O diabo da Tasmânia é o único Sarcophilus existente mas o maior de todos os carnívoros marsupiais deve a sua popularidade ao Taz, o divertido personagem da Warner Brothers. O remoinho devorador que marcou o imaginário de muitos corre risco de extinção se não se conseguir debelar uma doença estranha, a Devil Facial Tumour Disease, detectada pela primeira vez em 1995.
Desde 1911, quando Peyton Rous descobriu o primeiro vírus cancerígeno - que causava sarcoma em galinhas -, que se sabe que os vírus podem causar cancro. Actualmente sabemos que quer vírus - como o da hepatite B ou o vírus do papiloma humano, HPV - quer bactérias, como a Helicobacter pylori, podem causar, respectivamente, cancro hepático, cervical e estomacal, pelo que não nos surpreende que o cancro possa ser causado por um agente infeccioso.
O cancro que dizima o diabo da Tasmânia é completamente diferente: é causado por uma célula cancerígena que se propaga de diabo em diabo quando eles se mordem. Isto é, o cancro que dizima a população do único habitat actual do diabo da Tasmânia é o mesmo cancro que se propaga (muito rapidamente) por inoculação de células cancerosas numa ferida aberta por um animal afectado. Este cancro tem uma taxa de mortalidade de quase 100%.
Há pouco mais de um mês, um artigo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS, «Transmission of a fatal clonal tumor by biting occurs due to depleted MHC diversity in a threatened carnivorous marsupial», lançou luz sobre a doença. Os autores indicam que a baixa diversidade genética dos diabos, nomeadamente a nível do Complexo Maior de Histocompatibilidade (MHC, Major Histocompatibility Complex), existente em todos os vertebrados, e constituído, entre outros, por genes com importantes funções imunológicas, é a razão que permite a disseminação dos tumores. O sistema imunitário dos diabos não reconhece como estranhas as células cancerosas com que foram infectados e estas não são destruídas.
Segundo os biólogos, caso não seja resolvido o problema - uma vacina nestas condições seria completamente ineficaz -, a espécie corre o risco de ser dizimada em cerca de 10 a 20 anos. As estimativas mais conservadoras indicam que cerca 65% da Tasmânia foi afectada, tendo-se perdido entre 20 a 50% da população de diabos, números que atingem os 80% em algumas zonas. A epidemia atingiu proporções catastróficas, levando os conservacionistas a tomar medidas extremas como matar os animais que apresentem os estágios iniciais da doença, para evitar o contágio, e criar áreas fechadas com populações saudáveis nas ilhas ao largo da Tasmânia.
Katherine Belov, a cientista responsável pelo estudo, revela a sua preocupação com outras populações de baixa diversidade genética que podem ser atingidas por catástrofes análogas à que dizima os diabos, nomeadamente os koalas de Kangaroo Island e os ornitorrincos de King Island.
Se não se conseguir salvar os diabos, esta será a segunda espécie de marsupiais carnívoros extinta desde que os europeus chegaram à Austrália. O homem foi o grande responsável pelo desaparecimento do tigre-da-tasmânia, oficialmente extinto quando o último exemplar morreu em 1936 no Zoológico de Hobart. Desde o início da colonização da Tasmânia, o tigre foi perseguido pelos criadores de gado, tarefa apoiada pelo Parlamento Regional da Tasmânia que emitiu em 1888 um decreto que vigorou até 1909, decreto que visava erradicar a espécie considerada ameaçadora da principal fonte de rendimento da ilha.
O tigre da Tasmânia, caçado até à extinção pelos colonos, foi transformado num ícone, presente no escudo e nas chapas de matrícula dos carros, pelos seus descendentes. Esperemos que o Diabo permaneça para as gerações futuras um símbolo vivo da mudança de atitude do Homem.
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11 comentários:
Cara Palmira,
Interessante artigo, mas ja ha bastante tempo que se sabe (pelo menos entre a profissao veterinaria) que existem tumores transmissiveis sem mediacao atraves de agentes infecciosos vivos ou semi-vivos.
