sexta-feira, 24 de abril de 2009

Microsoft anuncia reestruturação radical

Num comunicado lacónico à imprensa, a Microsoft anunciou ontem uma inversão radical de estratégia e intervenção no mercado de software. Não só o código do sistema operativo Windows, usado em cerca de 90% dos computadores, passará a ser aberto, como também o popular Office, que integra o Word, o processador de texto mais usado no mundo, ficará acessível a quem quiser estudá-lo ou modificá-lo a partir do próximo mês de Junho.

Esta medida deixou perplexa a comunidade Open Source, cujo rosto mais visível é o popular navegador Firefox, os sistemas operativos Linux e o Open Office. Numa reacção comedida, o CEO da Mozilla Foundation, responsável pelo Firefox, declarou tratar-se de "um momento histórico e uma vitória para os princípios da arquitectura aberta e do software gratuito".

No comunicado da Microsoft lê-se que "os produtos da Microsoft poderão agora ser usados por todas as pessoas que os quiserem usar, sem pagar, e poderão ser livremente modificados pelos programadores." O que o comunicado refere de passagem, contudo, é o que mais tem dado que falar nas bolsas de valores: o despedimento de quase 80 mil trabalhadores da Microsoft em todo o mundo. As projecções financeiras permitem concluir que os accionistas e dirigentes passarão a ganhar bastantes mais dividendos do que agora, precisamente porque a empresa passará a contar apenas com cerca de 10 mil trabalhadores. É que, como acontece com produtos como o Firefox ou o Open Office, só um reduzidíssimo número de programadores da Microsoft passará a ser pago; os restantes trabalharão voluntária e gratuitamente.

No final do comunicado, a Microsoft refere que "muitos utilizadores de PC preferem um sistema operativo aberto e gratuito, e a Microsoft está atenta às suas necessidades." Esta declaração tem sido interpretada pelo mercado de software como um ataque directo ao Linux, Open Office e outros produtos gratuitos de Open Source, pois pensa-se que a motivação que a generalidade das pessoas tem para usar estas alternativas é precisamente o facto de serem gratuitas e de código aberto. Com esta medida, é previsível que a Microsoft terá uma percentagem bastante maior de mercado do que actualmente, apesar de com isso ganhar menos dinheiro. A reacção mais alarmista veio da parte da Apple e do Opera, que declararam ser preocupante esta notícia, apesar de bem-vinda, pois significa que competir com a Microsoft é agora mais difícil precisamente porque os seus produtos passam a ser gratuitos.

89 comentários:

RF disse...

Seria possível inclui um link para o comunicado ou para alguma notícia que o mencione? Não consigo encontrar quaisquer referências a este anúncio da Microsoft.

António Parente disse...

Mais um post brilhante! Este é antológico!

carolus augustus lusitanus disse...

Aí está mais um «milagre» neste ponto de ruptura para um novo paradigma (a que se está a assistir - com várias crises aí instaladas), que os profetas (da desgraça) da Velha Religião (do Restelo) parece não estarem a perceber -- ou já dá para descortinar alguma coisa agora que o «argumento é de peso»?

carolus augustus lusitanus disse...

Mas isto levanta alguns (sérios) problemas: se os produtos MS são maus (poucos escapam...) e a pagar, então nem quero ver o que virá aí com esta mudança de política...

Claro que (embora não seja dito no artigo), deve haver uma versão a pagar e outra gratuita, mas enquanto não se souber mais nada sobre esta «abertura», vou esperar para ver...

Mind Booster Noori disse...

RF: o Desidério está a tentar fazer humor - e tentar "cascar" no software livre com isto. Claro que está *errado*: a coisa mais inverosímil no seu artigo é mesmo a parte que diz

"é o que mais tem dado que falar nas bolsas de valores: o despedimento de quase 80 mil trabalhadores da Microsoft em todo o mundo"Insinuar que as empresas que trabalham com Open Source não precisam de ter trabalhadores quase nenhums é completamente descabido, e só mostra que o Desidério está a falar de um mercado que não conhece minimamente, nem se esforça em conhecer. Sim, toda a gente sabe que a Red Hat só tem 10 trabalhadores, e a Sun, antes de ser comprada, só tinha 15... E as empresas da ESOP? Ah, todas com menos de 3 trabalhadores, nada de gerar emprego!

José Mota disse...

É uma brincadeira do autor, embora um bocado descabida :-).

Anónimo disse...

Quando a esmola é grande, o pobre desconfia.

Vitor Guerreiro disse...

Claro, as empresas "do aberto" são virtuosas como os bancos: fazem negócios para si próprios com o nosso dinheiro e ainda cobram impostos por cima. A diferença é que as empresas "abertas" são revolucionárias, amigas do proletariado, porque têm bandeira vermelha e fazem discursos soporíferos em cima de mausoléus. Pagar o dízimo ao capelão do partido é diferente. Cada nova datcha desfrutada por um ex-Komsomol é mais um prego no caixão do sistema capitalista, repete para si o proletário letrado, enquanto o milho cresce para baixo.

Mind Booster Noori disse...

Vitor: como é que as empresas "do aberto" fazem negócios com o nosso dinheiro? como é que cobram impostos por cima? Justifique as suas afirmações, se quer que sejam tidas como válidas.

Vitor Guerreiro disse...

Então, com tanto uso gratuito da expressão "mais valia" e não acertam numa circunstância em que ela é tacitamente usada no seu sentido genuíno?

Anónimo disse...

esmola grande? o sr Anónimo está a brincar... mesmo que o windows fosse gratuito, eu nunca escolheria windows.
e conhecendo ambos os sistemas, não acredito que a maioria das pessoas escolhesse windows.
será que a maioria das pessoas que conhecessem ambas as opções escolheriam um sistema operativo sujeito a vírus, adware, spyware, que crasha constantemente, instável, que se torna cada vez mais lento com o uso, etc? Podendo ter um sistema operativo estável, sem vírus, sem adware, sem spyware, rápido, fiável, etc?
Nunca, obviamente.
Acha que uma pessoa que usa o computador como uma ferramenta de trabalho preferiria um sistema operativo em que tivesse de estar constantemente preocupado em correr o anti-vírus, fazer as actualizações para proteger o sistema, desfragmentar o disco porque está a ficar lento, formatar o computador porque a desfragmentação já não resolve o problema da lentidão, etc?
obviamente que não. o tempo que se perde com esta manutenção pode ser utilizado em coisas bem mais interessantes.
de qualquer forma ainda bem que o windows não é gratuito. se o fosse, aí sim, o sr Desidério teria um exemplo perfeito de um produto gratuito com má qualidade.
paula

Anónimo disse...

Isto tudo é tão forçado que mete nojo.

A seguir já espero que o Sr.Dr.Desidério publicamente afirme que irá dar as suas crianças para experimentação científica, porque é contra o método científico e o princípio da transparência.

Patético. Parece que o Sr.Dr.Murcho só tem argumentos e bons textos quando os copia de outro lados. Numa língua diferente qualquer para enganar os pacóvios...

Estes «estrangeirados», depois de subirem á high table nunca mais são os mesmos...

Vitor Guerreiro disse...

"Not to think on all fours. That is the Law. Are we not men?"

e ao fundo ouve-se um burburinho incessante de "Lol" e "ha ha" e perdigotos a saltar.

Vitor Guerreiro disse...

"Estes «estrangeirados», depois de subirem á high table nunca mais são os mesmos..."

Ocasionalmente, podemos ver o verdadeiro motivo de discussão, a despeito de seja qual for o tema que se procura discutir. O que será ao certo esta "high table" nas imaginações torturadas e emoções primárias deste povo?

carolus augustus lusitanus disse...

Are we not men? -- Sometimes... yes! Specially when we wear a white shirt and a black tie!

Rolando Almeida disse...

Eu continuo a pensar por que razão as pessoas que reclamam o software gratuito não reclamam o hardware gratuito e fundam uma religião "Ubuntarax" para defesa do hardware livre. Talvez depois sucedesse em catadupa um sistema mundial de Borlix. Podíamos todos ir ao stand e pegar num Mercedes grátis, um barco grátis, uma vivenda em Nice grátis, pastéis de nata grátis, and so one. Este sim, é o mundo que mais satisfaz o meu umbigo!

Nuno Gomes disse...

Este post do Desidério faz todo o sentido. Até muito perto do fim, pensei que a notícia fosse veradeira e já estava com um "mau-estar" a pensar nas consequências desastrosas se isto fosse verdade. Eu nunca pensei nas "consequências" do software livre, mas de facto, esta ideia das grandes corporações explorarem o trabalho voluntário parece muito apetecível para elas... e desastrosas para nós! O post faz sentido porque faz pessoas como eu pensarem neste problema de um outro ângulo.

