenha copiado da biblioteca da universidade)."

para depois mais tarde afirmar:
"
Caro Rolando Almeida, não julgue demasiado depressa porque pode ter surpresas. Aliás, se formos por julgamentos, a avaliar pela qualidade da sua escrita (não vou dizer que serei muito melhor), também não lê muito ou então não apreende o que lê. Em alternativa, está a escrever enquanto exaltado, oq ue nunca é boa ideia. Sei-o por experiência."

Bem: 1º eu poderia daqui retirar (mas não retiro) que com essa coerência, que aprende nos livros? 2º se não escreve melhor que eu e lê muitos livros, como conclui que eu não leio muitos livros porque escrevo um pouco menos bem que você?

Ó João, não acha que leva a discussão por um caminho desnecessário?

Rolando Almeida disse...

Kyriu,
O que interessa é que as pessoas adoptam uma postura hipócrita camuflada de pseudo argumentação e isso parece ser relevante.

João Vasco disse...

Rolando Almeida:

Se dissesses que todos os chineses são crimonosos sem qualquer fundamento, eu poderia:

a) Dar-te um contra exemplo enquanto demonstração da falsidad da tua afirmação

b) Acusar-te de fazer tal afirmação sem fundamento, mesmo que não tivesse eu fundamento para afirmar a sua negação. Não existirá aqui qualquer contradição, pois é quem propõe algo que deve sustentar aquilo que afirma. Sem fundamento não deverias ter feito a afirmação inicial, ainda para mais constituindo a mesma uma acusação. Repito: posso denunciar isto sem necessitar de fundamentos para a negação.


Ora tu afirmaste que a não aceitação dos argumentos do Desidério deve-se também à "hipocrisia" daqueles que não leêm livros.

Ora essa afirmação é um bocado como dizer "quem não concorda comigo é um ignorante e um hipócrita" mas com mais palavras para disfarçar. A verdade é que não tens razão nenhuma para assumir que quem concorda com o Desidério lê mais ou menos livros do que quem discorda, ou que se as pessoas lessem mais livros discordariam mais ou menos.

Por isso, mesmo que o teu Ad Hominem assentasse num insulto com fundamentação válida, ele continuaria irrelevante para a discussão. Mas quando ele assenta numa especulação sem fundamento de quem assume que os outros só podem ter más intenções, o caso ainda é mais estranho.

Rolando Almeida disse...

Caro João Vasco,
Pensamos na maioria das vezes indutivamente, por generalização, principalmente quando discutimos problemas sem confirmação empírica. Vou aproveitar para fazer outra: " a generalidade dos comentadores são como os jornalistas, têm uma absurda tendência para dramatizar". O que quero dizer com isto? Eu falo na generalidade das pessoas e tu afirmas que eu disse "todos". Estás a dramatizar pá. Precisamente por gastar uma boa fatia do meu vencimento em bens culturais como livros e discos é que me irrito com a hipócrisia generalizada que topo.
Na minha profissão a generalidade das pessoas não admite ser posta em causa no que se trata à falta de leitura, mas a verdade é que raramente compram livros. E o que se passa na minha profissão não é um mundo à parte do que se passa nas outras. Agora esconde isto como quiseres. Paciência.

Rolando Almeida disse...

Outra coisa:
claro que existem contra exemplos, mas daí não se segue que a minha generalização constitua um mau argumento, ora bolas.

Anónimo disse...

Caro Vitor guerreiro
o senhor tem razão porque pensa de acordo com o modelo economico vigente e portanto segundo isso parece-lhe logica toda a questão de procura/oferta e remuneração associada aos mesmos.
A questão muda se pensarmos no que a nuvem de fumo escreveu e que caracteriza o desenvolvimento da sociedade humana
"a cultura daqui a 1000 anos provavelmente não há-de ser nada daquilo que acha neste momento importante,deixe as gerações vindouras darem cabo daquilo que pensa ser importante. Para isso elas estão cá"
Resume-se tudo a isto.
Compreendo que seja dificl pensarmos nas consequencias dos novos modelos de cultura e na forma como nos relacionaremos com eles de qualquer modo parece-me que a maioria tem sempre razão e neste momento estamos a ir na direcção do voluntarismo e da gratuidade.
EVidente que não vai ser tudo à borla.
A questão é complexa e qualquer um de nós está longe de a compreender e prever as consequências contudo a mudança é bem vinda e a sociedade transforma-se com estes movimentos.

art campos

nuvens de fumo disse...

Gosto da defesa dos direitos de autor num país onde:
1) os preços de tudo o que é cultural, desde DVD a jogos passando pelos livros é superior ao preço que se pratica na Europa
2) ganhamos bem menos que lá por fora
3) feita a correcção de poder de compra os livros e material afim é mesmo muito mais caro tornando a cultura um luxo espampanante.

Num país onde as pessoas ganham em média 500€ (líquidos) e um livro da treta custa em média 40 € um DVD de jogos 60€ e uma treta de um DVD 30 € é pornográfico que um desgraçado que num mês (de loucura ) compre um de cada, gaste

(40+30+60)/500= 26% do seu salário em cultura...

depois acham que se pirateia , os maus que não respeitam os direitos de autor...

Não faço a apologia da cópia ilegal, mas que abusam no preço abusam, e depois já se sabe, ninguém percebe como crime porque crime é a extorsão dos preços.

Quando a iniquidade é patente...aguentem-se à

João Sousa André disse...

Caro Rolando, não tome delicadeza e diplomacia por incoerência.

nuvens de fumo disse...

Faltou o bronca...

Rolando Almeida disse...

João,
Ok, vou assumir a tese oposta. Vou assumir que afinal todos somos amantes de livros, que tal como os luises, artures e paulas só vamos sacar discos para depois os comprar de imediato se gostarmos (só compramos o que gostamos), que afinal de contas as pessoas são autenticas quando dizem ler muito e comprar muitos livros. Claro que para defender isto nenhum João me vai pedir fundamentos. Este tipo de tese já posso defender livremente já que ela auto justifica-se pelo conforto de ego trip que proporciona aos leitores do Rerum Natura. Assim já estamos melhor?

Vitor Guerreiro disse...

O que é que a cultura daqui a 1000 anos, se não nos tivermos já destruído uns aos outros pela força da macacada, tem a ver com esta discussão?

Anónimo disse...

"Precisamente por gastar uma boa fatia do meu vencimento em bens culturais como livros e discos é que me irrito com a hipócrisia generalizada que topo."

Mas se gastas essa fatia em livros, existe a clara possibilidade de, por exemplo, nao te restar muito dinheiro para software de que necessitas. Assim, e' racional que uses software livre sem pagar e, com esse trabalho, podes estar a ensinar outros a valorizar a cultura livresca ou a ensinar a programar, ou outra coisa util.

E' assim tao dificil perceber que uma unica pessoa tem interesses e necessidades culturais multiplos mas dispoe de recursos financeiros limitados .... de modo que a unica conclusao logica a tirar e' que ser um 'free rider' e' pouco etico. O ponto crucial e' saber o que e' ser um 'free rider'! Nao se e' 'free rider' por utilizar coisas de borla, e'-se um 'free rider' se nao se suportar financeiramente NENHUMA dos
bens culturais/cientificos/sociais que se utiliza. Se cada pessoa apenas utilizar aquilo a que tem acesso pagando e' como um burro com palas. Uma forma de cooperacao auto-organizada acontece quando eu e outros pagamos 'x'; outro grupo paga 'y', outro paga 'z' e por ai' adiante ... permitindo que todos tenham acesso a 'x', 'y' e 'z'. Andam a falar de encarar o problema do financiamento das actividades culturais de forma realista para encontrar uma solucao, certo? Aqui fica umas pistas que talvez ajudem a encontrar um esboco de solucao.

Miguel

Anónimo disse...

"e, com esse trabalho,"

ERRATA ( e outras gralhas, desculpem!): devia ter escrito

"e, atraves desse meio, podes estar a ensinar outros a valorizar a cultura livresca..."

Miguel

Anónimo disse...

ora aqui está um comentário interessante

utilizar aquilo a que tem acesso pagando e' como um burro com palas. Uma forma de cooperacao auto-organizada acontece quando eu e outros pagamos 'x'; outro grupo paga 'y', outro paga 'z' e por ai' adiante ... permitindo que todos tenham acesso a 'x', 'y' e 'z'.

