sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Química e arqueologia

A análise química de joalharia de jade do sueste asiático revelou uma rede extensa de comércio na pré-história desta zona do globo. Os artefactos em questão, esculpidos em nefrite oriunda de Taiwan, foram comercializados numa área com raio de 3000 km, centrada no mar do sul da China, durante um período de pelo menos 1000 anos.

O estudo, publicado na PNAS, incidiu sobre 144 ornamentos descobertos no Vietname, Tailândia, Malásia e Filipinas. A maioria dos artefactos foi encontrada perto de esqueletos enterrados em jarros ou ao lado de crânios, sugerindo que pertenceriam à elite pré-histórica local.

A equipa da Australian National University (ANU) em Canberra focou-se em dois tipos de peças muito populares, os brincos representados na figura e pendentes com animais de duas cabeças, que datam de 3000 aC a 500 dC, e descobriu que pelo menos 116 ornamentos têm como origem Fengtian em Taiwan.

Segundo o antropólogo Charles Higham da Universidade de Otago na Nova Zelândia, o artigo é «uma importante contribuição para um assunto que merece maior atenção: as capacidades de navegação das sociedades pré-históricas do sueste asiático», já que o desenvolvimento cultural destas sociedades é muitas vezes focado na influência chinesa e indiana. Mas «se os ancestrais das populações do sueste asiático foram capazes de atravessar mar aberto, sem terra à vista, para a Austrália há 40 000 anos porque não seriam igualmente capazes de navegar para a Índia em comércio? Este artigo mostra que esse movimento era possível».

Como refere a arqueóloga Miriam Stark da Universidade do Hawaii em Manoa:

«Este estudo fornece um importante motivo para se estudar a composição química de peças do sueste asiático. A composição química fornece alguma evidência empírica pioneira para a existência de uma rede de interacção no Mar do Sul da China».

3 comentários:

Ciência Ao Natural disse...

Bom post, cara Palmira!

Durante a minha licenciatura tive que efectuar um trabalho sobre determinados elementos químicos e o papel que as contaminações tiveram na sociedade e cultura.

O meu trabalho foi sobre a contaminação por chumbo e a patologia consequente (saturnismo) que os recipientes de bebida e a pro-canalização originaram na Roma clássica. Aparentemente alguns autores sugerem que foi esta uma das causas da decadência da referida sociedade.
O saturnismo conduz à demência e, assim, parece estar na origem da personagem do chapeleiro louco da Alice no País das Maravilhas - os chapeleiros vitorianos utilizavam o chumbo no tratamento dos feltros dos chapéus...

Com este extenso comentário queria pedir-lhe para averiguar se existem mais casos semelhantes em que os produtos químicos estarão na origem de mudanças sociais/culturais como aquelas que referi.

Cumprimentos :) e bons posts!!

Luís Azevedo Rodrigues

Ciência Ao Natural disse...

No comentário anterior queria dizer "proto-canalização"

Armando Quintas disse...

A joalharia e tambem a cerâmica são dos artefactos que melhor conseguem caracterizar as respectivas culturas, as culturas asiaticas têm tanto para nos oferecer em termos de estudos, finalmente começa-se a deixar o eurocentrismo histórico de lado e a abordar outras culturas.
Bom post

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Quando os generais romanos ganhavam uma guerra dura e bem combatida, davam-lhes um cortejo e rumavam ao centro de uma Roma agradecida. ...