Ludwig Krippahl disse...

Parece-me que uma confusão sistemática do Desidério é entre a opção de uma empresa acerca do modelo de negócio em que se insere e a lei que restringe liberdades pessoais para que um certo modelo de negócio seja permitido.

Ninguém tem problema com alguém que queira vender código fechado. O problema é com as leis que proibem copiar um cd ou partilhar um ficheiro com o único propósito de favorecer esse modelo de negócio. O modelo de negócio é perfeitamente legítimo, mas só se não sobreviver à custa da restrição às liberdades individuais.

Será que o Desidério era a favor de proibir as iogurteiras para permitir às empresas de lacticínios vender os iogurtes dez vezes mais caros? Isto talvez aumentasse os postos de trabalho, e é inegável que há um grande esforço em desenvolvimento e investigação no isolamento de estirpes microbianas que dêm bons iogurtes. Que qualquer um copia com uma colherada e uma iogurteira. Mas penso que até o Desidério se opunha a tal invasão da nossa vida privada em prol de um modelo de negócio.

Ludwig Krippahl disse...

Rolando,

«Eu continuo a pensar por que razão as pessoas que reclamam o software gratuito não reclamam o hardware gratuito e fundam uma religião "Ubuntarax" para defesa do hardware livre.»Porque o software é uma abstracção matemática e o hardware um bem material. Pensa antes por que razão não propõe o Desidério que as equações algébricas passem a ser propriedade intelectual e se tenha de licenciar a regra de três simples ou a prova dos nove.

joão viegas disse...

A informação é exacta, mas incompleta. Eis um comunicado emitido pela Reuters ainda esta manhã :

"A Microsoft não anuncia o despedimento de 80 mil trabalhadores, mas antes a sua transferência para outra empresa internacional, a Murcho Inc., especializada em desenvolvimento sustentavel.

Esta sociedade, para além desses 80.000 trabalhadores da Microsoft, dara emprego a 160.000 recem licenciados por universidades prestigiosas para desenvolver um projecto gigantesco de comercialização do ar respirado gratuitamente pelas populações pobres do planeta.

O projecto da Murcho Inc. assenta no raciocinio seguinte. Haver pessoas a respirar ar gratuitamente é um insulto ao trabalho qualificado e representa um roubo descarado em relação aos milhares de trabalhadores altamente especializados que poderiam dedicar horas infindaveis de trabalho para inventar um sistema realmente eficiente que permita comercializa-lo.

O projecto vai começar por um trabalho intensivo de lobbying, especialmente vocacionado para os paises pobres. Esta escolha justifica-se por três razões, segundo as palavras do CEO da companhia, em declarações prestadas ao nosso correspondente local : "Começaremos por convencer os poderes politicos dos paises pobres que o ar deve ser privatizado. Primeiro porque, nesses paises, o ar é a unica riqueza natural que não é explorada ainda, e portanto é provavel que os politicos se deixem convencer que existe ai uma mina. Depois porque, tratando-se de populações pobres, são também mais estupidas (senão teriam enriquecido ha muito tempo), de maneira que sera mais facil convencê-los. E finalmente, terceira razão, são mais faceis de corromper".

D. Murcho, o CEO da Murcho Inc., tem uma longa experiência de criação de segmentos de mercado. Foi premiado pela revista Forbes pela sua campanha contra o costume medieval da "cantiga de embalar", convencendo muitas mães de familia a abandonar esta pratica retrograda e a utilizar os serviços telefonicos para adormecerem os seus filhos.".

Desidério, tem juizo...

Anónimo disse...

O sr Rolando está a comparar a compra de produtos com o "aluguer" de produtos e essa é uma comparação que não faz sentido.
Quando o sr Rolando diz que compra um mercedes compra efectivamente um mercedes: pode usá-lo em Lisboa ou Coimbra ou em Espanha, pode mudar-lhe os estofos, abri-lo, alterá-lo, ver como funciona.

Quando o sr Rolando diz que compra o Microsoft Office, o sr Rolando está, consciente ou não, a mentir.

Porque aquilo que o sr compra é apenas uma licença de uso. O sr paga para usar o software, mas não o compra.

É por isso que se aquela empresa do software que o sr paga para usar, deixar de suportar esse software e o sr deixar de conseguir aceder aos seus documentos, azar o seu.
O sr leu a licença que aceitou quando instalou o Microsoft Office no seu computador?

Quando o sr gera documentos no openoffice, mesmo que o openoffice desapareça o sr conseguirá sempre aceder aos seus documentos.

paula

Ferreira disse...

Alguém coloque um link para a fonte desta notícia. Isto é importantíssimo a muitos níveis. Gostaria de ler o comunicado oficial da Microsoft.

Rolando Almeida disse...

Ludwig,
Mas a diferença não é estabelecida aí. A diferença , a existir, seria a do trabalho que implica "fabricar" e criar software e "fabricar" e criar automóveis. E por vezes dá mais trabalho e implica mão de obra mais especializada criar software do que criar um automóvel. E mão de obra mais cara.

Rolando Almeida disse...

Paula, Luís, Artur,
quando compro um automóvel pago muito mais que o simples automóvel e pago todos os anos uma licença de uso do automóvel, uma licença de uso da habitação, etc. pelo que o seu argumento não funciona. E pago nos impostos licenças de uso da justiça, educação e saúde.

Mind Booster Noori disse...

Ferreira: não procure mais pelo link, ele não existe. Isto é ficção.

Mind Booster Noori disse...

Rolando: desengane-se. Quando compra um automóvel, paga o automóvel *e* outras taxas, mas pagou o automóvel e ele é seu. No software da Microsoft, por exemplo, você nunca paga por ele, ele nunca é seu. Você paga uma licença para poder utilizá-lo, sob determinadas condições. Depois de comprar o seu carro, se você quiser pode arrancar-lhe um banco, ou desmontá-lo todo e tentar voltar a montar (exemplos). Na licença de uso do software, você não pode fazer o equivalente.

Rolando Almeida disse...

Mais um exemplo:
quando vou a uma piscina pública pago uma licença de uso. Não levo a piscina para casa. Quando viajo de avião, pago uma licença de uso de aeroporto + viagem, etc. quando abro a torneira pago uma licença de uso dos empregados camararios que me recolhem o lixo e uma licença de uso da rádio nacionalizada. Não vejo diferença substancial entre estes pagamentos e o pagamento de uma licença de uso à microsoft. É por ser na internet que deve ser grátis? Mas nesse caso por que razão não reclamo que a licença de uso dos cabos de fibra optica da internet sejam grátis? Não percebo. A maior parte dos bens que pago estou a pagar licenças de uso, nem que sejam os outros a trabalhar para eu usar. Por que não aplico o mesmo princípio aos bens digitais? Acaso eles não dão trabalho?
A única diferença que admito possível é a da quantidade, isto é, na internet há mais pessoas, logo , se um terço dessas pessoas doarem 1 centimo já dá para sobreviver. Mas não deixa de existir pagamento. É a mesma coisa que abrir um café no Funchal ou em Lisboa. Como em Lisboa há mais pessoas, a possibilidade de sobreviver com preços mais baixos é por consequência maior. Mas não deixa de existir um sistema de pagamentos implícito. Acontece que o gratuito deixa de fora muita mais gente a viver do trabalho do que o pago. Isto parece-me elementar mas posso sempre estar a ver mal as coisas.

Rolando Almeida disse...

Mind Booster,
Isso não é verdade. Eu posso alterar substancialmente o software, dentro de limitações, tal como tenho limitações para alterar o carro. Por acaso apetcia-me colocar um cano de escape altamente ruídoso no meu carro e apatecia-me colocar lampadas vermelhas, mas não passa a inspecção pois tenho limitações tal como as tenho em qualquer outro produto. Continua a não existir diferença substancial.

Anónimo disse...

sr Rolando,
quando compra umas calças, uma panela, um livro também paga licença de uso?

o sr não paga o uso do automóvel, isso que o sr paga é para usar a estrada.
se o sr comprar um carro para o modificar e fazer uma obra de arte por exemplo, mantendo-o parado, não é obrigado a pagar isso que diz. e continua a usar o carro.

o que é eu disse não é argumento, é facto: o microsoft office que tem no seu computador não é seu, é da microsoft. o sr apenas paga para o usar enquanto a microsoft quiser.
paula

António Parente disse...

O erro do iogurte do Ludwig Krippahl é muito simples: ninguém copia iogurtes, cada um pode fazer os seus, a tecnologia está disponível. O problema é se alguém vai ao supermercado e tira da prateleira sem pagar. É a mesma coisa com o software: qualquer pessoa pode construir um sistema operativo ou um office. O conhecimento necessário para isso está por aí difundido, é ensinado nas universidades e até existem o linux e o openoffice. O problema está em copiar-se o windows ou o office sem o pagarem. É usar o trabalho dos outros sem o pagar.