Vitor a cultura daqui 1000 anos tem que ver em tudo com esta discussão na medida em que da mesma forma que a cultura se transforma de forma radical ao longo do tempo também os modelos sociais e económicos e portanto penso que estes movimentos que transformam são sempre bem vindos; é que podemos estar a aproximar-nos de modelos novos, ideias novas...

art campos

Anónimo disse...

Adenda:

Mas existem outras solucoes civilizadas que sao postas em pratica em paises civilizados. Bibliotecas e mediatecas publicas onde se pode consultar e emprestar livros, DVDs, CDs sem pagar, apenas com certificado de residencia. E' claro que sao os impostos que suportam isto. E posso informar que, ao contrario do que e' sugerido pelo Desiderio, essas instituicoes sao muito concorridas e funcionam muito bem. Nao ha' apenas procura de futebol e telenovelas.

Miguel

Vitor Guerreiro disse...

É curioso. As pessoas acham obsceno que um produto cultural custe 20% de um salário. Mas o que mais estou farto de ver é pessoas que ganham 500 euros e não se importa de gastar 90 euros por mês em tabaco, sem ser preciso ter discussões destas. Não vejo alguém a defender que as pessoas da indústria tabaqueira deviam trabalhar de borla. Ao que parece, gastar 30% do ordenado em tabaco e outras coisas já não é tão obsceno como gastar 20% num livro.

Este ar de escândalo só mostra a atitude das pessoas para com a cultura: "como é que a merda de um livro pode custar tanto?" Pois claro!! Porque se fosse uma porcaria de um telemóvel com câmara fotografica e Internet já ninguém se escandaliza: todos partem do princípio que tem de ser uma coisa muito cara!

Vitor Guerreiro disse...

Miguel, podes não ter reparado, mas o Desidério defendeu o sistema das bibliotecas e mediatecas precisamente porque estas continuam a financiar os produtores. O borlismo digital não.

João Vasco disse...

«Não vejo alguém a defender que as pessoas da indústria tabaqueira deviam trabalhar de borla»

Mas ninguém está aqui a defender que as pessoas devem trabalhar de borla.

Apenas a afirmar o óbvio: que não é imoral que o façam, se quiserem. Ainda mais se for para oferecer cultura em vez de tabaco.

nuvens de fumo disse...

LOL
A cultura é para quem a pode pagar, quem pode vai ver ópera quem não pode vê novelas para sopeiras.
Quem pode compra livros novos , quem não pode vive no século equivalente à cessação dos direitos de autor. Ouvir música é para quem consegue pagar os DVD’s quem não pode que ouça a rádio que tem coisas muito boas. No fundo, a cultura como todo o gosto requintado , é para quem o sabe apreciar.

Que vantagem em desperdiçar beluga pelo povo que de imediato diria de forma enjoada que sabia demasiado a peixe. O bruto não reconhece a subtileza dos gostos requintados, como outrora os povos colonizados, antes de à força lhes ser incutida a nossa visão superior de mundo. O selvagem gosta do paladar forte e das quantidades generosas, tão adequadas ao tasco que este é o seu habitat natural e fora dele se sente mal e desadequado.
Não podemos imaginar o camponês ( ou outro bárbaro da periferia cultural) a apreciar o nosso delicioso sushi, acompanhado por vapores orientais onde delicados vegetais são castigados pelo calor depois de terem marinado em sucos exóticos. Confundiria a o saké com a sua cachaça e envergonharia todo e cada um de nós.
Para essa classe de iletrado (vox populis grunhos), o peixe cru funciona como um repelente natural. Não habituados a esta ecléctica experiência dos sentidos, ficam para sempre arredados destes prazeres, sendo mesmo uma injustiça e crueldade tentar levar a novidade ao seu paladar. (se bem que suspeite que tal capacidade é genética e não facilmente educável passado certo tempo...)
A ditadura cromática a que ficam sujeitos é melhor suportada se não lhes for dado a saber que outros pensam de forma distinta, que outros mundos são possíveis. Cabe todos nós aligeirarmos a sua passagem dolorosa e patética por esta terra, mostrando-lhes a feijoada, mas escondendo a trufa, dando-lhes o tintol mas ocultando o Barca Velha, e sobretudo nunca mas nunca mencionado literatura, mas permitindo ler nos consultórios e hospitais as revistas soltas( muito frequentado por este tipo de pessoas, talvez á procura de iguais).
Imaginar os seus comentários garridos, folclóricos, desertos de bom senso, de referencias literatas, daria cabo da minha digestão. E nesta altura de crise gosto de aproveitar os restaurantes com cada vez menos representantes dessa espécie, que devem estar a comer umas sandocas, aliás bem mais ao seu paladar adequadas que a minha lagosta suada.
Por isso, e resumindo, cultura é para quem a pode apreciar.
Até porque a única pobreza é a de espírito
Bem hajam

nuvens de fumo disse...

Vitor Guerreiro
é verdade caro amigo, mas isso é outra caracteristica do selvagem. Já em Africa se observava os indígenas a gastarem tudo em cerveja em vez de pouparem.
Felizmente nós que sabemos o que é bom para eles tivemos a oportunidade de os educar durante um tempo.
Olhe , se tivessem aproveitado mais não tinham caído naquela miséria. Pobres , é como digo, só de espírito

João Sousa André disse...

Rolando, não faço ideia de onde quer chegar, mas pronto, eu não gasto uma percentagem significativa do meu ordenado em livros. Ou melhor, só o faço de mês em quando. Deve estar a escapar-me alguma coisa.

João Silva disse...

Saudações!

Uma nota relativamente à discussão: ela está recheada de insultos.
Quase ninguém pensou um pouco no assunto. Talvez por preguiça, não sei...
Lembro que o artigo do Desidério não é sobre downloads ilegais e afins. É sobre as empresas e associações que vivem do trabalho voluntário e disponibilizam produtos gratuitos.

Já provei anteriormente que falando em termos económicos o Desidério não tem razão. E não tem razão, pois, ao contrário do que ele diz, não entende que o mercado funciona de forma semelhante à selecção natural.

Nunca disse que os produtos culturais deviam ser gratuitos. Apenas digo e mantenho que o Gutenberg e afins não são maus. Claro que ninguém me responde pois é mais fácil vir para aqui dizer mal da aristocracia e tal.


O Desiério apresenta um novo argumento: o da moralidade. Este ainda é mais vácuo.
O argumento é o seguinte:

É moralmente errado usufuir de um produto cultural e não apoiar os seus produtores.
Logo, a cultura deve ser paga.

O produtor disponibiliza o seu produto. Se o disponibiliza gratuitamente é porque não se importa que eu usufura desse produto gratuitamente. Há um acordo entre as duas partes logo não vejo onde há a imoralidade.

Se o produtor disponibilizar o seu produto por um preço, então se eu o quiser comprar, compro-o; se não quiser, não compro. Também não vejo onde anda a imoralidade.

Mais uma vez os argumentos do Desidério caem por terra.

Repare-se que eu não digo que tudo deva ser gratuito. O que eu digo é que não há mal em usufruir sem pagar se o produtor assim o permitir. É óbvio que não apoio ilegalidades ou coisas do género.



De resto, esta discussão nem tem sentido: de um lado estão os que acham que a cultura deve ser grauita; do outro lado estão os que acham que ela deve ser paga.
E não se apercebem que os produtores é que decidem se os produtos são gratuitos ou pagos e que o consumidor tem a liberdade para escolher a coisa de que mais gosta.

Cumprimentose votos de melhor discussão!

Barba Rija disse...

O Rolando está a ter um ataque de histeria.

Ó Rolando, tem calma.

Anónimo disse...

"que tal como os luises, artures e paulas só vamos sacar discos"

Eu agradeço ao sr Rolando que pese e meça bem as suas palavras.

É execrável que uma pessoa ligada à educação, como o sr Desidério, admita publicamente que tem música e livros ilegais no seu computador e que por isso pense que o pode fazer impunemente, como se não houvesse lei neste país. Espero sinceramente que SPA e amigos nunca passem por tal texto.

