Texto de João Boavida, adaptado dum outro publicado no jornal “As Beiras”, acerca de um fenómeno académico tão antigo quanto as próprias academias, mas cuja investigação na área da pedagogia não é muito antiga.
Ai que prazer
Não cumprir um dever
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura
(…)
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Fernando Pessoa
A palavra, valha-nos Deus, é de tropeçar logo nela e lembra maldição divina. Refere-se ao hábito de protelar, adiar sem motivo.
Num português a puxar para o tamanco diz-se “engonhar”, em português de Lisboa, “alentejanar”, e no da Província, relativamente a Lisboa, fica bem “empalear”. Com dois sentidos: tentar levar no paleio (de Lisboa para a Província) ou no paleio se deixar levar (a Província por Lisboa). Pode ser útil, quando adia soluções não amadurecidas. Uma senhora antiga, de fino espírito e forte vontade conheci eu, que, face a problema difícil dizia: “deixem-me dormir sobre ele”. Ou “com ele” já não sei ao certo, mas ela sabia. Encontrar boa solução para caso bicudo leva tempo e fósforo.
O bom procrastinador adia por adiar. Para logo, porque não lhe apetece fazer agora. E como passou a oportunidade hoje, talvez amanhã. Porém, como amanhã também não apetece, irá adiar com promessas, para depois de amanhã, ou para mais tarde. Da semana que vem não passa, e jura. Mas passa. O problema é que o vazio de não fazer, vai ficando cheio com um fardo pesado, um mal-estar, enfim, um remorso - sentimento algo em desuso, mas como palavra ainda consta no dicionário. O problema manifesta-se em todos os sectores, é mais intenso em algumas culturas e ataca mais em certos climas. Mas afecta a vida de todos e tem enormes implicações sociais e económicas.
Há muita investigação anglo-saxónica sobre o assunto, no que diz respeito à educação escolar (J. Ferrari, C. Lay, Schouwenburg, Eerde, Wendelin, McCown, etc. Mas também em Espanha (Mercè Clariana) e em Portugal (P. Rosário, etc.).
Os aspectos estudados são inúmeros: relativas ao género, à idade, ao nível de escolaridade, à introversão/extroversão, à autonomia psico-afectiva, à consciência moral, à impulsividade, à concentração, ao controlo do tempo, aos hábitos de trabalho, às matérias a estudar, etc., etc. E também ao modo como os temas são ensinados, ao acompanhamento que professores fazem da aprendizagem, à regularidade e variedade das formas de avaliação, à motivação com que se envolvem os estudantes, à relação professor-aluno, ao ambiente familiar, ao inventivo da família, etc. Tudo aspectos a considerar porque, é evidente, a procrastinação afecta a aprendizagem e a formação cultural dos jovens.
Os estudos confirmam muito do que já se sabe: os universitários são os que mais procrastinam: assiduidade muito irregular às aulas, adiamento sucessivo do estudo, e depois noitadas de “marranço” em cima dos exames. O que não ajuda nada. O aluno, quando não abandona, vai passando, mas a um nível baixo de qualidade e, pior, não ganha gosto pelo saber, nem curiosidade e maturidade intelectual, nem perspectiva de qualificação. A assimilação das matérias é superficial, pondo em risco a futura profissionalização.
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11 comentários:
Agora não me apetece muito comentar... Talvez comente amanhã... Ou depois... Juro que não passa da próxima semana! :)
A mim parecia-me que os maiores procrastinadores eram os senhores advogados…
O mesmo anónimo ("anónimo" forçado porque não consigo acertar nas outras formas de comunicar…). Devia ter dito "advogados procrastinatórios" — altamente especializados nas artes de retardamento da acção judicial, como fazia A. Varela, RLJ, 131º, 3889, p. 100.Eu estou inscrito na Ordem dos ditos advogados, mas com a inscrição suspensa, talvez para sempre, a meu pedido…para procrastinar, não contem comigo.
Era uma política de procrastinação e evasivas, expressamente destinada a prolongar a luta. A. Huxley, Eminência parda, p. 206.
"It's a job that's never started that takes the longest to finish.", diz o J.R.R. Tolkien.
Nem tudo é mau e nem tudo está perdido, sabe?
Aqui na Universidade do Algarve, há alguns anos que o meu Gabinete faz apoio clínico personalizado e formação psicopedagógica dos alunos em Metodologia de Estudo e Proficiência na Gestão do Tempo. E garanto-lhe que o interesse e a afluência, tanto nas consultas como nas acções de formação geral, têm sido relevantes.
Infelizmente, tais competências deviam ter sido adquiridas muito tempo antes, desde da escola primária (e quiçá desde logo em ambiente familiar, o que geralmente não acontece).
Em Portugal, parece-me que existe um claro desinteresse cultural pela planificação, a disciplina, a persistência e a organização; por isso, aquilo que diz no seu post é um facto que não contesto e que pode muito bem explicar parte do insucesso produtivo de toda uma nação. Não somos nós conhecidos como o País do "desenrasca"?
eu vou roubar este boneco...e quanto ao resto, logo comentarei...:))
Gostei muito da 1ª parte do post. O resto, vou ler talvez amanhã.