Quem quiser copiar o que é gratuito, que o faça porque tem autorização do autor. Copiar produtos comerciais é profundamente imoral e põe em causa a sobrevivência económica de muita gente.

Vitor Guerreiro disse...

Segundo o argumento do Ludwig, todos os professores deviam trabalhar de borla, pois os conteúdos cognitivos não são palpáveis como as maçãs, não os podemos levar no bolso. São coisas abstractas. Logo têm de ser gratuitas. O curioso é que podemos aplicar o mesmo raciocínio aos bens ditos "materiais" - só os procuramos por causa de abstracções na nossa cabeça, por exemplo, por acreditar que ao usar aquele par de óculos uma pessoa fica igualzinha ao modelo ou à modelo que a empresa usou para a foto do cartaz publicitário. Ou vamos por outra via:

Pago a um camelo para me pintar a casa toda e os móveis. No final do trabalho, viro-me para ele e digo: "pá, amigo! não te vou pagar um corno, porque tudo o que estou a ver são paredes pintadas. Consegues indicar-me onde é que "está" o "teu" trabalho? ainda por cima, méne, já leste o Deleuze, caraças? Isto é tudo fluxos e relações e cortes nos fluxos. É o imperceptível devir da tinta, carago. Não podes ter pretensões burguesas sobre isso. Só os profetas deleuzianos é que devem ser pagos pelo estado, porque assim ficamos mais próximos do século pós-real."

E depois o pintor atirava uns litros de decapante por cima das minhas paredes, dos meus móveis, e dizia-me: "consegues indicar onde "está" aí a "minha" acção destrutiva? Só vejo decapante e tinta a despelar. É um fluxo ontológico ininterrupto méne."

Rolando Almeida disse...

Vamos ver uma coisa:
Se as pessoas defendem o gratuito porque acham que é um negócio melhor então eu cedo num aspecto. Tanto o gratuito como o pago são grandes e bons negócios. Acontece que o gratuito enriquece muitas menos pessoas e eu defendo que esse é um sistema mais injusto que o pago, que enriquece mais pessoas. Mas se as pessoas defendem o grátis porque é mais justo, então aí sim existe um engano: 1º o grátis é pago (em grande parte pela publicidade e pelo desemprego de mais pessoas) 2º o grátis só convém financeiramente a alguns. Aos outros só cria a ilusão que convém, pois o grátis está a vender-se como outro produto qualquer.

Paula, Luís.,Artur
Claro, quando compro um carro pago a licença de uso da estrada e mais umas quantas. E daí? Não acha que o seu argumento é insustentável?

António Parente disse...

o exemplo do carro da paula não é bom, porque existem limitações às alterações nos carros. têm de ser aprovados por um departamento do estado e isso tem custos. não é grátis. pode tê-lo em casa sem o usar. todos podem ter uma cópia do oficce em casa, no sótão, se não fizerem nada com ela. a partir do momento que a colocam no computador estão a tirar o pão da boca de alguém. aflige-me não perceberem uma coisa tão simples.

Anónimo disse...

"Por acaso apetcia-me colocar um cano de escape altamente ruídoso no meu carro "

sr Rolando estamos a falar de situações em que o sr tem toda a liberdade, sem que interfira com a liberdade dos outros.

o sr não pode alterar software proprietário.
porque se o sr puder alterar software, ver, distribuir o sr não está a falar de software proprietário está a falar de software livre :-P

paula

Rolando Almeida disse...

Guerreiro,
O teu comentário é interessante até de um outro ponto de vista. Mostras bem a fausse gauche que falava o Desidério no ultimo artigo do Público. É que por defenderes o pago depois tens uma série de gente a dizer que és de direita e capitalista, quando a mentalidade ou política económica do gratuito é mais fascista e de direita que o pago. E isto é uma psicofoda muito interessante de analisar. Neste aspecto só tenho a agradecer o trabalho do Desidério que tem dado umas boas luzes

Vitor Guerreiro disse...

A analogia que alguns comentadores fazem entre o trabalho intelectual e o ar demonstra bem o que pensam acerca do valor da cultura. É o que ao contrário do ar, os tais objectos abstractos, tão evasivos, que não podemos meter no bolso, não "vêm do ar", a não ser para quem deles desfruta sem contrapartidas. Os livros, as ideias, as fórmulas, a música, a pintura, a escrita, não andam a pairar por aí sem que ninguém dê um peido de esforço para as produzir.

Mesmo os livros que não pagam direitos de autor não surgiram do ar, e fazer edições profissionais desses livros não vem do ar só porque o autor já morreu. Tal como interpretar em condições uma peça de Bach não é uma coisa que caia do ar aos trambolhões.

Rolando Almeida disse...

Paula,
Posso alterar tanto o software como posso alterar o carro. Posso mudar o fundo do ambiente de trabalho ou os estofos do carro. Não posso mexer dentro do software como não posso mexer dentro do motor do carro. ou para que é que estas coisas vem com números de série? Se assim fosse eu já tinha feito um upgrade do meu seat ibiza para um ferrari.

Vitor Guerreiro disse...

Outra coisa,

a expressão: "o trabalho gratuito é uma mais-valia" é tautológica, porque economicamente, "mais-valia" significa "trabalho não pago". Daí que a analogia com os bancos devesse ser clara. Se faço negócios para mim com o trabalho gratuito dos outros e ainda lhes peço donativos, só me falta o quê? Receber subsídios chorudos do estado para pagar a ligação à Internet e uns jantares-tertúlias com os meus pares?

Mind Booster Noori disse...

Você opta por usar uma piscina pública, uma rede aérea e uma rede de distribuição de água e recolha de lixo e a rádio nacionalizada. É uma opção que tem, e tem o direito a optar por ela. Eu prefiro ter uma piscina minha, o meu avião, a minha rede de distribuição de água, de recolha de lixo, a minha própria rádio. Não as tenho porque tê-lo seria melhor mas mais caro. No caso do software, eu consigo ter melhor e mais barato, e, portanto, opto por essa opção. Não tenho nada contra a que você prefira pagar por pior e mais caro, mas já me aborrece quando você tenta dizer que a minha opção é má. Não - a opção existe porque é economicamente viável (a Red Hat existe e dá dinheiro, as empresas da ESOP existem e dão dinheiro, a Sun era tão apetecível que foi comprada pela Oracle) - e a escolha por essa opção é a que, para mim, faz sentido, porque não só é melhor como mais barata. E não só, e nem sempre, se trata sequer de uma questão de custo. Aqueles que têm Windows já têm o Internet Explorer (pagam o mesmo se o usarem ou não), e no entanto mais de 40% dos utilizadores de Windows usam o Firefox como o seu browser principal. Escolhem-no porque acham-no melhor, não é uma questão de preço, umbiguismo ou porque são terroristas económicos.

Você não "pode alterar substancialmente o software, dentro de limitações": no caso do Microsoft Windows, por exemplo, não pode alterar *nada* no software (confira na licença, se não acredita). Mas no carro você não tem as mesmas limitações: se o carro é seu você é totalmente livre de o alterar como quiser - o que não pode é usá-lo para cometer ilegalidades, tal como não pode usar software para cometer ilegalidades, seja ele a que preço for.

Quanto à afirmação de que "o gratuito enriquece muitas menos pessoas e eu defendo que esse é um sistema mais injusto que o pago, que enriquece mais pessoas"... Desculpe, mas não só não acredito nisso como não vou passar a acreditar a não ser que mostre dados que o comprovem. Na minha opinião, o gratuito enriquece mais pessoas (porque temos de contar o enriquecimento via não-emprobecimento daqueles que o usam), e tem o bónus de distribuir mais a riqueza (o que - está provado e é ensinado nas aulas de economia - gera ainda mais riqueza).

Quanto ao argumento de que "o grátis gera desemprego", continuo a pedir-lhe dados que o comprovem - mais uma vez acredito que o grátis gera mais emprego porque cria um ambiente mais concorrencial, e há casos de estudo para isso - ver por exemplo o recente caso Irlandês. Mas se me mostrar factos/números que me provem estar errado...

(e os comentários continuam a crescer, continuo a comentá-los todos num só...):

Rolando: informe-se. Você é livre de abrir e alterar o que quiser no motor do seu carro, logo que não planeie fazer nada de ilegal com ele.

António Parente disse...

