Havia já algum tempo que uns cientistas ingleses vinham falando de aparições bizarras, quando aplicavam descargas eléctricas em gases rarefeitos em tubos de vácuo. O inglês William Crooks, que observou uma espécie de nuvens luminosas a flutuar no ar, estava convencido que tinha produzido ectoplasma, a muito falada substância das sessões espíritas da época. Crooks tinha-se tornado espírita depois da morte do irmão. À procura de uma prova científica para a existência da alma, andava obcecado com as luzes subtis dos seus tubos de vácuo. Convencido de que tinha visto "nuvens luminosas" nas sessões espíritas e que as luzes no seu tubo de vácuo eram as mesmas que as desses espíritos, anunciou publicamente que tinha produzido ectoplasma artificial.
Voltando à história de Würzburg..., imagine, que depois de jantar com a sua mulher, volta ao laboratório, para, na escuridão, ver melhor a luminosidade das suas experiências — idênticas às dos ingleses, que não lhe saem da cabeça. Para tentar seguir a trajectória dos tais raios invisíveis, coloca pedaços de cartão à frente do alvo, mas a luminosidade continua a aparecer, como se os cartões não estivessem lá.
Tenta bloquear os raios com folhas de metal, mas as folhas de alumínio e cobre são tão transparentes aos raios como os pedaços de cartão. Aparentemente, os raios que está a produzir passam através da matéria. Já perto da meia noite — uma noite escura e tenebrosa — encontra algo que pára os raios — uma folha de chumbo deixa uma sombra no alvo. Desloca a folha de chumbo para mais perto do alvo, e observa que a sombra se torna mais nítida, o que prova que o que está a observar é real. ... É então que vê o "espírito"!
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Em profunda meditação e em silêncio, voltou para casa e tentou a custo adormecer.
Seis semanas depois, no domingo antes do Natal, convidou a sua mulher Bertha a visitar o laboratório, e, certamente depois de a tranquilizar para que não se assustasse, tirou a fotografia dos ossos da mão dela, com o anel perfeitamente visível.
Wilhelm Conrad Roentgen descobrira os raios-X naquela noite de sexta-feira, 8 de Novembro, de 1895!
História adaptada de "Lucifer's Legacy", de Frank Close, Oxford University Press, 2000.
Luis Alcácer
4 comentários:
Na Alemanha ainda se denominam os raios-X como Röntgenstrahlung, "radiação de Röntgen"... :).
PS - é fácil imaginar que estamos em Würzburg no final do século XIX. A cidade, ainda hoje (ou pelo menos há 5 anos atrás, quando lá estive) tem um bom sabor a passado...
Belo texto!
Muito bom!
Faz muita falta nas salas de aula a História da Ciência, principalmente mas não só, nos cursos mais técnicos. Ainda me lembro dos professores me falarem do electrão isto, o protão aquilo, os raios gama aqueloutro mas nunca me contaram como o Homem chegou ao seu conhecimento. Fui eu que tive de comprar livros e me desenrascar. Se tal fosse dado a "imagem" do que se está a falar estaria mais clara na mente de todos e levaria a melhor aprendizagem.
Bom, não sei se hoje isso já acontece...
Excelente texto!
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