Mas é mais execrável ainda que o sr Rolando insinue que eu possa "sacar discos" de forma ilegal. O sr insinua uma acusação gravíssima, com o único propósito de denegrir a minha imagem. Pois fique sabendo que não tenho qualquer ficheiro ilegal no meu computador. Ninguém pode fazer uma acusação desta gravidade sem prova.

Se defendo a partilha destes bens? Sim, defendo. Mas infelizmente temos leis que não o permitem. Lá chegará o dia em que isso será possível, esperemos. E, portanto, cumpro a lei que temos.

O sr tem obrigação de respeitar as outras pessoas que comentam neste blog. Eu nunca lhe faltei ao respeito.
Paula

João Silva disse...

onde se lê "grauita" deve-se ler "gratuita"

Queria dizer:
Cumprimentos e votos de uma melhor discussão

nuvens de fumo disse...

Isto já vai no insulto, é o que digo, o povo quando se lhe dá demasiada trela...Estávamos tão bem quando a net era caríssima e só os eleitos podiam navegar. é como as estradas, as lojas gourmet e tudo o que é bom. Temos de andar sempre a fugir da multidão....

Rolando Almeida disse...

Um reparo:
O exemplo das bibliotecas públicas é um engano. Nos países mais rico um livro vendido a uma biblioteca custa 3 ou 4 x mais do que vendido ao público, precisamente para pagar o valor do empréstimo. Um lugar público que exiba TV paga. Em Portugal as bibliotecas funcionam ao contrário, pelo menos até há bem pouco tempo: um livro fica mais barato se vendido a uma biblioteca.
O que está em causa é se o mundo borlista e voluntarista é uma alternativa viável ao mundo em que se pagam todos os bens. E esta discussão surge para a cultura precisamente porque temos a intuição errada que os bens culturais devem ser gratuitos.

João Silva disse...

Rolando,
está a cometer a falácia do falso dilema:
-nem tudo tem que ser pago ou gratuito.

Como já disse, o mercado é que manda. Se as pessoas fizerem gratuito e bem eu consumo. Se calhar se fizessem bem e pago eu consumiria na mesma .Ou talvez não. Depende.
Eu não defendo que tudo deva ser gratuito.
Digo sim que as empresas que usam da borla não são más. Ponto Final. As empresas que sirvam os interesses do consumidor são boas.

Parecem que não querem ouvir (ler)!

nuvens de fumo disse...

rolando,
não perca tempo a tecer esse seu colar de lindas pérolas da argumentação, para uma vara serão sempre deitadas fora. A sua argumentação é uma torre, o seu quadrado inexpugnável. Apenas fiquei com aguçado interesse em tentar deslindar a sua ultima, mas não menor , excrescência bivalvica - “ego trip”.
Na minha vasta biblioteca, toda paga com o trabalho de escravos de várias gerações e não sem uma ponta de orgulho lhe confesso, de vários continentes, não encontrei dicionário com tal requintada laracha.
Para recombinações encontrei “lego trip” que vislumbrando acho demasiado vulgar para a sua craveira, ou “ergo trip” que será a mistura do latinório ergo ( deixo aqui a pequena nota do ergo sum, enfim caridades intelectuais) com esse abjecto linguajar do povão quando se refere a uma experiência provocada por substancia psicotrópicas.

Aguardo , na sua fina erudição, a cabal explicação e permita-me a ousadia, irei de imediato remediar esta ausência linguística .
Melhores cmpts

Anónimo disse...

Inspire-se e veja a luz: http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1207626

Rolando Almeida disse...

Núvens de fumo,
"ego trip" peguei de empréstimo no blog de Paulo Guinot, A educação do meu umbigo, o blog mais famoso no que respeita à educação e políticas educativas. O termo é dele. é uma trip do ego, não lhe parece? Uma cóceguinha aconchegante aos nossos preconceitozinhos.
Você é um poeta e vem-me falar de craveira? até confundi com caveira.

Desidério Murcho disse...

Carlos, eu não disse que o Firefox é uma tolice. Disse que financiar o Firefox é uma tolice. E é uma tolice financiar o Firefox exactamente pela mesma razão que é uma tolice financiar o Projecto Gutenberg ou a Wikipédia: porque esse dinheiro não serve para financiar quem escreve ou digitaliza, mas quem vive a vida às custas da Wikipédia. Note-se a ironia: as mesmas pessoas que protestam porque ao comprar um livro ou um CD o autor só ganha cerca de 10% do preço de capa (grande parte do resto vai para o livreiro poder pagar os ordenados dos empregados, para o editor poder pagar aos seus trabalhadores, etc.), acham natural dar dinheiro ao tubarão da Wikipédia, do qual exactamente 0% vai para quem a escreve. E o mesmo acontece com os sites piratas: as pessoas vão lá buscar os torrents e os gajos que têm os sites ganham dinheiro em publicidade e vivem disso. Mas esse dinheiro não vai para os bolsos dos músicos ou dos autores que estão a ser pirateados.

O que está em causa, note-se, é a viabilidade económica da cultura, nada mais. Emprestar livros e discos ou até mesmo algumas fotocópias não é problema algum se não for feito em doses industriais. Copiar digitalmente CDs e livros também não é um problema se for feito entre amigos. Mas se for feito entre milhões de pessoas em vez de dezenas isso torna a actividade original economicamente inviável. Se eu escrever um livro nada me importo que vários amigos os fotocopiem e emprestem — eu mesmo empresto o livro para ser fotocopiado. Mas se 10 mil pessoas lerem o meu livro dessa maneira e eu não receber dinheiro algum por isso, algo está profundamente errado.

E é aqui que se revela outro aspecto fascinante da RNED: os seus evangelizadores dizem que é uma beleza um autor meter o seu livro ou disco ou software de borla na Net, e depois quem gostar paga-lhe. Mas se as pessoas estivessem dispostas a pagar aos autores nenhum destes problemas teria existido desde o início. A verdade é que ninguém se lembra, ao piratear o trabalho alheio, que está a tornar impossível a vida dos autores: pensam só nos grandes editores que os publicaram. Seria interessante ver os evangelizadores fazer o mesmo relativamente às universidades e a grandes companhias como a Sun, tornando-as economicamente inviáveis, e ao mesmo tempo cantar encómios aos professores universitários e aos programadores desempregados. Seria interessante dar às pessoas a alternativa de financiar ou não universidades com os seus impostos, para ver quantos professores universitários continuariam empregados.

Finalmente, resta dizer que infelizmente as pessoas que compram muitos livros de qualidade, como um dos leitores aqui refere, são estatisticamente insignificativas. O que é estatisticamente significativo é o que se vê ao entrar numa livraria ou num quiosque de revistas: a maior parte dos livros e revistas que se publicam, e que reflectem os gostos da maior parte das pessoas, é puro lixo. Isto é importante porque a viabilidade económica dos livros de qualidade é muitíssimo frágil — não se compara com a viabilidade económica de biografias das celebridades do momento. Grandes editores académicos que não visam o lucro, como a Oxford University Press, usam os lucros de livros mais populares para financiar os livros menos populares, com os quais perdem muitas vezes dinheiro.

Seria bom que os evangelizadores da RNED fossem obrigados a viver directamente durante cinco anos da sua própria produção cultural (música, artes, filosofia, ciência), sem subsídios nem ordenados certos ao fim do mês pagos por uma universidade ou por uma grande companhia. Acabava-se logo a conversa da treta.

joão viegas disse...

Caros,

Apenas duas pequenas achegas :

Uma para pedir desculpas pelas muitas gralhas do meu comentario, outra para dizer que concordo completamente com o comentario de João Pedro das 15:26.

Pela parte que me toca, nunca pretendi defender que todos os bens e serviços culturais deveriam ser gratuitos (que absurdo!). Apenas procurei rebater a argumentação do Desidério na medida em que critica as pessoas que disponibilizam gratuitamente bens culturais que estão no dominio publico (que é o caso do projecto Gutenberg, tanto quanto percebo, mas também das bibliotecas publicas, etc.).

nuvens de fumo disse...

"Grandes editores académicos que não visam o lucro, como a Oxford University Press, usam os lucros de livros mais populares para financiar os livros menos populares, com os quais perdem muitas vezes dinheiro"
os tais que são lixo........

João Vasco disse...

Desidério:

Creio que voltou a não responder à objecção principal.

Vejamos: imaginemos que eu escrevia textos e os colocava na internet para que quem quisesse os pudesse ler.