Já agora, mais um comentário rapidinho:

Não percebo quem copia músicas, jogos e outras tretas da internet. Estudem, aprendam, usem a imaginação, cantem, comprem instrumentos, componham músicas, construam jogos, mas não tirem o ganha pão dos outros. Este método tem uma vantagem: progressão intelectual, maios satisfação pessoal, aumento da auto-estima. Mas se quiserem usar o trabalho dos outros, paguem-no. Não usem argumentos estapafúrdios para justificarem a vossa necessidade de copiarem o que não é vosso nem é colocado à vossa disposição de forma gratuita.

joão viegas disse...

Vitor Guerreiro,

Ja uma vez abordamos essa questão e terei todo o prazer em discutir consigo se ainda houver pontos por esclarecer. Quando dizemos que ideias, ou abstrações não têm valor comercial, isto obviamente não obsta a que devamos pagar o trabalho necessario para descobrir essas, ideias, para lhes dar forma, para as transmitir etc.

Simplesmente o que se paga nesse caso não é a ideia, é apenas o trabalho.

Nas criticas aos textos do Desidério não creio que se ponha em causa que o trabalho deve ser pago quando é desenvolvido com vista à obtenção de um rendimento. Mas o que o Desidério chama "trabalho voluntario" não tem nada a ver com esta realidade. As pessoas que participam na Wikipédia, ou que decidem ajudar de forma benévola o projecto Guntenberg estão a fazê-lo por escolha livre, de forma completamente benévola, simplesmente por interesse pessoal e a titulo de lazer.

Não quero retomar a discussão, mas apenas esclarecer uma coisa que não me parece completamente liquida para si : remunerar o trabalho de alguém (o dos professores por exemplo) não é a mesma coisa do que comprar os frutos produzidos pela sua actividade como se se tratasse de produtos comercializaveis. Por isso carece completamente de sentido postular uma equivalência entre o salario dos professores e o valor "comercial" da sua actividade (por exemplo dos frutos dessa actividade em termos de direitos de autor).

Boa continuação

Mind Booster Noori disse...

António: se as músicas, jogos e "outras tretas" forem de utilização livre, porque não? Eu estudo, aprendo, uso a imaginação, canto, tenho instrumentos que comprei e sou compositor. Além disso, também ouço música gratuita: estou, por exemplo, neste momento a ouvir música de um album disponível gratuitamente - legal, claro - pela editora que o lançou. Estarei a tirar o pão da boca de alguém? Erro em usufruir da música que é disponibilizada gratuitamente, quando os detentores dos direitos de autor dessa mesma música decidiram que a música é gratuita?

carolus augustus lusitanus disse...

António Parente:

Eu até concordaria consigo, se os produtos que compramos (falo do software pago, em geral) não tivessem o elevadíssimo preço que faz com este ou aquele tenham o epíteto de «o mais rico do mundo»... Há aqui qualquer coisa que está mal... aliás como todo este sistema capitalista sem rei nem roque que agora abanou o «mercado» e está a agitar as mentes...

Vitor Guerreiro disse...

"acredito que o grátis gera mais emprego porque cria um ambiente mais concorrencial, e há casos de estudo para isso"

É fascinante, o discurso das pessoas É exactamente igual ao de qualquer crente de uma seita religiosa.

É o milagre da multiplicação dos peixes. Quanto mais trabalharmos de borla, mais emprego há (claro, o máximo da empregabilidade é um fazendeiro com 100 escravos). Mas esquece lá que isto seja contra-intuitivo, o ónus da prova recai sobre ti. Depois é exactamente como falar com religiosos: não é preciso provas para acreditar no milagre, mas é preciso "provas" para não acreditar, por muito que o milagre já tenha sido desmontado e se tenha dado exemplos da sua impossibilidade. A crença religiosa autojustifica-se, o que se há-de fazer?

Anónimo disse...

Se o carro lhe faz espécie, substitua-o por relógio, calças, copos whatever...

não adianta eu estar aqui a dizer que o Microsoft Office não é seu e o sr dizer que é, porque eu li a licença e sei que não é seu.

a questão maior disto é a consequência desse software não ser seu.

se a empresa deixar de suportar o software o sr deixa de aceder aos conteúdos que gerou.
se surgir um novo software melhor de uma empresa concorrente, e o sr quiser exportar o seu conteúdo para esse novo software o sr terá muito mais dificuldade (se eventualmente for possível sequer) de o fazer.

eu não quero convencê-lo a usar open source, quero apenas dizer-lhe que há alternativas ao software proprietário muito melhores, mais vantajosas para si.

e disse-o, se depois disto o sr continua a usar software proprietário, a mim tanto se me dá.
se um dia, o sr não conseguir aceder aos seus documentos ou quiser mudar de software e não puder, olhe, azar o seu, o sr fez a sua escolha consciente, como eu costumo dizer "a partir daqui, cada um tem o que merece"
paula

Anónimo disse...

"Numa reacção comedida, o CEO da Mozilla Foundation, responsável pelo Firefox, declarou tratar-se de "um momento histórico e uma vitória para os princípios da arquitectura aberta e do software gratuito"."

Ninguém percebeu que esta frase mostra o quão o Desidério está fora da realidade? Ninguém da comunidade open source defende software gratuito, isso é um discurso que NUNCA é utilizado. O software é gratuito porque acontece se-lo, existe software de código aberto pago. O principio é o da abertura, não o da gratuitidade. Confundir estas duas coisas é um erro tão crasso e evidente que mostra, para além de qualquer dúvida, que o Desidério está para lá de Badgdade neste assunto.

Não confunda os defensores da gratuitidade por principio dos defensores de arquitecturas abertas. Podem existir sobreposições a niveis de pessoas mas não são de todo a mesma coisa.

Anónimo disse...

2500 pessoas deram 300 dólares por um cd que estava disponibilizado gratuitamente na web, pela respectiva banda (NIN)

este é apenas um dos exemplos das várias edições que a banda fez, para este álbum.

esta banda fez mais dinheiro com este álbum do que em toda a carreira com a sua editora.

a coisa correu tão bem que o segundo álbum que lançaram, fizeram-no neste esquema também.

tem aqui uma prova de um autor que ao disponibilizar o seu trabalho gratuitamente na web ganhou (muito) dinheiro, muito muito mais do que quando tinha uma editora e um modelo clássico...

free is a business model
paula

Anónimo disse...

free software = free as in free speech not as in free beer

por isso é que se diz software livre e não software grátis, até porque há muito software grátis que não é livre
paula

Mind Booster Noori disse...

Vitor, vamos lá por as coisas em ordem:

Tu, antes de outro qualquer, afirmaste que o grátis era inimigo do emprego. Assim, e porque afirmaste-o sem dados, tu é que ages com religiosidade: acreditas que é assim e eu, que contesto, é que tenho de apresentar provas de que assim não é.

Mas pronto, eu faço o favor, toma lá um exemplo, aplicado até à temática do software: MCP death trap.

nuvens de fumo disse...

Só ainda não percebi qual é a solução do Desidério ?

Qual, apresente uma solução para a situação actual do SW , que eu vou divertir-me. Já tenho aqui um colchão de água para me rebolar a rir.

Mas desafio-o a usar um pouco de "What if" e ver bem as consequências do que propõe.

E a sua proposta te contemplar:

1) Trabalho gratuito como wikipedias
2) Direitos de autor e propriedade intelectual

É muito fácil enunciar condutas genéricas no campo dos princípios, mas especificar regras ou leis que se apliquem a todos , com equidade , permitindo ao mesmo tempo o desenvolvimento da industria e os direitos , isso seria interessante de ver.

Dar exemplos de caricatura para defender uma ideia é o que se chama de Straw Man , uma falácia argumentativa frouxa e sem elevação.

Apresente a sua solução , fico á espera.

Anónimo disse...

Bem atrasado para o primeiro de abril hein?!

joão viegas disse...

Caro Vitor Guerreiro,

So li os seus ultimos comentarios agora e vejo que optou por não me responder, portanto penso que estamos de acordo.

O seu comentario sobre o valor do ar e o valor da cultura erra o alvo porque niguém defendeu que o trabalho desenvolvido pelos agentes da educação e da cultura devia, por sistema, passar a ser gratuito. Isto seria obviamente absurdo. Eu, pelo menos, nunca defendi semelhante coisa e penso que não encontrara nada nesse sentido nos meus comentarios.

Estamos apenas a dizer que é uma imbecilidade criticar as actividades gratuitas (o tal "trabalho voluntario" visado pelo Desidério) argumentando que elas impedem que profissionais ganhem dinheiro vendendo os mesmos bens ou serviços.

O ar tem tanto valor como a cultura (senão mais, porque sem ar, duvido que houvesse cultura). A diferença é que não custa nada pois esta disponivel. Ora, se por absurdo, amanhã, existisse uma forma gratuita de transmitir a cultura e a educação, isso seria razão para protestar ? Alguém protesta pelo facto do ar estar disponivel gratuitamente, impedindo assim a existência de uma prospera industria comercial ?