O unico que me lembre descrito em animais domesticos e o Sarcoma de Sticker ou Tumor Venereo Transmissivel e habitualmente um tumor benigno mas ocasionalmente metastisa em alguns "hospedeiros".
Lowlander.
Sâo por causa d'esses ''hospedeiros''que transmétem aos humanos,que uma sociadade Estado-Unidence que tem probelemas com a F.D.A depois de varios biologistas terem-se recusado a veracidade do seu efeito no homem.
A instalaçâo d'um puce da tailha de 2 grâos de riz o qual transméte informaçôes a um pc o qual por sua vez inspécta o valor de tal eficasidade; nâo sou um experto em biologia ,mas com as milhares de doenças que se vê agora,gosto de me informar.Tal como a « vaca maluca»,chegaram à conclusâo que a farinha que davam aos animais continha restos de animais mortos com doênças
Calhordus,
Lamentavelmente o meu dominio fluente de linguas restringe-se apenas ao portugues e ingles.
Compreendera portanto a minha relutancia em responder.
Com as manifestações anti-ciência a que temos assistido nalgumas caixas de comentários, confesso que estou curiosa: deve a investigação prosseguir de forma a tentar encontrar cura para este cancro, ou devemos, por outro lado, deixar que se cumpra a vontade de um qualquer deus (ainda devem existir alguns naquelas paragens) de extinguir estes diabos?
guida martins
Caro/a lowlander, já que domina tão fluentemente o inglês, espero que tenha reparado no erro de ortografia logo no título... é só um pormenor. já agora não lhe fica bem tanto sarcasmo nessa crítica ao domínio escrito de português dum (presumo?) emigrante, que provavelmente nem teve educação escolar. Até a autora do texto pelos vistos comete erros de ortografia e é professora universitária pelo que vejo.
Oops, obrigado anónimo pela detecção da gralha que já corrigi.
caro lowlander, o calhordus vive no Canadá há já muitas décadas.
E agora algo fora do contexto, reparem bem no que diz o Sr. Ferreira Fernandes na ultima pagina do dn de hoje:
A má notícia: cientistas dizem que o aquecimento global está a acabar com o planeta. A boa notícia: se os governantes quiserem, ainda estamos a tempo de nos safarmos. A boa notícia que vem com a má notícia: os cientistas têm sempre a mania de profetizar o pior para lhes darmos mais atenção (e subvenções).
Fantástica a ultima linha, foi por estas e por outras que deixei de comprar o DN (passei para o publico mas a coisa não é muito melhor), excepto claro, à segunda feira para ler o impagavel abominavel
Caro/a anonimo,
A ver se entendo:
Quer que eu responda de forma inteligivel a uma mensagem que nao percebo porque a Palmira deu um erro de ortografia? E essa a base do seu argumento?
Cara Palmira,
Que bom saber. E...?
Este post é muito interessante do ponto de vista criacionista.
Ele corrobora a ideia de que acumulação de mutações ao longo de sucessivas gerações acompanhada da redução gradual da informação genética disponível através da selecção natural, da especiação e do isolamento reprodutivo, longe de serem responsáveis pela origem e a evolução das espécies, criam um risco sério de degradação e extinção das espécies.
Incrível. Vergo-me aos pés do nosso anónimo criacionista de serviço hoje. Os meus sinceros parabéns, homem. Até este post tu consegues interpretar como favorável ao criacionismo! Temos que admirar alguém assim. Obviamente o que dizes é puramente estúpido, mas o teu dom da retórica é impagável. Prestem atenção, pessoas inteligentes deste Mundo: seguindo a boa tradição sofista, este senhor formula qualquer parvoíce descontextualizada e sem sentido como um argumento aparentemente sério. Parabéns!
Mas confessa lá enquanto és anónimo, bem lá no fundo, nem tu acreditas em algo tão parvo, pois não?
Ricardo
A "retórica" do Ricardo só mostra a sua falta de argumentos.
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