As pessoas podiam:

a) valorizar tanto estes textos gratuitos como aqueles textos em relação aos quais têm de pagar.

b) não valorizar tanto estes textos como aqueles textos em relação aos quais têm de pagar.


Na segunda hipótese, o meu trabalho não colocaria em causa o trabalho dos escritores profissionais. As pessoas podiam ter acesso gratuito aos meus textos, mas prefeririam continuar a gastar em literatura profissional em relação à qual não têm acesso gratuito.
Assim sendo, a minha acção não podia certamente ser moralmente condenável.

A alternativa é a opção a) que acontece caso os meus textos fossem tão bons que as pessoas não lhes dariam menos valor que aos textos profissionais.
Ora não faz sentido assumir que por ser mais competente a produzir a minha dádiva, ela passe de moralmente positiva a moralmente negativa.

Colocarei em causa a profissão de "escritor profissional"? Até pode ser, mas apesar de eu gostar de abraços e sorrisos não censuro quem os dá gratuitamente por tirar lugar aos abraçadores sorridentes profissionais que hipoteticamente existiriam se não fosse fácil dar estas coisas gratuitamente.

Ou seja, se elementos da sociedade vendem um produto mais barato que outros, e dessa forma tiram a possibilidade de outros o venderem caro, não existe nada de eticamente errado naquilo que os primeiros fazem.
E "de borla" á apenas isso: um custo muito reduzido.

O Desidério pode argumentar que o produto não é igual. Mas nesse caso, as pessoas dão-lhe um valor diferente e voltamos à situação a). Se existe mal na situação a), o Desidério deveria deixar de escrever em blogues imediatamente.


A imprensa também tirou o emprego a muitos monges copistas, mas em boa hora surgiu.

joão viegas disse...

Bom OK, outra achega pois so agora vi o ultimo comentario do Desidério que insiste no erro.

O projecto Gutenberg não rouba ninguém, nem tem nada a ver com pirataria. O teu argumento não tem ponta por onde se lhe pegue. Ou então tens de criticar também o facto de pagarmos a professores primarios para ensinarem os seus alunos gratuitamente, etc.

Abraços,

Desidério Murcho disse...

Caro João Pedro

Antes de mais obrigado pelos comentários em geral atinados e pensados, em contraste com muitos outros. Mas não tem razão porque as coisas não são assim tão simples quanto parecem. Mas deixe-me começar por dizer que estou de acordo nisto, repetindo-me aliás: o que conta é o criador, e o que conta é saber se o criador quer dar ou não o seu trabalho. Nada de errado há num músico ou autor que trabalha como mecânico e depois ao fim de semana faz umas coisas e disponibiliza isso gratuitamente às pessoas. Fino. Óptimo.

Mas não é isto que defende a RNED. A RNED defende que todos têm de ser assim, e não que alguns podem ser assim. A RNED defende que é imoral viver da música ou de livros ou de cultura — excepto se isso for financiado por grandes companhias como a Sun, o Google ou universidades; e excepto se a pessoa puser as coisas de borla na Net, pagando apenas quem quiser.

Por outro lado, como comecei por dizer, a vida económica não é assim tão simples, João. Por que razão existe uma coisa chamada ordenado mínimo em alguns países? Pelo raciocínio economicista isto seria um absurdo: se há pessoas dispostas a trabalhar por menos, que direito tem o estado de obrigar o empregador a pagar mais? E se ninguém está disposto a trabalhar por menos, a lei não é necessária. Mas isto é não atender às diferenças de poder entre empregador e empregado: se eu estou desempregado e estou a concorrer com vários outros empregados, consigo um emprego miserável se aceitar trabalhar por metade do ordenado do outro desempregado e fico melhor do que ele, mas prejudico todos os desempregados. Para isto não acontecer o estado estabelece um ordenado mínimo.

O mesmo acontece com o jornalismo, enciclopédias, livros, etc. Parece óbvio que basta deixar o mercado funcionar e cada qual consome o que quer etc. Mas as coisas não são assim tão simples. A partir do momento em que há um navegador gratuito como o Firefox ninguém consegue ganhar dinheiro programando e vendendo navegadores — foi o que aconteceu com o Opera, que teve de deixar de ser pago. A partir do momento em que se torna habitual trabalhar na indústria cultural de borla, torna-se impossível ser profissional nessa área — excepto nas condições que enunciei acima. E isto é mau. Era bom haver vários criadores profissionais independentes, que pudessem viver directamente dos seus leitores etc., como acontece na velha economia indigital. Também é bom haver amadores que fazem coisas de borla: eu não nego isso. Apenas afirmo que é bom haver criadores profissionais independentes, e o modelo económico da RNED não permite tal coisa: ironia das ironias, alguns dos seus evangelizadores ganham dinheiro... publicando livros em papel!

nuvens de fumo disse...

Voltamos á estaca zero
"livros de qualidade"
Para quem ?
Segundo o Desidério a qualidade paga-se mas as pessoas na esmagadora maioria compram porcaria. Assim no fundo paga-se por porcaria. SO ?????

Por outro lado existe um grupo de pessoas, de qualidade, que vivem de Universidades ( publicas imagino) e de subsídios que de uma forma ou de outra são pagos com o dinheiro que os lorpas gastam ao comprar porcaria.

Ora aí está um sistema inatacável pela sua lisura, equidade e justiça.

O Desiderio de não se cuida, como alguém dizia no Eça, ainda chega a Ministro, e pelo andar da educação.

nuvens de fumo disse...

Se o Desiderio de não se cuida, como alguém dizia no Eça, ainda chega a Ministro, e pelo andar da educação.

Fica a correcção. Já agora pode também ser o da cultura.

Anónimo disse...

Caro Desidério,
A Sun trabalha com software open-source. E como vê, faz dinheiro com isso e gera emprego. E o Desidério até lhe chama "grande companhia".
O OpenOffice, que o Desidério critica publicamente, é da Sun.
O MySQL, aberto gratuito, é da Sun.
A Sun tem um sitema operativo, o open solaris, que tem uma licença open source.

Então em que ficamos, é a Sun uma grande companhia ou anda a iludir as pessoas com "cantigas de bandido" (palavras suas referindo-se à "mentalidade Linux")?

paula

Anónimo disse...

"Mas não é isto que defende a RNED. A RNED defende que todos têm de ser assim, e não que alguns podem ser assim. A RNED defende que é imoral viver da música ou de livros ou de cultura — excepto se isso for financiado por grandes companhias como a Sun, o Google ou universidades; e excepto se a pessoa puser as coisas de borla na Net, pagando apenas quem quiser."

é a primeira vez na minha vida que vejo isto escrito... gostava de conhecer as fontes, estou deveras curioso

João Vasco disse...

Desidério:

Creio que voltou a caír na mesma contradição que já sssinalei.

«A partir do momento em que se torna habitual trabalhar na indústria cultural de borla, torna-se impossível ser profissional nessa área »

Das duas uma: ou os bens culturais dados gratuitamente NÃO são considerados menos valiosos que os pagos, e nesse caso não há mal em que não se possa ser profissional nessa área, pois todas as pessoas têm à mesma acesso aos bens culturais que valorizam;

ou ou os bens culturais dados gratuitamente SÃO considerados menos valiosos que os pagos e nesse caso quem os dá não coloca em causa a actividade económica de quem quer viver da cultura, pois os profissionais produzem bens mais valiosos que os amadores.

Em qualquer das duas situações não existe nada de moralmente errado em oferecer trabalho "cultural" gratuitamente como o Desidério faz neste blogue. O mesmo se aplica à wikipedia e ao projecto Guttenberg.

joão viegas disse...

E esta da "viabilidade economica da cultura" também é boa.

O que entendes por isso ?

A viabilidade das industrias culturais, como as editoras de discos e de livros que operam em moldes comerciais ? Acaso defendes que elas deveriam ter uma espécie de monpolio sobre a produção de obras ? Uma pessoa que escrevesse um poema, ou um diario intimo, deveria então ser condenada por exercicio de uma actividade ilicita ? E' isso que estas a dizer ?