A premissa maior do raciocinio do Desidério é absurda, e não as criticas que lhe foram dirigidas : se conseguissemos suprir as nossas necessidades em termos de transmissão da cultura e do saber apenas com actividades benévolas, por exemplo se as pessoas conseguissem disponibilizar tempo (e recursos e saber e experiência, etc.) por forma a poderem dar em casa uma educação perfeita e uma formação rigorosa aos seus filhos, suficiente para torna-los bons cidadãos, bons profissionais, etc., onde é que estaria o problema ?

A educação e a cultura são bens em si. Não são bens apenas por representarem uma fonte de rendimento para professores e investigadores.

E isto vale alias para qualquer bem, mesmo comercializado. Se as maçãs crescessem espontaneamente por todo o lado, e se existissem de forma abundante (como o ar), deveriamos escandalizar-nos porque isto tira postos de trabalho ?

Desculpe mas a argumentação do Desidério não é séria.

Precisamente porque a transmissão do saber e da cultura implica custos, custos esses que jamais poderiam ser suportados pela acção ludica ou benévola de voluntarios, é que existe um serviço publico. E esse serviço não visa obter lucros. Acomodamo-nos de empresas comerciais que vendem produtos necessarios à transmissão do saber e da cultura (caso das editoras por exemplo), mas não é por isso que a transmissão do saber e da cultura passa a ser uma actividade exercida em regime de concorrência.

Fico preocupado quando vejo que essas evidências suscitam perplexidade...

Mais ainda quando essa perplexidade provém de professores. O que pensam eles que estão a fazer todos os dias ? Pensam que fazem parte de uma empresa comercial ?

E' que se nem sequer percebem em que consiste a sua propria função, não percebo bem o que eles podem ensinar às crianças e aos jovens...

nuvens de fumo disse...

A mais valia não é o conhecimento em bruto, é o que com ele se faz, uma aula tem de ter mais valia sobre o livro, porque senão de facto não serve para muito ir lá.

Saber ensinar, tirar dúvidas, resolver exercícios é uma mais valia e tem de ser paga não porque seja imposto ,mas porque se não me pagarem não conseguem os mesmos resultados e isso tem valor, é visto como um benefício.

Esta noção de valor acrescentado serve para tudo, do aço à manteiga, das armas aos livros. coisas sem valor percepcionado dificilmente hoje em dia conseguirão sobreviver.

E existe o contrário, coisas sem valor objectivo nenhum, que tem um percepção exacerbada, lembro-me de uma tosta com a imagem de cristo que foi vendida no eBAY.
Estas noções são abstractas, e por isso podem e devem mudar.

Passamos de sociedades de troca directa para sociedades em que o valor era a moeda, mas mesmo esta estava inicialmente baseada no seu material de fabrico. Passamos desta situação para uma ainda mais abstracta , o papel moeda, deste para dinheiro à vista, e fundos, e mais papeis e obrigações e acções, e derivados , etc

Quanto mais avançamos em complexidade mais o valor das coisas se tem tornado uma abstracção. Bem ou mal é esta a situação actual.

Querer manter o valor das coisas artificialmente está condenado ao fracasso.

No fundo é essa a proposta escondida, manter as pessoas a pagar algo que já não pode ser valorizado como antigamente.

Isto é a eterna história das máquinas de costura em Inglaterra, o mundo muda , nós temos de nos adaptar.

Anónimo disse...

O Desidério arruína-vos com a inteligência e vocês andam atrás dele que nem patinhos; deve andar farto de rir com esta picardia.
Caro Desidério compreendemos que a filosofia queira que as pessoas discutam entre si e em torno de determinados problemas mas deixe lá esta gente descansar e mudemos de assunto; é que por este andar roem-se até aos ossos e a população está a envelhecer pelo que melhor será poupá-los.
arte

Ludwig Krippahl disse...

Vitor Guerreiro,

«Segundo o argumento do Ludwig, todos os professores deviam trabalhar de borla, pois os conteúdos cognitivos não são palpáveis como as maçãs, não os podemos levar no bolso.»

Não. Segundo o meu argumento, todos os professores devem ser pagos pelo seu trabalho e não impondo restrições ao acesso ou uso do conhecimento que eles transmitem.

Assim, um professor de matemática deve ser pago pelas aulas que prepara e dá, exames que avalia e assim por diante, e não por um sistema de licenciamento que proiba alguém de fazer contas sem lhe pagar. Analogamente, um programador, que trabalha também a matemática, deve ser pago pelas suas horas de trabalho e não pelo licenciamento das operações algébricas que programou no computador.

Ludwig Krippahl disse...

António Parente,

«Não percebo quem copia músicas, jogos e outras tretas da internet.»

Isto é um erro conceptual. Não se pode copiar músicas da internet, nem jogos, nem nada que não seja 0s e 1s. O que se copia na internet são sequências de bits que podem ser usadas como receitas para produzir músicas (o som que sai da coluna), jogos (o programa a correr), etc.

Quando um dia houver um robot de cozinha programável que transforme automaticamente ingredientes em refeições, não se vai poder copiar pastéis de nata da internet. Não vai haver bitoques a passar pela fibra óptica nem feijoadas guardadas em pendisks. Vamos poder sim copiar receitas numéricas que, com um click, podemos enviar para o robot de cozinha e ter a refeição que queremos.

É isso que se passa agora com as músicas e essas tretas.

E não se justifica proibir a cópia de receitas como forma de proteger este modelo de negócio.

António Parente disse...

Ludwig Krippahl

Vai dar ao mesmo. Explique-me porque é que alguém deve copiar as sequências de bits produzidas pelos U2 e não produz as suas próprias sequências de bits. Parece-me que quanto mais bits originais se produzirem mais cultura se cria. É como nos jogos: cada um cria os seus em vez de copiar os bits dos outros. A humanidade beneficia com isso e evitava-se a preguiçar de usar as sequências de bits criadas por outros.

António Parente disse...

Ó Arte

Vc quer que o Desidério mude de assunto porque já viu que ele tinha razão.

António Parente disse...

Augusto

Concordo consigo que os produtos da Microsoft estão demasiado caros. Por esse motivo eu comprei o pacote da Sun equivalente ao Office por 75 com download directo na internet. Usando a linguagem do Ludwig paguei 75 euros pela cópia de uma sequência de bits que eu sou incapaz de reproduzir. Há uma semana comprei o Office da Microsoft por 99 euros, uma licença para 3 computadores e para uso não comercial. Se não comprarmos produtos da Microsoft e optarmos pelos da concorrência o preço deste. No tempo em que existiam o Lotus, o simphony, o quattro pro, etc, a microsoft não tem o poder que tem hoje. A solução não está no gratuito mas na concorrência. Os monopólios prejudicam o consumidor.

António Parente disse...

Mind Booster Noori

Se as músicas, jogos, etc, forem de utilização livre não tenho nada contra. Critico é a cópia ilegal de produtos comercializados e a mentalidade de quem acha que deve ser tudo gratuito quando não percebe que vivemos numa economia de mercado e que as pessoas não vivem do ar nem da caridade alheia. Respeite-se o trabalho dos outros, pague-se por ele se acharmos que vale o preço que é pedido e despreze-se esse trabalho se acharmos que não merece. Usá~lo sem pagar e sem autorização do autor não me parece ético.

nuvens de fumo disse...

Uma falácia muito divertida é que as editoras apresentam os valores piratados como perdas, o problema é que muitos deles nunca chegariam a ser consumidos se tivessem mesmo de ser pagos. É uma não venda quando muito.

Na realidade o que se tem de alterar, como já disse, é a forma de fazerem o seu negócio.
Se me perguntam se é fácil, acho que não, mas desde já digo que festas, concertos, bares e locais de consumo de musica estão quase sempre cheios e a render muito. Por isso é uma falsa questão a das perdas em vendas de CDS.
Provavelmente no futuro os grupos terão de se fazer á estrada e voltar à época dos concertos, aí valerá menos a musica gravada e será apreciado o concerto ao ar livre.
Tem que se mudar quando a realidade muda. O dinamismo da criação artística é hoje maior do que no meu tempo de adolescente e em magnitude, basicamente : é esmagadora. Há milhares de bandas , dezenas de estilos, coisas boas coisas más, há eventos em barda.
O tempo actual nada tem que ver com o tempo pacato em que havia os xutos, rui Veloso, gnr e mais meia dúzia de gatos pingados.

O mundo é hoje imenso e está todo ligado. Perder este ambiente de fusão cultural , de dinamismo para que meia dúzia de editoras e de artistas ganhem mais a fazer menos, é um argumento ridículo e perigoso.