Aliás, a "vox populi", na sua sabedoria, para (tentar) evitar a procrastinação, aconselha: "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje"...
PAULO GAMA MOTA E AS HOMOLOGIAS COMO "PROVA" DA EVOLUÇÃO.
Paulo Gama Mota defendeu recentemente que a existência de homologias genéticas e morfológicas entre animais prova a existência de um antepassado comum a partir do qual as diferentes espécies evoluíram.
Na verdade, trata-se de um argumento frequentemente utilizado como “prova” da evolução nos manuais escolares e textos científicos.
Muitas vezes, desde Richard Owen e Charles Darwin, as homologias têm sido apresentadas como a principal “prova” da evolução.
No entanto, a ingenuidade infantil deste argumento é imediatamente visível.
As homologias tanto podem ser usadas como argumento a favor de um antepassado comum como de um Criador comum.
E na verdade, a opção por um Criador comum faz mais sentido. Sendo os pressupostos para a manutenção da vida (v.g. alimentação, respiração, locomoção, reprodução) idênticos nos vários seres vivos, não admira que existam importantes homologias entre eles.
Isso faz todo o sentido à luz do Génesis, que diz que Deus criou todas os seres vivos na mesma semana para enfrentarem condições ambientais semelhantes, com nutrientes semelhantes.
Na verdade, se não existisse qualquer homologia genética, morfológica ou funcional entre os vários seres vivos seríamos levados a duvidar da existência de um Criador comum.
Por outro lado, o hipotético ancestral comum não teria muitas das características que os seres vivos que dele descendem têm (v.g. esqueleto, músculos, coração, sistema nervoso, sistema digestivo), pelo que não consegue explicar o seu desenvolvimento e a grande diversidade de design.
Existem muitos casos em que seres vivos têm órgãos funcionalmente semelhantes (v.g. olhos, asas, garras) sem que os mesmos tenham qualquer homologia genética que demonstre uma proximidade evolutiva.
Nestes casos (v.g. asas de aves, insectos e morcegos) os evolucionistas, como não conseguem interpretar as homologias funcionais para provar um antepassado comum evolutivo directo, dizem que houve evolução convergente ou paralela destes órgãos, usando a expressão “analogia” em vez de homologia.
Também a nível molecular, o evolucionismo dá para tudo.
Quando existem grandes diferenças genéticas entre diferentes filos, classes e ordens, diz-se que houve alterações genéticas evolutivas ao longo de milhões de anos. Quando existem grandes semelhanças genéticas entre filos, classes e ordens (v.g. informação que controla a expressão genética nalguns tecidos) diz-se simplesmente que se trata de informação genética muito bem conservada.
Existem outros casos em que homologias genéticas muito significativas conduzem a grandes diferenças morfológicas (v.g. o tenreco e o elefante). Estes casos também não são facilmente explicados por modelos evolucionistas.
À medida que se vão acumulando novos estudos sobre os genomas, vão surgindo numerosos casos de homologias funcionais que nada têm que ver com homologias genéticas. A inversa também é verdadeira.
Em muitos casos os estudos morfológicos contrariam os estudos da genética molecular. Eles mostram, em grande medida, que diferentes tipos, com um grande potencial genético, se foram desdobrando em diferentes (sub)espécies a partir da especialização de informação genética pré-existente.
É por essas e por outras que a própria “árvore da vida” evolucionista (já tão duvidosa do ponto de vista paleontológico) tem vindo a ser posta em causa pela genética molecular.
Um outro problema com o uso das homologias como argumento a favor da evolução a partir de um antepassado comum é que as conclusões a que se chega estão inteiramente dependentes das premissas de que se parte.
As homologias só funcionam (e mesmo assim muito mal!) como argumento a favor da evolução para quem aceite, à partida, premissas evolucionistas, uniformitaristas e naturalistas.
Elas só podem ser usadas para “provar” a evolução (e mesmo assim com muitas falhas) se se partir do princípio que houve evolução.
Quem não partir dessas premissas interpreta os dados de forma substancialmente diferente.
Para os criacionistas, as homologias moleculares, morfológicas e funcionais traduzem apenas o grau de semelhança e diferença entre as várias espécies criadas por um mesmo Criador, para viverem no mesmo planeta.
Em última análise, tudo assenta na observação de semelhanças e diferenças genéticas, anatómicas e fisiológicas, e na sua interpretação.
As semelhanças e as diferenças são as mesmas para criacionistas e evolucionistas.
O modo como uma pessoa interpreta dos dados observáveis depende muito das premissas adoptadas à partida.
E estas dependem da sua visão do mundo.
As homologias são uma poderosa mensagem biótica a favor de um Criador comum.
Mais informação:
www.creation.com
www.answersingenesis.org
www.icr.org
Ahaha! Subscrevo! :D
Acho que o maior motivo de procrastinação académica vem daqui:
http://xkcd.com/386
:)
para o bom profissional, revirar o baú é reciclar.
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