Ou estaras antes a falar da transmissão e da valorização do nosso patrimonio cultural ? E' que neste ultimo caso, estamos a falar de uma actividade que nunca foi "viavel economicamente" no sentido em que utilizas a palavra. Eu nunca cobrei nada às minhas filhas quando lhes ensinei a falar, quando lhes procurei mostrar que existem bons livros, bons filmes, que existem grandes obras de arte, etc. Alias nunca me passou pela cabeça que, quando fazia isso, estava a desenvolver uma actividade cuja "viabilidade economica" era importante.

Desculpa mas os teus comentarios são assustadores. Talvez fosse a altura de procurares saber se o trabalho que tens ao escrevê-los tem "viabilidade economica"...

João Vasco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Vasco disse...

Pois, agora se um grande número de pessoas publicar os seus poemas na internet, na respectiva página pessoal, e em consequência disso ninguém tiver vontade de comprar poesia "profissional", quem está a fazer algo eticamente errado são as pessoas que oferecem a sua poesia.

A falibilidade do raciocínio do Desidério torna-se óbvia quando a aplicamos a este exemplo concreto. Será que o Desidério não concorda?

João Silva disse...

Caro Desidério,

Concordo que um sistema no qual a cultura é obrigatoriamente gratuita (presumo que seja a isso que se refere com RNED) seja absurdo e errado. De acordo.

No âmbito económico, acho que estamos esclarecidos. Não podemos dizer por motivos económicos que a wikipedia e afins sejam maus, por causa daquela questão do mercado modo selecção natural.


Por um lado, os borlistas são maus, porque prejudicam o produtor cultural; por outro lado são bons, porque beneficiam o consumidor.

O Desidério responde dizendo que é preferível o lado do produtor: as pessoas devem pagar pela cultura, de forma a sustentar os produtores, de forma a que estes possam produzir mais e melhor cultura. A cultura é um bem que todos devemos valorizar.

O caso da cultura poderá não ser análogo ao do merceeiro: a evolução económica decretou a inviabilidade das mercearis e não houve mal nenhum nisso; logo se a evolução económica decretar a destruição dos produtores culturais, também não haverá mal nenhum nisto.

O problema aqui é que talvez a natureza dos produtores culturais profissionais seja diferente da dos merceeiros: enquanto que a existência dos primeiros é necessariamente boa, a segunda não.


Assim, estamos a ver a questão do lado das consequências. Então pergunto: estamos melhor actualmente com as wikipedias, gutenbergs e afins; ou seria melhor um mundo indigital?

Inclino-me para a primeira resposta pelo progresso científico e cultural actual. Mas vou pensar mais um bocadinho.

Cumprimentos!

nuvens de fumo disse...

Bem , os ataques à pirataria começam a soar ridículos.
Numa versão de desperta o Pide que há em ti temos esta pérola do disparate :
Movimento Cívico contra Pirataria na Internet, alerta que, em Portugal, há «ligações perigosíssimas» entre a pirataria e o crime organizado

http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/mapinet-internet-pirataria-terrorismo-crime-tvi24/1058509-4069.html

SURREAL

Anónimo disse...

Esse movimento já existe há algum tempo e basicamente quer que em Portugal se faça uma lei como a "three strikes and you're out". (execrável)

Atenção que, ao contrário do que afirmam, não são um movimento de cidadãos, mas de donos de clubes de vídeo.
paula

Anónimo disse...

Meus senhores e minhas senhoras, isto já está a ir longe de mais, os comentários são excessivos, vamos antes a votos.
Qume é que vota no Desidério, com a excepção do próprio e do, claro, Rolando?
Quem é o elo mais fraco? Quem deve ser expulso?
Parece-me que o Desidério estará muito perto de fazer a passagem para o Correio da Manhã, antes de ir para o Destak.
luis

Anónimo disse...

Caro João Pedro, a asserção que os "borlistas" (não no sentido do download e partilha ilegal), mas no exposto nos projecto citados, prejudiquem os produtores culturais, está para ser demonstrado.

Uma questão simples: a produção cultural, dita de "qualidade", a nível mundial, tem aumentado ou diminuido?

Anónimo disse...

Em tempos, o Desidério Murcho iniciou uma campanha contra a lastimável pirataria e o roubo da criação alheia, de que muita gente beneficia sem importar-se de desempenhar o papel de receptador. Pareceu-me infrutífera, porque gatunos e receptadores, apesar das condenações de uns quantos, continuam existindo e têm encontrado defensores que se esfalfam a legitimar o roubo com os argumentos mais absurdos, de que ressaltam os de que os conteúdos digitais copiados e difundidos são coisa diferente dos conteúdos analógicos do produto criado e usufruído ou, mais grave, de que os criadores não têm quaisquer direitos sobre as suas criações a partir do momento em que as apresentam, etc.

O baixíssimo custo e a facilidade da cópia e da difusão dos produtos digitais tornam-nas apetecíveis, e a dificuldade em combatê-las contribui para a sua proliferação. Isto não torna tais actos moralmente aceitáveis nem transforma em boa a argumentação que os defende e pretende legitimá-los. O mais grave da argumentação dos defensores de tais actos é a sua contribuição para a criação e a difusão duma leviana mentalidade borlista, baseada nas ilusões de que o roubo ou a receptação são borlas, de que quase tudo se pode obter sem custo ou por um custo irrisório, ou de que a borla constitui um direito.

A mentalidade borlista é fortalecida pela difusão gratuita de produtos científicos, técnicos, filosóficos ou artísticos, sob a forma de informação, através da net, que os seus difusores utilizam como veículos ou suportes para publicidade, da qual colhem chorudos proveitos, tanto maiores quanto aqueles produtos são obra de dádivas dos seus criadores ou adaptadores e não constituem encargo para os difusores. É meritória a denúncia desta mentalidade borlista que degrada a consciência de que tudo na vida tem custo.

Da denúncia, legítima e certeira, de que a capa da gratuitidade directa para o consumidor encobre o pagamento indirecto daqueles produtos, através do preço dos produtos publicitados, o Desidério Murcho parte para a crítica da concorrência do trabalho gratuito ao trabalho retribuído, que em seu entender faria perigar a actividade dos produtores profissionais remunerados, da qual retiram a totalidade ou parte dos seus rendimentos. A sua intenção, uma vez mais, é moralmente meritória; os seus argumentos, porém, neste caso, parecem-me ser destituídos de fundamento.

O primeiro argumento que retira fundamento aos seus é o de que a concorrência é uma coisa boa, e não uma coisa má. É a concorrência, a competição, e não a moralidade, que melhora a qualidade dos produtos e faz baixar o seu custo de produção (menos, talvez, dos produtos criativos não reprodutíveis). Centenas de anos de história de sucesso do capitalismo aí estão para o comprovar. O segundo argumento é o de que toda a gente é livre de ofertar o que é seu, e nada nem ninguém pode impedir alguém de ofertar o que de mais genuíno cada um tem de seu: o trabalho que produz.

Na sociedade contemporânea, ninguém se mantém com base na dádiva mútua, dando e esperando receber dos outros. Por isso, cada um apenas dá o que lhe sobra ou o que pode produzir sem necessidade de vender. E quando subsiste sob a condição de trabalhador assalariado, quem lhe compra o seu trabalho impõe-lhe como condição primeira para o comprar a exclusividade, a obrigação de que não o venda a outros e, muito menos, que o dê. Por estas razões, muito do trabalho ofertado é trabalho não profissional, não qualificado ou de qualificação diversa daquele que o ofertante vende para subsistir. É natural, portanto, que a qualidade dos produtos do trabalho gratuito de amadores seja inferior à dos produtos do trabalho remunerado de profissionais.

Nem toda a gente compra produtos de boa qualidade, fruto do trabalho remunerado profissional. Não só os padrões com que cada um aprecia a qualidade são muito variáveis, como nem todos podem pagar o preço dos produtos de qualidade; cada um estabelece a relação qualidade/preço que mais lhe convém, e assim determina o que compra. Como é facilmente verificável, nem todos andam de Mercedes, embora muitos gostassem de andar; e alguns sacrificam outros consumos para andar de Mercedes. São gostos… Por estas razões, ao lado dos Mercedes subsistem os Volkswagen e os Fiat Punto, e a concorrência dos carros de baixo custo não fez desaparecer os de custo elevado. Toda a gente sabe que a qualidade paga-se, e trata de estender o pé à medida do lençol. Doutro modo, constipa-se.