Criminalizar a troca de ficheiros é ainda por cima tecnologicamente difícil. Há questões técnicas que não é este o local para explicar, no entanto a restrição de partilha de ficheiros implicaria a criação de mecanismos altamente intrusivos na nossa liberdade online.

Para proteger uns não podemos expor todos, mas é disso que se fala quando se quer utilizar estes argumentos.

depois será a partilha gratuita de conteúdos, depois os conteúdos que façam face aos jornais, depois os jornais gratuitos, depois os blogs de autores que escrevem para jornais , depois será o dicionário online, o artigo que é publicado pelo autor, é a informação de transito, depois é tudo o que se queira.

é um caminho cheio de perigos estas ideas brilhantes do Desiderio.

É o fascismo na NET , e em comemoração do 25 de Abril, carecia de um pensamento mais cuidado.

Já agora porque não proibir a pornografia na net ?? hummm sim, aquelas porcarias zzzzz, devassas onde mulheres de péssimos hábitos ensinam crueldadezzzz

é esse o fim destas ideias, a moralização , a higienização asséptica, o correcto e o certo. Tudo de mãos dadas com os pensamentos cristãos e de família....

Poupem-me, que almocei....

nuvens de fumo disse...

Porque se não perceberem eu explico, na NET uma lei restritiva , ou melhor, a primeira lei restritiva dos direitos de autor por imposição tecnológica acaba com tudo o que de bom a intenet tem e deita-nos 20 anos no passado. E não acho que a pirataria de per se seja boa.

Ao contrário do que pensam , a internet é o local ideal para se impor regras espartanas de acesso a tudo e mais alguma coisa.

Cuidado com a regulamentação excessiva de um bem menor, os direitos de autor, face a vários bens maiores: a partilha de conhecimento, a fusão de músicas de estilos, o dinamismo da produção de SW , a distribuição, etc

Deixar esses burocratas ignorantes invadir um espaço desta natureza é acabar com as suas vantagens.

Anónimo disse...

NÃO ACREDITE EM TUDO O QUE LÊ. :)

nuvens de fumo disse...

"eu comprei o pacote da Sun equivalente ao Office por 75 com download directo na internet. Usando a linguagem do Ludwig paguei 75 euros pela cópia de uma sequência de bits que eu sou incapaz de reproduzir."

Não , por acaso o download é gratuito do opem office, pagou pelos cds e pela caixa, que é sempre uma escolha

Vitor Guerreiro disse...

ludwig,

quando pagas por um romance não estás a pagar direitos de licenciamento da língua, estás a pagar o esforço do autor e o investimento do editor. Acontece que a língua é uma ferramenta que faz parte desse esforço e desse investimento. O mesmo acontece na música e na matemática.

O que o egoísmo borlista passa a vida a defender é que, como é ridículo cobrar direitos pelo uso da língua, logo é maximamente virtuoso não cobrar por um exemplar de um romance... ou de um jogo de computador, que deve ser o que estes gajos que protestam por causa dos livros de 300 euros mais consomem e onde mais despendem esforço.

Defendes que o trabalho do professor deve ser pago. Mas por outro lado, para ti a música tirada da net são só zeros e uns. Mas então também o trabalho do professor é redutível a zeros e uns. Só não é tão agradável quando nos lixam a nós.

Diz também muito sobre a "comunidade" o facto de tanta gente aparentemente ter acreditado na notícia falsa, mas ninguém se ter preocupado muito com o despedimento de 80 000 pessoas. Desde que eu possa usar programas de borla, que se lixe.

O teu problema é não tentares ganhar a vida a criar receitas culinárias. Porque se o fizesses verias que há muito mais do que zeros e uns numa receita culinária. Isto é puro egoísmo. Acreditas que o teu trabalho é mais digno ou superior ao dos outros e que portanto deves aceder ao deles de borla enquanto eles não podem aceder ao teu de borla. A não ser que cries essa ilusão, de que lhes dás o teu trabalho de borla, porque talvez eles não to paguem directamente, mas por intermédio do estado ou de outra entidade, logo até não parece que te pagam e que tudo vem do ar. Basta ter uma ligação ultra-rápida à Internet.

No dia me que alguém bulisse com o modelo de negócio que paga o TEU ordenado, largavas as falácias comunitaristas mais depressa do que os ex-komsomóis da união soviética se tornaram empresários capitalistas.

nuvens de fumo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nuvens de fumo disse...

Vitor Guerreiro e outros
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Dando de barato que estão cheios de razão ( que não estão), a solução é ?

1) a criação de uma policia internacional de defesa do estado da net (PIDEN) que possam vasculhar o que fazemos na net à procura de eventuais trocas de ficheiros onde supostamente estejam conteúdos protegidos ?
2) o registo de todas as sequencias de bits que entram e saem dos nossos pcs de forma a poder ser instaurado a qualquer instante um processo administrativo por cópia ilegal
3) a inversão do onus da prova, e cada um ter de provar mensalmente não ter acedido a sites como o pirate bay, mostrando a lista de pesquisas na net , um logo de acessos via ip ?
4) a utilização de buscas aleatórias a casas, de preferência em horário nocturno , para ver se se apanha em flagrante os malvados?
5) um guantanamo para dissuadir os criminosos e assim evitar o crime '

é que eu não sei, mas como se pretende evita a partilha de ficheiros continua a ser um mistério para mim.
É como a luta contra a cassete pirata, foi um sucesso com a invenção do CD.

Haja bom senso

Vitor Guerreiro disse...

metafísica borlista:

tudo o que é exprimível em binário deve ser gratuito, porque a coisa mais fácil do mundo é copiar uma sequência de 0 e 1.

Mario Lino disse...

Caro Desidério,

Acabei agora mesmo de receber um telefonema dos "numbers", e eles pediram-me para lhe transmitir que estão muito zangados consigo.

É claro, não deixaram de ressalvar que o Desidério acertou no número de empregados (directos) da Microsoft - 80,000+10,000=90,000 - e que essa pioneira inclusão de numbers num dos seus posts permite vislumbrar uma (muito ténue) luz ao fundo das trevas deste túnel em que o Sr. Desidério nos embarcou, nesta tenebrosa viagem pelas sombrias perspectivas de futuro que a RNED nos promete.

No entanto, parece que muitos "numbers" ficaram furibundos pela inadequada apropriação que o Sr. Desidério fez deles. De todos, o que pareceu mais indignado foi o number 80,000 que quase perdeu o fôlego ao telefone, enquanto debitava uma série de adjectivos que não reproduzirei aqui por razões púdicas.

Eventualmente os ânimos destas hordas de numbers exaltados acabaram por se acalmar, e consegui apontar alguns dos argumentos que os numbers me pediram para le retransmitir, a bem da Verdade.

Ora vamos lá a começar.

No site da Microsoft podemos ler (http://www.microsoft.com/msft/reports/ar08/10k_fr_bus_06.html)
"As of June 30, 2008, we employed approximately 91,000 people on a full-time basis, 55,000 in the United States and 36,000 internationally. Of the total, 35,000 were in product research and development, 26,000 in sales and marketing, 17,000 in product support and consulting services, 4,000 in manufacturing and distribution, and 9,000 in general and administration. Our success is highly dependent on our ability to attract and retain qualified employees. None of our employees are subject to collective bargaining agreements."

Ainda na mesma página, podemos ver o que cada uma das divisões (product research and development, sales and marketing, product support and consulting services, manufacturing and distribution, general and administration) faz.

Product research and development: Produzem o Windows Vista, Microsoft Office, Xbox 360, Windows Server 2008, SQL Server 2008, Visual Studio 2008, Windows Live, Windows Mobile, e Zune. Podemos imediatamente verificar que esta divisão faz muito mais do que produzir software. Temos hardware (área de servidores de internet e outros networkings, a consola XBox 360, e o leitor de mp3 Zune). Depois temos ainda serviços net que a Microsoft providencia de borla (e esta hein?) como o Windows Live, ou outros serviços online como o Xbox Live. Portanto, dos 35,000 empregados de R&D, penso que dificilmente poderemos por mais de metade na rua caso a RNED disponibilize mão de obra escrava para produzir o Vista, Office, Visual Studio, etc... Dos 35,000 vamos então por na rua 18,000.

Sales and marketing: É preciso continuar a vender o hardware (Xbox, Zune, Microsoft Servers) e talvez continuar a valorizar o Vista (mesmo de borla, terá de competir com o Linux). Enfim, com algum esforço, admitamos que vaõ metade para a rua: 13,000.

Support and consulting services: Bom, aqui o caso muda de figura. Não se conhecem muitos casos de firmas de consulting que forneçam os seus serviços à borla. Para mais, muitas firmas fazem suporte pago de sistemas operativos como o Linux, e nunca ouvi falar em alguêm que se desloque até nós para nos resolver os problemas dos nossos computadores (em casa e nas empresas). Como tal, temo que não vá nenhuma pessoa para o olho da rua.

