quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Evolucionismo em seis questões















Os estudantes do jornal A Cabra da Universidade de Coimbra colocaram-me algumas questões sobre evolução que reproduzo aqui, juntamente com as respostas.


1 - O que é o evolucionismo?

Evolucionismo era um termo utilizado para designar a ideia de que a vida na Terra resulta de um longo processo de evolução. Essa ideia foi avançada por Darwin há quase 150 anos. Segundo Darwin, as espécies foram-se modificando ao longo da sua história evolutiva, muitas se extinguiram e outras surgiram, num processo extremamente dinâmico. Darwin propôs como principal mecanismo para a evolução das espécies a selecção natural. A este conjunto de ideias chamamos teoria de evolução.


2 - Porque defende esta teoria?

As teorias científicas são grandes modelos explicativos de um conjunto muito grande de factos conhecidos sobre a natureza. E tudo o que temos vindo a conhecer sobre o funcionamento dos seres vivos ou sobre as interacções entre eles são concordantes com a teoria da evolução. Quando se descobriu como é que a informação para produzir um ser vivo estava guardada - o que iniciou a revolução molecular - não fazíamos ideia se haveria um ou vários códigos genéticos. Hoje sabemos que há só um, o que significa que todos os seres vivos actualmente existentes descendem de um antepassado comum, onde surgiu esse código. Defendo a teoria da evolução porque é a melhor explicação conhecida para a evolução dos seres vivos e porque os factos que vamos conhecendo são concordantes com ela.


3 - Que argumentos utiliza o evolucionismo contra o criacionismo?
O evolucionismo ou teoria da evolução é uma teoria científica. O criacionismo não. Uma pretende ser uma explicação científica de porque é que temos uma fisiologia igual à de outros animais - e testamos fármacos em ratinhos - ou porque é que partilhamos 98% dos nosso genes com os chimpanzés. A outra é uma construção dogmática de um grupo de pessoas, não cientistas, que tenta fazer passar por conhecimento sólido um conjunto de 'a prioris' religiosos de grupos religiosos que fazem leituras literais da Bíblia, como acreditar que a Terra não tem mais de 6 mil anos, ou que as espécies não evoluem. Além disso, o criacionismo, mesmo na sua versão 'light' designada 'intelligent design', viola princípios básicos de toda a ciência, da física à astronomia.
Os criacionistas mobilizam consideráveis recursos económicos nos Estados Unidos, mas também na Europa, para fazerem uma campanha de propaganda contra a ideia de que as espécies evoluem. Milhares de professores receberam um pesado e caro livro de descarada propaganda criacionista no último ano, a que chamei tijolo criacionista no blog De Rerum Natura.


4 - Qual a teoria proposta por Darwin e o que trouxe de novo à ciência?
A teoria de Darwin propõe uma evolução das espécies. Isso significa que se considerarmos quaisquer duas espécies actualmente existentes, se andarmos suficientemente para trás, encontraremos um antepassado comum às duas. Significa também que muitas das características singulares que temos resultaram de uma evolução adaptativa. Somos dotados de um cérebro que é o órgão mais complexo que conhecemos, em resultado da vantagem que cérebros crescentemente mais complexos tiveram para os nossos antepassados. Sempre que apanhamos uma constipação, ela pode tornar-se uma gripe ou não, que pode ou não ser fatal, em resultado da evolução do vírus que nos ataca. É o facto de evoluir tão rapidamente que torna o vírus da SIDA tão difícil de combater.

Hoje todos os biólogos são evolucionistas porque a teoria da evolução é, actualmente, a grande teoria da Biologia.


5 - Os evolucionistas do século XX adoptaram a teoria de Darwin mas corrigiram-na em alguns aspectos. Que aspectos foram esses?
Sim, mas podemos dizer que essas correcções são uma espécie de notas de rodapé. A teoria, no essencial, estava correcta.
Quando Darwin propôs a sua teoria, a genética ainda não existia. Havia umas noções de hereditariedade - sabia-se que se queriam criar um cão que corresse muito havia que escolher os animais mais velozes para reproduzir entre si. Quando as leis da genética ficaram conhecidas percebeu-se que estas eram ainda mais concordantes com a teoria proposta por Darwin do que a teoria de hereditariedade que ele avançou na altura. Sabe-se que há outros processos que conduzem à evolução além da selecção natural, o que não contraria a teoria geral proposta por Darwin.

Um dos aspectos mais fascinantes desta teoria é que ela propõe a evolução da complexidade da vida que conhecemos por um processo mecanístico, sem ser dirigida por um engenheiro muito, muito inteligente. E as imperfeições que encontramos nos órgãos aparentemente perfeitos, como os nossos olhos, são as marcas da sua evolução.


6 - Que força tem o evolucionismo em Coimbra? E em Portugal?
Tem a força de uma teoria científica. Não é nenhum movimento social ou manifesto que junte à sua volta espíritos desejosos de demonstrar a sua validade. Como todas as teorias científicas, está sujeita a um duro teste, dia a dia, perante as evidências das descobertas científicas. É um instrumento fundamental para os biólogos portugueses e de todo o mundo para desenharem as suas experiências e interpretarem os seus resultados e, desse modo, fazer avançar o nosso conhecimento sobre o mundo vivo de que fazemos parte.

4 comentários:

Manuel Rocha disse...

Na resposta à segunda pergunta “ porque defende essa teoria”, o Carlos Fiolhais fala-nos das teorias cientificas como“modelos explicativos de uma conjunto muito grande de factos”.

Aqui há tempos li a Eduardo Lourenço algo do género de que “ como Montaigne já sabia, os “factos” são interpretações”. De seguida,Lourenço sugere que um “facto” que dura pode ser uma boa definição de “mito”. Para logo acrescentar que “toda a leitura do nosso passado como digno de memória, ou a prospectiva do nosso futuro, estão suspensos de “factos”. E como essa leitura é uma trama densa de textos, em que os “factos” se comentam, glosam, cantam , analisam e mais raramente se discutem, é nela que se funda o nosso mito civilizacional.”

O Carlos Fiolhais quererá comentar do ponto de vista da ciência estas reflexões de E Lourenço ?

SATANUCHO disse...

lendo uma national geo mag das antigas , li um artigo sobre os sardões da berlenga. apesar de a ilha se ter separado há muito pouco tempo, os lagartitos já evoluiram de maneira diferente dos seus irmãos do continente, estas diferenças no entanto são tão pequenas que ainda não se podem considerar 2 especies diferentes, no entanto com o tempo puderão vir a se-lo, isto se os ratos e as gaivotas não os comerem a todos...
ora ai está um abela prova da evolução das especies...

CA disse...

O cartoon diz tudo o que há para dizer sobre a cientificidade do criacionismo.

Anónimo disse...

POR QUE VOCES NAO BOTAM CRIACIONISMO JUNTO COM EVOLUCIONISMO?? MAIS A PESQUISA FOI MUITO BE FEITA PARABENS!!

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...