Outra ideia presente, embora não explicitamente, na argumentação do Desidério é a de que a publicidade, por integrar o custo das mercadorias, seria uma coisa má. A publicidade, a propaganda, o marketing e as actividades conexas, lá por noticiarem os produtos e por induzirem ou incentivarem o seu consumo não são coisas más. Podemos não gostar de muitas formas de publicitar, mas nem por isso a publicidade é um mal. Faz parte da sociedade mercantil em que vivemos, desempenha muitas funções úteis e o seu custo é parte do custo das mercadorias, os produtos que se compram e vendem. Os produtos transformam-se em mercadorias apenas quando são vendidos, não quando saem da produção, e vendê-los, ao contrário de produzi-los, sempre foi a principal preocupação das sociedades mercantis. Daí, nas sociedades mercantis concorrenciais, a necessidade da publicidade.

De resto, aos produtores remunerados profissionais deverá ser indiferente a proveniência do pagamento do seu trabalho, quer provenha directamente da venda dos seus produtos, quer provenha da publicidade. Aliás, quem produz publicidade tem os seus rendimentos oriundos da venda da mercadoria publicidade; e quem produz outro tipo de mercadorias tem também os seus rendimentos ou parte deles oriundos da publicidade, quer porque sem ela aquelas teriam maior dificuldade em serem vendidas, quer porque produz os suportes ou veículos para a publicidade.

Depreende-se dos textos do Desidério uma grande preocupação com a concorrência do trabalho gratuito. A preocupação, legítima para um produtor profissional (ainda que apenas em parte independente, porque obtém parte dos seus rendimentos de outra actividade profissional dependente), pela insistência, raia o receio. Pelas razões apontadas, o seu eventual receio parece-me ser infundado. A concorrência é uma coisa boa; a publicidade é uma actividade necessária; e a diversidade dos consumidores permitirá a subsistência da diversidade dos produtores e dos seus produtos. Pode é não deixar lugar para aqueles que desejem ser produtores de produtos que não mereçam a preferência dos consumidores. Para esses, paciência e caldos de galinha.

A realidade é o que é e não o que gostaríamos que fosse. E não é muito frutuoso criticarmos a realidade, muito menos criticá-la sob a forma de qualificativos depreciativos dos outros, das suas capacidades, gostos e preferências. A realidade é diversa. Até tem gente de inteligência superior, como o Desidério Murcho. Congratule-se por existir num mundo que lhe dá a possibilidade de sobressair. Já pensou no que seria um mundo homogéneo composto apenas por milhões de Desidérios Murchos? Monótono e sem graça p’ra caramba!

Desidério Murcho disse...

A concorrência não é uma coisa boa sem reservas, em todas as condições. É boa sob certas condições do mercado; noutras, é má. Quando a Microsoft concorreu contra o Eudora e contra o Netscape o facto de estar a oferecer as suas alternativas gratuitamente (Outlook Express e Internet Explorer) tornou impossível que as empresas que tinham produtos muitíssimo superiores conseguissem concorrer; com o tempo, desapareceram do mercado.

Mas é impossível defender que a concorrência é uma coisa boa sem reservas e ao mesmo tempo defender a Wikipédia, pois quando se oferece a Wikipédia gratuitamente isso torna impossível uma alternativa profissional — torna impossível a concorrência. Na verdade, torna até impossível uma alternativa que não seja profissional e que seja igualmente gratuita. Afinal, por que razão no passado tínhamos várias enciclopédias e agora temos uma só Wikipédia? (Na verdade temos outras tentativas de fazer enciclopédias gratuitas nos moldes da Wikipédia como a Citizendum, mas dão em nada.)

Por outro lado, o gratuito encerra uma mentira: faz parecer economicamente viável algo que na verdade não é economicamente viável. A Wikipédia só é economicamente viável porque só paga aos seus donos, exploradores do trabalho alheio, mas não a quem realmente faz a Wikipédia. E os donos da Wikipédia conseguem com excelente retórica convencer as pessoas quer a dar donativos quer a trabalhar de borla, tal e qual como a IURD.

A publicidade é uma mentira institucionalizada. É um mal social, e não um bem. Publicidade não é divulgação. Publicidade é mentira. É dizer que os produtos são o que não são e usar conhecimentos de psicologia comportamental para influenciar os comportamentos económicos das pessoas, fazendo-as consumir o que não consumiriam se pensassem melhor. Mas concordo numa coisa: a publicidade é o motor da economia. E se as pessoas são tão parvas que consomem por causa dela, paciência. Se explorar gente tola cria riqueza, melhor. Esta é uma visão cínica das coisas, pois o mundo seria melhor se as pessoas não fossem tolas e se não houvesse sistemas de mentira institucionalizada.

Estes são males da nossa sociedade. Não tenho soluções para eles. O meu único objectivo é chamar a atenção para o facto de serem males da nossa sociedade, contrabalançando assim um pouco o fervor dos evangelistas da borla que nos querem fazer convencer que vem aí um Admirável Mundo Novo Digital porque agora podemos ler gratuitamente a Wikipédia, e aproveitar o dinheiro que poupámos para comprar telemóveis mais caros e computadores mais rápidos para jogar jogos mais emocionantes. Não vem aí tal mundo. O que temos e teremos cada vez mais é concentração de capitais, exploração do trabalho alheio com base no voluntariado de cara alegre, falta de alternativas e falta de concorrência. Ironicamente.

Finalmente, sublinho que não defendo um mundo monolítico em que toda a gente tem os mesmos interesses. Na verdade, chamo a atenção para a falta de alternativas e para a dificuldade de sustentar economicamente alternativas que, por serem tão pouco apreciadas por tão poucas pessoas, sempre tiveram uma existência periclitante — e continuam a ter, ao contrário do que os evangelizadores do Admirável Novo Mundo Digital nos querem fazer querer. A suprema ilusão que eu denuncio é dizer que se preza algo sem se pensar realisticamente na sustentação económica de quem faz esse algo.

Anónimo disse...

Gostava de saber como é que se põe em formato de lei a opinião do Desidério:
"Emprestar livros e discos ou até mesmo algumas fotocópias não é problema algum se não for feito em doses industriais. Copiar digitalmente CDs e livros também não é um problema se for feito entre amigos. Mas se for feito entre milhões de pessoas em vez de dezenas isso torna a actividade original economicamente inviável. Se eu escrever um livro nada me importo que vários amigos os fotocopiem e emprestem — eu mesmo empresto o livro para ser fotocopiado. Mas se 10 mil pessoas lerem o meu livro dessa maneira e eu não receber dinheiro algum por isso, algo está profundamente errado."

A partir de agora os livros passam a ter o seguinte aviso: passível de ser copiado mas não em doses industriais. Exige-se prova de amizade para a copia não ser considerada crime, não se aceitam amigos ocasionais do facebook ou do twitter, que isso já é demais.
luis

Anónimo disse...

Quando o Desidério dá uma de professor Karamba:
"O que temos e teremos cada vez mais é concentração de capitais, exploração do trabalho alheio com base no voluntariado de cara alegre, falta de alternativas e falta de concorrência."
Será?
luis

Anónimo disse...

Desidério Murcho.

Lamento contrariá-lo no fundamental do que afirma nesta sua resposta. Veja só.

A realidade confirma que a concorrência é uma coisa boa. Ao contrário do oligopólio ou do monopólio, ela é um dos fundamentos do capitalismo e a característica responsável pelo seu sucesso histórico. Pode não ser boa para aqueles que sofrem os seus efeitos, e que por isso tanto se esforçam a violá-la, mas é boa para a sociedade. Doutro modo, já teria sido abandonada, por nefasta. A ideia que você tem da concorrência está totalmente deslocada da realidade.

A história dá-nos milhentos exemplos de produtos de qualidade inferior que foram relegados para segundo plano ou para nichos de mercado mais exigentes por concorrentes de inferior qualidade, mas de preço inferior. Dou-lhe apenas um exemplo clássico, o da gravação de vídeo em fita. O sistema Betamax, de superior qualidade técnica, foi batido pelo sistema VHS. Apesar da diferente qualidade, o mercado preferiu aquele último sistema. A relação qualidade/preço assim ditou. O sistema Betamax não desapareceu, mas foi relegado para o mercado profissional, e o seu produtor, a Sony, encontrou aí um nicho de mercado rentável. Daí não resultou qualquer mal para a sociedade. Sem esta opção, a gravação e reprodução de vídeo não se teria divulgado como se divulgaram. E os exemplos, mais antigos ou recentes, abundam.