Manufacturing and distribution: Mesmo caso de figura. Mesmo no paradigma da RNED, não me lembro de haver nenhuma fábrica no mundo em que os seus operários e engenheiros trabalhem de borla. Vão para o olho da rua: 0.

General and Administration: Bom, vamos sempre precisar de secretárias para servir cafézinhos e arrumar caixas de clips e afins para os CEO's bem pagos da Microsoft. Admitamos que os custos de gestão de pessoal diminuem na directa proporção do pessoal que vai para o olho da rua. Temos por uma simples regra de três (o Desidério sabe ao que me refiro certo?): X=(18,000+13,000)/(35,000+26,000+17,000+4,000)*9,000
= 3,500 pessoas para o olho da rua (arredondando).

Portanto, no computo geral passamos de 91,000 para 56,500 empregados, e isto fazendo a aproximação severamente restrictiva de que temos criação de 0 empregos decorrente da mudança de paradigma do negócio. Curiosamente, a Microsoft declarou que vai eliminar 15,000 empregos para o ano. Estamos quase lá em relação ao cálculo que os numbers me transmitiram.

Em suma Sr. Desidério, voltamos a ouvir, lá ao longe, este verdadeiro grito do Ipiranga dos tempos modernos:

Numbers! Numbers! Numbers! (mas dos bons certo?)

Um bem haja Sr. Desidério.

joão viegas disse...

Caro Antonio Parente,

"Critico é a cópia ilegal de produtos comercializados e a mentalidade de quem acha que deve ser tudo gratuito quando não percebe que vivemos numa economia de mercado e que as pessoas não vivem do ar nem da caridade alheia."

A educação e a cultura são produtos comercializados ? Releia a constituição por favor...

Artigo 74 "1. Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar. 2. Na realização da politica de ensino incumbe ao Estado a) Assegurar o ensino basico universal, obrigatorio e gratuito [...] e) estabelecer progressivamente a gratuidade de todos os graus de ensino [...]".

E também existem regras sobre o papel do Estado na cultura, e alias regras que consagram a liberdade da criação cultural (artigo 42).

Desde quando é que a educação e a cultura se regem principalmente pelos principios do mercado ? Onde é que ja viu que fosse o caso ? Em que pais ?

Uma coisa é criticar a copia de produtos comercializados, o que eu entendo perfeitamente e penso que maior parte dos comentadores aqui também entende, pelo menos na medida em que se trata de uma violação da propriedade de outrem (ou dos seus direitos sociais, se fôr caso disso).

Mas não é isso que esta em causa no "raciocinio" do Desidério. O que se põe em causa é que isto se aplique a projectos como a Wikipédia, ou ao projecto Gutenberg, que não têm rigorosamente nada a ver com empresas comerciais em regime de concorrência e que, como é obvio, não cometem nenhum atentado à propriedade (as ideias são livres, os livros colocados em linha são textos que estão no dominio publico, etc.).

E mais, critica-se a falacia de quem afirma que defender a gratuidade equivale a ocultar que haja custos. A constituição ignora que o serviço publico da educação tem custos ? E' isso que esta a dizer ? Ora dê uma vista de olhos nos artigos sobre o sistema financeiro e fiscal...

Se ha nesta discussão alguém que esta a ter uma atitude religiosa, penso que não são os criticos do Desidério...

Nem nos paises mais liberais do mundo o Estado deixou de ter incumbências como a de administrar um serviço de educação. Porque sera ? Porque nesses paises é necessario dar de comer a uma casta de esquerdistas que não têm onde cair mortos e que isso custa menos do que mantê-los presos ? E' isso ?

Haja seriedade por favor...

Vitor Guerreiro disse...

é fascinante ver como é possível comparar uns miúdos que querem sacar umas merdas de borla, apesar de terem dinheiro para ligações rápidas à net, cigarros, gasolina e noitadas, com pessoas que tiveram de enfrentar a polícia política salazarista ou a prisioneiros em guantanamo. Parte-me todo.

A solução não é polícias pá, era as pessoas deixarem de mentir a si próprias e pararem de ser egoístas, serem um pouco mais razoáveis. Se isso fosse assim, não era preciso nem esta conversa nem sequer era preciso haver ministérios de cultura ou subsídios do estado para coisa alguma. Mas as pessoas não são razoáveis.

Ludwig Krippahl disse...

Vitor,

«quando pagas por um romance não estás a pagar direitos de licenciamento da língua, estás a pagar o esforço do autor e o investimento do editor.»

Isso é verdade se for assim: o autor diz que quer escrever um romance se tiver 1000 encomendas antecipadas a 20 euros cada uma. Eu encomendo uma e comprometo-me a pagar 20 euros. Uma vez assegurado o pagamento do valor orçamentado, o autor prossegue com o trabalho e recebe contra a entrega do mesmo.

Isto é o que faz qualquer profissional. Diz aos seus clientes quanto quer, eles decidem se pagam ou não, ambas as partes acordam em prossegue-se o trabalho.

Se o autor decidiu escrever porque quis, sem me pedir nada nem nada lhe prometer, então nada lhe devo. Nesse caso, ou pago pelo livro em papel porque não o posso obter de outra forma ou, se pago pelo pdf é só por força da lei. Não é nem por obrigação moral nem por recompensa do trabalho ou investimento porque só me compete recompensar numa transacção destas aquilo que eu encomendo.

A razão porque, ao contrário das outras profissões, nos livros e discos temos um modelo centrado na distribuição é porque, até recentemente, era aí que estava o investimento principal. Imprimir e distribuir um milhão de livros sai muito mais caro do que pagar a quem escreva a história.

Mas hoje é o contrário e está na altura de mudarmos para um modelo mais sensato em que se paga o trabalho do escritor e não a licença de acesso à sequência de números que codifica o texto que ele escreveu.

Ludwig Krippahl disse...

António Parente,

«Parece-me que quanto mais bits originais se produzirem mais cultura se cria.»

Sim, se essas sequências de bits forem de acesso livre. Senão não é cultura. Cultura é o corpo de informação, hábitos, expressões e outras manifestações que somos livres de partilhar. Coisas secretas, proprietárias ou de alguma forma restritas não são cultura.

nuvens de fumo disse...

Eu pago TV por cabo, e posso ver e gravar todos os programas que queria ( em princípio deveríamos proibir isto, porque em dois passos podem estar na net).
Se quiser, tiver paciência e tempo , posso gravar uma série como o Boston Legal (R). onde está o crime de eu a partilhar e ver em conjunto? ou de a emprestar a um amigo ? e se eu emprestar em Cd é menos crime que se eu partilhar por torrent ? Onde começa aqui o crime ? o que está protegido , a série e os direitos de transmissão ou o formato que se grava no CD , no DVD ? Posso gravar para fins privados num sevidor na net ? tem de ser regulada a forma como gravo , onde gravo, a quem empresto?
E se partilhar o início e o fim da série ? e se a dividir em fracções que não são mais do que sequencias incompreensíveis e que carecem de um programa para serem de novo construídas ?
e se encriptar e partilhar encriptado e depender de chave para ver ? é que não pode ser aberto , por isso não há prova do suposto crime.

E se partilhar como se pode fazer a dita prova ? sem regras ? aqui uma das peças centrais é o como : )))


Mas esta gente adora as simplificações e não gosta de protestar contra posições dominantes de força - ama os monopolios, por isso comeram anos com a taxa da assinatura da PT, a taxa de audiovisuais que é cobrada na conta da cagadeira e da água e das taxas de resíduos sólidos , a taxa de instalação da água, as taxas dos ginásios para fugirem ao IVA, as taxas de abertura de conta no banco e taxas de processos na atribuição do crédito habitação, adoraram as taxas de chamada nos telemóveis quando se achava que o simples tocar para um número era uma perda para a operadora, e lembram-se de quando se pagava telefone para se aceder á net ???? era bom, esses tempos ...que saudades.Os exemplos chegavam para fazer um livro. No fundo esta gente adora os monopólios, as posições dominantes da Galp, a forma indecente como os preços são estabelecidos o cartel do pão e das farinhas, a forma como a electricidade é cobrada e o seu valor ridículo. (Só um hipermercado recentemente baixou de forma significativa o preço do pão, mas assim é que é)

Adoravam os tempos da IBM com preços astronómicos e devem ter sido dos primeiros a dizer mal dos pcs de marca branca, por serem concorrência, dizia-se desleal.
Devem ter estado contra tudo o que parecesse uma mudança no status quo, mas as coisas mudam , mesmo contra a nossa vontade.