A gratuitidade é uma realidade, mas a maior parte dos produtos que consumimos não é gratuita. E as mercadorias, essas, não são mesmo gratuitas, porque por definição são produtos que se compram e vendem. Também não me parece que a gratuitidade encerre qualquer mentira. Aceito que encerra uma nefasta ilusão, que faz parecer, como você diz, que a gratuitidade significa produção economicamente viável. Aqui concordamos. Mas nada garante que estes produtos continuem sendo produzidos por trabalho gratuito, nem que a existência destes produtos impeça o surgimento de outros similares de melhor qualidade, produzidos por profissionais remunerados, ainda que suportados economicamente pelas receitas da publicidade, mas ocupando nichos de mercado mais exigentes. Escusa de precipitar-se com os seus receios, porque além do mais eles não mudarão o curso da realidade e só o afligirão.

A publicidade não é um mal social. Considerá-la um mal é outro erro seu. Seja a publicidade o que for, use as técnicas que use, ela é parte integrante da sociedade mercantil em que existimos e constitui outro dos pilares da sociedade mercantil, juntamente com a concorrência. Se esta é a sociedade que existe e a melhor que existiu, um dos seus pilares não pode ser uma coisa má. Depois, as pessoas não consomem por causa da publicidade, consomem porque têm necessidades. Podem é preferir umas mercadorias a outras por acção da publicidade. E escusa de qualificar de tolas as pessoas por serem influenciadas pela publicidade e de afirmar que o mundo seria melhor se as pessoas não fossem como são. As pessoas são diferentes, mas são tolas, antes de mais, pela sua apreciação; mesmo que o sejam na realidade, deixarem de o ser é coisa que nos escapa, neste mundo ou noutro.

Nada, a não ser a sua imaginação, lhe permite fundamentar estas suas afirmações. Num mundo diferente, uma pessoa com o seu espírito crítico, com os seus receios e fantasmas provavelmente encontraria outras razões para criticá-lo, porque ele talvez continuasse não sendo como desejaria. A realidade não é constituída pelo melhor deste mundo e de outro imaginado. A realidade é o que é. Não há outra para tomarmos como padrão de referência para o julgamento desta. Mas a realidade não é imutável, vai mudando. Mas apenas muda na medida das suas capacidades de mudança. É infrutífero desejarmos que mude à medida dos nossos desejos.

Isto não impede que critiquemos aspectos que nos pareçam obsoletos ou imorais, que defendamos os nossos interesses e lutemos por eles, de modo a influenciarmos com a nossa representação da realidade a forma como os outros a representam. Mas não nos esqueçamos que a nossa representação é apenas uma representação como outras, e não é a reconstituição do que a realidade de facto é. Muito menos confundamos os nossos desejos de como a realidade deveria ser com as possibilidades que ela tem de ser o que ainda não é.

Anónimo disse...

Onde está "...produtos de qualidade inferior..." deverá ler-se "...produtos de qualidade superior..."

João Sousa André disse...

Só um comentário extra Desidério, sobre o Firefox e a Wikipédia. Estes são exemplos completamente distintos do Projecto Gutenberg e dos torrents, pela simples razão que os autores sabem que nada receberão pelos seus serviços. Quem cria a Wikipédia e o Firefox ganha com o trabalho grátis dos outros? Bom, eles não enganam ninguém. Só quem quiser é que contribui com trabalho. E aparentemente há muita gente a contribuir.

Já nos torrents temos gente que por vezes ganha dinheiro (não é sempre, atenção) com o trabalho de outros e fá-lo sem nada dizer.

Não vou voltar às considerações sobre o que é bom e mau, apenas quis deixar esta ressalva.

Anónimo disse...

A produção cultural, dita de "qualidade", a nível mundial, tem aumentado ou diminuido?

Conseguem responder?

Desidério Murcho disse...

Apelar à realidade encerra muitas vezes falácias e ilusões. Eu posso dizer que a realidade confirma que algo, mas saber se confirma realmente é outra coisa. Mesmo concordando que a concorrência é uma coisa boa, por alguma razão existem leis que impeçam situações de monopólio de facto: porque as leis do mercado nem sempre funcionam de modo a possibilitar a concorrência. E como expliquei, não se deixa em muitos países às leis da concorrência o valor do salário mínimo — porque se pensa que isso teria consequências nefastas. Ora, todo o meu argumento diz respeito à concorrência, precisamente: a Wikipédia impede a concorrência porque constitui concorrência desleal. Desleal porque se baseia em trabalho voluntário (escravatura de cara a alegre). Esta é a realidade. Podemos gostar dela ou não — e a maior parte das pessoas gosta dela apenas porque não valoriza enciclopédias e assim não tem de a pagar — mas é o que é.

Quanto ao argumento de que a publicidade ser uma coisa boa porque é um pilar da sociedade mercantil, também podemos argumentar que a escravatura era uma coisa boa no séc. XVI por ser um pilar da sociedade mercantil desse tempo. Afinal, as pessoas não tinham escravos por maldade, mas porque era a única maneira de vingar no mundo comercial de então. A publicidade é mentira institucionalizada. É dizer às pessoas que se comprarem X vão ascender socialmente; ou que vão ficar magras; ou que vão ficar belas — e tudo isto é mentira. Leia-se a aventura de Carl Sagan com a publicidade, se a memória não me falha no livro Biliões e Biliões (mas poderá ser em O Mundo Infestado de Demónios).

Achei curiosa a ideia de que eu estou mal disposto ou incomodado com a realidade. É um caso típico de alguém que se incomoda com o facto de realidade ser desagradável e atribuir ao mensageiro o carácter desagradável. Eu já sei há muito tempo que a realidade é desagradável e não me incomoda, mas é claro que incomoda quem quer pensar que a realidade é cor-de-rosa. Pense-se só na quantidade de dinheiro que um europeu médio gasta em trivialidades como chocolate ou cuecas e no facto de esse dinheiro poder salvar crianças de morrer à fome em muitos países indigentes do mundo. A realidade não é cor-de-rosa, mas parece cor-de-rosa quando somos da classe média e vivemos em países razoavelmente ricos ou muito ricos e estamos rodeados de coisas agradáveis.

Quanto à diferença entre o que nós gostaríamos que a realidade fosse e a realidade em si, é precisamente sobre isso que eu tenho escrito. As pessoas querem acreditar que a nova realidade digital só tem vantagens, é uma maravilha, e é só almoços de graça. Eu venho e estrago o piquenique chamando a atenção para vários aspectos desagradáveis da nossa vida digital. Quem está a querer esconder a realidade por detrás do que deseja que seja a realidade?

Aconselho a quem pensa que a realidade cultural é cor-de-rosa e que as pessoas todas prezam imenso a cultura uma coisa simples: tentem viver durante uns 4 anos da indústria cultural, editando jornais ou livros, por exemplo — tanto faz se são em papel ou digitais. A realidade desagradável é esta: ninguém sobrevive a fazer uma coisa dessas publicando jornais ou livros de qualidade. Tem de publicar muito lixo porque é isso que a generalidade das pessoas prefere, para depois se conseguir publicar um livrito decente que tenha um mínimo de conteúdo cognitivo. Esta é a realidade desagradável: por cada milhar de Paulos Coelhos e J. K. Rowlings há um Freeman Dyson. E quanto mais depressa as pessoas compreenderem que esta é a realidade melhor. (Uma vez mais chamo a atenção para o facto de eu não estar a dizer que quem prefere Rowlings a Dyson não tem direito à sua preferência.)

Desidério Murcho disse...

Obrigado pela correcção: concordo que é diferente dizer explicitamente às pessoas que vamos ganhar dinheiro com donativos mas não vamos pagar a mais ninguém, como a Wikipédia, de pôr publicidade nas páginas de torrents.

Mas a diferença não é assim tão grande. O que se passa é que as pessoas têm em geral uma mentalidade aristocrática e pressupõem naturalmente que o trabalho intelectual não é para ser pago. Isso tem raízes históricas identificáveis e hoje é reforçado pelo facto de a maior parte dos intelectuais viverem dos impostos dos contribuintes ou das royalties pagos pelas grandes editoras, o que dá a sensação de não serem realmente pagos pelas pessoas directamente. Por isso quando um gajo vai para a internet e pede cacau para servidores e tal mas não para pagar a quem escrever o que as pessoas realmente lêem, as pessoas não acham estranho. Achariam estranho, por exemplo, um merceeiro que oferecesse produtos a metade do preço dos outros, com base em trabalho voluntário e donativos, porque achariam injusto que os voluntários carregassem com as caixas de bananas às costas nos intervalos dos seus trabalhos remunerados ao passo que o dono da mercearia se passeava de jeep vivendo do trabalho deles. Mas isto é o que acontece com a Wikipédia, Firefox e outras iniciativas tidas como maravilhosas.

Anónimo disse...

"Eu venho e estrago o piquenineque..."
Tens mesmo a mania das grandezas, que és o grande iluminado e que os outros não sabem nada, enfim, és um grande burro!

Para quem tem a mania que a wiki não vale nada e que o trabalho voluntário é uma treta, aqui vai o artigo da Nature a comparar a Wiki com a Britannica, sobre artigos científicos. Parece que não há grande diferença:
http://www.nature.com/nature/journal/v438/n7070/full/438900a.html

Onde é que antigamente se tinha uma wiki, gratuita, e com esta qualidade, a informar o mundo?
Que grande nabo és!
luis

Anónimo disse...

"Achariam estranho, por exemplo, um merceeiro que oferecesse produtos a metade do preço dos outros, com base em trabalho voluntário e donativos, porque achariam injusto que os voluntários carregassem com as caixas de bananas às costas nos intervalos dos seus trabalhos remunerados ao passo que o dono da mercearia se passeava de jeep vivendo do trabalho deles."

vamos cá ver se eu percebo, posso ter peras a metade do preço bastando ir lá e acartar caixa durante 5 minutos? oh meu amigo, é que é já a seguir! quero lá saber se o senhor anda de jeep ou não! e quantos mais formas a acartar caixas (potencialmente menos caixas por lombo) mais barato fica? então eu sou já o primeiro na fila!

nuvens de fumo disse...

Normalmente seria o trabalho forçado dos filhos, assim era melhor. Que rico exemplo, e logo o merceeiro que foi gente que enriqueceu a vender por 30 o que comprava a 1, e claro, quando chegaram os hiper ....a culpa é sempre dos outros.

Aliás na mesma linha está todo o comercio dito tradicional, mas que como não tem mais valia nenhuma em relação ao outro, e aos outlets acaba inevitavelmente por desaparecer.

Algum sobrevive dando mais valias e podendo assim cobrar um pouco mais. As entregas ao domicílio , por sinal gratuitas, é uma das possibilidades.

Mas os bons tempos do ganhar sem dar nenhum tipo de valor acrescentado, acabou.

António Parente disse...

Parabéns ao Desidério pelo excelente post. Subscrevo totalmente o que escreveu.

João Silva disse...

Saudações!

Até agora argumentou-se que a wikipedia era má.
Agora argumenta-se que faz concorrência desleal.
Daqui se infere que deverá ser desleal, pois acho eu, a concorrência desleal é ilegal.

Se a wikipedia é boa ou má, chego à conclusão que acaba por ser uma questão de gosto: posso gostar muito dos produtores e querer o melhor para eles; ou posso tomar o partido dos consumidores e dos seus interesses.

Outra coisa é dizer que ela faz concorrência desleal. Cito:
"Ora, todo o meu argumento diz respeito à concorrência, precisamente: a wikipedia impede a concorrência porque constitui concorrência desleal. Desleal porque se baseia em trabalho voluntário (escravatura de cara a alegre)."

Daqui se infere que todo o trabalho voluntário é mau. Isto não faz sentido nenhum.
Não faz sentido, porque num certo sentido todo o trabalho é voluntário, pois as pessoas não são obrigadas a trabalhar; além disso, lá por as pessoas não receberem dinheiro isso não implica que recebam outras coisas (satisfação, etc)

Assim, não há grande diferença entre o trabalho voluntário e o remunerado normal.

Quanto ao argumento das consequências económicas nefastas, não lhe sei responder. Não sou economista. Mas especulo que o Desidério também não saberá, porque também não o é.

Concedo que haja muitas ideias parvas sobre a internet e wikipedias. E só por interesse pessoal contribuiria para a wikipedia. Mas dizer que ela faz concorrência desleal e afins não me parece o mais correcto.

Cumprimentos!

RB disse...

Não percebo sinceramente o porquê de achares que a cultura que não aprovas é palerma... Não consigo alcançar qual a área da filosofia que domina que lhe permita definir a boa e má cultura. E pode ter a certeza que não tenho telemoveis de luxo nem carro sequer e gasto a maioria do meu orçamento em livros, mas não me ponho em cima do meu topete, a dizer que os meus interesses são melhores, porque não o são! São diferentes!

joão viegas disse...

Irra que isto é pior ainda do que eu pensava.

E' que também não sabes o que é concorrência desleal. A Wikipédia alguma vez é uma empresa que opera num quadro concorrencial ? O projecto Guntenberg insere-se num quadro concorrencial ?

E quando estamos a educar os nossos filhos, a ensinar-lhes a falar, ou quando estamos a escrever em blogues, também estamos a fazer concorrência desleal ?

Durante décadas, tivemos filosofos de trazer por casa que julgavam que dizer três ou quatro balelas em francês ou em alemão era fazer filosofia.

Gostava de poder dizer que mudamos para melhor, mas francamente não sei...

Anónimo disse...

Por mim só vejo um problema na Biblioteca Digital da Unesco. Mas primeiro deixem-se dizer isto, para me situar neste debate. Quem tem rendimentos que lhe permitam contribuir graciosamente para qualquer Biblioteca Digital ou de outra espécie, se o faz é de louvar. Deve incentivar-se o trabalho comunitário. Até porque quem contribui trabalha concerteza em institutos e outros organismos de que se sustenta. Se quem quiser contribuir fazendo-se pagar que se junte e reivindique uma forma de remuneração.
Quanto aos livros, reconheço que os prefiro à, para mim, penosa leitura em monitores. Mas este é um problema meu e creio que nunca me hão-de faltar livros no mercado. Um novo veículo nem sempre substitui o antigo: a rádio não morreu com a televisão.
Agora vamos ao problema que vejo na Biblioteca da Unesco, e que considero muito grave: por que raio idiomas como o alemão e o italiano, nos quais foi produzido um quantitativo substancial e decisivo dos saberes património da Humanidade (ciências, filosofia, literatura, todas as artes), de há vários séculos para cá, cuja leitura no original é desejável para que haja deles um entendimento preciso,não se encontram entre as línguas nela disponíveis? Digam-me que estou enganado, por favor.

Anónimo disse...

Gostaria de acrescentar ainda o seguinte. Não vejo na maioria dos comentários qualquer respeito pelos argumentos alheios e pelo raciocínio lógico, se há outro. Argumentos disparatados atrás uns dos outros, qualquer que seja a tese por detrás de cada um. Os argumentos e os contra-argumentos são quase todos falaciosos. Convido-vos a analisarem um por um dos ditos em termos de lógica-matemática. Se forem capazes, tereis vergonha desde debate disparatado. Pode ser que o Desidério Murcho esteja errado no que diz. Mas nenhum contra-argumento inválido pode ser verdadeiro. De facto, isto é pior que um blogue sobre futebol.

joão viegas disse...

Pedro Mota,

"Convido-vos a analisarem um por um dos ditos em termos de lógica-matemática. Se forem capazes, tereis vergonha desde debate disparatado."

Essa é boa.

Explique-nos qual é a estrutura dos argumentos do Desidério "em termos de logica matematica" e vera que não teremos nenhuma dificuldade em mostrar que estão errados...

Desidério Murcho disse...

Pedro, a resposta é simples. A Internet é um órgão de comunicação de massas muito mais massificador do que os jornais tradicionais. O alemão e o italiano não surgem nas língua dos site porque surgem apenas as línguas faladas por mais pessoas. O mesmo acontece com qualquer músico ou autor que usa a Internet para se autopublicitar: ou o faz em inglês ou o melhor é estar quieto.

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