Esta gente que não pensa nas consequências últimas das suas bonitas intenções devia reflectir um pouco mais e ver onde estamos e como aqui chegamos, muito graças a estes gigantes que tudo querem cobrar.

Houve uma empresa na América central que privatizou a água da chuva… e porque não ?.( http://www.50years.org/cms/ejn/story/85 )
Assim vamos lá ….LOLLL

nuvens de fumo disse...

Vitor Guerreiro
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Não comparei os piratas com lutadores contra a pide, comparei essas lindas ideias de proibir tudo a todo o custo com princípios fascistas.


"A solução não é polícias pá, era as pessoas deixarem de mentir a si próprias e pararem de ser egoístas,"


Sim e com isso se faria um mundo melhor, sem maus e só com bons, ....

A realidade segue dentro de momentos

nuvens de fumo disse...

Os genéricos também são um roubo...... Imaginem , não pagar 70 anos de direitos dos medicamentos, e não permitir a investigação, e os simpósios nas caraíbas e mais as prendas , aquilo que nunca se conseguiu provar mas que todos sabem que existe, os mesmos argumentos vezes e vezes sem conta. Please.,....

O brasil copiou uma versão retroviral assim como a ìndia sem pagar os direitos ás farmacêuticas, os maus. imagino que não possam invadir nenhum destes dois países...ou talvez se ache que é um bem maior, mas quem não pode, morre de sida, quem pode e merece, vive no ocidente.

enfim, a simplicidade e a saloiice andam de mãos dadas

António Parente disse...

Ludwig Krippahl

Se o Ludwig copiar as sequências de bits de outras pessoas e não produzir sequências de bits com qualidade suficiente, então é uma relação assimétrica. O Ludwig beneficia da sequência de bits dos outros mas eles não tiram nenhum benefício de si e não têm incentivo a produzir sequências de bits para o Ludwig copiar porque sabem que o Ludwig não retribui cultura com cultura. O gratuito desincentiva a troca de sequência de bits em relações assimétricas.

António Parente disse...

Caro João Viegas

Perdoe-me não lhe ter respondido ontem mas o tempo é escasso e só dá para comentários rápidos. Fica para outra altura.

Em relação aos seus argumentos, relembro-lhe que as escolas públicas são gratuitas até ao fim do ensino secundário, que o IVA para livros é 5% e que o Estado financia uma série de actividades culturais.

Para mim a podem existir produtos gratuitos na internet mas tem de ver que ninguém investe profissionalmente num projecto que não lhe proporcione um rendimento que compense o esforço dispendido. O que pode acontecer é que haja decréscimo de investimento em boas enciclopédias porque ninguém as compra e em última análise daqui a uns anos só termos a wikipédia como única fonte de conhecimento. Ora uma enciclopédia onde eu posso escrever livremente sobre o que me der na cabeça, asseguro-lhe que não será um produto de qualidade porque num dia de tédio posso escrever sobre a teoria de Darwin sem ser biólogo ou desancar o CERN sem ser físico.

Anónimo disse...

Tanta ignorância vai nestes comentários.
Fora isso, seria possível explicar o porquê do post? É que depois de quase 80 comentários, fiquei curioso...

Anónimo disse...

Esqueci-me de cumprir a 1ª condição

Nuno Sousa

PS: Acho que este assunto merece novo post...

carolus augustus lusitanus disse...

[António Parente disse]:

«Ora uma enciclopédia onde eu posso escrever livremente sobre o que me der na cabeça, asseguro-lhe que não será um produto de qualidade porque num dia de tédio posso escrever sobre a teoria de Darwin sem ser biólogo ou desancar o CERN sem ser físico.»

[E eu pergunto]:
E qual o problema? Queres ver que agora o conhecimento é apanágio dos licenciados...
E outra coisa: para que existe a possibilidade de editar os textos? Não é para corrigir o que, eventualmente, poderá estar errado -- ah, introduzir «tags» é complicado... para além de não dar dinheiro.

António Parente disse...

Augusto

Claro que não, Augusto. Mas eu confio mais no conhecimento dum gajo que estudo 30 anos as mesmas coisas 12 horas por dia do que um gajo que seja jogador de futebol e decida numa tarde escrever sobre física das partículas sem ter lido nada sobre o assunto.

carolus augustus lusitanus disse...

António,

Ok, d'accord!

Ludwig Krippahl disse...

António Parente,

«Se o Ludwig copiar as sequências de bits de outras pessoas»

O problema começa logo na noção absurda que uma sequência de zeros e uns pode ser propriedade de alguém.

Armando Quintas disse...

sinceramente esta noticia espanta-me, acredito ser propaganda e que a Microsoft nunca vai abrir o seu Windows, mas estarei cá para ver.
Acredito que o o novo Windows que há de vir, o seven, tiver o mesmo sucesso que o vista, vai ser o fim desta empresa como produtora de sistemas operativos.
As discussões centraram-se em aspectos secundários.
A Microsoft é uma empresa que baseia o seu negócio na venda de licenças de software, nada de outro mundo e é a opção dela, contudo os produtos são caros e ruins, quando moralmente ao se pagar imenso por um dos seus produtos, a qualidade deveria ser muito melhor.
A pirataria é ilegal e imoral, ok mas ela existe devido aos preços abusivos.
Não defendo a gratuidade universal e tudo à borla, defendo a qualidade.
Então como é que a microsoft cobra balurdios de dinheiro só para se ter um computador legal com windows e office originais, com milhares de pessoas a trabalhar para a empresa, a serem remuneradas e no entanto os seus produtos são péssimos comparados com o linux que tem uma enorme comunidade de pessoas em part-time na sua maioria e não remuneradas e cujo resultado em milhões de vezes melhor em termos de qualidade?
Outro problema dos sistemas proprietários é para os programadores, em Linux como o código fonte é aberto, pode-se programar de forma a tornar o programa 100% compatível com o SO, no Windows é impossível, depois vemos erros, excepções fatais, bloqueamentos, lentidão, etc..
Acho que a questão se deve centrar na qualidade e a Microsoft está a perder, se continuar a ser ruim como é, mesmo com o software aberto não vai longe.

Armando Quintas disse...

só acrescentando, tenho um PC comprado em Dezembro passado, tenho usado para o básico, Internet, processador de texto, etc.. e já está o Windows todo lento e com problemas no arranque, a sorte é que tenho outra partição com Linux ubuntu, que me vai safando, já aconteceu o Windows não iniciar e só ter acesso aos documentos via Linux, se não fosse isso, o meu trabalho de meses ia pelo cano abaixo, e eu pagar por isso?
Só é parvo quem quer e só usa quem Windows quem quer, o problema é que as pessoas não querem fazer um mínimo de esforço mental para adoptar Linux. Estão acomodadas e esse comodismo dá milhões a uns fulaninhos.

carolus augustus lusitanus disse...

Armando,

Embora não seja partidário da MS (bem pelo contrário, há mais de 20 anos que os conheço de gingeira -- já venho do DOS), posso dizer-lhe que, a acontecer o que relata «só pode» ou o sistema estar mal configurado ou então ter entrado alguma virulência por aí dentro: porque a verdade seja dita (ainda que isso pareça uma heresia e contra a ideia de que o Vista é o novo Millennium), o Vista, o NT e o W2003 foi a melhor coisinha que saiu da MS -- em termos de SO... E sei do que estou a falar, o que não invalida nada do que disse...

FF disse...

Sou adepto desde o seu início do OpenSource. É uma forma de colocar os alunos e professores das melhores Universidades a fazerem durante o seu estudo algo de útil pela sociedade. E muitos dos trabalhos hoje realizados não seriam possível sem a existência desta filosofia de trabalho.
Contudo Bill Gates, de quem sou admirador não incondicional, liderou em conjunto com outros menos conhecidos, uma revolução que terminou com a hegemonia da IBM e do seu modelo de desenvolvimento. "Um computador em cada lar" era o lema. Apoiado pelo desenvolvimento do "chip" conseguiu suplantar esse objectivo ao colocar diversos "computadores" nas nossas casas: Telemóveis, PDAs, Gravadores de vídeo, Máquinas de Jogos e de diversão, Maquinas de cozinhar, Campainhas de porta com musica, etc.
Foi um catalizador de progresso.
Parece-me que há espaço para as duas estratégias embora naturalmente se verifique actualmente a convergência entre ambas. Pelo que a radicalização hoje, já não faz sentido.

FF.

purpurina disse...

Special Report: Internet encyclopaedias go head to head

(Nature 438, 900-901 (15 December 2005) | doi:10.1038/438900a; Published online 14 December 2005)

espreitar aqui: http://www.nature.com/nature/journal/v438/n7070/full/438900a.html

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